terça-feira, 22 de setembro de 2015

A genética envolvida no comportamento

Série Ensaios: Sociobiologia

Por Aline Cristine Cavichia
Acadêmica do Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas

Em 2013 voltou à tona o caso ocorrido em 2002 em São Tomé (PR), conhecido por todo o estado, envolvendo um padre com práticas de pedofilia. O padre mantinha relação de abuso sexual com 3 crianças entre 13 e 14 anos, que confessaram que frequentavam a casa dele, sendo levadas a cometer atos obscenos . O padre foi afastado, sendo que mais tarde tanto ele quanto a Diocese foram multadas em 50 mil, e ele julgado a 3 anos e seis meses.

Notícias como essa acabam sendo cada vez mais frequentes na nossa sociedade, mas isso é um problema de moral, um desvio genético ?
A palavra moral deriva do latim morus significando usos e costumes de acordo com a honestidade e bons costumes, consiste em fazer valer os instintos que aproximam os indivíduos uns dos outros, levando em consideração regras da sociedade , as quais devem ser cumpridas e respeitadas.
O comportamento como um todo, depende principalmente de fatores genéticos e de fatores ambientais, sendo ambos interagindo de maneira extremamente complexa. Os genes definem tendências, mas são as experiências individuais que as modulam. Qualquer gene precisa de determinadas circunstâncias externas, sejam bioquímicas, físicas ou fisiológicas. Portanto, a tentativa de atribuir valores morais a um comportamento pelo fato dele ter sido selecionado não tem qualquer sentido, ou seja, a propensão genética para fazer determinados atos não torna exatamente necessário que eles se concretizem ou que sejam moralmente aceitáveis.
Entre os comportamentos imorais julgados pela sociedade, normalmente aqueles envolvendo a sexualidade, sempre ganham destaque, tais como estupros e violência, pedofilia, adultério, incesto, e assim a lista vai longe.
Pegando um gancho nesse sentido, podemos associar a pedofilia como exemplo. Quando paramos para refletir, qual o motivo que está por trás do indivíduo que decide praticar abusos contra crianças? Acredita-se que o pedófilo é alguém que passou por desestruturas na infância, ou sofreram abuso, segundo Serafim A. P., 2009, o abuso sexual “surge” por um conjunto de elementos tais como culturais, político-administrativos, psicológicos e econômicos. Mas e a genética? Ela não está envolvida na maneira como a pessoa se porta? Hoje em dia a criminologia utiliza muito a biologia para buscar traços que demonstrem a tendência que algumas pessoas têm de ir para o caminho do crime.
Não existe necessariamente um gene dito como criminal, mas sim características agressivas ou antissociais que são herdáveis e que podem em longo prazo levar a práticas violentas. ”Um gene que foi ligado à violência regula a produção da enzima monoamina oxidase A, que controla a quantidade de serotonina no cérebro. Pessoas com uma versão do gene que produz menos dessa enzima tendem a ser significativamente mais impulsivas e agressivas e o efeito é ativado por experiências estressantes”.
Essas ações ligadas ao abuso sexuais citadas anteriormente, são rejeitadas pela sociedade exatamente pelo fato de ser imoral, de ter a falta de pudor e respeito com os demais membros da comunidade, são ações que ocorrem com obscenidade e praticadas por pessoas que se negam a aceitar as regras impostas pela sociedade, que nega o valor moral imposto na sua comunidade por isso, quem pratica esses atos são julgados pelos demais membros.
Algo muito comum de ocorrer é associar os termos de cunho sexual aos humanos apenas, mas esse comportamento não é exclusividade da nossa espécie, mas também pode ser observado em outras na natureza. Um exemplo são os nossos parentes mais próximos, os primatas. Em comunidades de Chimpanzés e em Bonobos é possível encontrar comportamentos muito semelhantes aos nossos e um deles é a prática sexual com os filhotes. 
Essas semelhanças de comportamentos em homens e animais, destacando-se aqui os primatas, podem ser explicadas muitas vezes pela proximidade do material genético de ambos, pois o mapa genético de alguns primatas possui cerca de 98,7% de igualdade com o dos humanos.  A diferença que vale ressaltar, é que nessas comunidades animais, as relações não precisam necessariamente ser para o prazer, mas sim faz parte da maneira de socialização desses animais e como um ritual de passagem para a idade adulta, pois “as crias convivem por bastante tempo com os mais velhos e é no seio desse grupo que se tornam sexualmente ativas”.  
Eu como estudante de biologia acredito que seria muito interessante investir mais em pesquisas que avaliem a função biológica que se desenvolve por trás da mente de um criminoso, assim como investir em estudos genéticos para investigar o que leva cada um a desenvolver determinadas características e como elas são herdáveis, até porque assim seria muito mais fácil de tentar entender como funciona a mente e quais as motivações que os leva, cometer tais atos.  Além disso, desenvolver estudo com animais também seria necessário para conseguir uma maior comparação entre as espécies.


O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia, tendo como base as obras:
Calegaro M. M. 2001. Psicologia e Genética: O Que Causa o Comportamento? . Disponível em http://www.cerebromente.org.br/n14/mente/genetica-comportamental1.html

Goldim J. R. 2000.  Moral. Disponível em http://www.ufrgs.br/bioetica/moral.htm.

Serafim A. P., Saffi F., Rigonatti S. P., Casoy I. & Barros  D. B. 2009. Perfil psicológico e comportamental de agressores sexuais de crianças. Disponível em http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol36/n3/105.htm
Silva C. C. P., Pinto D. D. M., Milani 2013. Pedofilia, quem a comete? Um estudo bibliográfico do perfil do agressor. Disponível em http://www.cesumar.br/prppge/pesquisa/epcc2013/oit_mostra/Camila_Cortellete_Pereira_da_Silva.pdf.

The New York Times 2011. Genética e o crime. Disponível em http://www.gazetadopovo.com.br/mundo/genetica-e-o-crime-bz9oeow9vny02opxr9q7m59vy


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