Série Ensaios: Sociobiologia
Por Aline Cristine Cavichia
Acadêmica do Curso
de Bacharelado em Ciências Biológicas
Em 2013 voltou à tona o caso ocorrido em
2002 em São Tomé (PR), conhecido por todo o estado, envolvendo um padre com
práticas de pedofilia. O padre mantinha relação de abuso sexual com 3 crianças
entre 13 e 14 anos, que confessaram que frequentavam a casa dele, sendo levadas
a cometer atos obscenos . O padre foi afastado, sendo que mais tarde tanto ele
quanto a Diocese foram multadas em 50 mil, e ele julgado a 3 anos e seis meses.
Notícias como essa
acabam sendo cada vez mais frequentes na nossa sociedade, mas isso é um
problema de moral, um desvio genético ?
A palavra moral deriva do latim morus significando usos e costumes de
acordo com a honestidade e bons costumes, consiste em fazer valer os instintos que
aproximam os indivíduos uns dos outros, levando em consideração regras da
sociedade , as quais devem ser cumpridas e respeitadas.
O comportamento como um todo, depende principalmente de fatores
genéticos e de fatores ambientais, sendo ambos interagindo de maneira
extremamente complexa. Os genes definem tendências, mas são as experiências individuais que as modulam.
Qualquer gene precisa de determinadas circunstâncias externas, sejam
bioquímicas, físicas ou fisiológicas. Portanto,
a tentativa de atribuir valores morais a um comportamento pelo fato dele ter
sido selecionado não tem qualquer sentido, ou seja, a propensão genética para
fazer determinados atos não torna exatamente necessário que eles se concretizem
ou que sejam moralmente aceitáveis.
Entre os comportamentos imorais julgados pela sociedade, normalmente
aqueles envolvendo a sexualidade, sempre ganham destaque, tais como estupros e
violência, pedofilia, adultério, incesto, e assim a lista vai longe.
Pegando um gancho nesse sentido, podemos associar a pedofilia como
exemplo. Quando paramos para refletir, qual o motivo que está por trás do
indivíduo que decide praticar abusos contra crianças? Acredita-se que o
pedófilo é alguém que passou por desestruturas na infância, ou sofreram abuso,
segundo Serafim A. P., 2009, o abuso sexual “surge” por um conjunto de
elementos tais como culturais, político-administrativos, psicológicos e
econômicos. Mas e a genética? Ela não está envolvida na maneira como a pessoa
se porta? Hoje em dia a criminologia utiliza muito a biologia para buscar
traços que demonstrem a tendência que algumas pessoas têm de ir para o caminho
do crime.
Não existe necessariamente
um gene dito como criminal, mas sim características agressivas ou antissociais
que são herdáveis e que podem em longo prazo levar a práticas violentas. ”Um gene que foi ligado à violência regula a produção da enzima monoamina
oxidase A, que controla a quantidade de serotonina no cérebro. Pessoas com
uma versão do gene que produz menos dessa enzima tendem a ser
significativamente mais impulsivas e agressivas e o efeito é ativado por
experiências estressantes”.
Essas ações
ligadas ao abuso sexuais citadas anteriormente, são rejeitadas pela sociedade
exatamente pelo fato de ser imoral, de ter a falta de pudor e
respeito com os demais membros da comunidade, são ações que ocorrem com
obscenidade e praticadas por pessoas que se negam a aceitar as regras impostas
pela sociedade, que nega o valor moral imposto na sua comunidade por isso, quem
pratica esses atos são julgados pelos demais membros.
Algo muito comum de
ocorrer é associar os termos de cunho sexual aos humanos apenas, mas esse
comportamento não é exclusividade da nossa espécie, mas também pode ser
observado em outras na natureza. Um exemplo são os nossos parentes mais
próximos, os primatas. Em comunidades de Chimpanzés e em Bonobos é possível
encontrar comportamentos muito semelhantes aos nossos e um deles é a prática
sexual com os filhotes.
Essas semelhanças de
comportamentos em homens e animais, destacando-se aqui os primatas, podem ser
explicadas muitas vezes pela proximidade do material genético de ambos, pois o
mapa genético de alguns primatas possui cerca de 98,7% de igualdade com o dos
humanos. A diferença que vale ressaltar,
é que nessas comunidades animais, as relações não precisam necessariamente ser
para o prazer, mas sim faz parte da maneira de socialização desses animais e
como um ritual de passagem para a idade adulta, pois “as crias convivem por
bastante tempo com os mais velhos e é no seio desse grupo que se tornam
sexualmente ativas”.
Eu
como estudante de biologia acredito que seria muito interessante investir mais
em pesquisas que avaliem a função biológica que se desenvolve por trás da mente
de um criminoso, assim como investir em estudos genéticos para investigar o que
leva cada um a desenvolver determinadas características e como elas são
herdáveis, até porque assim seria muito mais fácil de tentar entender como
funciona a mente e quais as motivações que os leva, cometer tais atos. Além disso, desenvolver estudo com animais
também seria necessário para conseguir uma maior comparação entre as espécies.
O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia, tendo como base as obras:
Calegaro M. M. 2001. Psicologia e Genética: O Que
Causa o Comportamento? . Disponível em http://www.cerebromente.org.br/n14/mente/genetica-comportamental1.html
Goldim
J. R. 2000. Moral. Disponível em http://www.ufrgs.br/bioetica/moral.htm.
Serafim A. P., Saffi F., Rigonatti S. P., Casoy I. &
Barros D. B. 2009. Perfil psicológico e comportamental de
agressores sexuais de crianças. Disponível em http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol36/n3/105.htm
Silva C. C. P., Pinto
D. D. M., Milani 2013. Pedofilia, quem a
comete? Um estudo bibliográfico do perfil do agressor. Disponível em http://www.cesumar.br/prppge/pesquisa/epcc2013/oit_mostra/Camila_Cortellete_Pereira_da_Silva.pdf.
The New York Times 2011. Genética e o crime. Disponível
em http://www.gazetadopovo.com.br/mundo/genetica-e-o-crime-bz9oeow9vny02opxr9q7m59vy
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