No dia 14 de Setembro de 2015 - durante o CI Congresso Brasileiro de Biologia - ocorreu a primeira versão do Caminho do Diálogo.
O Caminho do diálogo foi uma
oportunidade do estudante reviver o processo de ensino-aprendizagem adotado
pelo filósofo grego Aristóteles denominado de “Peripatético”
cujos conhecimentos eram compartilhados com seus estudantes por “preleções”
realizadas durante passeios pelos jardins de Atenas. Considerando que na
atualidade ainda buscamos meios para substituirmos as cansativas aulas
expositivas em ambientes fechados, podemos considerar a metodologia de
Aristóteles um tanto inovadora e revolucionária.
O Caminho do Diálogo da PUCPR foi
composto por 12 células de onde emergiam as Árvores da Vida. A
terminologia tradicionalmente incorpora em seu conceito significações
utilizadas por religiões como o Cristianismo e a Cabala, pela ciência por
representar a evolução dos seres vivos e pela cultura por denominar filmes e
álbuns musicais. No contexto Ecológico a Árvore representa a base, o
fundamento e os pilares dos ecossistemas, é o meio de promoção dos ciclos
de nutrientes, dos ciclos biológicos, sazonais e anuais. Para nós no
contexto Bioético, a Árvore da Vida é a ponte entre o conhecimento
(a base) e a transformação deste (ciclagem) em atitudes justas e éticas
que respeitem o valor de todas as formas de vida que compõe nosso planeta. As
árvores da vida possuem frutos, esses frutos são as atitudes, crenças,
valores, significações que alimentam as sociedades num contexto
atemporal e sem barreiras geográficas. Assim inúmeros fatores culturais,
biológicos, psicológicos e sociais contribuem para composição dos frutos que
podem ser benéficos para uns e não para outros, gerando vulnerabilidades.
Por isso a ponte, o diálogo, a reflexão, o olhar para outro, vem com a proposta
de construirmos meios para que as árvores se fortaleçam.
O caminho do Diálogo foi estruturado
para crianças e pré-adolescentes de 9 a 14 anos, estudantes do Ensino
Fundamental de escolas da rede pública e privada. A ação foi amplamente divulgada nas redes
sociais (foi criado um evento no FB e grupo no whatsup) intencionando gerar
um movimento que estimulasse que responsáveis por crianças dessa faixa etária trouxessem-nas
para participar, independente da iniciativa da escola, tivemos poucos, mas
tivemos visitantes. As escolas foram contatadas diretamente através de banco da
própria universidade e contatos diretos com ex-alunos e colegas e
compartilhamento do convite por e-mail e FB. Todos deveriam sua inscrição on
line. Nossa primeira versão contou com a
participação de 3 escolas da rede pública, sendo uma de Curitiba e duas da
região metropolitana, Pinhas e São José dos Pinhas - totalizando cerca de 350
crianças distribuídas nos períodos manhã e tarde.
A ação foi aprovada pelo Comitê de
Ética em Pesquisa da PUCPR, os pais assinaram o TCLE e os Alunos o Termo de
Assentimento.
O
caminho do diálogo foi norteado pelo caminho coberto pelo toldo branco que
percorre todo o campus. O ponto de partida e de chegada foi a Concha Acústica – uma estrutura
histórica originária da Tribuna do Hipódromo do Guabirotuba, inaugurado em 1899
categorizado como UIP - Unidade de Interesse Patrimonial –
Inicialmente
foi apresentada a proposta, ressaltando o papel da bioética na promoção do diálogo
para resolução de conflitos e principalmente a importância dos valores
utilizados na tomada de decisões e que estes devem ser bons não apenas para um indivíduo,
mas para todos. E para sabermos o que é bom para outro, devemos ouvi-lo,
conhecê-lo, e caso haja uma discordância devemos encontrar uma solução
consensual e justa.
Após
a explicação da proposta e do termo de assentimento e que eles fariam parte de
uma pesquisa, os alunos foram divididos em grupos de forma que percorressem
todo caminho e participassem de três árvores. Ao percorrer o caminho esteve em
contato com frases, imagens, instalações com intuito de despertar a sua
percepção para questões abordadas pela Bioética.
As
árvores eram compostas por mediadores, mestrandos em Bioética – tivemos a
excelente participação de 28 de nossos alunos e de 10 professores do programa
que contribuíram tanto na orientação quanto na própria ação. Os mediadores
lançavam uma pergunta relacionada com desigualdades e o tema da árvore e
utilizando frutos confeccionados brilhantemente com garrafa pet – doadas pelo
grupo – e produzidas pela mãe artesã de uma de nossas mestrandas. Esses frutos
continham argumentos pró- e contra, então, as crianças eram estimuladas a
refletiram sobre o certo ou o errado, o justo e o injusto e posicionar os
frutos nos respectivos lados da árvore que era uma planta do jardim. Os
mediadores foram auxiliados por monitores, alunos da graduação da PUCPR de
diferentes cursos, como Biologia, Psicologia, Nutrição, Teologia, Direito, Turismo,
Filosofia, contamos com a excelente participação de 73 acadêmicos. Que além de
anotarem, ajudavam na orientação e na condução das crianças. Além de terem
aproveitado muito das discussões para sua própria formação profissional e
pessoal. Todos os mediadores e monitores estavam identificados com roupas
pretas e camiseta do congresso.
Nós
tivemos 12 árvores
1. Árvore da vida Espiritualidade
2. Árvore da vida Qualidade De Vida
3. Árvore da vida Segurança Alimentar
4. Árvore da vida Recursos Naturais
Árvore da vida Biotecnologia
6. Árvore da vida Cuidados Saúde
7. Árvore da vida Vulneráveis
8. Árvore da vida Ética Animal
9. Árvore da vida etica em Pesquisa Com Humanos
1Árvore da vida Biodireito
Árvore da vida Educação
1 Árvore da Vida Família
No final das três árvores, os alunos
foram recepcionados com um lanche com frutas e um brinde que era um copo
telescópio, incentivando atitudes sustentáveis.
No final foi elaborado um questionário
para todos os envolvidos avaliarem o processo o qual pretende-se publicar em
breve
Ainda não tenho todos os relatos, mas
do que já chegou até mim a ação – como é de se esperar de tudo que vem da
Bioética – mexeu com estruturas racionais e emocionais de todos. Ouvi relatos
emocionados de professores, que se sentiram renovados ou colocar todo seu
conhecimento acadêmico em uma linguagem diferente atingindo aqueles que são
nossas esperanças em resolver todas essas questões.
Mestrandos me passaram relatos como
esse “quando ingressei no mestrado em bioética pensei que minha vida mudaria
após 2 anos. Com certeza mudei como profissional e como pessoa e cada dia que
passa tenho mais certeza que encontrei meu caminho. E neste caminho pessoas
especais estão sempre pensando num mundo melhor. Esta ação nos deixa de ensinamento
que podemos sim transformar o mundo, basta ter vontade”.
Um relato de um acadêmico “adorei a
experiência e achei muito válida. A mudança começa com as crianças e
adolescentes sem dúvida e eu achei muito legal participar dessa construção”.
Relato dos professores do ensino Fundamental:
“meus alunos adoraram, a experiência foi muito boa e bacana até a equipe que
foi junto me auxiliar no cuidado com as crianças ficou muito envolvida e
admirada com trabalho proposto”. E do outro professor: “Efetivamente a
atividade foi um diferencial na vida de muitas crianças e que seja o primeiro
de muitos eventos como esse. Com certeza devemos continuar investindo neste
diálogo da universidade com as crianças ainda nas fases iniciais de
escolarização, esse parece ser o caminho para o desenvolvimento dos princípios
não apenas relacionados à bioética, mas a universidade do conhecimento”.
Eu estou extremamente emocionada com os
resultados dessa ideia do Dr. Gerson que eu gestei, o mais bacana foi ver o
envolvimento de todos, como os diferentes níveis - professores doutores,
mestrandos, acadêmicos, crianças - em um
mesmo lugar do espaço - igualados na discussão a respeito de questões que ainda
nos atormentam. O resultado dessa ação só confirma minha visão - segundo
alguns, extremamente romântica e sonhadora - que percorrer o caminho da
bioética é uma missão de vida, um estilo de vida, que congrega pessoas que
querem fazer algo efetivo pela vida. Me senti muito honrada em poder
proporcionar esse turbilhão de experiências - ainda não totalmente digeridas - para o Congresso Brasileiro de Bioética, para
nosso Curso de Mestrado em Bioética da PUCPR– para a Sociedade Brasileira de
Bioética, pois esse era um sonho antigo, uma semente que começa a germinar e
acena para novos rumos da Bioética Brasileira.
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