segunda-feira, 29 de junho de 2015

Turismo “Ecológico” ou “Antropológico”?


Série Ensaios: Ética Animal

 

Por Renata Lumi Iwamoto

Acadêmica do Curso de pós-graduação em Conservação da Natureza e Educação Ambiental

 

Uma notícia publicada no site da UFPE em agosto de 2011, mostrou como o ecoturismo vem prejudicando a fauna marinha dos recifes de Porto de Galinhas-PE. Cerca de 800 mil turistas viajam para conhecer os famosos recifes, caminhar sobre as formações calcárias e mergulhar em meio a peixes coloridos e cavalos-marinhos. Atividades que resultaram em uma redução de 55% na quantidade de animais que vivem em meio às algas incluindo a diminuição de 11% entre as espécies de microcrustáceos, que servem de alimentos para os peixes dos recifes.

 
 
O termo “desenvolvimento sustentável” surgiu como forma de proteger e prevenir a natureza das alterações causadas pela interferência humana. A partir daí procurou-se substituir o antropocentrismo, por uma visão ecocêntrica, onde cada ser tem o seu valor e representa uma função no ciclo trófico.          Como um aliado à sustentabilidade, o turismo ecológico surgiu com o intuito de utilizar, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentivando sua conservação em busca da formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas. O termo ecoturismo foi criado na década de 1960 por Hetzer e consiste em um tipo de turismo no qual o viajante é atraído a um destino por causa de seu interesse em um ou mais aspectos da história natural desse destino. A visita combina educação, recreação e muitas vezes aventura.
            No Brasil, o ecoturismo foi introduzido na década de 1980, devido à tendência mundial de valorização do meio ambiente, porém esse tipo de turismo ganhou visibilidade apenas com a Rio 92. O Brasil como sendo um dos países com maior biodiversidade pela riqueza de seus biomas e seus diversos ecossistemas, apresenta um cenário rico para esse segmento. Esse tipo de turismo vem crescendo mundialmente devido ao estresse causado pela vida no espaço urbano. Cada vez mais as pessoas sentem a necessidade de se afastar das cidades, pois estão exaustas do barulho, da poluição, da violência e dessa forma, busca lugares onde o ar é puro, o barulho é unicamente da natureza e encontre paraísos ecológicos.
Um dos marcos para o desenvolvimento responsável e sustentável do turismo mundial foi a criação do Código Mundial de Ética do Turismo, estabelecido pela Organização Mundial do Turismo (OMT), criado para minimizar os efeitos negativos do turismo para o meio ambiente e para o patrimônio cultural. Este código determina que a infraestrutura deve ser planejada e as atividades turísticas programadas de forma a proteger o patrimônio natural, constituído pelo ecossistema e pela biodiversidade, além de preservar as espécies ameaçadas da fauna e da flora selvagens. Porém, o turismo ecológico deve ser visto como uma tipologia turística que requer muito cuidado em sua aplicação, pois por mais que o visitante possua alguma preocupação ecológica, querendo ou não, sempre haverá impactos, por isso, deve ser cuidadosamente trabalhado, para que todos saiam ganhando, pois quando bem aplicado, promove a proteção da natureza e atrai a atenção dos visitantes.
Atualmente o ecoturismo é utilizado em vários projetos como fonte de preservação de espécies ameaçadas. O Projeto Onçafari, por exemplo, tem o objetivo de estimular o ecoturismo no pantanal como fonte de renda alternativa aos proprietários de terra para que preservem o ecossistema e as espécies que nele vivem. O projeto consiste na habituação de onças pintadas a veículos, fazendo com que elas aceitem ser avistadas por pessoas nos veículos, sem deixarem de ser selvagens. Outro projeto bastante conhecido é o Tamar, onde as tartarugas marinhas tornam-se atrativos importantes para o ecoturismo.  Este projeto mantém seus Centros de Visitantes, em áreas anexas às bases de pesquisa e conservação, contribuindo diretamente para diversificar e enriquecer os atrativos e ampliar os fluxos turísticos gerados pelo carisma das tartarugas marinhas.
Com o objetivo das práticas sustentáveis, as atividades do ecoturismo deveriam causar impactos mínimos ao meio ambiente, porém muitas vezes não é o que acontece. Os ambientes naturais são modificados drasticamente para a construção de melhor infraestrutura e melhores equipamentos turísticos, consequentemente os recursos naturais estão sendo escasseados para atender às demandas dos turistas. Dessa maneira, os animais que habitam essas florestas acabam sendo prejudicados, pois eles dependem integralmente da natureza para sua sobrevivência.
Outro problema causado pelo ecoturismo é a alimentação artificial para atrair os animais, causando não só problemas para saúde, como também alterações no comportamento, desequilíbrios populacionais e geração de dependência. Foi o que aconteceu com as arraias nas Ilhas Cayman. Foi realizada uma pesquisa afirmando que a visita de mais de um milhão de turistas por ano fez com que os animais se tornassem letárgicos, agressivos durante o período de reprodução e dispostos a estarem perto de outras arraias, ao contrário do que acontece com as arraias selvagens, são solitárias e com hábitos noturnos. Elas buscam alimentos durante a noite, percorrendo grandes distâncias até acharem comida, e raramente encontram outras arraias em seu percurso.
Eu como bióloga, acredito que o ecoturismo é válido, mas apenas na teoria, pois a ideia de conservação e preservação da natureza através da educação ambiental é a melhor maneira para sensibilizar as pessoas a respeito do meio ambiente. Porém muitas vezes esta prática está mais relacionada com a rentabilidade e o status do que a conscientização e a natureza em si. Os animais são muito prejudicados e muitas vezes são utilizados como entretenimento, sofrem, contraem doenças, apenas para entreter as pessoas; Deixando de lado o termo “Eco”, podendo ser substituído pelo termo “Antropo”.

 
O presente ensaio foi elaborado para a disciplina de Ética no uso de animais baseando-se nas seguintes referências:

http://www.icmbio.gov.br/portal/biodiversidade/fauna-brasileira/projetos-de-conservacao.html
http://www.turismo.gov.br/export/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads_publicacoes/Ecoturismo_Versxo_Final_IMPRESSxO_.pdf
http://www.estig.ipbeja.pt/~ac_direito/2004_NiceiaRodriguesAlencastro.pdf
http://w3.ufsm.br/gpet/engrup/iiiengrup/15.pdf
http://www.wconservation.com/
https://www.ufpe.br/agencia/index.php?option=com_content&view=article&id=40964:pesquisa--ecoturismo-prejudica-fauna-marinha-dos-recifes-de-porto-de-galinhas-pe&catid=9&Itemid=73
http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/questoes_ambientais/desenvolvimento_sustentavel/
http://www.egov.ufsc.br/portal/conteudo/antropocentrismo-x-ecocentrismo-na-ci%C3%AAncia-jur%C3%ADdica
http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/desenvolvimento/conferencia-onu-meio-ambiente-rio-92-691856.shtml
https://www.youtube.com/watch?v=ovu_pVcTJkw

 

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