segunda-feira, 29 de junho de 2015

O “amor excessivo” aos animais e suas consequências...


Série Ensaios: Ética Animal

Por: Ana Laura Diniz Furlan

Pós graduanda do curso Conservação da Natureza e Educação Ambiental

 

“A compaixão pelos animais está intimamente

 ligada a bondade de caráter, e quem é cruel

com os animais não pode ser um bom homem”.


 
Os zoológicos representam um papel fundamental para a preservação de espécies e educação ambiental correto? Aparentemente esses conceitos básicos de bom funcionamento foram esquecidos no zoológico de Brasília, e agora passam por investigação do Ministério Público após “viralizar” na Internet um vídeo de um leão em más condições de bem-estar. O que me espanta nessa situação é que não é a primeira vez que o zoológico sofre retaliação desse porte, pois em janeiro deste ano, já foram denunciados após vídeo de elefante com feridas nas costas se molhando em um tanque.

 
Ao conferirmos brevemente as redes sociais comumente encontramos a utilização de animais para diversos fins, desde publicações emotivas a conscientização das mais variadas espécies. Para Edward O.Wilson e Stephen Kellert, esta ligação inata do ser humano para com os outros organismos pode ser entendida como uma afeição, ou seja, ligação emocional ligada aos genes, nomeando este sentimento ao termo de Biofilia, primeira vez descrito em seu livro The Biophilia Hypothesis Ao confrontarmos essa necessidade do homem em manter contato com diferentes organismos, faz-se a seguinte questão, será que nós, seres humanos com nosso telencefalo altamente desenvolvido e nosso polegar opositor, não utilizamos a desculpa de se relacionar com a natureza e banalizamos nossa relação humano animal?  Aos mais remotos tempos da antiguidade, vemos o homem se relacionando com animais, muitas vezes não tão pacificamente ou cordialmente, passamos a domesticá-los, caça-los, usufruir de peles, carne e gordura. Pode-se considerar que a partir desse momento, em que o homem aprendeu a dominar para usufruir das vantagens desse convívio, os animais foram e ainda são os mais prejudicados nessa relação conturbadora.      A evolução do conhecimento empírico, aplicado aos animais levou-nos em poucos anos a uma grande revolução do saber. Em meados dos anos de 1964 uma corajosa britânica chamada Ruth Harrison, clamou a atenção de todos á forma degradante em que animais de produção estavam sendo tratados, em seu livro Animal Machines, inspirando a criação a Convenção Europeia para a Produção Animal. Com o passar do tempo, houve a criação de diversas leis, todas com um único intuito, visar o Bem-Estar Animal (BEA).      Retornando ao questionamento inicial, em qual momento ao longo da nossa história evolutiva com os animais deixamos de perceber que somos igualmente animais e que nossas ações cruéis refletem diretamente no bem-estar dos mesmos? Atualmente a crueldade esta banalizada, virou clichê em uma mídia sanguinária e violenta. Em que dentre tantas atrocidades cometidas contra a vida, independente de ser humano ou animal, acostumamos com a ideia de que tudo é normal, e aceitamos calados. Vejamos:

v  Zoofilia: Ou bestialismo, prática de manter relações sexuais com animais, encontra muitas divergências internacionalmente. Enquanto muitos países a consideram uma prática ilegal, outros são realizados até turismo de exploração.  A prática está atualmente tão incrustada na sociedade, que em uma rápida pesquisa na Internet no sitio de pesquisa Google, vemos centenas de páginas de vídeos pornôs em que pessoas mantem relações sexuais com animais.

v  Ecoturismo: Uso de animais em tráficos, souvenires ou degradação do habitat são atitudes que se devem ser repensadas quanto ao assunto ecoturismo em nosso país e fora dele. Infelizmente as questões econômicas em torno dessas regiões fazem população e governantes fecharem os olhos e visar os lucros oriundos da exploração.

v  Trafico e comércio ilegal de animais silvestres: O Brasil não é de hoje um país megadiverso, e essa fauna tão exuberante atrai a atenção de pessoas dentro e fora do continente. Por isso não é raro os noticiários relatarem casos e mais casos de animais sofrendo por esse comercio inescrupuloso, entretanto muito vantajoso, sendo que só no Brasil essa pratica repugnante alavanca a terceira maior fonte de dinheiro ilegal.

v  Testes para produtos de embelezamento: A indústria farmacêutica e estética são as que mais exploram os animais para testes, sejam eles legais ou não milhares de animais todos os anos são utilizados. Recentemente aprovada uma lei que permite que essa indústria bilionária passe a aproveitar os recursos que nossa biodiversidade tem a “oferecer” em prol da saúde e conservação da espécie humana (todos esperaram que sim). Muitas empresas mundialmente conhecidas, ao serem questionadas se utilizam ou não animais para testar seus produtos, afirmam veementemente que não o fazem, entretanto contrata uma empresa terceirizada para fazer os testes, e não se responsabiliza por quais métodos foram utilizados.

v  Indústria da moda: “O amor aos animais é tão intenso nesses casos, que uso suas próprias peles para lembrar como o amo”. Possivelmente essa é a justificativa para quem compra um casaco de pele de onça, ou uma bolsa de couro de jacaré.

v  Humanização dos animais: Cães e gatos atualmente são membros das famílias, sem duvidas, o mimetismo desses animais, pode contribuir para a necessidade das pessoas de alterarem sua aparência.  Com o aumento de pet-shops as ofertas de pacotes estéticos vão muito além do banho e tosa tradicional, alteram cruelmente o fenótipo de cães e gatos.

Eu como Bióloga questiono se banalização da Biofilia, em que explicamos que todos esses atos são puramente por amor, ou necessidade de se manter contato com os animais é cruel e desumano. Que tipo de amor doentio é esse que matamos? Mutilamos? Extinguimos? Desrespeitamos toda e qualquer senciência (SINGER, 2002) que o animal tenha em nome de uma necessidade. Até quando o egoísmo humano irá continuar a atropelar tudo o que está em volta para sanar suas necessidades? Deveríamos ser mais “bichos irracionais” e lutar para a sobrevivência e não suprir necessidades fúteis impiedosas.
Esse ensaio foi elaborado para disciplina Ética no uso de animais e Bem-Estar Animal
Broom, D. M., Molento, C. F. M. (2004). Bem-Estar Animal: Conceitos e questões relacionadas- Revisão. Archives of Veterinary Science. v.9, n.2. Brasil.
Harrison, R (1964). “Animal Machines”. London: Stuart, p.215.
Singer, P (2000). Vida Ética. Rio de Janeiro: Ediouro, p. 420.
Wilson E. O. (1984). Biophilia. Cambridge: Harvard University Press.

 


 

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