Série Ensaios: Ética Animal
Por: Ana Laura Diniz Furlan
Pós graduanda do curso Conservação da Natureza e
Educação Ambiental
“A compaixão pelos animais está intimamente
ligada a
bondade de caráter, e quem é cruel
com os animais não pode ser um bom homem”.
Os
zoológicos representam um papel fundamental para a preservação de
espécies e educação ambiental correto? Aparentemente esses conceitos básicos de
bom funcionamento foram esquecidos no zoológico de Brasília, e agora passam por
investigação do Ministério Público após “viralizar” na Internet um vídeo de um leão em más condições de
bem-estar. O que me espanta nessa situação é que não é a primeira vez que o
zoológico sofre retaliação desse porte, pois em janeiro deste ano, já foram
denunciados após vídeo de elefante com feridas nas costas se
molhando em um tanque.
Ao conferirmos brevemente as redes sociais comumente encontramos a utilização
de animais para diversos fins, desde publicações emotivas
a conscientização das mais variadas espécies. Para Edward
O.Wilson e Stephen
Kellert, esta ligação inata do ser humano para com os outros organismos
pode ser entendida como uma afeição, ou seja, ligação emocional ligada aos
genes, nomeando este sentimento ao termo de Biofilia,
primeira vez descrito em seu livro The
Biophilia Hypothesis. Ao confrontarmos essa
necessidade do homem em manter contato com diferentes organismos, faz-se a
seguinte questão, será que nós, seres humanos com nosso telencefalo
altamente desenvolvido e nosso polegar opositor, não utilizamos a desculpa de
se relacionar com a natureza e banalizamos nossa relação humano animal? Aos mais remotos tempos da antiguidade, vemos o
homem se relacionando com animais, muitas vezes não tão pacificamente ou
cordialmente, passamos a domesticá-los, caça-los, usufruir de peles, carne e
gordura. Pode-se considerar que a partir desse momento, em que o homem aprendeu
a dominar para usufruir das vantagens desse convívio, os animais foram e ainda
são os mais prejudicados nessa relação conturbadora. A evolução do conhecimento
empírico, aplicado aos animais levou-nos em poucos anos a uma grande revolução
do saber. Em meados dos anos de 1964 uma corajosa britânica chamada Ruth Harrison, clamou a atenção de
todos á forma degradante em que animais de produção estavam sendo tratados, em
seu livro Animal
Machines, inspirando a criação a Convenção Europeia para a Produção Animal.
Com o passar do tempo, houve a criação de diversas leis, todas com um único intuito,
visar o Bem-Estar Animal (BEA). Retornando ao questionamento
inicial, em qual momento ao longo da nossa história evolutiva com os animais
deixamos de perceber que somos igualmente animais e que nossas ações cruéis
refletem diretamente no bem-estar dos mesmos? Atualmente a crueldade esta
banalizada, virou clichê em uma mídia sanguinária e violenta. Em que dentre
tantas atrocidades cometidas contra a vida, independente de ser humano ou
animal, acostumamos com a ideia de que tudo é normal, e aceitamos calados.
Vejamos:
v
Zoofilia: Ou bestialismo, prática de manter
relações sexuais com animais, encontra muitas divergências internacionalmente.
Enquanto muitos países a consideram uma prática ilegal,
outros são realizados até turismo
de exploração. A prática está atualmente
tão incrustada na sociedade, que em uma rápida pesquisa na Internet no sitio de pesquisa Google,
vemos centenas de páginas de vídeos pornôs em que pessoas mantem relações
sexuais com animais.
v
Ecoturismo: Uso de animais em tráficos, souvenires
ou degradação do habitat
são atitudes que se devem ser repensadas quanto ao assunto ecoturismo em nosso
país e fora dele. Infelizmente as questões econômicas em torno dessas regiões
fazem população e governantes fecharem os olhos e visar os lucros oriundos da
exploração.
v
Trafico e comércio ilegal de animais silvestres:
O Brasil não é de hoje um país megadiverso, e essa fauna tão exuberante atrai a
atenção de pessoas dentro e fora do continente. Por isso não é raro os
noticiários relatarem casos e mais casos
de animais
sofrendo
por esse comercio
inescrupuloso,
entretanto muito vantajoso, sendo que só no Brasil essa pratica repugnante
alavanca a terceira maior fonte de dinheiro ilegal.
v
Testes para produtos de embelezamento: A
indústria farmacêutica e estética
são as que mais exploram os animais para testes, sejam eles legais ou não
milhares de animais todos os anos são utilizados. Recentemente aprovada uma lei
que permite que essa indústria bilionária passe a aproveitar os recursos que
nossa biodiversidade tem a “oferecer” em prol da saúde e conservação da espécie
humana (todos esperaram que sim). Muitas empresas mundialmente conhecidas, ao
serem questionadas se utilizam ou não animais para testar seus produtos,
afirmam veementemente que não o fazem, entretanto contrata uma empresa
terceirizada para fazer os testes, e não se responsabiliza por quais métodos
foram utilizados.
v
Indústria da moda: “O amor aos animais é tão
intenso nesses casos, que uso suas próprias peles para lembrar como o
amo”. Possivelmente essa é a justificativa para quem compra um casaco de pele
de onça, ou uma bolsa de couro de jacaré.
v
Humanização dos animais: Cães e gatos atualmente
são membros das famílias, sem duvidas, o mimetismo
desses animais, pode contribuir para a necessidade das pessoas de alterarem sua
aparência. Com o aumento de pet-shops as
ofertas de pacotes estéticos
vão muito além do banho e tosa tradicional, alteram cruelmente o fenótipo de
cães e gatos.
Eu como Bióloga questiono se banalização da
Biofilia, em que explicamos que todos esses atos são puramente por amor, ou
necessidade de se manter contato com os animais é cruel e desumano. Que tipo de
amor doentio é esse que matamos? Mutilamos? Extinguimos? Desrespeitamos toda e
qualquer senciência
(SINGER,
2002) que o animal tenha em nome de uma necessidade. Até quando o egoísmo
humano irá continuar a atropelar tudo o que está em volta para sanar suas
necessidades? Deveríamos ser mais “bichos irracionais” e lutar para a
sobrevivência e não suprir necessidades fúteis impiedosas.
Esse ensaio foi elaborado para
disciplina Ética no uso de animais e Bem-Estar AnimalBroom, D. M., Molento, C. F. M. (2004). Bem-Estar Animal: Conceitos e questões relacionadas- Revisão. Archives of Veterinary Science. v.9, n.2. Brasil.
Harrison, R (1964). “Animal Machines”. London: Stuart, p.215.
Singer, P (2000). Vida Ética. Rio de Janeiro: Ediouro, p. 420.
Wilson E. O. (1984). Biophilia. Cambridge: Harvard University Press.
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