Série
Ensaios: Ética Animal
por Bianca
Kalinowski Canestraro
Acadêmica do Curso de Especialização em Conservação da
Natureza e Educação Ambiental
Notavelmente as
plantas reagem a diversos estímulos físicos e biológicos de forma incrível. É
possível citar alguns exemplos como a sincronização da fenologia
às estações do ano; a diversificação das síndromes de dispersão de propágulos e
de polinização; o movimento das plantas em direção à luz; o mimetismo com
animais como estratégia reprodutiva ou contra a predação e o desenvolvimento de
estruturas de proteção como espinhos, látex e toxicidade; a adaptação extrema
de plantas de solos pobres a nutrição através de insetos, protozoários ou
qualquer outro animal que fique preso nas armadilhas de plantas “carnívoras” entre outros. Mas vamos voltar à
pergunta inicial: plantas tem sentimentos? A primeira impressão esta pergunta
soa estranha ou por vezes ilógica para a maioria das pessoas. Contudo, nas
últimas cinco décadas estudos vem apresentando resultados positivos a este
questionamento.
As
Plantas são capazes também de soar um alarme quando ela ou suas vizinhas estão
em perigo. Um estudo usou o som de uma lagarta
devorando as folhas de uma planta para testar a reação de outra. O resultado
foi positivo, a planta foi sensível ao som, assim como diversos processos de
morte celular vegetal, humana, animal ou protista. Além disto as plantas
apresentam uma ligação emocional e uma percepção mental com seus donos, podendo
até ler suas intenções e emoções.
Um
estudo da Universidade de Bonn na
Alemanha utilizou um microfone a laser para detectar a liberação do gás etileno
pela planta sob estresse. Quando uma planta foi danificada, ela liberou etileno
por toda sua superfície, este sinal foi emitido em forma de ondas e captado
pelo microfone. A reação foi comparada a um choro. Em geral, quanto maior o
estresse, maior o sinal captado pelo dispositivo. Em comunidade, esse gás é uma
forma de comunicação com demais plantas. Logo, plantas apresentam vida social e
se comunicam através de sinais de alerta, alegria e outras emoções.
Partindo deste
princípio, as plantas são seres sencientes, ou seja, são capazes de expressar
sensações ou impressões do meio. Elas apresentam percepções primárias que são capazes de sentir e
responder a emoções e pensamentos humanos. As plantas são também conscientes,
elas sabem o seu lugar no espaço e reagem tanto a ameaças, estímulos positivos quanto
a barreiras físicas. A inteligência, dentre seus diversos aspectos, contempla a
capacidade de resolução de problemas. Plantas conseguem sentir barreiras
mecânicas no solo antes mesmo de suas raízes tocá-las e são capazes de desviar
do obstáculo. Assim, não há dúvidas que plantas são seres inteligentes,
diferentemente de animais mais derivados, porém em nível mais simples e
semelhante a animais mais basais. As correntes éticas biocêntricas pregam o respeito a seres vivos pelo
simples fato de serem seres vivos e terem o direito de viverem no mesmo planeta
que nós. Então porque não respeitar as plantas também?
Mas
o que o código ético diz respeito à senciência de plantas?! O código é baseado em seres que sentem dor
física e mental. Inicialmente apenas mamíferos derivados e humanos estavam
incluídos no código, contudo, pesquisas mostraram que invertebrados como
crustáceos, insetos e moluscos também são capazes de sentir dor. Mas e quanto
aos vegetais? Sabemos que eles são sensíveis a estímulos ambientais e de
diversas formas de vida, mas existe fundamentação moral e ética para
defendê-los? Até que ponto estamos certos em manipular indiscriminadamente as
plantas para o cultivo intensivo, para fins de pesquisa, para a indústria
farmacêutica e para a supressão vegetal em larga escala em virtude de um grande
empreendimento? Há interesse em criar medidas para reduzir a dor dos vegetais
semelhante ao abate humanitário de bovinos?
Como Bióloga e
Botânica, eu acredito que dificilmente esse tema é discutido em comitês de ética, pois para pesquisas científicas
apenas os animais e humanos são alvo de reflexão. Porque não refletir na dor e
senciência vegetal? Porque não expandir os horizontes da bioética para TODOS os
seres vivos? Incluo aí desde bactérias, protozoários, algas (grupo
polifilético), até animais basais e derivados e, claro, as plantas. Afinal, na
história evolutiva, nós somos os recém-chegados, os calouros. Ainda temos muito
a aprender sobre suas complexas relações intraespecíficas.
O presente ensaio foi
elaborado para a disciplina de Ética no uso de animais e bem estar animal do
curso de especialização em Conservação da Natureza e Educação Ambiental da
PUCPR, tendo como base as obras:
Experimento de CleveBrackster com a
dracena e camarões
Pesquisa da Universidade da Alemanha sobre
uso de microfone a laser para captar gás etileno exalado pelas plantas em
estresse.
CleveBrackster e a senciência de plantas,
bactérias, lactobacilos e leucócitos isolados do corpo humano.
Cleve Brackster e Discovery Science.
Vídeos do Smithsonian sobre senciência e
demais temas vegetais.
Matéria da veja sobre senciência das
plantas.
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