Animais Mantidos Cativos em Zoológicos e Santuários: você é a favor ou contra?

Série Ensaios: Ética Animal

Por Thaís Krauss Ortiz
Bióloga e aluna do curso de especialização em Conservação da Natureza e Educação Ambiental

Três ararajubas são furtadas do Zoológico Municipal de Curitiba”, este fato aconteceu na madrugada do dia dois de maio de 2015, onde as telas do recinto foram arrombadas e, das cinco aves, que são consideradas vulneráveis pelo Ministério do Meio Ambiente, só restaram duas.







Há cinco mil anos os egípcios, em suas viagens e batalhas, capturavam animais selvagens como pequenos gatos, babuínos e leões, e os mantinham em cativeiro nos seus templos como símbolo de força e poder. Este costume estendeu-se por milênios firmando-se entre os séculos XVI a XVIII, marcando o início da concepção de zoológicos. O primeiro zoológico moderno foi o Imperial Menagerie, em Viena, 1752. A partir daí vários zoológicos foram inaugurados na Europa (em Paris, 1793 e em Londres, 1826), tendo o seu início no Brasil, em 1882, com o Museu Emílio Goeldi, em Belém do Pará, seguido de outros no Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Brasília.
Os recintos e as jaulas desses primeiros zoológicos eram elaborados pensando no visitante, proporcionando o melhor ângulo de visão, sem se preocupar com as condições dos animais. Porém, no final do século XIX e início do século XX, a preocupação não só com o público, mas também com o ambiente do animal, passou a ter importância (no “Stellingen Zôo”, na Alemanha, os animais passaram a ter recintos mais apropriados, maiores, simulando um pouco o seu ambiente natural), nesse momento começam as preocupações com o bem-estar animal.
O “bem-estar animal” é o estado físico e psicológico de um animal diante de suas tentativas de lidar com o ambiente. Com o avanço das pesquisas em etologia animal, passou-se a acreditar cada vez mais na presença de uma consciência e sentimentos nos animais vertebrados. Assim, os animais passaram a ser encarados como seres “sencientes” (que sente, tem sensações) e os zoológicos, que não se preocupavam com o bem-estar animal, passam a desempenhar funções muito mais importantes, visando não somente a exposição de animais, mas também, a pesquisa científica para a conservação de espécies e a educação ambiental. Atualmente os zoológicos desenvolvem programas de enriquecimento ambiental, que visam atender às necessidades etológicas e psicológicas dos animais, estimulando os comportamentos naturais de cada espécie, melhorando o bem-estar, evitando comportamentos estereotipados e possibilitando uma futura reintrodução na natureza.
Para certificar o bem-estar físico e psicológico dos animais, a legislação brasileira para zoológicos deve ser atendida, conforme a lei nº 7.173, de 14 de dezembro de 1983 e a instrução normativa do IBAMA 169, de 20 de fevereiro de 2008. Porém, muitos zoológicos não atendem às condições mínimas para manutenção dos animais, gerando diferentes opiniões quanto à polêmica questão sobre a verdadeira função dos jardins zoológicos. Basta colocar no google a palavra zoológico para encontrarmos as mais variadas notícias e opiniões acerca desta instituição. São notícias como a do tigre Hu, no zoológico de Cascavel, que atacou um menino de 11 anos; do menino Maddock que escorregou do colo da mãe e caiu sobre a grade onde ficavam os cães selvagens em Pittsburgh; Gu Gu, o panda de Pequim que já atacou três pessoas que entraram em sua jaula. Todos esses casos com certeza nos sensibilizam e levam a questionar: o que levou a estes acidentes? Porque estes animais estão lá, enjaulados, apenas para a diversão humana?
Há quem seja totalmente contra os zoológicos, com opiniões muitas vezes radicais e sem embasamento teórico e prático sobre o assunto, assim como há depoimentos de pessoas que tentaram entender um pouco desta realidade e tiveram a decepção e o azar de encontrar uma instituição com condições precárias. O que não faltam são argumentos contra e a favor, por exemplo, há quem defenda dizendo que essa exposição e aproximação pode motivar o homem à proteção dos animais; os zoos salvam espécies ameaçadas com programas de reprodução de espécies; muitos seguem padrões exigentes para o tratamento dos animais (SBZ); um bom zoológico oferece enriquecimento ambiental; são um momento de lazer para a família que permite o reestabelecimento do contato homem versus natureza. Ao mesmo tempo, para os que se manifestam contra, os animais em cativeiro sofrem de stress, tédio e confinamento; os recintos são empobrecidos e pequenos; há a reprodução de filhotes para atrair o público; a prática da eutanásia em animais excedentes; acidentes entre os animais e tratadores e até mesmo com o público e etc.
Infelizmente, a realidade de cada zoológico é única. Por exemplo, na Dinamarca, o zoológico Givskud passará por reformas que custarão 200 milhões de dólares para melhorar a experiência dos visitantes e dos animais e será chamado de Zootopia. Casos de sucesso como no Zoológico Nacional Smithsonian, com o nascimento do filhote de panda Bao Bao, espécies como o bisão europeu, o cavalo-de-przewalski, o condor da Califórnia, os remanescentes antílopes órix-cimitarra e ádax no norte da África, o mico-leão-dourado na América do Sul ou o abutre-barbudo no centro e no sul da Europa, nenhuma dessas espécies existiriam se não fosse graças ao trabalho de conservação e manutenção de espécies realizado nos zoológicos. Muitos dos animais que vão parar nos zoológicos são apreendidos do tráfico de animais, sem contar a perda e degradação dos ambientes naturais para suprir as necessidades humanas (indústrias, agricultura, pastagens).
“Quase 60% dos zoológicos são municipais, o que significa que grande parte não cobra entrada. Ou seja, os zoológicos não têm financiamento e, sem dinheiro, não há melhorias e investimentos e quem controla e fiscaliza essas organizações é o governo, que não tem sequer um diagnóstico de sua situação”, relata Yara Barros, presidente da Sociedade de Zoológicos e Aquários do Brasil (SZB). Cerca de 700 milhões de pessoas vão aos 1.300 zoológicos de todo o mundo. No Brasil infelizmente são raros os zoológicos que chegam ao seu ideal, de serem centros de conservação, pesquisa, lazer e educação para proteger a natureza. No âmbito dessa questão, atualmente, surgem os santuários animais, que são instituições e/ou pessoas que mantêm animais sob sua custódia, nas melhores condições possíveis e pelo tempo de suas vidas, mas não permitem sua reprodução (exceção para santuários de animais silvestres, que podem reproduzir animais para a conservação da espécie) e não exploram esses animais de forma alguma, sendo que alguns santuários permitem a visitação de público externo, com o propósito de trabalhar a educação ambiental e a conscientização do público para que não comprem animais silvestres nem exóticos.
Eu como bióloga acredito que, a polêmica dos zoológicos sempre terá os dois lados, dos defensores versus os repudiantes, a questão é que está instituição está longe de acabar. Seus objetivos (bem-estar animal, educação ambiental e conservação de espécies) nunca serão atingidos sem o devido apoio financeiro e a fiscalização por parte dos órgãos competentes. O público quer entretenimento e infelizmente a educação ambiental está longe de ser o ponto forte dos zoológicos. Desta forma, nossa legislação deve ser melhorada, atualizada, e principalmente, cumprida. Os zoológicos ruins, que denigrem sua imagem, devem ser fechados. Sorte dos animais que conseguem ser acolhidos por santuários, porém esses locais novamente remetem à questão financeira, pois julgar é muito fácil, quando na verdade o que precisamos são de soluções e principalmente pessoas, governos, bem intencionados, que realmente se preocupem com o bem-estar animal e a manutenção da biodiversidade.

O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Ética no Uso de Animais e Bem-Estar Animal, tendo como base as seguintes referências:
http://www.givskudzoo.dk/
http://www.szb.org.br/legislacao.html
http://www.gramadozoo.com.br/sobre-o-zoo