Série Ensaios: Ética Animal
Por GUILHERME MACHADO GONÇALVES
Biólogo e Acadêmico do Curso de Especialização em Conservação da Natureza e Educação Amabiental
Em São Paulo, dia 18 de Outubro de 2013, ativistas invadiram o instituto Royal, visando resgatar animais que estavam sendo usados como cobaias. Entre os animais resgatados, encontravam-se cães da raça beagle, coelhos e camundongos.
Este fato despertou no Brasil o debate sobre o uso de cobaias para fins de pesquisa. Pois, até então, não se tinha interesse por parte da mídia em se divulgar este tipo de questão. O que poucos sabem é que para criação de novos medicamentos, estes animais são submetidos a diversos métodos invasivos, como: cirurgias, mutilação de órgãos ou membros, ingestão de substâncias, entre outros. A fim de obter os quadros clínicos dos mais variados e assim testar as novas drogas para o mercado. Porém, não é de hoje que esta prática vem sendo realizada. No século XVIII o iluminismo foi um marco na história da humanidade, pois, foi nesta época que começaram os grandes avanços da tecnologia. No entanto, a busca por essas tecnologias levou o homem a deixar de lado o seu conhecimento acerca de si mesmo. Até então os animais eram tratados como máquinas, pois, acreditava-se que eles apenas existiam com a única finalidade de servir ao homem.
Durante a Segunda Guerra Mundial o homem passou a utilizar os animais para produção em grande escala: tanto para alimentação, quanto para vestuário, trabalho, pesquisa, na indústria e no entretenimento. E foi nesta época surgiu certa preocupação com o “bem-estar dos animais”, termo este que só veio a ser inventado e conhecido pelo mundo a partir do livro “Animal Machines” de Ruth Harrison em 1964. Este livro colaborou para a criação de comissões que visavam avaliar o bem-estar dos animais de produção e propor melhorias.
A forte busca pelo desenvolvimento tecnológico e financeiro, procurando prolongar a vida, despertou nas indústrias farmacêuticas a necessidade da descoberta e de maior uso dos recursos naturais, como a utilização dos remédios produzidos através dos animais dos quais podemos destacar: materiais construídos por eles (casulos ou ninhos) produtos do seu metabolismo ou partes do próprio corpo do animal, para o tratamento ou prevenção de doenças (COSTA-NETO, 2011). Ao utilizar estes animais, mesmo havendo uma legislação, os pesquisadores e as indústrias acabam não pensando no bem-estar dos animais utilizados.
Ao longo da história algumas pesquisas, obtiveram sucesso na criação de vacinas ou tratamentos de doenças, mais nem todas tiveram bons resultados, mesmo com os testes em animais, há exemplo disso podemos citar o caso da talidomida, que, embora testado durante três anos em ratos, provocaram cerca de mais de 10 mil deformações congênitas em crianças, após o uso desta substância por durante a gestação (Menezes, 2013).
O desenvolvimento dos medicamentos está estritamente ligado aos seus consumidores, que comumente não se interessam pela forma com que esses produtos são elaborados, apenas se interessando pelo resultado que obterão com o uso destes. Felizmente há uma crescente preocupação com o bem-estar animal, levando hoje a busca por novas e promissoras tecnologias que visem à erradicação do uso de cobaias para produção de medicamentos como: novas tecnologias para ensaios In vitro e interações moleculares em computador (FAFESP, 2015). Um grande passo para esse “futuro promissor” foi a Resolução Normativa 17, adotada pelo Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea) em 2014, que aponta 17 métodos alternativos para substituição de animais em experimentos, levando em consideração o princípio dos 3Rs que representam os conceitos de substituição (replacement, em inglês), redução (reduction) e refinamento (refine), visando a substituição dos animais sencientes, redução do número de cobaias, sem alteração da confiabilidade da pesquisa e diminuição da incidência ou severidade nos testes que utilizam os animais (MCTI, 2014). Segundo o MCTI (2014), os métodos de substituição de animais por testes in vitro podem ser classificados em: potencial de irritação e corrosão da pele; potencial de irritação e corrosão ocular; potencial de fototoxicidade; absorção cutânea; potencial de sensibilização cutânea; Toxicidade aguda e Genotoxicidade.
Eu, como biólogo, acredito que embora ainda seja necessária a utilização de cobaias para testes de medicamentos, do ponto de vista ético e biológico, nada justifica a dor e sofrimento provocado a estes animais. Sendo assim, a sociedade tem por obrigação a criação de novas leis e tecnologias, para deixar esta prática de lado.
Esse ensaio foi elaborado para a disciplina Etologia tendo base nas obras:
http://www.mcti.gov.br/visualizar/-/asset_publisher/jIPU0I5RgRmq/content/laboratorios-tem-cinco-anos-para-adotar-17-metodos-alternativos;jsessionid=2F0AC4A6502955BE897F2811B68A2A58 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232011000700100 http://agencia.fapesp.br/testes_em_animais_sao_reduzidos_com_novos_ensaios_in_vitro_e_simulacoes/20928/
http://www.jornaldocampus.usp.br/index.php/2013/11/necessidade-do-uso-de-animais-em-testes-gera-divergencias-entre-ativistas-e-pesquisadores/
http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2013/10/conheca-testes-que-ja-nao-exigem-cobaias-e-aqueles-em-que-sao-necessarias.html
http://www.portaldosfarmacos.ccs.ufrj.br/atualidades_animais.html
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