segunda-feira, 1 de junho de 2015

Animal machine: para os animais, a escravidão não acabou



Série Ensaios: Ética Animal

Por: Gabriela Ferreira Dias
Acadêmica do Curso Bacharelado em Ciências Biológicas

Uma investigação da ONG Igualdade Animal, na Alemanha, revela maus-tratos a galinhas em granjas ecológicas de produção de ovos, consideradas de alta qualidade. Dentre os maus tratos estão: animais doentes, animais mortos na granja, cadáveres em decomposição entre os animais vivos, galinhas sem plumagem devido ao stress e às condições de exploração, galinhas com úlceras ensanguentadas, inflamação dos órgãos genitais e outras lesões sem receberem tratamento veterinário.


A alimentação e as regras de ingestão, a forma como o alimento é apresentado e a mecânica de sua produção, tudo isso é considerado “natural”. Então, concluímos, quando comemos não praticamos qualquer ato imoral. Porém, com o aumento da população mundial, os alimentos, incluindo os de origem animal são produzidos em larga escala, e a prioridade não está no bem estar do animal, e sim na produção. 
Depender de nutrientes exteriores força o animal a procurá-los. Tal procura é parte do processo de construção da mente específica do animal, seja ele humano, ou, não-humano. Se o animal for privado da liberdade de “mover-se para autoprover-se”, destruiu-se o que o caracterizaria. Fox escreve que houve um tempo não muito longe, no entanto, no qual muitas pessoas não apenas pensavam que a escravidão humana fosse algo justificável e mesmo sancionada por Deus, e estavam seguras de que elas – e a sociedade – não poderiam sobreviver sem ela. Da mesma forma, vemos os animais como escravos para a produção de alimentos para nós, humanos.
Na produção de ovos pelas galinhas a superpopulação, a barulheira e a luz contínua levam estes animais a se atacarem entre si, a se auto mutilarem, levando-os até ao canibalismo. Podem chegar a óbito por fatores ambientais. Para limitar as vítimas, os produtores atrofiam bicos e unhas, sendo que esta prática mata muitas galinhas antes de estas atingirem a idade adulta, após longas agonias. Com base nos dados de 2002, pode-se estimar que, só nos Estados Unidos, são mortos pela indústria de ovos algo em torno de 300 milhões de pintinhos machos por ano, pois eles não servem para o abate, então são descartados como objetos sem utilidade.
“A vaca leiteira, antes vista pacífica, até mesmo idilicamente andando pelas campinas, é agora uma máquina de leite de fina sintonia, cuidadosamente monitorada. A cena bucólica da vaca leiteira brincando com seu bezerro no pasto não faz parte da produção leiteira comercial.’’Na produção de leite, as vacas podem passar suas vidas inteira sobre pisos de concreto, confinadas em espaços minúsculos e viver entre suas próprias fezes. Elas não têm liberdade de mover-se, trocar de lugar, escolher o melhor ângulo para receber a comida. A vaca destinada à produção de leite vive grávida 9 de cada 12 meses. Nascidos, os bezerros que sobrevivem ao desmame no segundo dia de vida, ou são abatidos, ou enviados para a indústria da vitela. Em média, tiram-se 20 litros de leite por dia de cada uma dessas vacas. Para aumentar ainda mais a produção do leite há produtores que aplicam hormônios como o BST, que provoca problemas de saúde nesses animais. O BST foi proibido no Canadá e na União Européia em função das preocupações com a saúde e o bem-estar das vacas leiteiras, mas é amplamente utilizado nos Estados Unidos. Somente nos Estados Unidos são abatidas anualmente mais de um milhão de vacas em razão de sua fraqueza para continuar a produzir o leite ou manter mais uma gestação.
Todo confinamento configura domínio escravista do animal, não importa se é para a indústria do alimento humano e animal, ou se é para a indústria da “estima”. Confinar animais e usar o domínio físico sobre eles para forçá-los a produzirem algo que sua natureza produz apenas para sua autoreprodução, desconfigura o ato de qualquer possibilidade de vir a ser considerado ético.
Eu, como formanda de Biologia, acredito que os métodos utilizados na produção de leite e ovos por esses animais não podem ser aceitos. Melhoria na legislação e fiscalização sobre as condições de bem estar dos animais de produção devem ser reformuladas, assim como a diminuição do consumo desses alimentos pela população.

O ensaio foi baseado nas seguintes fontes:
FOX, Michael Allen. Deep Vegetarianism. Philadelphia: Temple University Press, 1999.
 Erik MARCUS, Meat Market: Animal, Ethics and Money, p. 16.

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