Série Ensaios: Ética
Animal
Por: Gabriela Ferreira
Dias
Acadêmica do Curso
Bacharelado em Ciências Biológicas
Uma investigação da ONG Igualdade Animal,
na Alemanha, revela maus-tratos a galinhas em granjas ecológicas de produção de
ovos, consideradas de alta qualidade. Dentre os maus tratos estão: animais
doentes, animais mortos na granja, cadáveres em decomposição entre os animais
vivos, galinhas sem plumagem devido ao stress e às condições de exploração,
galinhas com úlceras ensanguentadas, inflamação dos órgãos genitais e outras
lesões sem receberem tratamento veterinário.
A alimentação e as regras
de ingestão, a forma como o alimento é apresentado e a mecânica de sua
produção, tudo isso é considerado “natural”. Então, concluímos, quando comemos
não praticamos qualquer ato imoral. Porém, com o aumento da população mundial,
os alimentos, incluindo os de origem animal são produzidos em larga escala, e a
prioridade não está no bem estar do animal, e sim na produção.
Depender de nutrientes
exteriores força o animal a procurá-los. Tal procura é parte do processo de
construção da mente específica do animal, seja ele humano, ou, não-humano. Se o
animal for privado da liberdade de “mover-se para autoprover-se”, destruiu-se o
que o caracterizaria. Fox escreve que houve um tempo não muito longe, no
entanto, no qual muitas pessoas não apenas pensavam que a escravidão humana
fosse algo justificável e mesmo sancionada por Deus, e estavam seguras de que
elas – e a sociedade – não poderiam sobreviver sem ela. Da mesma forma, vemos
os animais como escravos para a produção de alimentos para nós, humanos.
Na produção de ovos pelas galinhas a superpopulação, a
barulheira e a luz contínua levam estes animais a se atacarem entre si, a se
auto mutilarem, levando-os até ao canibalismo. Podem chegar a óbito por fatores
ambientais. Para
limitar as vítimas, os produtores atrofiam bicos e unhas, sendo que esta
prática mata muitas galinhas antes de estas atingirem a idade adulta, após
longas agonias. Com base nos dados de 2002, pode-se estimar que, só nos Estados
Unidos, são mortos pela indústria de ovos algo em torno de 300 milhões de
pintinhos machos por ano, pois eles não servem para o abate, então são
descartados como objetos sem utilidade.
“A vaca leiteira, antes
vista pacífica, até mesmo idilicamente andando pelas campinas, é agora uma
máquina de leite de fina sintonia, cuidadosamente monitorada. A cena bucólica
da vaca leiteira brincando com seu bezerro no pasto não faz parte da produção
leiteira comercial.’’Na produção de leite, as vacas podem passar suas vidas
inteira sobre pisos de concreto, confinadas em espaços minúsculos e viver entre
suas próprias fezes. Elas não têm liberdade de mover-se, trocar de lugar,
escolher o melhor ângulo para receber a comida. A vaca destinada à produção de
leite vive grávida 9 de cada 12 meses. Nascidos, os bezerros que sobrevivem ao
desmame no segundo dia de vida, ou são abatidos, ou enviados para a indústria
da vitela. Em média, tiram-se 20 litros de leite por dia de cada uma dessas
vacas. Para aumentar ainda mais a produção do leite há produtores que aplicam hormônios como o BST, que provoca problemas de saúde nesses animais. O BST
foi proibido no Canadá e na União Européia em função das preocupações com a
saúde e o bem-estar das vacas leiteiras, mas é amplamente utilizado nos Estados
Unidos. Somente nos Estados Unidos são abatidas anualmente mais de um
milhão de vacas em razão de sua fraqueza para continuar a produzir o leite ou
manter mais uma gestação.
Todo confinamento
configura domínio escravista do animal, não importa se é para a indústria do
alimento humano e animal, ou se é para a indústria da “estima”. Confinar
animais e usar o domínio físico sobre eles para forçá-los a produzirem algo que
sua natureza produz apenas para sua autoreprodução, desconfigura o ato de
qualquer possibilidade de vir a ser considerado ético.
Eu, como formanda de
Biologia, acredito que os métodos utilizados na produção de leite e ovos por
esses animais não podem ser aceitos. Melhoria na legislação e fiscalização
sobre as condições de bem estar dos animais de produção devem ser reformuladas,
assim como a diminuição do consumo desses alimentos pela população.
O ensaio foi baseado nas seguintes
fontes:
FOX,
Michael Allen. Deep Vegetarianism. Philadelphia: Temple University Press, 1999.
Erik MARCUS, Meat Market: Animal, Ethics and Money, p. 16.
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