Por Marta Luciane Fischer
Docente do Programa de Pós-Graduação em
Bioética PUCPR
Essa semana os usuários das redes sociais se
depararam com uma imagem intrigante: um pintinho, com a cabeça exposta e o
corpo dentro de uma minúscula caixinha de madeira, um cartão com a ilustração
da galinha pintadinha e sua trupe e os dizeres: lembrancinha do meu
aniversário. A denúncia rendeu os virais compartilhamentos do momento e os mais
enfáticos comentários. A empatia das crianças por animais é bem conhecida,
denominada cientificamente de teoria da biofilia, isso é, todos os humanos
possuem gravada em seu DNA a necessidade de interagir com a natureza, sendo que
a falta desse convívio pode causar distúrbios atualmente investigados pela
psicologia ambiental e incorporada em processos pedagógicos. O mercado já sabe
disso há séculos, por isso usou e abusou dos animais em brinquedos, literatura
e desenhos, cuja espontaneidade da relação, é utilizada inclusive em intervenções
terapêuticas. Desde a enorme ave amarela Garibaldo, passamos pelo sapinho
simpático do Muppets, a popular pig e a tão famosa galinha pintadinha. Essa em
especial encanta aos bebes! O mercado de olho no consumo da marca e os pais se sentindo
felizes em proporcionar aos filhos algo com se identificam, incorporaram o
personagem às festas infantis. A ânsia de inovação do competitivo mercado de
eventos e de se destacar socialmente, retomou uma antiga prática: oferecer como
lembrancinha um pintinho vivo! Que fofo! Diriam as crianças, que na sua
imaginação iriam criá-los em seus apartamentos, até se tornarem uma linda
galinha azul cheia de bolinhas brancas que poderia ser ligada e desligada
conforme seu desejo.
Os leitores que tiveram o privilégio de viver no milênio
passado podem ponderar que tiveram seus pintinhos. Alguns morriam naturalmente,
outros eram mortos comprimidos ou degolados e muitos, ainda, se tornavam
adultos, assumindo o personagem principal dos almoços de domingo. A justificativa
era a necessidade da criança interagir com ser vivo, saber como cuidar e
acompanhar as demandas e etapas do desenvolvimento, o qual sob a orientação de
pais atenciosos, apreendia os valores para todos os segmentos de sua vida a
posteriori. A ética animal, que está em um momento de mudança de concepções
antropocências utilitariristas para visões biocêntricas e libertacionistas,
visa a superação de condutas culturais que não consideravam o bem-estar e o
respeito aos animais. A legislação tem acompanhado a demanda que veio da
própria sociedade e cada vez mais percebemos posicionamentos contra os
maus-tratos, inclusive tramita um projeto de lei em São Paulo que proíbe a
distribuição de animais vivos como brinde.
O que se vê nessa situação além de
um retrocesso, é um sinal de que muitas pessoas ainda não compreenderam a
magnitude da vida animal. Fóruns na internet desmotivam mães duvidosas se
distribuem ou não o pintinho vivo nos aniversários de seus filhos, argumentando
que os pais não irão gostar, e até levarão para casa diante do apelo das
crianças, mas que os descartarão na primeira oportunidade. Para as crianças é
passada a imagem que o animal vale a mesma coisa que seus brinquedos chineses,
aliás o pintinho é muito mais barato! Assim como qualquer brinquedo chama a
atenção enquanto é novidade, joga-se fora quando não corresponde mais às
expectativas. É importante aproximar as crianças dos animais, de fato não saber
de onde vem o leite e nem que a carne do prato diário era um animal, distancia
o futuro cidadão dos seres com os quais compartilha o planeta. Contudo, o
momento da sociedade é de se orientar as crianças para estabelecerem uma
relação mais madura com a natureza e reverter tudo que ruim que a humanidade
tem feito até agora.
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