domingo, 3 de maio de 2015

Geração 3D: transformando seu desenho favorito em um bichinho de verdade



Por Marta Luciane Fischer
Docente do Programa de Pós-Graduação em Bioética PUCPR

 
Essa semana os usuários das redes sociais se depararam com uma imagem intrigante: um pintinho, com a cabeça exposta e o corpo dentro de uma minúscula caixinha de madeira, um cartão com a ilustração da galinha pintadinha e sua trupe e os dizeres: lembrancinha do meu aniversário. A denúncia rendeu os virais compartilhamentos do momento e os mais enfáticos comentários. A empatia das crianças por animais é bem conhecida, denominada cientificamente de teoria da biofilia, isso é, todos os humanos possuem gravada em seu DNA a necessidade de interagir com a natureza, sendo que a falta desse convívio pode causar distúrbios atualmente investigados pela psicologia ambiental e incorporada em processos pedagógicos. O mercado já sabe disso há séculos, por isso usou e abusou dos animais em brinquedos, literatura e desenhos, cuja espontaneidade da relação, é utilizada inclusive em intervenções terapêuticas. Desde a enorme ave amarela Garibaldo, passamos pelo sapinho simpático do Muppets, a popular pig e a tão famosa galinha pintadinha. Essa em especial encanta aos bebes! O mercado de olho no consumo da marca e os pais se sentindo felizes em proporcionar aos filhos algo com se identificam, incorporaram o personagem às festas infantis. A ânsia de inovação do competitivo mercado de eventos e de se destacar socialmente, retomou uma antiga prática: oferecer como lembrancinha um pintinho vivo! Que fofo! Diriam as crianças, que na sua imaginação iriam criá-los em seus apartamentos, até se tornarem uma linda galinha azul cheia de bolinhas brancas que poderia ser ligada e desligada conforme seu desejo. 

Os leitores que tiveram o privilégio de viver no milênio passado podem ponderar que tiveram seus pintinhos. Alguns morriam naturalmente, outros eram mortos comprimidos ou degolados e muitos, ainda, se tornavam adultos, assumindo o personagem principal dos almoços de domingo. A justificativa era a necessidade da criança interagir com ser vivo, saber como cuidar e acompanhar as demandas e etapas do desenvolvimento, o qual sob a orientação de pais atenciosos, apreendia os valores para todos os segmentos de sua vida a posteriori. A ética animal, que está em um momento de mudança de concepções antropocências utilitariristas para visões biocêntricas e libertacionistas, visa a superação de condutas culturais que não consideravam o bem-estar e o respeito aos animais. A legislação tem acompanhado a demanda que veio da própria sociedade e cada vez mais percebemos posicionamentos contra os maus-tratos, inclusive tramita um projeto de lei em São Paulo que proíbe a distribuição de animais vivos como brinde. 
O que se vê nessa situação além de um retrocesso, é um sinal de que muitas pessoas ainda não compreenderam a magnitude da vida animal. Fóruns na internet desmotivam mães duvidosas se distribuem ou não o pintinho vivo nos aniversários de seus filhos, argumentando que os pais não irão gostar, e até levarão para casa diante do apelo das crianças, mas que os descartarão na primeira oportunidade. Para as crianças é passada a imagem que o animal vale a mesma coisa que seus brinquedos chineses, aliás o pintinho é muito mais barato! Assim como qualquer brinquedo chama a atenção enquanto é novidade, joga-se fora quando não corresponde mais às expectativas. É importante aproximar as crianças dos animais, de fato não saber de onde vem o leite e nem que a carne do prato diário era um animal, distancia o futuro cidadão dos seres com os quais compartilha o planeta. Contudo, o momento da sociedade é de se orientar as crianças para estabelecerem uma relação mais madura com a natureza e reverter tudo que ruim que a humanidade tem feito até agora. 

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