segunda-feira, 25 de maio de 2015

Foie gras: gordura e crueldade que sobram



Série Ensaios: Ética Animal

Por Victoria Stadler Tasca Ribeiro
Acadêmica do Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas

Recentemente foi noticiada a futura decisão sobre o veto ou sanção ao Foie Gras do atual prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Trata-se do projeto de lei 537/2013, que proíbe a produção e venda da iguaria na cidade. Os principais motivos para a proibição é o cruel processo em que o ganso ou pato é forçado a comer, tendo um tubo de 20 a 40 centímetros inserido até o estômago, fazendo com que seu fígado atinja até 10 vezes mais o seu tamanho natural e desenvolva uma doença chamada esteatose hepática.


Por serem aves migratórias, estes animais possuem capacidade natural de acumular gordura. A economia em torno dessa façanha da natureza é recorde de exportação na França – cerca de 10 mil toneladas. O prato, comumente servido ao redor do mundo, é de tradição antiga – há registros de que egípcios e romanos já o produziam, alimentando as aves com figo durante seis meses. Em nossa era, foi na França que o prato foi requintado – existem diversas preparações para a iguaria, bem como para sua produção em larga escala com a prática Gavage – ao pé da letra, alimentação forçada.
Além disto, os animais são confinados em pequenos espaços, aglomerados sob luzes artificiais, e na hora da morte têm seus pescoços degolados. Nada disso respeita a natureza e necessidades do animal confinado, o que torna este tipo de prática uma fuga latente à ética animal. Já dizia o filósofo Peter Singer: “Matar animais para obter comida (exceto quando estritamente necessário para a sobrevivência) nos faz pensar neles como meros objetos, que podemos utilizar sem cerimônia para nossos próprios fins não essenciais. Mesmo que, de fato, com a extinção das granjas industriais muitos animais não nasceriam (não seriam fabricados), trazê-los à existência para uma vida desse tipo não é beneficia-los, mas causar-lhes grande malefício”.
No Brasil, a prática não é comum. Criadouros são encontrados em São Paulo e Santa Catarina, com pouca produção – e mesmo assim, cruel. O Foie Gras pode ser encontrado relativamente fácil em mercados-butiques e armazéns, para quem está disposto a pagar até 400 reais o quilo.
Ainda existem saídas. É o caso do Foie Gras ético – sem a violação destes princípios, a fazenda Pateria Sousa, localizada ao Sul da Espanha, extrai seu produto de gansos criados em liberdade e sem superalimentação. As aves são criadas durante o outono e inverno, garantido que elas acumulem naturalmente a gordura natural necessária. Este é um caso raríssimo, reconhecido pela ANPAE .
Como formanda em Biologia acredito que apesar do Foie gras estar ligado à culinária cultural e mundial, e ter grande apreço gustativo e econômico, do ponto de vista biológico e ético, não justifica tamanha crueldade para sua produção. É nosso dever criar estratégias e alternativas para que não haja desrespeito com os animais, afinal, a ética pode ser harmonizada com as nossas necessidades.

O presente Ensaio foi Elaborado para Disciplina de Etologia, baseando-se nas fontes:

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