quarta-feira, 27 de maio de 2015

A Declaração de Cambridge. O que significa para a sociedade?



Por Bruna Estefany Lemos de Souza dos Santos
Acadêmica do curso de Ciências Biológicas  

A Declaração de Cambridge, foi escrita Philip Low e editado por Jaak Panksepp, Diana Reiss, David Edelman, Bruno Van Swinderen, Philip Low e Christof Koch, esse encontro reuniu neurocientistas na Universidade de Cambridge [MF1] na Inglaterra em 7, de julho de 2012, para discutir os substratos neurobiológicos da consciência e o comportamento dos animais, tendo como obstáculo que alguns tipos de comportamentos, refletem uma condição oculta em estado interno do indivíduo, que são difíceis de serem explicados e precisam ser estudados (LOW et al., 2012).


Os cientistas concordam que as pesquisas estão avançando cada vez mais e em um ritmo mais acelerado, possibilitando novos conceitos sobre a consciência humana e não-humana, que são mais homólogas do que se pensava há pouco tempo atrás, considerando que cada ser vivo, de acordo com sua evolução possui um nível de consciência, e que outros inesperadamente apresentam uma consciência muito parecida com os humanos. Isso possibilita também, que se faça uma reavaliação de conceitos anteriores, aprimorando o conhecimento sobre a consciência, sem que seja necessário o uso de técnicas invasivas, pois com esses novos estudos já disponibilizam tecnologias não-invasivas para o estudo da consciência (LOW et al., 2012).
A consciência não deixa de estar atrelada com emoção, então nestas mesmas pesquisas, foi possível observar e provar cientificamente que a emoção dos humanos não está ligada apenas as estruturas corticais e principalmente a estruturas subcorticais, e que isso antes pensado com característica exclusiva de humanos provou-se ser compartilhada  também com os animais não-humanos (LOW et al., 2012).
As aves por exemplo, apresentam seu comportamento neurofisiológico e neuroanatômico muito parecido com humanos. Como o papagaio cinzento africano, nos microcircuitos cognitivos, que apontaram que os papagaios cinzentos tem a inteligência de uma criança de três anos; os mandarins no sono REM, que no período de sono sonham com as melodias dos seus cantos, que estão gravadas no cérebro e aves no auto reconhecimento no espelho assim como humanos, macacos, golfinhos e elefantes se reconhecem ou que tentam brigar, brincar consigo mesmo (LOW et al., 2012).
Quando estes animais, humanos e não-humanos foram submetidos a testes farmacológicos com drogas alucinógenas, verificou-se as mesmas perturbações, o que indica que a consciência está ligada a região subcortical, mais primitiva, e por isso é compartilhada por aqueles animais sem neurocórtex (LOW et al., 2012).
Então, os neurocientistas cognitivos, neurofarmacêuticos, neurofisiologistas, neuroanatomistas e neurocientistas computacionais que participaram do encontro declararam que a ausência de um neurocórtex, não impede que os organismos apresentem reações afetivas, e que animais não humanos podem e apresentam um estado consciente, e exibem comportamentos intencionais (LOW et al., 2012).
A declaração é considerada um marco na história da ciência sobre consciência, pois reconhece que os animais não humanos como seres sescientes. Porém ainda, existem cientistas céticos, que fazem crueldades com os animais, para atingir seus objetivos científicos, tratando-o apenas como suas cobaias para estudos que venham favorecer a medicina humana, sem levar em consideração que estes são seres conscientes, que sentem. E ainda aqueles que não fazem parte da comunidade científica, mas que tratam os animais apenas como coisas, objeto de direito do homem, e que lhes convém, enquanto os servem.

Eu como formanda em Biologia acredito que para comunidade científica é um passo importante reconhecer que todo o animal tem consciência, mesmo que em um nível menos desenvolvido em alguns animais, se comparado com outros, e de fato as pesquisas atuais quebram o paradigma que somente o ser humano é dotado de consciência e racionalidade, ou que somente um grupo de animais possui determinada inteligência e que esta capacidade,  está compartilhada com diferentes grupos. Contudo, em uma sociedade subdividida por dogmáticos e céticos, e uma parcela mínima de pessoas que não são crentes e nem descrentes, e que aceitam que as pesquisas estão disponíveis para um bem comum não só da humanidade, mas também de todos os seres existentes neste planeta, acredito ser muito difícil aceitar que os animais têm consciência como nós humanos para algumas crenças, pois na bíblia por exemplo, diz em Pedro 2:12Mas esses homens, como animais irracionais que agem por instinto e nascem para serem apanhados e destruídos, falam mal das coisas que desconhecem. Eles sofrerão a destruição trazida pelo seu próprio proceder destrutivo” ou em Judas 19 “Esses são os que causam divisões, homens que agem como animais, sem espiritualidade”. Embora o Brasil seja, um país laico, é dotado de muitas crenças, e existe uma grande maioria religiosa que não aceita bem a informação. No entanto, devemos respeitar os animais, entender seus sentimentos, não mal tratá-los ou usá-los apenas como coisa de propriedade do homem ou criatura divina ou que temos direitos sobre eles, isso é independente de ter ou não religião, aceitar ou não que os animas têm consciência.


O presente trabalho foi elaborado para a disciplina de Etologia I tendo como base as seguintes referências:

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