Série
Ensaios: Aplicação da Etologia
Por Bruna
Marchioro Dias, Raphael Coutinho Mello e
Thiago Faria dos Santos.
Acadêmicos
do Curso de Bacharelado em Biologia – PUCPR
Recentemente foram encontrados mortos
aproximadamente 200 periquitos de asa branca em um condomínio de luxo em Manaus,
a
suspeita é de que os animais tenham sido envenenados pelos moradores e
responsáveis pelo condomínio devido ao barulho emitido pelos periquitos
incomodar os moradores. Essa insensibilidade com relação à natureza leva ao questionamento dos limites éticos dos seres humanos ao tomarem decisões que consideram apenas o seu bem-estar. Para entender melhor essa questão, nada melhor do que mergulhar em uma ferramenta da Etologia: a Bioacústica!
A
Bioacústica é o
ramo da Biologia mais estreitamente ligado à física e a matemática, e pode
genericamente ser definido como o estudo dos sons emitidos pelos animais – e
assim sendo, é um ponto fundamental para a compreensão do comportamento das
espécies que os usam. Nota-se ao longo da história um grande anseio do homem em
conseguir eternizar os sons emitidos pelos animais como por exemplo Antoine Hercule
Romuald Florence que durante a expedição Langsdorff
(1825-1829) atuou em estudos de diversas áreas do conhecimento, incluindo a
transcrição do canto de aves para partituras musicais.A partir dos anos 1960 o antigo
sonho humano de poder gravar, guardar, reproduzir e compreender
começou a tomar forma com a chegada dos primeiros gravadores de áudio
portáteis, e a partir daí a Bioacústica se estabeleceu como ciência
propriamente dita.
Atualmente
existem acervos de
sons de diversos grupos de animais, gravados e armazenados em forma de
biblioteca que servem de auxílio para pesquisadores de diversas áreas, como a filogenia e etologia, e é
uma ferramenta obrigatória para caracterização de aves, anfíbios e
alguns insetos. Nos
últimos anos, análises filogenéticas de parâmetros bioacústicos em aves e grilos tem
dado passos importantes quanto ao entendimento do processo evolutivo destes
grupos.
Animais
aquáticos, como golfinhos
e botos usam a ecolocalização para caça e
orientação. Ao enviar um som de alta frequência, conhecido como ultra
som, os golfinhos conseguem determinar que tipo de objeto o feixe sonoro
atingiu. Pesquisadores
da Suécia e dos EUA descobriram que estes animais podem gerar simultaneamente
duas projeções de frequências sonoras, que podem ser enviadas em
direções diferentes, o que permitem a localização de um objeto com maior
precisão.
O
play-back é a
principal técnica de bioacústica, ela consiste em tocar um som gravado
previamente, que deve ser o mesmo do animal com a qual o pesquisador tem
interesse em entrar em contato. Porém o sucesso nesta técnica depende sempre do
momento do ciclo biológico, e do estado fisiológico do animal em questão. Deve
ser levado em consideração as diferenças comportamentais quanto a relação
daquela espécie e o território que ela ocupa, buscando observar as diferenças
individuais em cada situação. Por exemplo, no caso dos anuros,
o canto dos machos pode afetar o estado fisiológico das fêmeas estimulando a
maturação dos seus óvulos, enquanto que, comprovou-se que machos não cantores
não provocam a maturação
A
Bioacústica possui o potencial para ser utilizada na área da conservação, já
que as gravações de animais são uma forma eficaz de demonstrar populações e
comunidades de importância ambiental, identificar espécies, e estimar a sua
abundância. Segundo Rafael Marques (Diretor da Fonoteca
Zoológica de Madrid), em uma reportagem falando sobre “Bioacústica
para preservação das espécies”: “Umas das áreas mais
promissoras é a potencial utilização dessas ferramentas para uma avaliação
rápida da biodiversidade de um ecossistema: é a maneira de determinar que áreas
são mais ricas em termos de diversidade animal e quais são as áreas que devem
prioritariamente ser alvo de esforços de proteção.”
Atualmente a Bioacústica tem sido
amplamente utilizada para o estudo de morcegos,
através do uso de aparelhos detectores de ultrassom e que podem comprovadamente
aumentar em até 40% o
inventariamento de morcegos neotropicais. Através do uso dos mesmos
aparelhos, recentemente foi possível inclusive reconhecer padrões
de variação geográfico na eco localização de morcegos - ou
seja, diferentes dialetos. Foi observada a média de variação de 5 a 10kHz além
de grandes diferenças individuais nos padrões de sons emitidos.
Nós como futuros Biólogos acreditamos que
a Bioacústica é um ramo bastante promissor da Biologia, visto a ampla
utilização de acessibilidade de aparelhos e métodos de estudo nos últimos anos.
Muitos estudos têm sido baseados no estudo dos sons de comunicação ou
localização de animais, através de aparelhos como Bat Detector ou
similares, além de vários bancos de dados e softwares
próprios para analises de sons disponíveis na Internet.
Sugestão de sites:
-Software
com banco de dados de sons para identificação de espécies de aves: http://holocanto.org/about.html
-Tudo
sobre Ecolocalização e Biosonar: O que é, como funciona: http://essaseoutras.xpg.uol.com.br/tudo-sobre-ecolocalizacao-e-biosonar-o-que-e-como-funciona-e-mais/
-
Golfinhos que chama uns aos outros pelos nomes:
https://www.youtube.com/watch?v=SoPAuXhrYGg
- Sons
de baleias: https://www.youtube.com/watch?v=2kmzX9yeQtU
- A
comunicação dos animais: https://www.youtube.com/watch?v=X24iPRpbX9I
-Fonoteca
Zoologica di Madrid www.fonozoo.com
-Fonoteca Zoologica della British Library sounds.bl.uk/Environment
-Fonoteca
Zoologica di Berlino www.tierstimmenarchiv.de
-Xeno
Canto www.xeno-canto.org
-Wild Echoes www.wildechoes.org
-Martyn Stewart www.naturesound.org
-Bernie
Krause www.wildsanctuary.com
O presente ensaio foi
elaborado para disciplina de Etologia, baseando-se nos sites e nas obras:
Maria, S. (2011). A influência da
bioacústica na evolução da ciência em Portugal. Instituto Superior de
Agrônomia, Universidade Técnica de Lisboa. Dissertação para obtenção do Grau de
Mestre em Gestão e Conservação de Recursos Naturais.
Vielliard, J., Luiza, M. A Bioacústica
como ferramenta de pesquisa em Comportamento animal. Universidade Estadual
de Campinas-UNICAMP, Departamento de Zoologia, Campinas, SP, Brasil.
Universidade Federal do Pará-UFPA, Centro de Ciências Biológicas-CCB,
Departamento de Biologia, Campus Universitário do Guamá, Belém, PA, Brasil.
J. Starkhammar, P. W. Moore, L.
Talmadge, D. S. Houser. Frequency-dependent
variation in the two-dimensional beam pattern of an echolocating dolphin.Biology
Letters, 2011; DOI: 10.1098/rsbl.2011.0396
Juan M. Pech-Canche , Cristina MacSwiney
y Erendira Estrella. Importancia
de los detectores ultrasónicos para mejorar los inventarios de murciélagos
Neotropicales. THERYA, Diciembre, 2010 Vol.1(3):221-228 DOI:
10.12933/therya-10-17
Tinglei Jiang, Hui Wu1 and Jiang
Feng . The patterns and causes of geographic variation in
bat echolocation pulses. Integrative Zoology
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