segunda-feira, 13 de abril de 2015

Bioacústica: Entendendo e Respeitando a comunicação animal



Série Ensaios: Aplicação da Etologia

Por Bruna Marchioro Dias, Raphael Coutinho Mello e
 Thiago Faria dos Santos.
Acadêmicos do Curso de Bacharelado em Biologia – PUCPR

Recentemente foram encontrados mortos aproximadamente 200 periquitos de asa branca em um condomínio de luxo em Manaus, a suspeita é de que os animais tenham sido envenenados pelos moradores e responsáveis pelo condomínio devido ao barulho emitido pelos periquitos incomodar os moradores. Essa insensibilidade com relação à natureza leva ao questionamento dos limites éticos dos seres humanos ao tomarem decisões que consideram apenas o seu bem-estar. Para entender melhor essa questão, nada melhor do que mergulhar em uma ferramenta da Etologia: a Bioacústica!

            A Bioacústica é o ramo da Biologia mais estreitamente ligado à física e a matemática, e pode genericamente ser definido como o estudo dos sons emitidos pelos animais – e assim sendo, é um ponto fundamental para a compreensão do comportamento das espécies que os usam. Nota-se ao longo da história um grande anseio do homem em conseguir eternizar os sons emitidos pelos animais como por exemplo Antoine Hercule Romuald Florence que durante a expedição Langsdorff (1825-1829) atuou em estudos de diversas áreas do conhecimento, incluindo a transcrição do canto de aves para partituras musicais.A partir dos anos 1960 o antigo sonho humano de poder gravar, guardar, reproduzir e compreender começou a tomar forma com a chegada dos primeiros gravadores de áudio portáteis, e a partir daí a Bioacústica se estabeleceu como ciência propriamente dita.
            Atualmente existem acervos de sons de diversos grupos de animais, gravados e armazenados em forma de biblioteca que servem de auxílio para pesquisadores de diversas áreas, como a filogenia e etologia, e é uma ferramenta obrigatória para caracterização de aves, anfíbios e alguns insetos. Nos últimos anos, análises filogenéticas de parâmetros bioacústicos em aves e grilos tem dado passos importantes quanto ao entendimento do processo evolutivo destes grupos.
            Animais aquáticos, como golfinhos e botos usam a ecolocalização para caça e orientação. Ao enviar um som de alta frequência, conhecido como ultra som, os golfinhos conseguem determinar que tipo de objeto o feixe sonoro atingiu. Pesquisadores da Suécia e dos EUA descobriram que estes animais podem gerar simultaneamente duas projeções de frequências sonoras, que podem ser enviadas em direções diferentes, o que permitem a localização de um objeto com maior precisão.
            O play-back é a principal técnica de bioacústica, ela consiste em tocar um som gravado previamente, que deve ser o mesmo do animal com a qual o pesquisador tem interesse em entrar em contato. Porém o sucesso nesta técnica depende sempre do momento do ciclo biológico, e do estado fisiológico do animal em questão. Deve ser levado em consideração as diferenças comportamentais quanto a relação daquela espécie e o território que ela ocupa, buscando observar as diferenças individuais em cada situação. Por exemplo, no caso dos anuros, o canto dos machos pode afetar o estado fisiológico das fêmeas estimulando a maturação dos seus óvulos, enquanto que, comprovou-se que machos não cantores não provocam a maturação
            A Bioacústica possui o potencial para ser utilizada na área da conservação, já que as gravações de animais são uma forma eficaz de demonstrar populações e comunidades de importância ambiental, identificar espécies, e estimar a sua abundância. Segundo Rafael Marques (Diretor da Fonoteca Zoológica de Madrid), em uma reportagem falando sobre “Bioacústica para preservação das espécies”: “Umas das áreas mais promissoras é a potencial utilização dessas ferramentas para uma avaliação rápida da biodiversidade de um ecossistema: é a maneira de determinar que áreas são mais ricas em termos de diversidade animal e quais são as áreas que devem prioritariamente ser alvo de esforços de proteção.”
Atualmente a Bioacústica tem sido amplamente utilizada para o estudo de morcegos, através do uso de aparelhos detectores de ultrassom e que podem comprovadamente aumentar em até 40% o inventariamento de morcegos neotropicais. Através do uso dos mesmos aparelhos, recentemente foi possível inclusive reconhecer padrões de variação geográfico na eco localização de morcegos - ou seja, diferentes dialetos. Foi observada a média de variação de 5 a 10kHz além de grandes diferenças individuais nos padrões de sons emitidos.
Nós como futuros Biólogos acreditamos que a Bioacústica é um ramo bastante promissor da Biologia, visto a ampla utilização de acessibilidade de aparelhos e métodos de estudo nos últimos anos. Muitos estudos têm sido baseados no estudo dos sons de comunicação ou localização de animais, através de aparelhos como Bat Detector ou similares, além de vários bancos de dados e softwares próprios para analises de sons disponíveis na Internet.

Sugestão de sites:

-Software com banco de dados de sons para identificação de espécies de aves: http://holocanto.org/about.html
-Tudo sobre Ecolocalização e Biosonar: O que é, como funciona:   http://essaseoutras.xpg.uol.com.br/tudo-sobre-ecolocalizacao-e-biosonar-o-que-e-como-funciona-e-mais/
- Golfinhos que chama uns aos outros pelos nomes:  https://www.youtube.com/watch?v=SoPAuXhrYGg
- A comunicação dos animais:  https://www.youtube.com/watch?v=X24iPRpbX9I
 - International BioAcoustic Council www.ibac.info 
-Fonoteca Zoologica di Madrid www.fonozoo.com
-Fonoteca Zoologica della British Library sounds.bl.uk/Environment
-Fonoteca Zoologica di Berlino www.tierstimmenarchiv.de
-Xeno Canto www.xeno-canto.org
-Wild Echoes www.wildechoes.org
-Martyn Stewart www.naturesound.org
-Bernie Krause www.wildsanctuary.com

O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia, baseando-se nos sites e nas obras:
Maria, S. (2011). A influência da bioacústica na evolução da ciência em Portugal. Instituto Superior de Agrônomia, Universidade Técnica de Lisboa. Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Gestão e Conservação de Recursos Naturais.
Vielliard, J., Luiza, M. A Bioacústica como ferramenta de pesquisa em Comportamento animal. Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP, Departamento de Zoologia, Campinas, SP, Brasil. Universidade Federal do Pará-UFPA, Centro de Ciências Biológicas-CCB, Departamento de Biologia, Campus Universitário do Guamá, Belém, PA, Brasil.
J. Starkhammar, P. W. Moore, L. Talmadge, D. S. Houser. Frequency-dependent variation in the two-dimensional beam pattern of an echolocating dolphin.Biology Letters, 2011; DOI: 10.1098/rsbl.2011.0396
Juan M. Pech-Canche , Cristina MacSwiney  y Erendira Estrella. Importancia de los detectores ultrasónicos para mejorar los inventarios de murciélagos Neotropicales. THERYA, Diciembre, 2010 Vol.1(3):221-228 DOI: 10.12933/therya-10-17
Tinglei Jiang, Hui Wu1 and Jiang Feng . The patterns and causes of geographic variation in bat echolocation pulses. Integrative Zoology


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