segunda-feira, 13 de abril de 2015

Testemunho de Vida de uma batata-doce...



Por Marta Luciane Fischer
Docente do Programa de Pós-Graduação em Bioética PUCPR






Nas últimas semanas tem sido divulgado resultados de novas pesquisas que consolidam o que alguns pesquisadores e muitas pessoas já sabiam: as plantas não são seres insensíveis, grudados no solo e que servem apenas para oferecer alimento e abrigo para os animais. Eu sempre fui muito sensível com relação às plantas, como bióloga, admiro e reverencio a vida expressa na forma vegetal e sempre fui muito empática às ideias tão criticadas defendidas na obra “A vida Secreta das Plantas”. Quando criança, as oportunidades das experiências com o grão de feijão e a leitura do “O menino do dedo verde”, me abriram a percepção para a sensibilidade das plantas. Mais recentemente tive uma experiência muito interessante com a força de vontade, resistência e resiliência de uma bata-doce comprada no mercado e que me levou a refletir sobre a magia da vida. Imagino que sua chegada até o mercado não tenha sido fácil, arrancada brutalmente do solo, separada de seu caule e folhas, transportada por quilômetros e, provavelmente mantida dentro de câmaras frigorificas. 
Como se não bastasse tudo isso, ela permaneceu por semanas na fruteira, esperando ser consumida, e cumprir a meta para qual foi gerada. Mas foi esquecida! Então percebi que estavam brotando folhinhas que foram crescendo concomitantemente, sem água, luz solar direta ou qualquer ação imediata para deixá-la cumprir seu desejo natural de continuidade.  Consolidando a importância do tubérculo na viabilização da vida dessas plantas, depois de meses nessas condições, foi então proporcionada para bata-doce a oportunidade de voltar para o solo. E novamente, quando parecia que tudo de ruim já havia acontecido, ela foi encontrada sendo devorada por pássaros que descobriram-na submersa no jardim, e a devorava com bicadas múltiplas. Felizmente ela conseguiu ser resgata e replantada em um recipiente, no qual tem tido a oportunidade de crescer e continuar viva. O relato pode parecer romantizado e sentimental demais, contudo, testemunha que esses vivos tão negligenciado, merecem mais atenção tanto do meio científico quanto da sociedade. E nos proporcionam uma opoturnidade para refletir sobre o que é VIDA e se esse poderia ser o parâmetros ético de consideração moral. Ou seja, respeitar e fazer algo pela VIDA de quem tem VIDA. Viver é algo indescritível, e o simples fato de termos VIDA já deveria ser motivo suficiente para passarmos toda nossa trajetória agradecendo pela oportunidade de experimentarmos a VIDA. E se a VIDA é tão preciosa para nós, seres pensantes, porque não seria para os seres viventes? Transcrevo abaixo o texto de minha autoria veiculado no EcoDebates, para reflexão.

“Está sendo divulgado nos sites de ciência e nas redes sociais a polêmica visão de Michael Pollan - jornalista e ativista americano professor em Berkeley - de como as plantas percebem o mundo.  É notório que os ecossistemas são mantidos através da inter-relação entre as espécies e destas com o meio não vivo.  Dentro deste contexto surgiu o Homo sapiens, segundo Desmond Morris um influente biólogo e etólogo, os seres vivos possuíam desde sua origem uma espécie de contrato, em que as espécies deveriam respeitar o espaço de cada uma. Embora os seres humanos tenham feito parte desse contrato por quase 200 mil anos, há pouco mais de 12.000 o mesmo foi quebrado com o advento da agricultura, dominação sobre as outras espécies e explosão populacional. Desde então, os humanos vêm utilizando plantas e animais para suprir tanto as necessidades de manutenção biológica, quanto para o desenvolvimento científico e tecnológico. A partir do momento em que a humanidade passou a conceituar seus valores e categorizar seus comportamentos como certos ou errados - consolidando leis, códigos morais e éticos - a consciência da dor física e mental foi considerada parâmetro de atribuição de status moral. Durante muitos séculos não se reconheceu essa capacidade nos animais, sendo paulatinamente comprovada naqueles com sistema nervoso mais complexo, tais como primatas e mamíferos, a qual culminou na elaboração de leis que normatizam o uso de animais em experimentos e na forma como eles são manejados e abatidos. Atualmente, pesquisadores, munidos de novas tecnologias, têm comprovado que animais como peixes e até mesmo invertebrados - como insetos, crustáceos e moluscos - possuem um tipo elementar de consciência, porém suficientes para sua inclusão na comunidade moral. Até então, quando os vegetarianos defendiam sua decisão em não ingerir animais pelo fato deles sentirem, comentários pejorativos, alertavam para a dor da alface. Não demorou muito e a ciência já está conseguindo mostrar que as plantas também possuem inteligência e capacidade de sentir, aprender, lembrar e reagir de maneira semelhante a nós. Essa ideia na verdade não é nova, há mais de 40 anos no livro “A Vida Secreta das Plantas” Peter Tompkins e Chistropher Bird mostraram que a comunicação entre as células das plantas se dá através de impulsos elétricos - provavelmente a forma mais antiga de comunicação - e presente no interior dos nossos neurônios. O livro foi ridicularizado, e mesmo com experimentos atestando a comunicação das plantas através de um galvanômetro -  a inexistência do sistema nervoso e da locomoção as excluem sem culpa da comunidade moral. Contudo a maioria das crianças já experimentou a magia de ver um grãozinho de feijão brotar uma plantinha que se direciona para a luz. Fato esse isso visto até então como uma resposta automática - assim como eram interpretados os comportamentos dos animais até pouco tempo. Estudos atuais mostram que as plantas podem reagir ao som de uma lagarta roendo uma folha - produzindo substâncias químicas defensivas - podem detectar gravidade, presença de água e perceber um obstáculo para o crescimento de suas raízes antes mesmo de entrar em contato com ele. O fato mais polêmico seja a possibilidade das plantas sentirem dor, atestada pelo fato delas responderem à anestésico. Pesquisadores alemães da Universidade de Bonn publicaram que as plantas libertam gases equivalentes à gritos de dor, constatados na captação de ondas sonoras originárias de gases liberados quando cortadas. Segundo neurobiólogos as plantas podem ser consideradas seres conscientes no sentido de saberem onde estão e reagirem adequadamente aos estímulos ambientais. Correntes éticas biocêntricas defendem que devemos respeitar os seres vivos não por possuem estruturas nervosas e sensoriais complexas, pelo seu grau de consciência, nem pelo valor ou utilidade que possuem para os humanos. Mas sim pelo simples fato de serem seres vivos e terem o direito de viverem sua existência no planeta que compartilhamos. Contudo, a sociedade se apoia em parâmetros científicos, então estamos entrando em um momento que irá exigir novas reflexões sobre nossas atitudes não apenas com relação aos animais, mas a natureza como um todo, compreendendo que nossas escolhas têm resultado em benefícios apenas para nós e que devemos buscar o equilíbrio. Se antes proteger a natureza para que todos os seres vivos desta e de futuras gerações tivessem o mesmo direito de usufruir um planeta saudável era uma questão subjetiva, agora com a comprovação de que as plantas também sentem, elas passam a se enquadrar nos parâmetros criados pelo homem justamente para se diferenciar da natureza. E agora? O que é certo ou errado?”

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