Por Marta Luciane
Fischer
Docente do Programa de
Pós-Graduação em Bioética PUCPR
Nas últimas semanas tem sido
divulgado resultados de novas pesquisas que consolidam o que alguns
pesquisadores e muitas pessoas já sabiam: as plantas não
são seres insensíveis, grudados no solo e que servem apenas para oferecer
alimento e abrigo para os animais. Eu sempre fui muito sensível com relação às
plantas, como bióloga, admiro e reverencio a vida expressa na forma vegetal e
sempre fui muito empática às ideias tão criticadas defendidas na obra “A vida Secreta
das Plantas”. Quando criança, as oportunidades das experiências com o grão
de feijão e a leitura do “O menino do
dedo verde”, me abriram a percepção para a sensibilidade das plantas. Mais
recentemente tive uma experiência muito interessante com a força de vontade, resistência
e resiliência de uma bata-doce comprada no mercado e que me levou a refletir
sobre a magia da vida. Imagino que sua chegada até o mercado não tenha sido
fácil, arrancada brutalmente do solo, separada de seu caule e folhas,
transportada por quilômetros e, provavelmente mantida dentro de câmaras
frigorificas.
Como se não bastasse tudo isso, ela permaneceu por semanas na
fruteira, esperando ser consumida, e cumprir a meta para qual foi gerada. Mas
foi esquecida! Então percebi que estavam brotando folhinhas que foram crescendo
concomitantemente, sem água, luz solar direta ou qualquer ação imediata para
deixá-la cumprir seu desejo natural de continuidade. Consolidando a
importância do tubérculo na viabilização da vida dessas plantas, depois de
meses nessas condições, foi então proporcionada para bata-doce a oportunidade
de voltar para o solo. E novamente, quando parecia que tudo de ruim já havia
acontecido, ela foi encontrada sendo devorada por pássaros que descobriram-na
submersa no jardim, e a devorava com bicadas múltiplas. Felizmente ela
conseguiu ser resgata e replantada em um recipiente, no qual tem tido a
oportunidade de crescer e continuar viva. O relato pode parecer romantizado e
sentimental demais, contudo, testemunha que esses vivos tão negligenciado,
merecem mais atenção tanto do meio científico quanto da sociedade. E nos
proporcionam uma opoturnidade para refletir sobre o que é VIDA e se esse
poderia ser o parâmetros ético de consideração moral. Ou seja, respeitar e
fazer algo pela VIDA de quem tem VIDA. Viver é algo indescritível, e o simples
fato de termos VIDA já deveria ser motivo suficiente para passarmos toda nossa
trajetória agradecendo pela oportunidade de experimentarmos a VIDA. E se a VIDA
é tão preciosa para nós, seres pensantes, porque não seria para os seres viventes?
Transcrevo abaixo o texto de minha autoria veiculado no EcoDebates,
para reflexão.
“Está sendo divulgado nos sites
de ciência e nas redes sociais a polêmica visão de Michael Pollan - jornalista
e ativista americano professor em Berkeley - de como as plantas percebem o
mundo. É notório que os ecossistemas são
mantidos através da inter-relação entre as espécies e destas com o meio não
vivo. Dentro deste contexto surgiu o Homo sapiens, segundo Desmond Morris um
influente biólogo e etólogo, os seres vivos possuíam desde sua origem uma
espécie de contrato, em que as espécies deveriam respeitar o espaço de cada uma.
Embora os seres humanos tenham feito parte desse contrato por quase 200 mil
anos, há pouco mais de 12.000 o mesmo foi quebrado com o advento da agricultura,
dominação sobre as outras espécies e explosão populacional. Desde então, os
humanos vêm utilizando plantas e animais para suprir tanto as necessidades de manutenção
biológica, quanto para o desenvolvimento científico e tecnológico. A partir do
momento em que a humanidade passou a conceituar seus valores e categorizar seus
comportamentos como certos ou errados - consolidando leis, códigos morais e
éticos - a consciência da dor física e mental foi considerada parâmetro de
atribuição de status moral. Durante
muitos séculos não se reconheceu essa capacidade nos animais, sendo paulatinamente
comprovada naqueles com sistema nervoso mais complexo, tais como primatas e
mamíferos, a qual culminou na elaboração de leis que normatizam o uso de
animais em experimentos e na forma como eles são manejados e abatidos.
Atualmente, pesquisadores, munidos de novas tecnologias, têm comprovado que
animais como peixes e até mesmo invertebrados - como insetos, crustáceos e
moluscos - possuem um tipo elementar de consciência, porém suficientes para sua
inclusão na comunidade moral. Até então, quando os vegetarianos defendiam sua
decisão em não ingerir animais pelo fato deles sentirem, comentários
pejorativos, alertavam para a dor da alface. Não demorou muito e a ciência já está
conseguindo mostrar que as plantas também possuem inteligência e capacidade de
sentir, aprender, lembrar e reagir de maneira semelhante a nós. Essa ideia na
verdade não é nova, há mais de 40 anos no livro “A Vida Secreta das Plantas”
Peter Tompkins e Chistropher Bird mostraram que a comunicação entre as células
das plantas se dá através de impulsos elétricos - provavelmente a forma mais antiga
de comunicação - e presente no interior dos nossos neurônios. O livro foi
ridicularizado, e mesmo com experimentos atestando a comunicação das plantas
através de um galvanômetro - a
inexistência do sistema nervoso e da locomoção as excluem sem culpa da comunidade
moral. Contudo a maioria das crianças já experimentou a magia de ver um
grãozinho de feijão brotar uma plantinha que se direciona para a luz. Fato esse
isso visto até então como uma resposta automática - assim como eram
interpretados os comportamentos dos animais até pouco tempo. Estudos atuais
mostram que as plantas podem reagir ao som de uma lagarta roendo uma folha -
produzindo substâncias químicas defensivas - podem detectar gravidade, presença
de água e perceber um obstáculo para o crescimento de suas raízes antes mesmo
de entrar em contato com ele. O fato mais polêmico seja a possibilidade das
plantas sentirem dor, atestada pelo fato delas responderem à anestésico.
Pesquisadores alemães da Universidade de Bonn publicaram que as plantas libertam
gases equivalentes à gritos de dor, constatados na captação de ondas sonoras originárias
de gases liberados quando cortadas. Segundo neurobiólogos as plantas podem ser
consideradas seres conscientes no sentido de saberem onde estão e reagirem
adequadamente aos estímulos ambientais. Correntes éticas biocêntricas defendem
que devemos respeitar os seres vivos não por possuem estruturas nervosas e
sensoriais complexas, pelo seu grau de consciência, nem pelo valor ou utilidade
que possuem para os humanos. Mas sim pelo simples fato de serem seres vivos e
terem o direito de viverem sua existência no planeta que compartilhamos.
Contudo, a sociedade se apoia em parâmetros científicos, então estamos entrando
em um momento que irá exigir novas reflexões sobre nossas atitudes não apenas
com relação aos animais, mas a natureza como um todo, compreendendo que nossas
escolhas têm resultado em benefícios apenas para nós e que devemos buscar o
equilíbrio. Se antes proteger a natureza para que todos os seres vivos desta e de
futuras gerações tivessem o mesmo direito de usufruir um planeta saudável era
uma questão subjetiva, agora com a comprovação de que as plantas também sentem,
elas passam a se enquadrar nos parâmetros criados pelo homem justamente para se
diferenciar da natureza. E agora? O que é certo ou errado?”
Nenhum comentário:
Postar um comentário