quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Assumir ou não assumir? Eis a questão!



Série Ensaios: Socibiologia

Por Lislaine das Neves, Phamela Klimczak; Paula Ribeiro
Acadêmicas do curso de Ciências Biológicas

A novela Império conta com quatro atores gays: “Téo Pereira (Paulo Betti), o ator interpretará um jornalista gay de língua afiada (...); Claudio Bolgari (José Mayer), que aos olhos de todos apresenta uma família linda, com esposa e filhos, no entanto, vive um dilema e não assume sua bissexualidade (...); Leonardo (Klebber Toledo), viverá um intenso relacionamento com Claudio; Xana Summer (Ailton Graça), o travesti é dono de um salão de. belezas e conselheiro dos amigos que o rodeiam(...)”. O homossexualismo é um assunto tão em evidência que está sendo constantemente abordado em novelas. Tão polêmico e ao mesmo tempo repleto de tabus. A história é mais ou menos como se jogasse sujeira embaixo do tapete, todos sabem que existe, mas alguns ainda tentam esconder.

A organização em sociedades surgiu pela necessidade de garantir a sobrevivência do indivíduo. A sobrevivência pode ser garantida por proporcionar proteção dos indivíduos, mais chances de encontrar um parceiro reprodutivo e alimento, além da divisão das tarefas garantindo mais tempo para outros comportamentos de manutenção do individuo. Por outro lado o comportamento social requer que regras sejam estipuladas para manutenção desse convívio em grupos.
A formação de grupos necessita de estímulos agregadores e segregadores. Os estímulos agregadores levam a união do grupo e os estímulos segregadores impedem a dispersão dos indivíduos do grupo, por meio da promoção do pré-conceito com os outros grupos, criando conceitos ruins sobre os demais para evitar a perda de indivíduos formadores. Por isso, tudo o que difere muito da gente (seja na aparência ou no comportamento) é visto como ruim, como por exemplo, o homossexualismo.
O termo homossexualismo é derivado do grego, “homo”, que significa “semelhante” ou “igual”, e “sexual” da palavra latina significa “sexo”, ou seja, “sexo com semelhante”. Alguns tratam o homossexualismo como condição outros como escolha, com base nesses questionamentos, esse ensaio explica brevemente as bases biológicas da homossexualidade. Sabe-se que a moralidade judeu-cristã baseia-se no velho testamento, escrito pelos profetas de uma nação pastoril agressiva cujo sucesso se baseava no crescimento populacional rápido e ordenado, intensificado pelos repetidos episódios de conquista territorial, apenas o crescimento populacional é valorizado, logo os homossexuais são considerados anormais por não produzirem filhos (Wilson, 1981).
O comportamento sexual dos homossexuais do ponto de vista da Sociobiologia é explicado por três diferentes mecanismos. O primeiro mecanismo está baseado na genética, os homossexuais se reproduzem menos (alguns se reproduzem e mantém relações homossexuais - bissexuais), portanto necessitam da expressão dos dois alelos para o homossexualismo, logo estes são homozigotos. Por outro lado os heterossexuais são heterozigotos, possuindo dois alelos diferentes. Os heterozigotos são portadores do alelo para o homossexualismo, como eles se reproduzem mais esse alelo é mantido na população em equilíbrio. Em outras palavras o homossexualismo é intrínseco a existência da espécie. O segundo e o terceiro mecanismo são semelhantes, envolvem o cuidado com os demais indivíduos do grupo. O segundo mecanismo sugere que os genes que causam o homossexualismo influenciam no crescimento populacional. Como os homossexuais não se reproduzem quanto mais homossexuais em uma população menor será a prole gerada, ou menor será o crescimento populacional desse grupo.O terceiro mecanismo abordando o fato dos homossexuais não se reproduzirem, indica que eles podem participar do cuidado com os demais indivíduos do grupo. Nesse caso sugere-se que esses homossexuais sejam resultado da manipulação parental (Ruse, 1983), isto é, os pais manipulam biologicamente alguns de seus filhos (sem saberem, inconscientemente) para que apresentem comportamento homossexual e altruisticamente ajudem no cuidado de seus irmãos. Na natureza, homossexuais desempenhariam uma função análoga à de formigas operárias (Soares, 2009). Ao deixarem de reproduzir, auxiliariam no cuidado das crianças.
O homossexualismo seria então uma escolha do indivíduo? Ou seria algo biológico? Estudos vêm apontando diferenças entre o cérebro de homossexuais e heterossexuais, que possam influenciar na preferência sexual. Outra explicação procura demonstrar que as glândulas endócrinas desempenham papel predominante na origem das modificações patológicas da sexualidade humana. Existe ainda a situação dos transexuais, que manifestam-se muito cedo, ainda enquanto crianças, possivelmente elas têm mais influencia biológica do que a ambiental, como observado em um estudo que apontou um gene que interfere na ação do hormônio testosterona e o transexualismo masculino.
Um estudo realizado por Bagemihl analisou 450 espécies com hábitos homossexuais no reino animal, conclui que não pode ser tão categórico por não se saber se os animais têm ou não sensação de prazer e como ele ocorre neles. Mas apontou que as práticas de homossexualismo entre os animais ocorrem porque eles gostam e não por falta de opção, submissão ou por não conseguir diferenciar machos e fêmeas, como afirmam outros cientistas. Os Bobonos (Pan paniscus) praticam sexo, seja para resolver brigas, pedir desculpas, como recompensa, ou por prazer. Em machos e fêmeas há relações homossexuais, mas as fêmeas passam o dia inteiro se estimulando com sexo oral. Bagemihl observou em morsas, que os dominantes na realidade são montados pelos dominados. Dessa forma é possível observar que os animais praticam o homossexualismo de maneira natural, sem que hajam explicações morais de troca e recompensa. A homossexualidade é um fenômeno comum e abundante no mundo animal.
Nós como biólogas acreditamos que o homossexualismo tem uma base biológica, ou seja, está presente na natureza e faz parte das relações que os indivíduos estabelecem entre si, seja de troca se favores como entre os bonobos ou por fatores ainda desconhecidos como entre os leões. Por esse motivo não deve ser visto como anormalidade, mas sim como algo natural.


O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia II baseando-se nas obras:

Animal planet. Disponível em:
  Acesso 07-09-2014.
Atração entre iguais. Disponível em:
< http://super.abril.com.br/ciencia/atracao-iguais-446781.shtml>
As saúvas, uma sociedade de formigas. Disponível em:
Acesso 07-09-2014.
Causas da homossexualidade. Disponível em:
Acesso 07-09-2014.
Esboçando Ideias. Disponível em:
Acesso 07-09-2014.
Homossexualismo. Disponível em:
Acesso 07-09-2014.
O que é altruísmo? Disponível em:
Acesso 07-09-2014.
O que é Sociobiologia. Disponível em:
Acesso 07-09-2014.
Portal da Educação. Disponível em:
Acesso 07-09-2014.
RUSE, Michael. (1983) Sociobiologia: senso ou contra-senso?. Belo Horizonte: Itatiaia. Coleção o homem e a ciência. v. 13.
Sexualidade animal. Disponível em:
< http://ciencia.hsw.uol.com.br/taturana-gay1.htm>
Sexualidade e vida. Disponível em:
Acesso 07-09-2014.
SOARES, Alisson M. (2009) Sociologia e Sociobiologia: Autonomia vs. (Sócio) Biologização da Sociologia. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais.
WILSON, Edward O. (1981) Da natureza humana. São Paulo: T. A. Queiroz. Biblioteca de ciências naturais. v. 6

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