A agressividade é necessária? Uma análise científica antropológica sobre sua origem e aspectos sociobiológicos.



Série Ensaios: Sociobiologia

Por Fabio Kardauke, Gabriel Wille, Gustavo Henrique, João Fontana, Leticia Melo, Luan Scarpin

Acadêmicos do curso de Ciências Biológicas

Ex-marido é acusado de matar mulher a facadas no centro de Vitória. De acordo com informações de testemunhas, Daniel teria assassinado a ex-companheira após "perder a cabeça" durante uma discussão por ela reclamar da pensão dada ao filho. O acusado fugiu do local do crime, mas foi detido mais tarde em uma escadaria da região do Centro da cidade. 


A vida social é um comportamento biológico complexo, que envolve vantagens e desvantagens para os indivíduos que neste meio estão inseridos. Há muitos anos atrás durante o Paleolítico ou "idade da pedra", o Homem vivia da exploração dos recursos silvestres e as atividades de subsistência resumiam-se à pesca, à caça e à coleta de vegetais. A unidade social básica devia ser o bando, isto é, um agrupamento pequeno (25 pessoas em média) formado pela união voluntária de famílias onde não havia classes sociais e a única forma de autoridade pertencia aos mais velhos. Estes grupos eram nômades ou seja, deslocavam-se regularmente em busca de alimentos quando estes se tornavam escassos no território em que ocupavam. A necessidade de se defender levou à formação de grupos sociais mais complexos: as tribos e mais tarde as cidades (TAIS, 2010).
A ciência que estuda, dentre outros pontos, o comportamento social é a etologia. Sob a luz desta ciência, percebemos que ao longo da evolução ocorreu uma certa “ironia” com a espécie humana. Em tempos remotos em que precisávamos nos digladiar com outras espécies para garantir a nossa existência, exigiu-se a necessidade da criação de cidades, pois estas, melhor assegurariam as nossas vidas ao fornecer rapidamente e de maneira constante, companheiros extras para ajudar na defesa em um eventual combate. Contudo, à medida gradual em que fomos evoluindo, a cidade que antes era sinônimo de garantia de sobrevivência, vem transformando-se em polos de violência e agressividade, não entre espécies diferentes, mas entre humanos e humanos.
Fatos recentes como o exemplo citado no início do texto,ou extremamente recorrentes como brigas de trânsito que terminam em morte, sempre levantam a questão: de onde vem tanta agressividade?
A agressividade dentro do entendimento popular e na maioria das opiniões,  é uma das emoções mais mal vistas no convívio social, isto acontece devido a uma confusão desta, com a raiva e violência. A agressividade geralmente leva à ações seja por expressão verbal, corporal ou por atitudes e comportamentos muitas vezes levando à raiva e à violência que são conseqüências de uma maior intensidade da agressividade.
O tema agressividade é sempre abordado juntamente com a descrição de um crime ou de alguma atividade julgada e mal vista pela sociedade, portanto é comum as pessoas negarem que tenham esta emoção por sempre ser vista como algo ruim e que está presente apenas em pessoas violentas e criminosas. Porém, como todas as emoções, a agressividade é natural do ser humano e assim todos a vivenciam seja em maior ou menor intensidade. 
O conflito existente portanto é até que ponto a agressividade é aceitável e como controlar esta emoção quando ela ocorre em uma intensidade maior (Como ocorreu no ex-marido que assassinou sua ex-mulher)?
Biologicamente falando, a agressividade é um instinto que está presente em todos os animais. Ao longo da evolução de cada espécie, os indivíduos precisaram desenvolver a agressividade para a preservação da mesma e para a sua auto-preservação. Recorreram a agressividade para se alimentar através da caça à outros animais, para competir por um alimento cobiçado por outros indivíduos até mesmo da mesma espécie, para disputar um parceiro sexual, para defender a cria, para preservar seus recursos e enfim, para a própria sobrevivência e adaptação diante dos diversos eventos pertinentes a cada época. Em “On Aggression” Lorenz, afirmou que a agressão nos animais e no homem é o resultado de uma tendência herdada e espontânea, cujas propriedades são muito semelhantes aos impulsos biogênicos de comer e beber. Portanto, tanto os seres humanos quanto os demais animais, possuem esta agressividade presente e ambos desenvolvem mecanismos para controlar a mesma.
Partindo de um estudo sobre a agressividade em primatas na África, Wrangham e Peterson revelaram muito sobre a própria condição humana. Durante anos de pesquisa, observaram que os chimpanzés machos praticam estupros, ataques, surras brutais e guerras contra grupos rivais. Fazendo uma comparação inevitável com a sociedade humana, é possível observar a grande semelhança entre estes comportamentos observados. Após algum tempo, quando pesquisaram os bonobos, primatas que não apresentam tais comportamentos violentos, observaram que o comportamento social destes animais é "controlado" e imposto pelas fêmeas da espécie, que asseguram a paz e estimulam a troca de carícias sexuais entre todos os integrantes do grupo. Observando estes comportamentos é quase impossível não perceber as vantagens e desvantagens de ambos os comportamentos: Um grupo em que a agressividade está visível impõe mais "respeito", portanto é menos provável que sofra ataques de outras espécies tentando "roubar" recursos e por outro lado, o que ocorre com os bonobos faz com que estes se tornem mais vulneráveis a ataques de outros grupos. Sendo assim, uma estratégia onde exista a agressividade porém com o controle da mesma é a mais indicada. 
Segundo Dollard, agressividade aparece como reação a inevitáveis frustrações cotidianas (LUPAN, 2014). Numa sociedade onde as pessoas precisam trabalhar, estudar, desempenhar obrigações e atividades que fazem parte de uma rotina, que se torna cansativa, muitas vezes resulta em frustrações devido a vida em sociedade sempre exigir mais das pessoas. Como o homem moderno e civilizado necessita se controlar e a não reagir às frustrações, ele vai guardando para si seus descontentamentos, suas angústias, medos e insatisfações até que chega um momento em que todas as frustrações vem a tona e o controle é perdido ou o homem "perde a cabeça". No momento da perda de controle a violência é a forma mais utilizada para dissipar todo "sofrimento" acumulado e portanto é a partir disso que ocorrem muitos crimes hediondos decorrentes de impulsos.
Nós como futuros biólogos, entendemos que a agressividade é um comportamento humano normal, mas que  pode gerar o prejuízo de alguém ou do próprio agressor. Assim como outros aspectos do ser humano, é um instrumento usado para que este se beneficie em relação ao seu semelhante, é considerada um instinto mas quando uma criança vive e se cria em um ambiente onde é constantemente influenciada por este comportamento, a agressividade pode se tornar excessiva e portanto pode ser empírica. Não podemos esquecer que a prática agressiva de forma intensa resultando em violência, causará a punição do indivíduo na sociedade, pois passa a se tornar uma situação em que regras (leis) são quebradas. Ela também possui seu lado positivo como a luta com força de vontade por um objetivo. Sendo assim, é necessário que as pessoas visem utilizar sua agressividade natural visando diminuir suas frustrações e alcançando seus objetivos sem atacar ou prejudicar ninguém.





O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia II baseando-se nas obras:

Almeida, J. O que é etologia. Disponível em:  Acesso em: 21/09/14
Jornal da Band. Briga de trânsito termina em morte. Disponível em:  Acesso em: 21/09/14
Kristensen, C.H., Lima, J.S., Ferlin, M., Flores, R.Z., Hackmann, P.H. Fatores etiológicos da agressão física: uma revisão teórica. Estudos de Psicologia, 8(1), 175-184, 2003.
Lorenz, K. (1966). On aggression. Nova York: Hartcourt, Brace & World.
Lupan, C. Agressividade. Disponível em: Acesso em: 21/09/14
O que é violência. Disponível em: Acesso em: 21/09/14
Pires, J.G. O surgimento das cidades. Disponível em: Acesso em: 21/09/14
Redação Folha Vitória. Ex-marido é acusado de matar mulher a facadas no centro de Vitória. Folha Vitória 26/08/2014 às 16h37. Disponível em: Acesso em: 21/09/14
Tais, J. A História da Pré-História. Disponível em: . Acesso em: 21/09/14.