quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Altruísmo: Um ato de bondade



Série Ensaios: Sociobiologia

Por Francys da Costa, Nathália Celli e Vivian Telli

Acadêmicas do curso de Ciências Biológicas

Lei de incentivo ao voluntário gera polêmica em Santo Anastácio, trata de um projeto aprovado pela Câmara Municipal de Santo Anastácio em que as pessoas que fizerem atividades voluntárias na cidade durante seis meses e no mínimo 30 horas receberão um certificado, sendo que este poderá ser usado pela prefeitura em desempates de concursos públicos realizados na cidade. O objetivo do projeto é de incentivar a população a realizar o trabalho não remunerado que é desenvolvido por vontade própria. Mas isso não seria um caso de “altruísmo forçado”? Será que um trabalho recompensado pode ser chamado de voluntário? Segundo Marcelo Cezário, “quem tem o espírito altruísta e quem quer de fato servir ao próximo, não precisa de medalha, diploma ou certificado, a pessoa vai e faz”.

O tratamento das pessoas que estão à volta e a empatia são dois dos principais comportamentos sociais, que estão associados com a natureza humana, componentes somáticos, sistema sensorial, personalidade, autoestima, caráter, sentimentos e aprendizado. Esses comportamentos, quando positivos e sem interesse, sem recompensas, são chamados de altruístas. Comportamento social por sua vez está relacionado à formação de grupo, ou seja, uma sociedade envolvendo o espírito de grupo, o desenvolvimento da coesão, a flexibilização e distribuição de papéis, as estruturas de suporte ao desenvolvimento das tarefas de grupo, a ansiedade, a tristeza e a resolução de conflitos.
O altruísmo, ou a filantropia, é uma das bases de várias doutrinas religiosas, como o Cristianismo, por exemplo. Praticar o altruísmo é ter uma atitude de amor ao próximo, pois a pessoa altruísta pensa nos outros antes de pensar em si própria, sem o objetivo de receber algum benefício em troca. Porém, existe também o altruísmo recíproco, em que uma pessoa ajuda a outra sabendo que no futuro essa pessoa poderá estar em condições para retribuir o favor.

O termo altruísmo foi criado pelos pensadores positivistas do século XIX. Em 1852, Auguste Comte criou a definição fundamental: viver para os outros. Em seus estudos sobre a sociedade apontava a necessidade e a utilidade da comparação entre o comportamento dos seres humanos com o dos animais primitivos, pois para ele os comportamentos humanos altruístas e solidários já se faziam presentes desde tempos primitivos. À partir de seus estudos, Émile Durkheim desenvolveu a tese de que a verdadeira função da divisão do trabalho é criar entre as pessoas um sentimento de solidariedade, pois as pessoas são ligadas umas às outras e, ao invés de se desenvolverem separadamente, elas cooperam entre si para o bem de todos.
O primeiro autor a lidar com a cooperação foi Chester Barnard, em 1938, definindo as organizações como sistemas cooperativos entre as pessoas. Através desses estudos, Simon (1990) demonstrou que o altruísmo pode surgir em populações caracterizadas pela racionalidade limitada e pela docilidade, tendo assim a dependência do indivíduo de sugestões, recomendações, persuasão e informação obtidas através de canais sociais como principal fundamento de suas escolhas. Em 1982 o altruísmo foi considerado por Margolis como um senso de responsabilidade social, já Simon, em 1993, disse que o altruísmo era um conceito difícil de ser compreendido. Velamuri, em 2001, definiu altruísmo como a renúncia de bem estar pessoal em benefício de outros. Em 2002, Okasha disse que o conceito darwiniano de altruísmo estava associado com o sacrifício próprio que, apesar de prejudicial do ponto de vista do indivíduo dentro de um grupo, pode ser razoável sob a perspectiva de competição entre diferentes grupos. Para Hu e Liu (2003), conforme a dimensão comportamental, é comumente visto como um ato em que a pessoa disponibiliza bens ou serviços a uma outra sem solicitar uma forma de compensação. Em 2004, Khalil definiu altruísmo como caridade.
Em 1964, Hamilton estabeleceu a teoria da seleção familiar, ou da adaptação inclusiva, em que o gene altruísta reduziria a adaptação de um indivíduo em particular, mas aumentaria a adaptação de seus parentes. Este comportamento e o processo de seleção natural fariam com que o gene do altruísmo fosse disseminado, aumentando a probabilidade de um comportamento altruísta nas futuras gerações. A teoria do altruísmo recíproco foi desenvolvida por Trivers, em 1971, que buscava explicações para evidências de comportamento altruísta entre membros que não pertencem à mesma família. Nas últimas décadas, trabalhos empíricos e teóricos na biologia evolucionária produziram explicações coerentes do comportamento social (Tullberg e Tullberg, 1996).
Os comportamentos altruístas podem ser conscientes, como o de exercer atividades voluntárias, ou subconscientes, como cortesias trocadas por membros de uma sociedade (segurar a porta por exemplo). Na pesquisa: Voluntariar por altruísmo eleva expectativa de vida, analisaram dados de 10 mil pessoas com idade média de 69 anos indicou que um indivíduo que exerce trabalho voluntário pode aumentar em até quatro anos sua expectativa de vida, desde que as razões para a ação sejam o benefício do outro, e não de si mesmo. As razões para essa longevidade seriam fisiológicas, combatendo o estresse, e sociais, dando sensação de bem-estar. Na pesquisa Altruísmo pode ter raízes práticas mas subconscientes, verificou-se que os comportamentos subconscientes indicariam uma maneira de poupar esforços de outras pessoas. Quando uma pessoa passa por uma porta e outra pessoa vem atrás, a primeira segura a porta até a segunda passar, enquanto a segunda acelera o passo para diminuir o tempo de espera da primeira pessoa.
No estudo Crianças são mais altruístas e justas do que adultos, feito nos Estados Unidos com 47 bebês de 15 semanas mostrou que eles podem se igualar ou superar os adultos na questão de altruísmo e justiça, nesse estudo foram feitos dois experimentos, no primeiro foram mostrados dois vídeos para os bebês e seus pais, um em que houve distribuição igual de comida e outro em que houve distribuição desigual. Notou-se que o segundo vídeo deixou os bebês surpresos, chamando mais atenção deles, sendo esse fator chamado de “violação de expectativa”. No segundo experimento foram dados dois brinquedos Lego aos bebês, sendo considerado o preferido o brinquedo escolhido para brincar. Em seguida um pesquisador pediu um brinquedo aos bebês, sendo que um terço das crianças deu o seu brinquedo preferido. Desse um terço, 92% dos bebês havia prestado mais atenção ao vídeo de distribuição desigual de comida. Com esse estudo podemos perceber que as crianças já nascem com um espírito altruísta, o que é muito bom, pois não é um comportamento que precise ser ensinado pelos pais, apenas aperfeiçoado ao longo da vida.
Altruísmo pode ser 'sexualmente atraente', diz pesquisa através de perguntas sobre o tipo de qualidade que procuram em um parceiro incluindo exemplos de comportamento altruísta, feitas por pesquisadores da Inglaterra com mais de mil pessoas, concluiu-se que o altruísmo pode ser “sexualmente atraente”, sendo que as mulheres dão mais importância a essas características do que os homens.
Ao longo de nossa história evolutiva, houve uma pressão para o desenvolvimento de normas de convivência, já que nossos ancestrais viviam agrupados, para evitar a exploração por indivíduos que não retribuíam a generosidade de outros indivíduos. A cooperação com parentes implica em custos para os indivíduos que a apresentavam, mas traz benefícios genéticos pela transmissão dos genes do indivíduo altruísta para a geração seguinte. O altruísmo recíproco ocorre quando um indivíduo coopera com outro esperando uma retribuição. E a reciprocidade indireta, ocorre mesmo na ausência de parentesco e da possibilidade de receber uma retribuição, sendo mantida pelo impacto que a ajuda ou a recusa em ajudar alguém têm na reputação desse indivíduo no grupo ao qual pertence. A prática contínua, desde nossos ancestrais, de altruísmo recíproco e reciprocidade indireta deixou marcas na mente humana que favorecem respostas emocionais.
Mas nem sempre o altruísmo é bem visto. Quando um funcionário de uma empresa possui um comportamento altruísta, o restante do grupo o vê como a “maçã podre”, fazendo o que ninguém mais quer fazer, sempre disposto a ajudar e ensinar, mesmo não sendo sua obrigação. Isso pode causar um desequilíbrio no grupo, pois os outros acabam sendo mal vistos no trabalho por não terem as mesmas atitudes, como mostra a pesquisa: Funcionários altruístas tendem a ser rejeitados pelo grupo.
O comportamento altruísta não é apenas observado em humanos, sendo muito comum também entre os animais, como mostra a reportagem: O altruísmo e a bondade dos animais. Diversas histórias são conhecidas, como do cão que salvou a vida do dono em um incêndio, outro que permaneceu por horas ao lado do corpo de sua amiga atropelada, esperando ajuda, o gato tentando acordar o outro gato que estava morto (vídeo 02), o papagaio que acordava a dona com apneia obstrutiva quando ela parava de respirar, entre outros. Uma pesquisa feita com chimpanzés fêmeas mostrou que, quando dadas a elas duas fichas com cores diferentes, sendo uma para receber uma recompensa para ser compartilhada com seu companheiro e outra por um prêmio só para elas, principalmente quando os machos estavam pacientes elas escolhiam a primeira opção. Já quando os machos estavam impacientes, cuspindo água nelas ou pedindo recompensa por exemplo, escolhiam a segunda opção, ficando com a recompensa só para elas. Isso mostra que seu altruísmo era espontâneo, e não fruto de intimidação.
Com bases nas informações acima, nós futuras biólogas concluímos que o altruísmo é compartilhado por diversas espécies animais, inclusive humanos, herdado com o passar do tempo, mesmo não representando uma “boa” característica evolutiva, pois coloca em risco a própria sobrevivência por outro indivíduo, ato que contraria a “teoria da seleção natural”, variando para a “teoria da seleção de parentesco”, que dá chance de sobrevivência de cópias de si mesmo presentes em outros indivíduos, beneficiando o grupo, comportamento este mais efetivo entre parentes próximos. Podemos considerar então o altruísmo como um instinto, pois é resposta a uma determinada situação de outro indivíduo, ou seja, quando sentimos a necessidade de ajudar ou realizar uma boa ação automaticamente, mesmo que a desconhecidos ou entre espécies diferentes.






O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia baseado nas seguintes obras:

Alves, M. A. et al. O Altruísmo nas Organizações: Interação e Seleção Natural. Disponível em: http://www.anpec.org.br/encontro2004/artigos/A04A093.pdf
Monteiro, P. P. Altruísmo recíproco. 2013. Disponível em: http://pedronotempo.blogspot.com.br/2013/03/altruismo-reciproco.html

Moraes, T. P. B. de. Altruísmo como uma via evolutivamente sustentável. Ume revisão sobre a evolução do altruísmo. RIDB. Ano 2 (2013), n.14. Disponível em: http://www.idb-fdul.com/uploaded/files/2013_14_17281_17305.pdf

Yamamoto, M. E. Homo moralis, Um primata cooperativo. 2006. Disponível em: http://www.sbpcnet.org.br/livro/58ra/atividades/textos/texto_322.html




Nenhum comentário:

Postar um comentário