quinta-feira, 15 de maio de 2014

Zooterapia: um bem-estar em comum?


Série Ensaios: Ética no Uso de Animais e Bem-estar Animal

Por Amanda da Silva Oliveira Santos

Aluna do Curso de Especialização em Conservação da Natureza e Educação Ambiental


O bem-estar dos seres humanos é fundamental, claro! É fácil pensar e agir de acordo com o que se considera correto para qualidade de vida própria. E quem se preocupa com o bem-estar dos outros animais? Estes também precisam de qualidade de vida, o que inclui respeito à sua forma de ser e agir. Um animal em bem-estar tem que apresentar boas condições física e psicológica, com qualidade de vida. A zooterapia ou terapia assistida por animais (TAA) é uma técnica, utilizada no tratamento de certas doenças/pacientes humanos, em que geralmente cavalos (equoterapia - veja o vídeo) e cães (cinoterapia) são os “instrumentos”. Os animais são considerados e “utilizados” como co-terapeutas e/ou co-educadores.
            De acordo com a reportagem da equipe Oásis, os métodos zooterapêuticos começaram a ser utilizados no final do século XIX, na Bélgica, quando médicos perceberam que pacientes que sofriam de algum tipo de deficiência mental passavam a se socializar melhor devido ao convívio com animais, se tornando menos agressivos. Na Inglaterra, nos anos 30, pesquisadores descobriram um fato curioso: os idosos que iam para os asilos, mas que podiam levar seus animais, tinham uma socialização e independência maior do que aqueles que não os levavam. Em 1942, nos Estados Unidos, terapeutas sentiram o benefício do uso da zooterapia em pacientes com desordens físicas e mentais. No Brasil, em 1950, a professora Nise da Silveira (célebre psiquiatra e psicoterapeuta) começou a tratar pacientes esquizofrênicos com cães e gatos, batizando esses animais de co-terapeutas. O interesse voltou a surgir a partir dos anos 90, quando foram implantados os primeiros centros de atendimento de terapia assistida por animais. Em setembro de 2000, aconteceu no Rio de Janeiro, a 9ª Conferência Internacional sobre Interações Homem/Animal, despertando diferentes profissionais de saúde e afins, para atuação e pesquisas científicas nas atividades e terapias assistidas por animais.


          

  A zooterapia vai além de simplesmente o animal alegrar e ser companheiro; estudos mostram que a terapia auxilia na regulação de pressão arterial, melhora a memória em idosos, previne e trata a depressão e ansiedade. Também têm resultados positivos no aprendizado e desenvolvimento (em geral) de crianças, estimula o respeito às diferentes formas de vida, e melhora a comunicação. Auxilia no desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com necessidades especiais. É muito utilizada no tratamento/acompanhamento de Síndrome de Down, lesão medular, depressão, autismo, AVC, paralisia cerebral. Nos EUA, cães são zooterapeutas em prisões com objetivo de melhorar o comportamento de certos presos, e diminuir a agressividade.
Os cães-guias também podem ser considerados zooterapeutas para deficientes visuais e auditivos, pois além dos cães ajudarem seus companheiros humanos fisicamente e direcionalmente, os tornam mais independentes. Há os cães de alerta que auxiliam seus donos em situações de perigo com a saúde, através da realização de chamadas de emergência e busca de remédios. Para casos de investigação policial e acidentes, existem os cães de resgate.
      
      Quando a TAA é utilizada de forma que respeite a qualidade de vida dos animais, pode sim ser útil e promissora a todos os envolvidos. Há casos, em que a cinoterapia auxilia os humanos e aumenta as possibilidades de adoção de cães abandonados/maltratados. No estado de São Paulo, a USP realiza um projeto em que estudantes levam cães a um asilo, a cada 15 dias. A mudança mais significativa foi a melhora na comunicação dos idosos. Há conceitos mais abrangentes para a zooterapia, como a definição do professor e pesquisador Rômulo Nóbrega: “tratamento de doenças humanas, a partir da utilização de produtos de partes do corpo do animal ou de produtos de seu metabolismo, como secreções corporais e excrementos, além de materiais construídos por eles, como ninhos e casulos”. Neste caso, a história muda um pouco, pois os animais a meu ver, são tratados como produtos farmacêuticos sem nenhum cuidado e critério; passam a ser zooterápicos utilizados principalmente pela medicina popular. Alguns exemplos são: gordura do boto vermelho, cavalo-marinho, bílis do urso, estrela-do-mar, ossos e pênis de tigre, gordura da tartaruga-da-Amazônia, chifres e crânio de rinoceronte, barbatana de tubarão. Há também a utilização de animais para pesquisa e fabricação de medicamentos em laboratório, como estrelas-do-mar que possuem uma substância viscosa que pode curar asma, artrite e febre do feno.
     
      Eu no papel de bióloga, acredito que a zooterapia quando aplicada na sua essência e sem desqualificar os animais e sua saúde, é uma técnica responsável e que pode evoluir de forma saudável. É necessário mais estudos e interesse legal sobre este assunto, para evitar danos aos animais e observar os possíveis benefícios para eles. No que diz respeito à produção de zooterápicos, é necessário muita discussão, pois dependendo de como e quais animais são utilizados e dos possíveis lucros, podem ser gerados sérios problemas como a extinção de determinadas espécies e o tráfico de animais.


O presente ensaio foi elaborado para a disciplina Ética no Uso de Animais e Bem-estar Animal, e baseado nas fontes citadas ao longo do texto, na forma de hiperlinks, e nas seguintes obras:

CLERICI, L. G. W. Zooterapia com Cães: um estudo bibliográfico. Disponível em: <<siaibib01.univali.br/pdf/Lisandra%20Garcia%20Wastowski%20Clerici.pdf >>. Acesso em 13 maio.2014.
FISCHER, M. Ética no Uso de Animais e Bem-estar Animal-Palestra/ Encimey. Disponível no link: <<http://etologia-no-dia-a-dia.blogspot.com.br/2013/10/etica-no-uso-de-animais-e-bem-estar.html#links>>. Acesso em 13 maio.2014.

2 comentários:

  1. Muito bom. Parabéns Amanda, ótimo trabalho!

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  2. Obrigada! Este assunto é muito interessante e pode agregar bastante aos estudos de bem-estar animal. Att. Amanda Santos.

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