quarta-feira, 14 de maio de 2014

Ética, e Ciência e o uso de animais em Laboratório


Serie Ensaios: Ética no uso de Animais e Bem-Estar Animal

Por Misael Gomes Barbosa
Aluno do Curso de Pós-graduação em Conservação e Educação Ambiental


           
Para um maior conhecimento da anatomia humana o homem, na idade clássica, utilizava animais tornando a prática uma herança para o desenvolvimento da ciência dos animais de laboratório. Aristóteles (384 – 322 a.C) se referiu aos animais como fonte de capacitação técnica, sendo também o fundador da Biologia (Andrade et al., 2002). Segundo Andrade et al. (2002), o uso de animais em laboratório foi considerado um meio viável para investigação anatômica, fisiológica e morfológica. Grandes cientistas como Erasistratus (304-258 a.C) buscavam características patológicas que mostrassem semelhanças próximas à espécie humana, sendo o mesmo precursor de experimentos em animais vivos (Orlans, 1993). Galeno (128-199 a.C) dissecou anatomicamente  porcos, macacos e outras espécies, e Andreas Vesalius (1514-1564) fundou no século XVI a anatomia moderna com uso de cães e porcos em apresentações públicas. Na biologia e na medicina experimental, François Magendie (1783-1855) e Claude Bernard (1823-1878) tornaram-se os grandes marcos na contribuição do método científico, e buscavam diferenças e semelhanças entre os órgãos do animal e do homem, podendo entender todos os processos que ocorrem no sangue e nos sistemas respiratório, digestório e nutricional, que até hoje buscam respostas na compreensão da ciência humana (Saiz Moreno et al., 1993).            O uso de animais propiciou grandes avanços na produção de vacinas no século XVIII, para as quais utilizaram-se coelhos, camundongos e Hamsters. Iniciou-se o estudo em animais de laboratório por Pasteur e Koch contra Carbúnculo e a raiva, que se tornaram ferramenta de trabalho em estudos Bacteriológicos. A engenharia genética abriu caminho para a produção desses animais, alcançando avanços nos transplantes de órgãos e tecidos biológicos (Andrade et al., 2002).                                                                                                                    
Mais recentemente, no século XX esta relação sobre a conduta do uso animal pelo ser humano, levou a discussões éticas, quanto ao sofrimento e o bem-estar animal (Regan, 1983). Singer(1975), contesta o uso de animais, em relação ao stress e à dor em testes cruéis. O uso de animais continua sendo mais frequente na manipulação fármaco-química de drogas e na obtenção da toxidade e no efeito alcançado (Regan, 1983), havendo a necessidade de grande quantidade de animais para se obter um resultado estatisticamente significante, o número amostral em trabalhos científicos é exorbitante.   Além do uso cientifico, segundo Regan (1983), a educação também fez uso de animais como fonte ao aprendizado. As escolas vivenciaram rotineiramente a prática anatômica de animais como meio de aperfeiçoamento didático/prático para conhecimentos científicos, enquanto a lei assim o permitia (Andrade et al., 2002). No ensino superior as habilidades técnicas cirúrgicas utilizadas em práticas profissionais que se pautam pela aprendizagem, usam desses animais com intuito educacional, como modelos experimentais para desenvolver novas técnicas cirúrgicas e no aperfeiçoamento das aplicações já existentes (Regan,1983). A ciência embasada na filosofia de René Descartes, declarava que os animais não possuíam alma, mais eram sim criaturas autômatas ou incapazes de sentir ou sofrer dor. Entretanto, esta filosofia foi desmantelada pela teoria da evolução de Charles Darwin, o qual mencionou que “o homem é um animal e que, logo, as preocupações morais com o homem deveriam se estender aos animais” (Ekaterina Rivera, 2002). Charles Hume(1926) iniciou na University of London Animal Welfare, a discussão sobre uma perspectiva cientifica racional quanto às atitudes com os animais, ocasionado polemica com outros cientistas antiviviseccionistas, assim estabelecendo uma nova concepção da utilização do animal em condições favoráveis ao seu bem estar (Ekaterina Rivera, 2002).     
Hoje censura-se a utilização desses animais como se eles fossem seres desprezíveis, tenta-se limitar sua utilização em pesquisas, trabalhos, diversão, companhia e alimentação. O homem deveria sair de sua posição pretensamente superior, e entender que tem como dever, não abusar deste pretenso poder sobre os animais (Andrade et al, 2002).            Eu, como biólogo, acredito que a utilização de cobaias como fonte de pesquisa cientifica tem seu valor social, moral e ético. Como citado anteriormente, a pesquisa com animais é considerada por autores essencial para a ciência, bem como também responsável pelos avanços na saúde humana e animal. Considero que se justifica o uso de animais para o avanço na medicina humana e veterinária em pesquisa, devido aos benefícios decorrentes para os seres humanos, desde que esses experimentos não levem ao sofrimento dos animais e sua morte seja indolor, usando-se o menor número possível de animais para se obter a significância necessária à pesquisa.


O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Ética no uso de Animais e Bem-Estar Animal, baseando-se nas seguintes obras:
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ANDRADE, A., PINTO, SC., and OLIVEIRA, RS., orgs. Animais de Laboratório: criação e experimentação. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2002. 388 p. ISBN: 85-7541-015-6.
ORLANS, F.B,1993. In the name of science: Issues  in responsible animal experimention. New York: Oxford UniversityPress.
REGAN, T. 1983. The case for animal rights. Berkeley: University of California Press.
RIVERA, E. A. B. Ética e bem-estar na experimentação animal. Revista do Conselho Federal Medicina Veterinária,1(1):12-15, 1992.
SAIZ MORENO, L.; GARCIA DE OSMA, J. L. & COMPAIRE FERNANDEZ, C. Animales de Laboratório: producción, manejo y control sanitario. Madrid: Instituto National de Investigações Agrarias/Ministério de Agricultura, Pesca y Alimentación, 1983.
SINGER, P. 1975 . Animal liberation. A new ethics for our treatment of animals. New York: New York Review.

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