Serie Ensaios: Ética no uso de
Animais e Bem-Estar Animal
Por Misael Gomes Barbosa
Aluno do Curso de Pós-graduação
em Conservação e Educação Ambiental
Para
um maior conhecimento da anatomia humana o homem, na idade
clássica, utilizava animais tornando a prática uma herança para o desenvolvimento
da ciência dos animais de laboratório. Aristóteles (384 – 322 a.C) se referiu aos
animais como fonte de capacitação técnica, sendo também o fundador da Biologia (Andrade
et al., 2002). Segundo Andrade et al. (2002), o uso de animais em laboratório foi
considerado um meio viável para investigação anatômica, fisiológica e
morfológica. Grandes cientistas como Erasistratus (304-258 a.C) buscavam
características patológicas que mostrassem semelhanças próximas à espécie
humana, sendo o mesmo precursor de experimentos em animais vivos (Orlans,
1993). Galeno (128-199 a.C)
dissecou anatomicamente porcos, macacos
e outras espécies, e Andreas Vesalius (1514-1564) fundou
no século XVI a anatomia moderna com uso de cães e porcos em apresentações públicas.
Na biologia e na medicina experimental, François Magendie (1783-1855) e Claude Bernard (1823-1878) tornaram-se
os grandes marcos na contribuição do método científico, e buscavam diferenças e
semelhanças entre os órgãos do animal e do homem, podendo entender todos os
processos que ocorrem no sangue e nos sistemas respiratório, digestório e
nutricional, que até hoje buscam respostas na compreensão da ciência humana (Saiz Moreno et al., 1993). O uso de animais propiciou grandes avanços
na produção de vacinas no século XVIII, para as quais utilizaram-se coelhos,
camundongos e Hamsters. Iniciou-se o estudo em animais de laboratório por Pasteur e Koch
contra
Carbúnculo e a raiva, que se tornaram
ferramenta de trabalho em estudos Bacteriológicos. A engenharia genética abriu caminho para a
produção desses animais, alcançando avanços nos transplantes de órgãos e
tecidos biológicos (Andrade et al., 2002).
Mais recentemente, no século
XX esta relação sobre a conduta do uso animal pelo ser humano, levou a discussões
éticas, quanto ao sofrimento e o bem-estar animal (Regan, 1983). Singer(1975), contesta o uso de animais, em relação
ao stress e à dor em testes cruéis. O
uso de animais continua sendo mais frequente na manipulação fármaco-química de
drogas e na obtenção da toxidade e no efeito alcançado (Regan, 1983), havendo a
necessidade de grande quantidade de animais para se obter um resultado
estatisticamente significante, o número amostral em trabalhos científicos é
exorbitante. Além do uso
cientifico, segundo Regan (1983), a educação também
fez uso de animais como fonte ao aprendizado. As escolas vivenciaram rotineiramente
a prática anatômica de animais como meio de aperfeiçoamento didático/prático
para conhecimentos científicos, enquanto a lei assim o permitia (Andrade et al.,
2002). No ensino superior as habilidades técnicas cirúrgicas utilizadas em práticas
profissionais que se pautam pela aprendizagem, usam desses animais com intuito
educacional, como modelos experimentais para desenvolver novas técnicas
cirúrgicas e no aperfeiçoamento das aplicações já existentes (Regan,1983). A ciência embasada na filosofia de René
Descartes, declarava que os animais não possuíam alma, mais eram sim criaturas
autômatas ou incapazes de sentir ou sofrer dor. Entretanto, esta filosofia foi
desmantelada pela teoria da evolução de Charles Darwin, o qual mencionou que “o
homem é um animal e que, logo, as preocupações morais com o homem deveriam se
estender aos animais” (Ekaterina Rivera, 2002). Charles Hume(1926) iniciou na University of London
Animal Welfare, a discussão sobre uma perspectiva cientifica racional quanto às
atitudes com os animais, ocasionado polemica com outros cientistas antiviviseccionistas, assim estabelecendo uma nova concepção
da utilização do animal em condições favoráveis ao seu bem estar (Ekaterina Rivera,
2002).
Hoje censura-se a utilização desses
animais como se eles fossem seres desprezíveis, tenta-se limitar sua utilização
em pesquisas, trabalhos, diversão, companhia e alimentação. O homem deveria
sair de sua posição pretensamente superior, e entender que tem como dever, não
abusar deste pretenso poder sobre os animais (Andrade et al, 2002). Eu, como biólogo, acredito que a utilização
de cobaias como fonte de pesquisa cientifica tem seu valor social, moral e
ético. Como citado anteriormente, a pesquisa com animais é considerada por
autores essencial para a ciência, bem como também responsável pelos avanços na
saúde humana e animal. Considero que se justifica o uso de animais para o avanço
na medicina humana e veterinária em pesquisa, devido aos benefícios decorrentes
para os seres humanos, desde que esses experimentos não levem ao sofrimento dos
animais e sua morte seja indolor, usando-se o menor número possível de animais
para se obter a significância necessária à pesquisa.
O presente ensaio foi elaborado para disciplina de
Ética no uso de Animais e Bem-Estar Animal, baseando-se nas seguintes obras:
ANDRADE, A., PINTO,
SC., and OLIVEIRA, RS., orgs. Animais de Laboratório: criação e
experimentação. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2002. 388 p. ISBN:
85-7541-015-6.
ORLANS, F.B,1993. In the name of science: Issues in responsible animal experimention. New
York: Oxford UniversityPress.
REGAN, T. 1983. The case for animal rights. Berkeley: University of
California Press.
RIVERA, E. A. B. Ética
e bem-estar na experimentação animal. Revista do Conselho Federal Medicina
Veterinária,1(1):12-15, 1992.
SAIZ MORENO, L.;
GARCIA DE OSMA, J. L. & COMPAIRE FERNANDEZ, C. Animales de Laboratório:
producción, manejo y control sanitario. Madrid: Instituto National de
Investigações Agrarias/Ministério de Agricultura, Pesca y Alimentación,
1983.
SINGER, P. 1975 . Animal liberation. A new ethics for our treatment of
animals. New York: New York Review.
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