Série Ensaios: Ética no Uso de
Animais e Bem-estar Animal
Por Bruna Cecília Ribeiro de
Jesus
Pós-graduanda em Conservação da
Natureza e Educação Ambiental
Desde
antigamente, os animais já eram usados para pesquisas, a fim de obter avanços
nos conhecimentos científicos
e tecnológicos, e, assim, possibilitar melhoria na área da saúde,
influenciando o desenvolvimento de vacinas, antibióticos e anestésicos no
último século. Porém, por mais que haja uma legislação,
nem sempre esta é respeitada. Dessa forma, há uma reflexão acerca da conduta
ética do homem diante dos animais, surgindo um questionamento do porquê e
em que condições é necessário ser ético diante do sofrimento e do bem-estar dos
animais. A bioética
surge então, desafiando a ética contemporânea no sentido de providenciar um
estudo sistemático da conduta humana na área das ciências da vida e cuidados
com a saúde do homem e dos animais. O termo bem-estar
animal é utilizado em investigações científicas, documentos legais e
declarações públicas. O termo refere-se ao estado de um indivíduo em relação ao
seu meio ambiente. Também está relacionado às características individuais de um
animal, mais que a alguma coisa fornecida pelo homem ao animal. A definição de
bem-estar animal relaciona-se ainda a outros conceitos como os de necessidade,
liberdade, felicidade, competição, controle, sensações, sofrimento, dor,
ansiedade, medo, estresse, saúde, tédio. As sensações subjetivas de um animal
são parte integrante da complexidade dos aspectos que envolvem o seu bem-estar
e devem ser consideradas (BROOM, 1991). Muitos fatores associados às
necessidades individuais, vida em cativeiro, eventos ameaçadores e/ou estímulos
aversivos podem acarretar desequilíbrio físico e psicológico e ameaçar a homeostasia do organismo.
O bem-estar dos animais depende fortemente das sensações,
percepções, cognição e motivação individuais (CLARK, RAGER & CALPIN,
1997).
Para
se conhecer a fauna de um determinado bioma ou localidade a fim de manejá-la ou
monitorá-la, faz-se necessário utilizar-se de
técnicas de levantamentos por métodos de amostragem. O conhecimento da
dinâmica natural e da estrutura do ecossistema com o auxílio de levantamentos é
fundamental no desenvolvimento de modelos de recuperação. O termo amostragem é
a obtenção de uma parte que represente, de forma adequada, o todo do objeto de
estudo, visto que jamais será possível amostrar todos os componentes dessa
diversidade. Um método indireto e não invasivo é o de observação indireta que
ocorre através de algumas evidências ou vestígios deixados por animais, podendo
confirmar a ocorrência de animais em uma determinada área. É chamado método
indireto, pois possibilita comprovar a presença de alguns indivíduos, sem a observação
dos animais. Entre essas evidências temos algumas que ocorrem com mais
frequência: pegadas ou rastros, zoofonia (vocalização ou canto dos animais), fezes,
tocas ou abrigos, marcas olfativas, marcas visuais. Métodos baseados na identificação
de pegadas, visualizações ao longo
de transectos lineares e o uso de armadilhas
fotográficas têm sido tradicionalmente utilizados no estudo dos mamíferos
de médio e grande porte (PARDINI et al.
2003).
A
busca ativa e procura visual é um método bastante generalista para amostragem
de vertebrados nos períodos diurno e noturno. É realizada por duas ou mais
pessoas, que se deslocam a pé, lentamente, á procura da fauna em todos os
microhabitats visualmente acessíveis, incluindo troncos, tocas, etc. Um dos métodos não invasivos na identificação
de mamíferos consiste na ánalise da morfologia interna
dos pêlos (QUADROS &; MONTEIRO-FILHO, 2006). Diversos autores já
desenvolveram chaves de identificação de espécies baseadas exclusivamente em
características tricológicas (OLI, 1993; PERRIN &; CAMPBEL, 1979; WALLIS,
1993; INGBERMAN & MONTEIRO-FILHO, 2006). Através de visualização e/ou
coleta é possível confirmar se esses animais vivem em uma determinada área. É o
chamado método direto, pois comprova a presença de alguns indivíduos, com a
observação do animal in loco. Os sistemas podem ser: avistamentos
ou captura.
O estabelecimento em campo de armadilhas (manual, live trap, alçapão/pitfall, rede de neblina, snap trap) aliadas a diferentes iscas (sardinha, milho, banana, linguiça, peixe, mel, carne, pasta de amendoim, glucose de milho) também produz resultados satisfatórios em trabalhos com mamíferos, aves e répteis. No entanto, neste caso, deve-se atentar ao formato e tamanho da armadilha, além do tipo de recurso utilizado como atrativo, pois estes influenciam de maneira variável na captura das diferentes espécies.
O estabelecimento em campo de armadilhas (manual, live trap, alçapão/pitfall, rede de neblina, snap trap) aliadas a diferentes iscas (sardinha, milho, banana, linguiça, peixe, mel, carne, pasta de amendoim, glucose de milho) também produz resultados satisfatórios em trabalhos com mamíferos, aves e répteis. No entanto, neste caso, deve-se atentar ao formato e tamanho da armadilha, além do tipo de recurso utilizado como atrativo, pois estes influenciam de maneira variável na captura das diferentes espécies.
Um
problema dos levantamentos
de aves é a alta variação na detecção dos animais ao longo do dia
(GUTZWEILLER, 1993), em diferentes
estações do ano (ROLLFINKE &; YAHNER, 1990) e condições climáticas. Em
métodos que se utilizam trajetos, o observador é móvel e registra todos os
indivíduos detectados em cada lado do caminho percorrido em velocidade
constante. No caso de pontos, o observador é fixo e permanece na estação
(ponto) por um período de tempo pré-determinado, registrando todos os
indivíduos detectados ao seu redor, para depois se mover em direção ao próximo
ponto de amostragem. Também existe o método de captura e marcação, onde as
aves são capturadas, identificadas e marcadas, pela técnica de anilhagem.
Através deste método de levantamento é possível a coleta de dados morfológicos
e biológicos, importante no monitoramento e manejo da avifauna. O método de
captura e marcação também é utilizada para mamíferos de médio e pequeno porte.
O
levantamento da herpetofauna
é realizado através do uso de armadilhas de interceptação e queda "pitfall
traps", utilizando-se baldes de plástico de 40 litros enterrados no
solo, para captura (CECHIN & MARTINS, 2000). Por mais que a legislação permita
a coleta de animais para fins científicos (Lei nº
5197-67, Art.14), eu como bióloga, jurei de acordo com os princípios éticos
defender a vida, dessa forma, acredito que sempre há um método alternativo de
identificação a se escolher, que seja de preferência não invasivo e pensando no
bem-estar dos animais. Tais métodos podem contribuir para a confirmação da
ocorrência das espécies ou na identificação desses animais como presas de
outros vertebrados. O manejo e a conservação dos animais dependem
fundamentalmente de decisões racionais e bem embasadas, e o respeito às
diferentes formas de vida que compartilham esse tempo e espaços com o ser
humano devem nortear essa relação.
O
presente ensaio foi elaborado para a disciplina Ética no uso de animais e
Bem-estar animal e baseado nas fontes citadas ao longo do texto, na forma de
hiperlinks, e nas seguintes obras:
BROOM, D.M. Animal welfare: concepts and measurement.
Journal of Animal Science, U.S.A., v.68, p.4167-4175, 1991.
CECHIN,
S.Z. & MARTINS, M. Eficiência de armadilhas de queda (pitfall traps) em amostragens
de anfíbios e répteis no Brasil. Rev. Bras. Zool. 17:729-740,
2000.
CLARK, J.D.; RAGER, D.R.; CALPIN, J.P. Animal
well-being II. Stress and Distress.
Laboratorial Animal Science, U.S.A., v.47, n.6,
p.571-579, 1997.
GUTZWILLER, K. J. Refining the use of point counts for
winter study of individual species. Wilson
Bulletin, v. 105, p. 612-627, 1993.
INGBERMAN,
B. & MONTEIRO-FILHO, E.L.A. Identificação microscópica dos pelos das
espécies brasileiras de Alouatta Lacépède, 1799 (Primates, Atelidae,
Alouattinae). Arq. Mus. Nac. Rio de Janeiro 61(1):61-71, 2006.
OLI, M.K. A key for the identification of the hair of
mammals of a snow leopard (Panthera uncia) habitat in Nepal. J. Zool.
231:71-93. http://dx.doi.org/10.1111/j.1469-7998.1993.tb05354.x,
1993.
PARDINI, R.; E.H. DITT; L. CULLEN JR; C. BASSI &
R. RUDRAN. Levantamento
rápido de mamíferos terrestres de médio e grande porte, p. 181-201. In:
L. Cullen Jr; R., 2003.
PERRIN, M.R. & CAMPBELL, B.S. Key to the mammals
of the Andries Vosloo Kudu Reserve (eastern Cape), based on their hair
morphology, for use in predator scat analysis. S. Afr. J. Wildl. Res 10(1):1-14, 1979.
QUADROS,
J. & MONTEIRO-FILHO, E.L.A. Coleta e preparo de pelos de mamíferos para
identificação em microscopia óptica. Rev. Bras. Zool. 23(1):274-278. http://dx.doi.org/10.1590/S0101-81752006000100022,
2006.
RUDRAN & C. VALLADARES-PADUA (EDs). Métodos
de estudo em biologia da conservação e manejo da vida silvestre. Curitiba,
Editora UFPR, 667p, 2003.
ROLFINKE, B. F. & YAHNER, R. H. Effects of time of
day and season on winter bird counts. The Condor, v. 92, p. 215-219, 1990.
WALLIS, R.L. A key for the identification of guard
hairs of some Ontario mammals. Can. J. Zool. 71(3):587-591. http://dx.doi.org/10.1139/z93-080, 1993.
Nenhum comentário:
Postar um comentário