quinta-feira, 8 de maio de 2014

ANIMAIS DE CIRCO: UM RETRATO SOBRE A CRUELDADE ATRÁS DOS APLAUSOS


Série Ensaios: Ética no Uso de Animais e Bem-estar Animal

Por Eduardo Brandt

Curso de Pós-graduação em Conservação da Natureza e Educação Ambiental da PUCPR.

 
        

Os
Espetáculos circenses chegaram ao Brasil provavelmente trazido por ciganos que foram expulsos da Europa no final do século XVIII. Em suas apresentações, estes artistas já utilizam a doma de animais para animar grandes públicos (Martins, R.F.; 2009). É sabido que todos os animais possuem sentimentos e instintos, sentem dor, medo, prazer, estresse, angústia, tristeza. Portanto, devem receber a mesma consideração que qualquer outro ser vivo. Para que um animal seja obediente e se apresente de forma adequada perante o público deve cumprir uma rotina pesada de treinamentos, passam por torturas e amarrados de forma desumana.            Animais silvestres são aqueles que vivem junto à natureza e são independentes do ser humano, portanto, sua domesticação é algo anti-natural e considerada maus tratos, e para que isto ocorra, o animal precisará ser retirado de seu habitat natural, modificando completamente sua vida, podendo leva-lo a morte. Mas, não é apenas a retirada do animal de seu habitat que lhe trará malefícios, mas os hábitos de vida que lhes serão impostos para que possam viver em harmonia com a nossa sociedade.
            Animais em circo sofrem uma vida inteira de maus tratos. Estes não incluem apenas as formas desumanas de treinamento, mas também os espetáculos em si, onde os animais, por sofrerem agressões para um suposto aprendizado, se comportam como nunca se comportariam na natureza. Além disso, passam suas vidas em espaços muito pequenos e em constante transporte, circunstâncias que causam alto grau de estresse. E, para piorar a situação, muitas vezes não têm à disposição alimento de qualidade ou em quantidade suficiente.            Atualmente, a apresentação de animais em circos é uma atividade restrita e está contemplada na Lei de crimes ambientais (Lei federal 9.605/98) com a seguinte descrição.

“Art. 32 – Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou

mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados,

nativos ou exóticos.”

            Neste sentido, devemos lembrar que a proteção dos nossos animais está presente na legislação, sendo crime qualquer ato que prejudique um animal, seja silvestre, exótico ou doméstico em apresentações circenses e que o objetivo primordial do ser humano seja a preservação da vida. Até o momento, apenas os estados de Alagoas, Paraíba, Paraná, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Espírito Santo possuem legislação que proíbe o uso de animais em circo. Os estados de Santa Catarina e Ceará ainda estão em processo de tramitação. Entretanto, o sindicato dos artistas circenses está entrando com recursos para reavaliar a utilização de animais em espetáculos.

           


 

O Brasil possui um histórico lamentável sobre acidentes causados por animais de circo envolvendo tratadores, os próprios animais, o público e até a população local. Entre 2005 e 2008 casos como abandono, fuga, ataque ao tratador, amputações, morte por desnutrição são comuns nos circos brasileiros. Mais recentemente, em dezembro de 2007, na cidade de Mata de São João / BA, um macaco em uma jaula improvisada com carrinho de supermercado arranca o dedo de uma menina de 3 anos e no ano seguinte, na cidade de São José do Rio Preto / SP, um leão foge e causa pânico na região. A legislação brasileira deve atentar-se ao modelo atual de espetáculo circense excluindo todos os animais não humanos e envolver apenas a figura humana. A utilização de animais não humanos serve como uma suposta tentativa de atração ao público e uma estratégia de marketing ineficiente, pois trata os animais como objetos. Infelizmente, muitas pessoas ainda não entendem o sentido da não utilização de animais em circo, apenas acham “bunitinho” e interessante ver e ter acesso a alguns animais diferentes, portanto, qualquer trabalho informativo é de extrema importância.

        
    Enquanto Biólogo acredito que substituir animais por arte seria uma prática válida. Cada animal utilizado em circo significa menos geração de empregos, ou seja, pessoas preparadas para tais atividades desempregadas, e um animal escravizado e condenado a viver pelo resto da vida enjaulado e sendo obrigado a desempenhar um papel completamente incompatível com sua natureza. Ao proibir o uso de animais, mais oportunidades de empregos para artistas serão criadas, a diversão continua garantida e a sociedade será mais justa, visto que o exemplo dado às crianças será de compaixão, e não mais de exploração. Alguns dos melhores e mais respeitados circos do mundo, como o nacional Circo Spacial e o canadense Cirque du Soleil, não utilizam animais em seus números, e são exemplos de que a verdadeira arte vai muito além da imaginação.            Com o objetivo de incentivar ainda mais a proibição do uso de animais em circo, cabe também à família boicotar circos ou qualquer tipo de espetáculo que contenha animais, mostrando a cultura ao invés da exploração. Devem ensinar a seus filhos o respeito à natureza e a qualquer tipo de ser vivo não esquecendo que o ser humano compartilha com todos os outros animais o mesmo planeta e não pode ser considerado um ser acima de qualquer outro.

O presente ensaio foi elaborado para a disciplina de Ética no uso de animais e Bem-estar animal e baseado nas fontes citadas ao longo do texto, na forma de hiperlinks, e nas seguintes obras:

https://www.almg.gov.br/atividade_parlamentar/tramitacao_projetos/interna.html?a=2013&n=4787&t=PL
http://www.wspabrasil.org/comoajudar/campanhas/Circo-Legal-Nao-Tem-Animal.aspx
http://www.pensataanimal.net/index.php?option=com_content&view=article&id=111:o-respeitavel-publico&catid=76:renatafmartins&Itemid=1
MARTINS, R.F.; 2009. O RESPEITÁVEL PÚBLICO NÃO QUER MAIS ANIMAIS EM CIRCOS.

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