sábado, 29 de março de 2014

ETOFISIOLOGIA – O que define os nossos comportamentos?



Série Ensaios: Aplicação da Etologia
Por Fernanda Brehm, Juliana Kazubek, Priscilla Santos
Acadêmicas do Curso de Ciências Biológicas

 A etofisiologia basicamente é o estudo do comportamento baseado em parâmetros fisiológicos. Inicialmente, a etofisiologia voltada para estudos de comportamentos animais possuía um enfoque muito grande para compreensão do aprendizado e instinto animal, atualmente sabe-se que a capacidade de muitos deles superavam as expectativas do passado. Konrad Lorenz, um dos pais da etologia, foi um dos primeiro autores a sugerir que o comportamento é controlado por mecanismos liberadores inatos (Lorenz, 1981). Segundo Lorenz, existe ‘um aparato fisiológico responsável pela recepção e reconhecimento dos estímulos sensoriais mais importantes, e outro aparato comportamental responsável pelos padrões motores'. Estes mecanismos obedeceriam a um programa genético que seria expresso no ato do nascimento ou em momentos futuros sob circunstâncias específicas da vida do animal, tal como ocorre, por exemplo, no amadurecimento sexual sob influências hormonais e ambientais (Lorenz, 1981). Assim, enfatizou-se a necessidade da investigação das causas imediatas do comportamento. Então, foi proposta a combinação da etologia e da neurofisiologia como um campo da biologia, a etofisiologia, a qual viria a ser chamada de ‘neuroetologia’ (Ewert, 1980). Percebemos assim, que há muito tempo sabe-se que os comportamentos estão intimamente ligados com a liberação de uma gama de hormônios, neurotransmissores e pela estimulação de diversas áreas do cérebro.
 Estudos de Meston e Frohlich (2000), em corroboração com Argiolas e Melis (2003), indicaram que os fatores endócrinos, neurotransmissores, bem como influências do sistema nervoso central (SNC) compõem a complexa neurofisiologia da sexualidade. As principais regiões estimuladas do SNC são: o sistema límbico, o hipotálamo, o cerebelo, área insular e córtices frontal e perietal (Komisaruk; Whipple, 2005). Os hormônios são responsáveis pelo o dimorfismo sexual na estrutura do corpo e seus órgãos. Eles possuem efeitos organizacionais e ativadores no interior do órgãos sexuais e características sexuais secundárias. Os hormônios nos propiciam mais do que corpos femininos ou masculinos, eles também afetam o comportamento pela interação direta com o sistema nervoso.
 O estrogênio e a testosterona, tanto em mulheres quanto em homens, ativam ou desativam determinados genes e desencadeiam a produção de outros hormônios, alguns dos quais agem diretamente sobre o cérebro. A ação hormonal segue ao longo da vida e reforça as distinções anatômicas e fisiológicas entre eles e elas. Nas mulheres, a partir da puberdade, o estrogênio regula o ciclo menstrual e determina os caracteres sexuais secundários, é por causa dele que os seios femininos crescem. Nas mulheres, a testosterona ajuda a manter a densidade óssea e a libido. Nos homens, determina o crescimento dos pelos pubianos e o aumento da massa muscular, enquanto o estrogênio participa da regulação de várias funções reprodutivas. Em ambos os sexos, a produção de hormônios passa por um pico na puberdade e começa a decrescer, até que, perto dos 50 anos, a mulher chega à menopausa e tem dramática queda no nível de estrogênio. Nos homens, ao fim da idade reprodutiva, a redução na testosterona acontece, mas é bem menos acentuada (Venturoli, 2010).
 O comportamento sexual humano, como o de outros mamíferos, é influenciado pela ativação dos hormônios das gônadas. A composição difere de acordo com o gênero sexual. As mulheres tem como principais hormônios sexuais o estrogênio (determina o ciclo menstrual e permite a ovulação) e a progesterona (também envolvida com o ciclo menstrual,  na atividade do aparelho reprodutor, e é responsável pela variação humoral durante a TPM) enquanto os homens tem a testosterona (responsável pelas características masculinas, e importante para a função sexual). Ressalva-se que é importante salientar os seguintes pontos: Não existe um hormônio específico para determinado comportamento; os comportamentos expressam sim o resultado final de um estado fisiológico momentâneo no qual podem estar envolvidas vários hormônios; A relação entre hormônios e comportamento é recíproca. Não só os hormônios influenciam comportamentos como também estes modulam determinados estados hormonais. O principal hormônio relacionado com as relações amorosas é a ocitocina, que nos causa sensação de prazer quando estamos na presença da pessoa amada. A adrenalina ou epinefrina é um hormônio estimulante, que prepara o organismo para grandes esforços físicos, aumenta os batimentos cardíacos e tensão arterial. Enquanto que a endorfina desperta a sensação de euforia e bem-estar, além de funcionar como um analgésico. O cortisol é conhecido como “hormônio do estresse”, que ativa respostas do corpo frente a situações de emergência, gerando aumento da pressão arterial e açúcar no sangue para gerar energia muscular. Assim, podemos notar que o comportamento está relacionado com a ação de diferentes hormônios e mediadores químicos sobre o organismo, entretanto o comportamento humano também pode ser afetado por aspectos psicológicos, que podem refrear ou acentuar os efeitos comportamentais regidos por estas substâncias
 Existem também os hormônios sintéticos ou os produzidos por engenharia genética prescritos por médicos de especialidades diversas (ginecologistas, urologistas, reumatologistas, clínicos gerais etc.), principalmente pelos endocrinologistas, que os prescrevem especialmente para o tratamento das deficiências das glândulas que naturalmente os produzem, são química, estrutural e biologicamente semelhantes aos próprios hormônios elaborados por esses órgãos endócrinos. Ligam- se aos receptores das células onde atuam da mesma forma e intensidade que os hormônios endógenos. São exemplos de hormônios produzidos pela indústria farmacêutica: insulina (hormônio do pâncreas), hidrocortisona (da glândula adrenal; e outros corticoides), tiroxina (hormônio da tireoide), estradiol (hormônio feminino), rh-GH (hormônio do crescimento), vasopressina (hormônio antidiurético), testosterona (hormônio masculino), progesterona (hormônio da gravidez) etc. (Martins, 2012)
 Estudos atuais são realizados, em busca de maiores conhecimentos sobre a fisiologia e o comportamento animal, como o trabalho “Memória emocional em macacos-prego (Cebus spp.): desenvolvimento de um novo teste e efeitos dos hormônios Estradiol e Progesterona.” de Abreu (2006), que teve como objetivo investigar a ação dos hormônios sexuais (estradiol e progesterona) no desempenho cognitivo de fêmeas de macacos-prego em testes de memória operacional emocional e verificar se a memória operacional pode ser facilitada pelo conteúdo emocional do estímulo visual na tarefa de escolha-diferente-do-modelo com atraso de 8 segundos. Que demonstra a importância de se entender melhor a influência da expressividade emocional na memória e indica a possível aplicação do paradigma adotado neste trabalho na investigação da memória operacional emocional em primatas não-humanos. Há também outros estudos como o de Lourenço e Furlan (2007) sobre a “Sensibilidade olfatória em homens e cães: um estudo comparativo.” Que teve como objetivo principal fazer um levantamento comparativo dos aspectos anatômicos e fisiológicos do sistema olfatório do homem e do cachorro para tentar identificar onde se encontram as diferenças da sensibilidade desse sistema.  E o estudo sobre a “Agressividade felina contra as pessoas”, realizado por Riviera (2011), que buscou fazer uma ampla revisão bibliográfica, mostrando noções básicas do comportamento normal do gato, abordagem da agressividade direcionada a pessoas, abarcando sua incidência, bases fisiológicas, classificação, tratamentos e intervenções tanto do ponto de vista comportamental como farmacológico. Importante para evitar principalmente os casos de abandono ou eutanásia em gatos.  Também existem estudos recentes relatando que as substâncias hormonalmente ativas (tanto naturais quanto sintéticas) secretadas pelos humanos através da urina e fezes, são carreadas até os corpos hídricos - pois não são retirados durante o tratamento de água -, onde mesmo em baixas concentrações podem acarretar em sérios impactos sobre a dinâmica e estrutura das populações aquáticas. Além dos impactos intrínsecos gerados nestes animais e em sua biota, sabe-se que algumas destas espécies também fazem parte de estruturas e ecossistemas que suportam as atividades humanas (Filho; Araújo;Vieira, 2006). Porém, também discute-se as consequências relativas a alterações no níveis hormonais nestes animais, via distúrbios da homeostase do sistema endócrino, levando assim a alterações comportamentais (MRC, 1998). Inúmeros são os efeitos desencadeados pelos hormônios que liberamos sobre a biota, tais como: alterações nas taxas de fecundidade, fertilização e na eclosão de ovos; E também existem modificações comportamentais (relacionadas com agressividade e movimentação); histopatologias (fígado, gônadas, rins); imunodepressão; imposex (desenvolvimento de características sexuais femininas em machos ou oposto) e, inibição do desenvolvimento dos órgãos sexuais e reversão sexual (Filho; Araújo;Vieira, 2006).  
Nós, formandas do curso de Biologia acreditamos as interações internas e externas envolvidas no comportamento animal e humano são muito mais complexas do que se imagina.  A etologia é uma ciência que tende a crescer cada vez mais, pois sempre estamos à procura de respostas e soluções para tudo que ocorre em nosso organismo, desde as coisas que parecem mais simples até as mais complexas. No entanto esta ciência não é aplicada em todas as unidades de ensino superior, o que seria de suma importância, principalmente em cursos como Biologia e Psicologia, obtendo respostas para muitas dúvidas e curiosidades que surgem durante o curso, tendo também um contato maior com esta área e a valorizando mais.


O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia I, baseando-se nas seguintes obras:










Venturoli, T. (2010). É tudo hormônio? A medicina avançada no conhecimento da fisiologia feminina.

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