Série
Ensaios: Aplicação da Etologia
Por Fernanda Brehm, Juliana Kazubek, Priscilla Santos
Acadêmicas do Curso de Ciências Biológicas
Acadêmicas do Curso de Ciências Biológicas
A etofisiologia basicamente é o estudo do
comportamento baseado em parâmetros fisiológicos. Inicialmente, a etofisiologia
voltada para estudos de comportamentos animais possuía um enfoque muito grande
para compreensão do aprendizado e instinto animal, atualmente sabe-se que a
capacidade de muitos deles superavam as expectativas do passado. Konrad Lorenz, um dos pais da etologia, foi um
dos primeiro autores a sugerir que o comportamento é controlado por mecanismos liberadores inatos (Lorenz, 1981). Segundo Lorenz, existe ‘um
aparato fisiológico responsável pela recepção e reconhecimento dos estímulos
sensoriais mais importantes, e outro aparato comportamental responsável pelos
padrões motores'. Estes mecanismos obedeceriam a um programa genético que seria
expresso no ato do nascimento ou em momentos futuros sob circunstâncias
específicas da vida do animal, tal como ocorre, por exemplo, no amadurecimento
sexual sob influências hormonais e ambientais (Lorenz, 1981). Assim,
enfatizou-se a necessidade da investigação das causas imediatas do comportamento.
Então, foi proposta a combinação da etologia e da neurofisiologia como um campo
da biologia, a etofisiologia, a qual viria a ser chamada de ‘neuroetologia’
(Ewert, 1980). Percebemos
assim, que há muito tempo sabe-se que os comportamentos estão intimamente
ligados com a liberação de uma gama de hormônios, neurotransmissores e pela estimulação de diversas
áreas do cérebro.
Estudos de Meston e Frohlich (2000), em corroboração com Argiolas e Melis (2003), indicaram que os fatores endócrinos, neurotransmissores, bem como
influências do sistema nervoso central
(SNC) compõem a
complexa neurofisiologia da sexualidade. As principais regiões estimuladas do
SNC são: o sistema límbico, o hipotálamo, o cerebelo,
área insular e córtices frontal e perietal (Komisaruk; Whipple, 2005). Os hormônios são responsáveis
pelo o dimorfismo sexual na estrutura do corpo e seus órgãos. Eles possuem
efeitos organizacionais e ativadores no interior do órgãos sexuais e
características sexuais secundárias. Os hormônios nos propiciam mais do que
corpos femininos ou masculinos, eles também afetam o comportamento pela
interação direta com o sistema nervoso.
O estrogênio e a testosterona, tanto em
mulheres quanto em homens, ativam ou desativam determinados genes e
desencadeiam a produção de outros hormônios, alguns dos quais agem diretamente
sobre o cérebro. A ação hormonal segue ao longo da vida e reforça as distinções
anatômicas e fisiológicas entre eles e elas. Nas mulheres, a partir da
puberdade, o estrogênio regula o ciclo menstrual e determina os caracteres
sexuais secundários, é por causa dele que os seios femininos crescem. Nas mulheres,
a testosterona ajuda a manter a densidade óssea e a libido. Nos homens,
determina o crescimento dos pelos pubianos e o aumento da massa muscular,
enquanto o estrogênio participa da regulação de várias funções reprodutivas. Em
ambos os sexos, a produção de hormônios passa por um pico na puberdade e começa
a decrescer, até que, perto dos 50 anos, a mulher chega à menopausa e tem
dramática queda no nível de estrogênio. Nos homens, ao fim da idade
reprodutiva, a redução na testosterona acontece, mas é bem menos acentuada (Venturoli, 2010).
O comportamento sexual humano, como o de
outros mamíferos, é influenciado pela ativação dos hormônios das gônadas. A composição difere de acordo com
o gênero sexual. As mulheres tem como principais hormônios sexuais o estrogênio (determina o ciclo menstrual e
permite a ovulação) e a progesterona (também envolvida com o ciclo
menstrual, na atividade do aparelho
reprodutor, e é responsável pela variação humoral durante a TPM) enquanto os homens tem a testosterona
(responsável
pelas características masculinas, e importante para a função sexual). Ressalva-se que é importante salientar os
seguintes pontos: Não existe um hormônio específico para determinado
comportamento; os comportamentos expressam sim o resultado final de um estado
fisiológico momentâneo no qual podem estar envolvidas vários hormônios; A
relação entre hormônios e comportamento é recíproca. Não só os hormônios
influenciam comportamentos como também estes modulam determinados estados
hormonais. O principal
hormônio relacionado com as relações amorosas é a ocitocina, que nos causa sensação de prazer
quando estamos na presença da pessoa amada. A adrenalina ou epinefrina é um hormônio estimulante, que prepara o organismo para grandes
esforços físicos, aumenta os batimentos cardíacos e tensão arterial. Enquanto
que a endorfina desperta a sensação de euforia e
bem-estar, além de funcionar como um analgésico. O cortisol é conhecido como “hormônio do
estresse”, que ativa respostas do corpo frente a situações de emergência,
gerando aumento da pressão arterial e açúcar no sangue para gerar energia
muscular. Assim, podemos notar que o comportamento está relacionado com
a ação de diferentes hormônios e mediadores químicos sobre o organismo, entretanto
o comportamento humano também pode ser afetado por aspectos psicológicos, que
podem refrear ou acentuar os efeitos comportamentais regidos por estas substâncias.
Existem também os hormônios sintéticos ou os
produzidos por engenharia genética prescritos por médicos de especialidades
diversas (ginecologistas, urologistas, reumatologistas, clínicos gerais etc.),
principalmente pelos endocrinologistas, que os prescrevem especialmente para o
tratamento das deficiências das glândulas que naturalmente os produzem, são
química, estrutural e biologicamente semelhantes aos próprios hormônios
elaborados por esses órgãos endócrinos. Ligam- se aos receptores das células
onde atuam da mesma forma e intensidade que os hormônios endógenos. São
exemplos de hormônios produzidos pela indústria farmacêutica: insulina
(hormônio do pâncreas), hidrocortisona (da glândula adrenal; e outros corticoides), tiroxina
(hormônio da tireoide), estradiol (hormônio feminino),
rh-GH (hormônio do crescimento), vasopressina (hormônio antidiurético), testosterona (hormônio
masculino), progesterona (hormônio da gravidez) etc. (Martins, 2012)
Estudos
atuais são realizados, em busca de maiores conhecimentos sobre a fisiologia e o
comportamento animal, como o trabalho “Memória
emocional em macacos-prego (Cebus spp.): desenvolvimento de um novo teste e
efeitos dos hormônios Estradiol e Progesterona.” de Abreu
(2006), que teve como objetivo investigar a ação dos hormônios sexuais
(estradiol e progesterona) no desempenho cognitivo de fêmeas de macacos-prego em testes
de memória operacional emocional e verificar se a memória operacional pode ser
facilitada pelo conteúdo emocional do estímulo visual na tarefa de
escolha-diferente-do-modelo com atraso de 8 segundos. Que demonstra a
importância de se entender melhor a influência da expressividade emocional na
memória e indica a possível aplicação do paradigma adotado neste trabalho na
investigação da memória operacional emocional em primatas não-humanos. Há
também outros estudos como o de Lourenço
e Furlan (2007) sobre a “Sensibilidade
olfatória em homens e cães: um estudo comparativo.” Que teve como objetivo
principal fazer um levantamento comparativo dos aspectos anatômicos e
fisiológicos do sistema olfatório do homem e do cachorro para tentar
identificar onde se encontram as diferenças da sensibilidade desse
sistema. E o estudo sobre a “Agressividade
felina contra as pessoas”, realizado por Riviera
(2011), que buscou fazer uma ampla revisão bibliográfica, mostrando noções
básicas do comportamento normal do gato, abordagem da agressividade direcionada
a pessoas, abarcando sua incidência, bases fisiológicas, classificação,
tratamentos e intervenções tanto do ponto de vista comportamental como farmacológico.
Importante para evitar principalmente os casos de abandono ou eutanásia em
gatos. Também existem estudos recentes
relatando que as substâncias hormonalmente ativas (tanto naturais quanto sintéticas)
secretadas pelos humanos através da urina e fezes, são carreadas até os corpos
hídricos - pois não são retirados durante o tratamento de água -, onde mesmo em
baixas concentrações podem acarretar em sérios impactos sobre a dinâmica e
estrutura das populações aquáticas. Além dos impactos intrínsecos gerados nestes animais e em sua biota, sabe-se
que algumas destas espécies também fazem parte de estruturas e ecossistemas
que suportam as atividades humanas (Filho; Araújo;Vieira,
2006). Porém, também discute-se as consequências relativas a alterações no
níveis hormonais nestes animais, via distúrbios da homeostase do sistema
endócrino, levando assim a alterações comportamentais (MRC, 1998).
Inúmeros são os efeitos desencadeados pelos hormônios que liberamos sobre a
biota, tais como: alterações nas taxas de fecundidade, fertilização e na eclosão de ovos; E também
existem modificações comportamentais (relacionadas com agressividade e movimentação);
histopatologias
(fígado, gônadas, rins); imunodepressão;
imposex (desenvolvimento
de características sexuais femininas em machos ou oposto) e, inibição do
desenvolvimento dos órgãos sexuais e reversão
sexual (Filho;
Araújo;Vieira, 2006).
Nós, formandas do curso de Biologia
acreditamos as interações internas e externas envolvidas no comportamento animal e
humano são muito mais complexas do que se imagina. A etologia é uma ciência que tende a crescer
cada vez mais, pois sempre estamos à procura de respostas e soluções para tudo
que ocorre em nosso organismo, desde as coisas que parecem mais simples até as
mais complexas. No entanto esta ciência não é aplicada em todas as unidades de
ensino superior, o que seria de suma importância, principalmente em cursos como
Biologia e Psicologia, obtendo respostas para muitas dúvidas e curiosidades que
surgem durante o curso, tendo também um contato maior com esta área e a
valorizando mais.
O presente ensaio
foi elaborado para disciplina de Etologia I, baseando-se nas seguintes obras:
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