Cérebros que se revelam



Cérebros que se revelam


Série Ensaios: Aplicação da Etologia

Por Gustavo Henrique Schunemann,

Acadêmico do Curso de Ciências Biológicas


A neurociência pode ser classificada em cinco grandes grupos com limites pouco nítidos entre eles, muitas vezes obrigando-nos a saltar de uma disciplina para outra. São esses grupos: a neurociência molecular objetiva diversas moléculas de importância funcional no sistema nervoso bem como suas interações, a neurociência celular (neurobiologia) que aborda as estruturas e funções das células que constituem o sistema nervoso, a neurociência sistêmica considera populações de células nervosas situadas em diversas regiões do sistema nervoso, constituindo sistemas como o visual, auditivo, motor e etc. A neurociência comportamental dedica-se a estudar estruturas neurais que produzem comportamentos e outros fenômenos psicológicos, como o sono, os comportamentos sexuais, emocionais e muitos outros, e finalmente, a neurociência cognitiva, esta trata das capacidades mentais mais complexas, geralmente típicas do homem, como a linguagem, a autoconsciência e a memória(LENT2010).  
         
   O termo neurociência foi elaborado em 1970 (Bear, Connors et al. 2007), portanto tecnicamente ela deve ser contada a partir desta data, no entanto o seu objeto de estudo vem sido analisado desde tempos longínquos onde aferia-se que a origem do comportamento e da mente está no cérebro. Na Grécia antiga, Aristóteles levantou a ideia de que se sentia e pensava com o coração, a qual se mantém relativamente de forma cultural até hoje. Em Roma Galeno refutou a ideia de Aristóteles com base em dissecações feitas em bois. Durante a Idade Média a ideia que a mente está no cérebro e não no coração se manteve forte, e foi reforçada durante a Renascença quando André Versálius realizou dissecações em humanos e em outros animais e percebeu que o coração dos humanos possui mais semelhanças ao de outros animais em relação ao cérebro, o que explicaria as diferenças etológicas e físicas entre tais. Luigi Galvani, médico, foi quem no período do Iluminismo descreveu o neurônio como unidade fundamental a mente.  O estudo da neurociência começou a produzir resultados mais consistentes com a descoberta do raio-x, em 1895, por Wilhelm Röntgen e da tomografia computadorizada em 1972. A década de 1990 foi eleita pelo governo americano com a "década do cérebro" pela sua grande expansão.  Colocar exemplos de trabalhos antigos e que tecnologia usavam
       
    
Atualmente a neurociência encaminha-se para diversas áreas, desde a busca de curas para patologias como
Alzheimer, Mal de Parkinson, epilepsia e lesões em células nervosas, como o incremento das capacidades humanas como comunicação telepática e interfaces cérebro-máquina. Tratamentos com magnetismo aplicado a cabeça de pessoas que sofrem com epilepsia já estão sendo utilizados e demonstram grande eficiência. Com relação a interfaces cérebro-máquina o maior expoente nesses estudos vem do cientista brasileiro Miguel Nicolelis, este vem desenvolvendo um exoesqueleto que através de microchips implantados diretamente no cérebro comunica-se com o sistema nervoso central, movendo-se de acordo com as vontades do usuário, sendo que os processos neurais são decodificados e processados por computadores através de elaborados sistemas de data binning, o que num futuro próximo permitirá que tetraplégicos e paraplégicos consigam movimentar seus membros com o auxílio deste exoesqueleto. Antes de testar seu exoesqueleto em humanos, Nicolelis vem aprimorando sua pesquisa em macacos, sendo que estes controlam mãos biônicas com sua própria atividade cerebral através também de chips implantados em seu córtex cerebral. Outro exemplo interessante das aplicações da neurociência está no chamado monitor tátil, trata-se de uma película projetada para deficientes visuais que é posicionada sobre língua, esta vibra de acordo com a aproximação do usuário a paredes, portas abertas, objetos e etc. Desta forma o usuário é orientado no espaço em que se encontra, pois  aprende a “ler” os padrões vibracionais emitidos pelo monitor tátil quando aproxima-se ou afasta-se de algo. O funcionamento deste equipamento baseia-se na emissão de ondas sonoras imperceptíveis ao ouvido humano. (Bach-y-Rita, Collins et al. 1969) (Veja a reportagem). Pesquisadores da Hungria concluíram recentemente, por meio de ressonância magnética em cachorros, que estes processam os sons – especialmente aqueles carregados de emoção, como choro ou riso – de maneira muito similar aos seres humanos. A descoberta sugere que, embora os cães estejam longe de conseguir se expressar em linguagem humana, eles são capazes de compreender nossos sentimentos a partir dos sons que produzimos, como se uma espécie de telepatia inata.
Eu formando em Biologia percebi que os progressos da neurociência vem nos permitindo muitos avanços na área da etologia, pois estuda padrões comportamentais de diversos seres a partir de seu âmago biológico, que são as células nervosas. Seja estudando-se a evolução do sistema nervoso ou o comportamento celular, a neurociência é de fundamental importância para entendermos como nossas células comunicam-se entre elas mesmas e o meio ambiente, elucidando assim diversas respostas comportamentais que observamos no dia a dia. Apesar de do enorme desafio encontrado pelos neurocientistas de desvendar os mistérios entre o atual gap existente entre a mente, o cérebro e o comportamento humano, além da dificuldade da coleta de dados oriundos do sistema nervoso central, é nítido que a humanidade está prestes a cruzar mais uma fronteira do conhecimento em direção à compreensão do imenso poder do cérebro, um conhecimento que poderá ser aplicado com grande proveito nas áreas de saúde e tecnologia.



O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia, baseando-se nas seguintes obras:


L. Préfacio da História da Neurociência. Disponível em: <https://sites.google.com/site/nucleodeneurociencia/blog/prefaciodahistoriadaneurociencia> Acessado em 10/03/2014
LENT, R. (2010). "Cem bilhões de neurônios-Conceitos Fundamentais em Neurociência. 2ª." Edição, Editora Atheneu.