domingo, 30 de março de 2014

Ecologia Comportamental: A influência das alterações ambientais na mudança de comportamento



Série Ensaios: Aplicações da Etologia

Por Larissa Juliana Pimentel, Luana Grazielle L. Good, Maria Luiza Antunes e Stephanie Prohnii
Acadêmicas do curso de Ciências Biológicas

A Ecologia comportamental é o estudo das relações entre o comportamento de um organismo e o ambiente onde aquele comportamento evoluiu ou se expressou. Este ambiente não é só o mundo físico, mas também o biológico (predadores, presas) e o social (coespecíficos). A ecologia comportamental tem como principal objetivo obter uma amostra representativa do comportamento animal (Souto, 2003), a definição de seus padrões frente aos problemas de sobrevivência e reprodução bem sucedida (Krebs & Davies, 1996), as mudanças das combinações dos genes de cada indivíduo levam à diferenças comportamentais que se tornam distintas  adaptações e processos evolutivos.No século XIX, Charles Darwin se preocupou em  investigar as causas evolutivas da existência de um determinado comportamento, ou seja, como aquele comportamento contribui para um maior sucesso adaptativo do organismo (Del-Claro, 2004). Os estudos de comportamento e da ecologia foram mais interligados do que são agora. Foi dado como certo que o comportamento de um animal pode ser entendido apenas no contexto de sua história natural. Os primeiros etólogos enfatizaram a importância de observações de campo como um estudo feito em 1938, publicado no Journal of Mammalogy, que examina o comportamento alimentar, a construção de grandes montes de galhos como ninhos e o comportamento de acasalamento do rato de madeira escura de pés no norte da Califórnia (Vestal 1938), mesmo quando etologia se transformou em campo do comportamento animal, com uma ênfase crescente sobre a fisiologia, ninguém questionou o valor de aprender sobre os animais em seus ambientes, o objetivo o era descrever a característica de comportamento estereotipado de toda a espécie. (Gordão, 2010). No século XX, três cientistas - Niko Tinbergen, Konrad Lorenz e Karl von Frisch tiveram um papel destacado no estudo moderno da etologia. Eles iniciaram uma nova abordagem para o estudo do comportamento animal, que na década de 1970 fez surgir a ecologia comportamental (Del-Claro, 2004).).
Evidências obtidas sobre a ecologia comportamental, sobre os modos pelos quais animais utilizam os recursos disponíveis em seus habitats e interagem com outros animais e plantas, são informações fundamentais para essa integração e portanto para dar consistência aos propósitos da biologia da conservação (Zanette & Martins, 2011). O contexto ecológico é produzido pelo comportamento, as interações ecológicas são influenciadas pelo comportamento e comportamento responde às novas condições, uma evidencia disso é a existência de uma espécie de aves que forrageia mais na copa do que outras (Gordão, 2010). As condições mudam: a tempestade derruba muitas árvores. Há mudanças de comportamento em resposta às novas condições: a espécie que normalmente mais forrageia movera-se para baixo. Isso muda a interação ecológica: a competição entre outras espécies aumentam.Segundo Goss-Custard & Sutherland (1997) o compreender do comportamento de indivíduos permite prever seu comportamento quando sujeitos a alterações ambientais. Com modelos baseados no comportamento, seria então possível examinar as consequências da perda a fragmentação de habitat, ou de alterações na taxa de mortalidade e natalidade. Alguns estudos que abordando esse tema visam as alterações comportamentais em cães abrigados (Wells & Hepper, 2000), o efeito da salinidade no comportamento vegetal (Gondim, et al. 2010) e as mudanças climáticas afetando a seleção sexual (Heuschele, 2009).
 A fragmentação de habitat está presente em qualquer ecossistema, geralmente em consequência de alterações climáticas e geomorfológicas. A fragmentação antrópica provoca mudanças muito mais bruscas e acentuadas, levando a modificações rápidas na composição e na diversidade das comunidades (Lord & Norton, 1990). Por gerar alterações mais drásticas no ambiente, as populações residentes encontram maior dificuldade em adaptar-se às novas condições neste tipo de fragmentação, se comparadas à fragmentação natural (Camargo, 2005). As pesquisas desenvolvidas com comportamento animal e ecologia comportamental tem avançado nos últimos anos, mas devido aos baixos investimentos essas pesquisas estão reduzidas. Esses estudos possuem impactos importantes e contribuem para outras disciplinas com aplicações para os estudos dos comportamentos, manejo do meio ambiente e recursos naturais (Snowdon, 1999). Alguns estudos que evidenciam a aplicação da ecologia comportamental são: Ecologia comportamental de Alouatta belzebuth (Linnaeus, 1766) na Amazônia Oriental sob alteração antrópica de hábitat - (Camargo, 2005), Ecologia comportamental: uma ferramenta para a compreensão das relações animais-plantas - (Del-Claro et al, 2009), Ecologia comportamental da reprodução no Serino (Serinus serinus aves - Fringilidae) - (Mota, 1996), Ecologia Comportamental e Conservação: Uma Fraca Conexão? - (Zanette & Martins, 2011).
Nós como formandas em  biologia acreditamos que, a redução do habitat e as alterações antrópicas provocam comportamentos que os animais não apresentariam normalmente, o estudo ecológico comportamental seria então uma ferramenta para programas de conservação e preservação das espécies e estudos que comportamentos específicos, pois justifica o porquê de cada reação animal ser diferente sobre determinado estimulo ambiental.


O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia, baseando-se nas obras:

Camargo, C. C. D. (2005). Ecologia comportamental de Alouatta belzebul (Linnaeus, 1766) na Amazônia oriental sob Alteração antrópica de Habitat.
Del-Claro, K. (2004). Comportamento Animal - Uma introdução à ecologia comportamental  Distribuidora / Editora - Livraria Conceito - Jundiaí - SP. p25
Gordon DM. The fusion of behavioral ecology and ecology, Author Affiliations 2010;138:379-411.
Goss-Custard, J. D. & Sutherland, W. J. (1997). Individual behaviour, population and conservation. Oxford. Blackwell Science. 4ª ed. p373-395.
Krebs, J. R. & Davies, N. B. (1996). Introdução à ecologia comportamental. São Paulo: Atheneu.
Lord, J. M., Norton, D. A. (1990) Scale and the spatial concept of fragmentation. Conserv. Biol. 4:197-202
Ricklefs, R, E (1996). A economia da natureza, 3ª Ed., Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, RJ, p.333-337.
Snowdon, C. T. (1999). O significado da pesquisa em comportamento animal. Natal. Estud. psicol. 4(2).
Souto, A. (2003). Etologia: princípios e reflexões. Editora Universitária. UFPE.
Vestal EH. Biotic relations of the wood rat (Neotoma fuscipes) in the Berkeley hills. J Mammal 1938;19:1-36
Zanette, L. R. S. & Martins, R. P. (2011). Ecologia comportamental e conservação: uma fraca conexão? Fortaleza. Natureza e Conservação. 9(1): 125-128.

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