Série
Ensaios: Aplicações da Etologia
Por
Larissa Juliana Pimentel, Luana Grazielle L. Good, Maria Luiza
Antunes e Stephanie Prohnii
Acadêmicas
do curso de Ciências Biológicas
A
Ecologia comportamental é o estudo das relações entre o
comportamento de um organismo e o ambiente onde aquele comportamento evoluiu ou
se expressou. Este ambiente não é só o mundo físico, mas também o biológico
(predadores, presas) e o social (coespecíficos). A ecologia comportamental tem
como principal objetivo obter uma amostra representativa do comportamento
animal (Souto, 2003), a definição de seus padrões frente
aos problemas de sobrevivência e reprodução bem sucedida (Krebs & Davies, 1996), as mudanças das combinações dos
genes de cada indivíduo levam à diferenças comportamentais que se tornam
distintas adaptações e processos
evolutivos.No
século XIX, Charles Darwin se preocupou em investigar as causas
evolutivas da existência de um determinado comportamento, ou seja, como aquele
comportamento contribui para um maior sucesso adaptativo do organismo (Del-Claro, 2004). Os estudos de comportamento e da
ecologia foram mais interligados do que são agora. Foi dado como certo que o
comportamento de um animal pode ser entendido apenas no contexto de sua
história natural. Os primeiros etólogos enfatizaram a importância de
observações de campo como um estudo feito em 1938, publicado no Journal of Mammalogy, que examina o
comportamento alimentar, a construção de grandes montes de galhos como ninhos e
o comportamento de acasalamento do rato de madeira escura de pés no norte da
Califórnia (Vestal 1938), mesmo quando etologia se
transformou em campo do comportamento animal, com uma ênfase crescente sobre a
fisiologia, ninguém questionou o valor de aprender sobre os animais em seus
ambientes, o objetivo o era descrever a característica de comportamento
estereotipado de toda a espécie. (Gordão, 2010). No século XX, três cientistas - Niko Tinbergen, Konrad Lorenz e Karl von Frisch tiveram um papel destacado no estudo
moderno da etologia. Eles iniciaram uma nova abordagem para o estudo do
comportamento animal, que na década de 1970 fez surgir a ecologia
comportamental (Del-Claro, 2004).).
Evidências
obtidas sobre a ecologia comportamental, sobre os modos pelos quais animais
utilizam os recursos disponíveis em seus habitats e interagem com outros
animais e plantas, são informações fundamentais para essa integração e portanto
para dar consistência aos propósitos da biologia da conservação (Zanette & Martins, 2011). O contexto ecológico é produzido pelo
comportamento, as interações ecológicas são influenciadas pelo comportamento e
comportamento responde às novas condições, uma evidencia disso é a existência
de uma espécie de aves que forrageia mais na copa do que outras (Gordão, 2010). As condições mudam: a tempestade
derruba muitas árvores. Há mudanças de comportamento em resposta às novas
condições: a espécie que normalmente mais forrageia movera-se para baixo. Isso
muda a interação ecológica: a competição entre outras espécies aumentam.Segundo
Goss-Custard & Sutherland (1997) o compreender do comportamento de
indivíduos permite prever seu comportamento quando sujeitos a alterações
ambientais. Com modelos baseados no comportamento, seria então possível
examinar as consequências da perda a fragmentação de habitat, ou de alterações na taxa de
mortalidade e natalidade. Alguns estudos que abordando esse tema visam as
alterações comportamentais em cães abrigados (Wells & Hepper, 2000), o efeito da salinidade no
comportamento vegetal (Gondim, et al. 2010)
e as mudanças climáticas afetando a seleção sexual (Heuschele,
2009).
A fragmentação de habitat está presente em qualquer ecossistema, geralmente em
consequência de alterações climáticas e geomorfológicas. A fragmentação antrópica provoca mudanças muito mais bruscas e
acentuadas, levando a modificações rápidas na composição e na diversidade das
comunidades (Lord
& Norton, 1990). Por gerar alterações mais drásticas no
ambiente, as populações residentes encontram maior dificuldade em adaptar-se às
novas condições neste tipo de fragmentação, se comparadas à fragmentação
natural (Camargo, 2005). As
pesquisas desenvolvidas com comportamento animal e ecologia comportamental tem
avançado nos últimos anos, mas devido aos baixos investimentos essas pesquisas
estão reduzidas. Esses estudos possuem impactos importantes e contribuem para
outras disciplinas com aplicações para os estudos dos comportamentos, manejo do
meio ambiente e recursos naturais (Snowdon, 1999). Alguns estudos que evidenciam a
aplicação da ecologia comportamental são: Ecologia comportamental de Alouatta
belzebuth (Linnaeus,
1766) na Amazônia
Oriental sob alteração antrópica de hábitat - (Camargo, 2005), Ecologia comportamental: uma
ferramenta para a compreensão das relações animais-plantas - (Del-Claro et al, 2009), Ecologia
comportamental da reprodução no Serino (Serinus
serinus aves - Fringilidae) - (Mota,
1996), Ecologia Comportamental e Conservação: Uma Fraca Conexão? - (Zanette & Martins, 2011).
Nós
como formandas em biologia acreditamos
que, a redução do habitat e as alterações antrópicas provocam comportamentos
que os animais não apresentariam normalmente, o estudo ecológico comportamental
seria então uma ferramenta para programas de conservação e preservação das
espécies e estudos que comportamentos específicos, pois justifica o porquê de
cada reação animal ser diferente sobre determinado estimulo ambiental.
O
presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia, baseando-se nas
obras:
Camargo,
C. C. D. (2005). Ecologia comportamental de Alouatta belzebul (Linnaeus, 1766)
na Amazônia oriental sob Alteração antrópica de Habitat.
Del-Claro,
K. (2004). Comportamento Animal - Uma introdução à ecologia comportamental Distribuidora / Editora - Livraria Conceito -
Jundiaí - SP. p25
Gordon DM. The
fusion of behavioral ecology and ecology, Author Affiliations 2010;138:379-411.
Goss-Custard,
J. D. & Sutherland, W. J. (1997). Individual behaviour, population and
conservation. Oxford. Blackwell Science. 4ª ed. p373-395.
Krebs, J. R.
& Davies, N. B. (1996). Introdução
à ecologia comportamental. São Paulo: Atheneu.
Lord, J. M.,
Norton, D. A. (1990) Scale and the spatial concept of fragmentation. Conserv. Biol. 4:197-202
Ricklefs,
R, E (1996). A economia da natureza, 3ª Ed., Guanabara Koogan, Rio de Janeiro,
RJ, p.333-337.
Snowdon,
C. T. (1999). O significado da pesquisa em comportamento animal. Natal. Estud.
psicol. 4(2).
Souto,
A. (2003). Etologia: princípios e reflexões. Editora Universitária. UFPE.
Vestal EH. Biotic
relations of the wood rat (Neotoma fuscipes) in the Berkeley
hills. J Mammal 1938;19:1-36
Zanette,
L. R. S. & Martins, R. P. (2011). Ecologia comportamental e conservação:
uma fraca conexão? Fortaleza. Natureza e Conservação. 9(1): 125-128.