Série Ensaios:
Sociobiologia
por Andressa S.
Cordeiro; Dayane M. Miyasaki; Elaine A. D. Costa; Isadora M. Vaz
Acadêmicas do
curso de Ciências Biológicas
“(...)
Tenho 22 anos e namorei uma única vez na minha vida, eu tinha 18 e meu
ex-namorado 21. (...) Terminei por causa do seu comportamento infantil.
Ficamos mais algumas vezes até que ele sumiu do mapa. Fiquei triste, quis
reatar, só que perdemos o contato. Depois de um ano descobri que ele estava
namorando um menino. Para mim foi um baque enorme!... Passei três anos me perguntando
onde foi que eu errei. (...)”. Descrição da frustração de uma garota ao descobrir a opção sexual do ex-namorado.
A
homossexualidade pode ser definida como uma preferência sexual, ou uma opção
sexual? Muito vem se discutindo acerca do tema, em que se busca concluir se o
sujeito homossexual seria homossexual por livre escolha (opção sexual), ou se
ele já nasceu programado a ter esta preferência. Acerca do tema, o presente
ensaio tenta explicar as bases biológicas na homossexualidade. O
termo “homossexual” foi utilizado pela primeira vez em 1869, pelo médico
húngaro Karoly Benkert (BRANDÃO, 2002). A palavra é derivada
do grego, “homo”, que significa “semelhante” ou “igual”, e “sexual” da palavra
latina “sexus” que vem a ser “sexo”, ou seja, “sexualidade semelhante”. Durante
muito tempo, o termo “homossexualidade” era tratada pela medicina e pela
psicanálise como doença. Em 1985, a Organização Mundial de Saúde – OMS,
publicou que a homossexualidade deixava de ser uma doença, passando a ser
considerado um desajustamento comportamental. Mas apenas em 1995, que o “homossexualismo”
deixou de ser considerado um distúrbio psicossocial e passou a significar “modo
de ser”.
As
dificuldades em explicar os comportamentos homossexuais em animais tem atraído
a atenção de muitos pesquisadores, que elaboraram diversas hipóteses para isso.
John Alcock,
da Universidade do Arizona, diz que a principal causa do homossexualismo em
animais é a falta de opção na hora de encontrar parceiros, que ocorre quando há
um número muito grande de machos ou fêmeas no bando, que pode ser observado em golfinhos rotador (Stenella longirostris). Há quem defenda que o confinamento, como ocorre nos
zoológicos, criadouros entre outros cativeiros, aumente o estresse, gerando
assim uma necessidade de “gastar a energia acumulada”, porém, devido a
observação de atos homossexuais em animais não confinados, esta teoria não é
considerada a verdadeira razão para isso ocorrer. Recentemente, foi observado a
formação de uma casal de pinguins homossexuais em um zoológico da Dinamarca, que além de demonstrações
constantes de carinho, adotaram um filhote de uma fêmea que rejeitou seu ovo.
Uma das hipóteses mais aceitas, porém não podendo ser aplicada a todas as
espécies, é a de que um animal monta no outro para provar sua dominância.
Alguns pesquisadores
defendem a falta de percepção de alguns animais na distinção entre machos e
fêmeas, ou seja, eles copulavam com um ser de seu mesmo gênero, pensando que
eram do sexo oposto por que não haviam percebido as diferenças na aparência,
isso poderia ser observado nos antílopes que cortejam machos jovens
porque eles apresentam uma coloração parecida com a das fêmeas, que difere dos
adultos. Para o biólogo Bruce Bagemihl, escritor do livro Biological Exuberance – Animal Homosexuality
and Natural Diversity (Exuberância Biológica –
Homossexualidade Animal e Diversidade Natural), essa teoria não é válida, já
que os antílopes jovens já possuem chifres e as fêmeas não. Para Bagemihl é
muito difícil explicar o porque de cada ato já que “em muitos casos, vê-se com
clareza que não há nenhum motivo para aquilo que os animais estão fazendo”,
porém há fortes indícios de que eles fazem isso por que gostam. Isso mesmo...
Para ter o tão desejado prazer sexual. Apesar de ser difícil saber, por
exemplo, se duas moscas do mesmo sexo gostam do que estão fazendo. Ao estudar
macacos bonobos,
que são muito parecidos aos humanos em vários aspectos, é possível observar até
mesmo orgasmos em fêmeas (Burgierman, 2006).
A
homossexualidade, como já visto, não é uma característica restrita aos seres
humanos, e por mais que este seja um tema na qual a atenção é voltada quase que
exclusivamente para as pessoas, por ser polêmico, já
foram relatados pelo menos 450 espécies de vertebrados que demonstram
possuir atividades relacionadas ao homossexualismo. Algumas
espécies de macacos monogâmicos podem apresentar relações
sexuais com outros parceiros, mesmo estes sendo do mesmo sexo. Em girafas, tão frequente quanto o comportamento
heterossexual, há a troca de carícias entre machos. Essa atividade ocorre
também entre golfinhos nariz de garrafa, com sexo oral e
estímulos com o focinho, muitas vezes para manter amizades. A relação homossexual
entre bisões machos ocorre ainda com mais frequência
do que a heterossexual, e em antílopes, são as fêmeas que possuem relações com
o mesmo sexo. Grande parte dos casais de cisnes é homossexual, e muitas das famílias
possuem pais do mesmo sexo, sendo a fêmea, "útil" apenas para a
geração de filhotes. Em morsas, por não alcançarem a maturidade sexual
rapidamente, machos exibem comportamentos de trocas de carícias, abraços com
parceiros do mesmo sexo e até dormem juntos, mesmo quando atingem a idade
adulta. Para baleias cinzentas, as interações homossexuais
são comuns, com espirros d´água, carícias e toques nos órgãos genitais, muitas
vezes ocorrendo com até mais de cinco machos (Herman, 2011). A onda do
arco-íris não se restringe apenas aos vertebrados, foi possível observar
comportamentos de cortejo em Libélulas, que
voam e se exibem como danças sensuais para seus parceiros, porém ser do mesmo
sexo não é um impedimento para o namoro. Investigações mostraram que há um
número alto de encontros homossexuais em libélulas (Grossmann, 2013).
Nós
formandas em biologia acreditamos que o homossexualismo, observado em tantos
animais, deve ser encarado pelas sociedade como algo presente não só na
genética do indivíduos mas também do fruto de suas opções e da influência
exercida pelo ambiente em que vive. Se é uma preferência ou uma escolha, os
estudos atuais e futuros tendem a responder a estas questões. Muito já foi
estudado, precisamos agora, expor estas pesquisas e suas descobertas para a
sociedade, na tentativa de melhorar a percepção das pessoas sobre este tema polêmico
e muito discutido atualmente. O mais importante é respeitar, se os animais de
um bando respeitam seus semelhantes que mostram atitudes homossexuais, por que
nós, humanos, não podemos nos espelhar neles e respeitar também?
O
presente ensaio foi elaborado para disicplina de etologia tendo se baseado nas
seguintes obras:
Amélia,
Silvia. Descobri que meu ex é gay. Gloss. (2012). Disponível em: <http://gloss.abril.com.br/blog/amor-etc/descobri-que-meu-ex-e-gay/>. Acesso em:28 de
agosto de 2013.
Brandão,
Débora Vanessa Caús. (2002). Parcerias homossexuais: aspectos jurídicos. São
Paulo: RT.
Burgierman,
Denis Russo. Atração entre iguais. Revista Super interessante. Ed.234,
Dezembro, 2006. Doi: http://super.abril.com.br/ciencia/atracao-iguais-446781.shtml (Acesso em 23/08/13)
Freud,
S. (1967). Lettre de Freud à Mrs N. N...: Correspondance de Freud 1873-1939.
Paris: Gallimard. (Originalmente publicado em 1935).
Grossmann,
C. 10 animais que praticam a homossexualidade. HypeScience, (2013). Disponível
em: <http://hypescience.com/10-animais-que-praticam-a-homossexualidade/>. Acesso em: 25
de agosto de 2013.
Herman,
P. 10 animais "gays": estilo de vida alternativos. HypeScience. (2011).
Disponível em: <http://hypescience.com/10-animais-gays-estilos-de-vida-alternativos/>. Acesso em: 23
de agosto de 2013.
Santorini,
Eduardo. 11 passos para conquistar uma garota. Atitude de Homem, (2013).
Disponível em: <http://atitudedehomem.com.br/11-passos-para-conquistar-uma-garota/>. Acesso em 28 de
agosto de 2013.
Wilson,
Edward O. (1981) Da natureza humana. São Paulo: T. A. Queiroz: Ed. da USP.
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