Série Ensaios:
Sociobiologia da Agressividade
por Aloysio Missio,
Leonardo Polak, Rafael Librelato e Siliane Gantzel
Acadêmicos do Curso
de Ciências Biológicas
No final de 2012 e em julho de 2013, a mídia
divulgou notícias de que lutadores de MMA (Artes Marciais Mistas) se envolveram
em brigas. Um motorista de onibus se envolveu numa briga de trânsito com um
lutador de MMA em novembro de 2012 e em julho de 2013 dois lutadores foram
atacados violentamento em um posto de gasolina após um deles agredir um moça.
No nosso
dia-a-dia passamos por diversas situações que nos estressam. O problema é que,
na maioria das vezes, por não sabermos como lidar com isso, acabamos acumulando
essas frustrações, as quais devem ser exteriorizadas de alguma forma. Muitas
vezes isso ocorre em âmbito familiar, no trabalho ou até mesmo no trânsito. As
interações entre os individuos de uma sociedade, a partir da biologia dos
organismos que fazem parte dela, podem ser estudadas pela etologia. E do
ponto de vista de uma população, a etologia estuda o comportamento
social. A pergunta básica a se fazer em relação ao comportamento social
é: “quais são seus custos e benefícios?”
É claro que, para que tal comportamento exista, seus benefícios devem ser
maiores que seus custos, ou então esse comportamento não seria adaptativo.
Dentre as vantagens do comportamento social podemos citar a facilidade na
obtenção de alimento,
aumento nas chances de acasalar,
proteção contra predadores
ou melhoria do ambiente em que os organismos vivem (Souto, 2005).
Um problema sempre
presente na sociedade é a violência.
E esse é um tema que a etologia também aborda e procura auxiliar outras áreas
do conhecimento, como a antropologia
e a sociologia, a entender suas causas. No estudo do comportamento dos animais,
a agressividade é um
conjunto de respostas a diferentes estímulos ambientais. A agressividade na etologia pode ser
diferenciada em comportamento predatório e agonístico, o primeiro relacionado à
alimentação e o outro com lutas e ameaças. Estudos mostram mostram a relação
entre os recursos do ambiente e o comportamento agressivo nos animais. Pássaros
da família Nectariniidae demonstraram-se mais agressivos quando a quantidade de
flores com néctar em seus hábitats era menor e em grilos domésticos a agressão
também foi maior quando uma fêmea era colocada junto aos machos (Archer, 2009). Esse aumento de agressividade devido a luta
por recursos foi igualmente observada no comportamento de vespas do gênero Pegoscapus sp., em sua disputa por
locais para oviposição (Lamas, 2009).
A violência, assim como as ameaças, é um
tipo de agressividade. A violência é considerada mal-adaptativa, tendo como
foco causar dano extremo a outros indivíduos da mesma espécie. (Kristensen et
al., 2003). Segundo o entomólogo Edward
O. Wilson (1981), temos tendência a classificar os outros entre “amigos e
estranhos”, sendo que tememos as ações de estranhos e resolvemos conflitos
através da agressão. O comportamento violento não ocorre somente na sociedade
humana. Os chimpanzés também demonstram praticar violência entre indivíduos de
sua própria espécie, onde grupos de machos saem em busca de machos de outros
grupos para atacá-los (Aguerre, 1998). É possível separar a agressão
biologicamente em quatro categorias: fatores genéticos, bioquímicos,
neurológicos
e psicofisiológicos.
Sabe-se, por exemplo, que danos neurológicos ou disfunções cerebrais causadas
por mutações genéticas podem acarretar em um comportamento agressivo ou mesmo antissocial
(Ballone & Moura, 2008). Estudos
mostram que o hormônio testosterona é um facilitador
da agressão, fazendo com que os animais se tornem maiores, mais fortes,
enérgicos e competitivos. Outro
estudo relata que o amor e a paternidade diminuem as taxas de testosterona
em homens e aumenta nas mulheres e que o nível de testosterona influencia a
tomada de decisões arriscadas. No entanto, outros hormônios além da
testosterona podem influênciar o comportamento agressivo (Castilhos, 2006).
Embora as
brigas não sejam um comportamento aceitável na sociedade, é cada vez maior o
número de pessoas que acompanham os torneios de lutas como o MMA. Esse comportamento
pode ser atribuído à falta de igualdade física entre os competidores, como no
vídeo em que um lutador
briga com um motorista de ônibus. Entretanto, quando falamos em MMA, há uma
preparação entre os lutadores. Eles são igualmente fortes e tem,
aproximadamente, o mesmo peso. Isso, provavelmente, seria o mais próximo do que
veríamos na natureza, onde apenas há competição entre os machos mais fortes. Nós acadêmicos do curso
de biologia da PUCPR acreditamos que a agressividade é um comportamento
natural, visto que todos os animais de alguma forma se beneficiam com esse
comportamento. Na maior parte dos casos, os machos utilizam a agressividade
para competir por recursos como: alimentação, território e reprodução. Na
espécie humana, esse comportamento é importante na busca de objetivos pessoais,
como trabalho, casamento e promoções. Entretanto, por vezes extrapola e
torna-se um comportamento violento, levando à brigas, o que é mais divulgado
pela mídia.
O presente ensaio foi elaborado
para a disciplina de Etologia II tendo com base as seguintes referências:
AGUERRE,
G. A outra face do macaco. Superinteressante,
1998. Disponível em: <http://super.abril.com.br/mundo-animal/outra-face-macaco-437678.shtml>.
Acesso em: 11 de setembro de 2013.
ARCHER, J. (2009). The nature of human
agression. International Journal of Law and Psychiatry, 32, 202–208.
BALLONE, G. J.; MOURA, E. C. (2008). Biologia da Agressão. PsiqWeb. Disponível em: <http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=86>.
Acesso em: 24 de agosto de 2013.
CASTILHOS, L. R.
(2006). Concentrações séricas de testosterona e agressividade em cães. Tese. Universidade de São Paulo, São Paulo.
KRISTENSEN, C. H. (2003).
Fatores Etiológicos da Agressão Física: uma revisão teórica. Estudos de Psicologia, v. 8(1), p.
175-184.
LAMAS, A. G. et al. (2009). Comportamento
agressivo em fÊmeas de vespas polinizadoras (Hymenoptera: Agaonidae) de Ficus
(Moraceae). Anais do IX
Congresso de Ecologia do Brasil, São Lourenço, p. 1-3.
SOUTO, A. Etologia: Principios e Reflexões (3ª ed.). Recife: Ed. UFPE, 2005. Disponível em:
<http://books.google.com.br/books?id=J-Vn9WC7QgIC&printsec=frontcover&hl=pt-BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false>.
Acesso em: 24 de agosto de 2013.
WILSON,
E. O. (1981). Da Natureza Humana. São
Paulo: T. A. Queiroz, 1981.
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