sábado, 21 de setembro de 2013

O ver e o imaginar até onde acreditar: Como a mente consegue ser mais forte que a programação genética



Série Ensaios: Sociobiologia

Por Brunna Janine Victorino, Caroline Tiemi Egoshi, Marcelo Ésther Fonseca e Rafael Henrique Caron.

Acadêmicos do curso de Ciências Biológicas
           

A professora de balé, Claire Sylvia, da Nova Inglaterra, foi sempre bastante conservadora, mas após sofrer um transplante de coração passou a gostar de cerveja, nuggets de frango e motocicletas. Ao procurar a família do doador ela descobriu que ele era um rapaz jovem que gostava de motos e adorava nuggets e cerveja. Uma teoria com cunho científico para explicar isso é que todas as células do corpo tem capacidade de armazenar lembranças através dos receptores e proteínas presentes em suas membranas plasmáticas (Limpton, 2007). Entretanto, o próprio autor acha improvável as células armazenarem a predileção por nuggets e, apresenta uma teoria “espiritual”, que diz que os receptores celulares presentes no coração doado representam a identidade ou espírito do doador e quando o coração foi transplantado em Claire parte do espírito do rapaz foi junto e se incorporou ao de Claire, causando suas mudanças comportamentais.

A espiritualidade é uma característica bem pessoal, uma vez que envolve sentimentos, revelações e ideias. Mas raramente desenvolve-se em um grau de isolamento, precisando estar, às vezes, em contato com outras pessoas. Na maioria dos casos a espiritualidade encontra-se conectada á um domínio mais público dos seres humanos: a religião. As definições de espiritualidade são baseadas na busca do individuo pelo propósito e significado da vida, incluindo: paz interior e conforto, conexão com os outros, suporte, sentimentos de admiração, reverência ou amor e outros termos saudáveis e positivos.  As definições deixam claro que espiritualidade não precisa estar relacionada a alguma religião, podemos encontrá-la na família, nas artes, no naturalismo ou humanismo. Portanto a espiritualidade é uma parte complexa e multidimensional da experiência humana, que abrangem aspectos cognitivos, experienciais e comportamentais. Os aspectos experienciais e emocionais envolvem o sentimento de esperança, amor e conexão que se refletem na qualidade dos recursos internos de um indivíduo, na capacidade de dar e receber amor espiritual e nos tipos de relação e conexões que existem consigo mesmo, assim como com a comunidade, com o meio ambiente, a natureza e com o transcendental, sendo então um fator importante para a formação de grupos (Koenig, 2012). 

A espiritualidade acompanha o homem muitos milênios, datando desde os povos primitivos, como nos kapauku papuans do oeste da Papua, Nova Guiné, os quais acreditavam que as doenças eram provenientes de espíritos malignos, e na tribo indígena Sai, do Novo México que acreditavam que bruxas provocavam doenças ao roubar o coração das vítimas. Mais recentemente, uma seita criada por Mary Baker Eddy, em 1879, tratou uma mulher na Nova Inglaterra através de hipnose, pelo hipnotizador e crente Phineas P. Quimby, que julgava que a felicidade era determinada pela fé. Já em 1952, um médico inglês chamado Albert Mason Albert Mason, também tratou um paciente através de hipnose, onde o paciente de 15 anos tinha problemas com verrugas. Atualmente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhecer a espiritualidade como fator que resulta em um reflexo positivo na saúde psíquica, social e biológica, assim como o bem-estar.
O conflito entre fé e ciência começou no iluminismo. A própria ciência identificou um gene da espiritualidade e conseguiu mapear os circuitos neurais responsáveis pelas emoções ligadas à fé, um exemplo bem interessante é na Idade do Gelo, após exceder as geleiras apenas uma espécie predominou no local, chamada Cro-Magnon. Eles mostravam atividades extremamente organizacionais como formação de grupos, enterravam os mortos, pintavam paredes em deleite espiritual.  Mas como ponto principal, mostra a necessidade de devoção, de acreditar, o que levou espécie a sobreviver à Idade do Gelo. Segundo o livro O gene de Deus de Deam Hamer, as características complexas não são influenciadas pela espiritualidade basicamente. Colocando como exemplo o canto dos pardais de coroa branca que independente se viveram com os pais ou não, entre o sétimo e oitavo mês começam a cantar. Isso se explica devido a genes específicos e o próprio cérebro do pardal. Assim, o livro aborda a espiritualidade da mesma forma que o canto do pardal. Os seres humanos tem uma predisposição genética para a crença espiritual, que responde em conjunto a nossa experiência pessoal, nosso ambiente cultural.             
O efeito placebo é um ótimo exemplo para explicar o efeito da crença, cuja cura ou a melhora se dá pela “crença” de que ocorrerá uma melhora sem de fato ocorrer um tratamento para obter a cura. Um exemplo interessante disso é um estudo feito por Moseley e colaboradores (2002), onde um grupo de 180 pacientes com problemas de artrite no joelho foram divididos e três tratamentos diferentes: o primeiro grupo teve a região danificada da cartilagem raspada, o segundo grupo teve a junta do joelho afastada e com um jato d’água a retirada da região que se acreditava causadora do desconforto, e, o terceiro grupo foi sedado e sofreu incisões no joelho simulando uma cirurgia real. Após dois anos de estudo descobriu-se que o número de pacientes que obteve melhora foi estatisticamente igual para os três grupos, mostrando que ou uma crença muito forte na melhora foi a causa da cura no grupo placebo, ou foi algo que a ciência de hoje ainda não sabe explicar.
Outros exemplos são experimentos, que estão demonstrando eficácia, utilizando a técnica reiki, ou imposição de mãos, no tratamento de doenças. Na instituição Ciências Internacional de Cura em Orinda (California), Daniel Wirth executou uma pesquisa usando esta técnica em estudantes do sexo masculino com ferimentos no ombro. Os homens que receberam tratamento com reiki melhoraram em 93,5% em relação aos que não receberam. 

No Brasil, o biólogo Ricardo Monezi, pela USP, conduziu uma pesquisa usando reiki em camundongos com câncer. No grupo de camundongos que recebeu tratamento pela impostação de mãos, após serem sacrificados, os animais foram avaliados quanto a sua resposta imunológica, assim, os resultados apresentaram que os glóbulos brancos e células imunológicas dobraram sua capacidade de reconhecimento e destruição de células cancerígenas. Segundo o pesquisador Monezi, ainda não se sabe distinguir se a energia que o reiki trabalha é magnética, elétrica ou eletromagnética. Os artigos descrevem- na como ‘energia sutil’, de natureza não esclarecida pela física atual.
Em relação à espiritualidade, a ciência busca o entendimento de um todo desconhecido de forma restrita e pontual. Ou seja, ela se limita a questões concretas e precisas para que possam responder, e em alguns casos ignora o que não consiga compreender. Além disso, há falta de interesse na comunidade cientifica. Nós como formandos em biologia acreditamos que é importante termos a mente tanto racional quanto espiritual, para que nossas visões de mundo não fiquem limitadas, nos possibilitando explorar todas alternativas de explicação e entendimento. A espiritualidade ainda nos proporciona uma melhora na qualidade de vida.



 O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia II tendo como base as seguintes referências
BLOG DO ANIMA MUNDHY. Quatro experimentos científicos com Reiki demonstram sua eficácia como Técnica de Cura. Disponível em: http://animamundhy.com.br/blog/4-experimentos-cientificos-com-reiki-demonstram-sua-eficacia-como-tecnica-de-cura. Acesso em 25 de ago. 2013.
COLUNA CIÊNCIA. A biologia da fé. Disponível em:  http://ciencia.folhadaregiao.com.br/2011/05/biologia-da-fe.html. Acesso em 20 de ago. 2013.
HAMER, D. O gene de Deus. 1. ed. São Paulo: Editora Mercuryo. 2005.
KOENIG, H. G. Medicina, religião e saúde: O encontro da ciência e da espiritualidade. 1. Ed. Rio Grande do Sul: Editora L&PM, 2012.
LIPTON, B. H. A biologia da crença: Ciência e espiritualidade na mesma sintonia: o poder da consciência sobre a matéria e os milagres. 1. ed. São Paulo: Editora Butterfly, 2007.
MOSELEY, J. B. et al. A controlled trial of arthroscopic surgery for osteoarthritis of the knee. New England Journal of Medicine, Massachusetts, v. 347, n. 2, p. 81-88, jul. 2002.
REVISTA VIVA SAÚDE. O poder da fé. Disponível em: http://revistavivasaude.uol.com.br/saude-nutricao/106/o-poder-da-fe-a-ciencia-comprova-que-a-246102-1.asp/. Acesso em 25 de ago. 2013.
SOUZA, O. Como a fé desempatou o jogo. Disponível em: http://veja.abril.com.br/070207/p_078.shtml. Acesso em 20 de ago. 2013.

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