sábado, 14 de setembro de 2013

É Preconceito ter Preconceito?



Série Ensaios: Sociobiologia

Por Luiza Paula Hobi Strle, Rafael Cidral e Thayana Ferreira do Amaral

Acadêmicos do curso de Bacharelado em Biologia


 “Ano passado um menino de 12 anos suicidou-se em Vitória (Espírito Santo), após ser alvo de bullying na escola. Segundo relatos dos colegas, o aluno era humilhado, empurrado e xingado de “gay”, “bicha” e “gordinho”. De acordo com um aluno da escola, crianças fizeram uma roda ao redor do menino e hostilizaram o garoto. Voltando para sua casa, o menino enforcou-se com o cinto da mãe”. 


O Comportamento social pode ser definido como, o modo ou forma como os indivíduos se relacionam e/ou qualquer interação entre um organismo e o ambiente. (Sampaio, 2010), sendo dividido em dois tipos: operante e respondente; e subdividido nas categorias: familiares, escolares, amigos e profissional. De acordo com Carvalho (1988), o comportamento social, na natureza existe sob distintas formas: agregação cujo os indivíduos são influenciados através de um estímulo externo; sociedades quando a organização é mais complexa, por exemplo, hierarquia e divisão de tarefas, e em agrupamentos quando o comportamento social é controlado pelo reconhecimento da identidade do grupo, como por exemplo, o cheiro.
Grupos podem ser definidos como um conjunto de indivíduos da mesma espécie. Os seres humanos são animais altamente sociáveis, e para ocorrer a formação de grupos faz-se necessário abrir mão da liberdade individual, a fim de se obter vantagens da vida em grupo, tais como: aquisição de alimentos, proteção e reprodução. Porém, para a existência de qualquer grupo social, deve-se ter dois elementos: fatores agregadores e segregadores, cujos primeiros se tem um objeto ou algo em comum para a formação de “ligações”, já os fatores segregadores relaciona-se com as diferenças, fazendo com que um grupo não se uma à outro.
Caso o indivíduo não seja reconhecido como pertencente a um grupo, ele poderá ser hostilizado e expulso do mesmo. Nas sociedades humanas, denomina-se bullying todas as formas de atitudes agressivas, verbais ou físicas, intencionais e repetitivas que causam danos físicos e psicológicos. De acordo com o Hype Science, uma pesquisa da Universidade Duke (Carolina do Norte, EUA) é possível que exista um gene relacionado a problemas emocionais que têm uma “tendência” do portador sofrer bullying. O nível de “vulnerabilidade”, segundo os cientistas, está associado à estrutura dos cromossomos 5-HHT (ligado ao estresse). A conclusão foi a de que a cadeia curta do gene é a responsável pelo transporte de serotonina, que controla alterações de humor, emocionais, e o estresse.
Em uma matéria veiculada na Revista Educação, países do leste asiático incluindo Coréia e China, a sociedade costuma colocar o grupo à frente do indivíduo – de acordo com o pensamento confucionista trata-se de harmonia social. A desvantagem é que não há muito espaço para o “diferente”. Em escolas japonesas há casos em que os próprios educadores causam a humilhação à alunos. Em 2012, um garoto enforcou-se após levar tapas no rosto do treinador de basquete, sendo as agressões por parte de professores ainda não considerados como atos de violência e sim de caráter educativo, fazendo um bem ao aluno.
Deve-se considerar que o preconceito é um fator importante para a formação de grupos e pode ser definida como: uma postura ou ideia pré-concebida, ou seja, uma atitude negativa a tudo que ultrapassa os padrões estabelecidos pela população. Pode ter também um significado positivo, de acordo com o dicionário Houaiss preconceito é uma opinião favorável ou desfavorável, concebida sem exame crítico. Biologicamente é possível relacionar o preconceito com fatores fisiológicos. De acordo com a revista Simbiótica (2010), foi descoberto um grupo de crianças sem estereótipos raciais. Elas possuem uma alteração de desenvolvimento neurológico conhecida por Síndrome de Williams (SW), e são demasiadamente simpáticas não tendo receio de estranhos. As crianças não desenvolvem atitudes negativas sobre os outros grupos étnicos, mesmo apresentando os mesmos padrões de estereótipos de gênero das crianças restantes. Pelo fato de ausência de atitudes negativas, não se tem pré-conceitos relacionados aos seus colegas, permitindo uma avaliação mais profunda de sua personalidade a partir de suas atitudes não apenas relacionando às aparências. Neste estudo, mostrou-se que é a amígdala a região responsável pela resposta às ameaças sociais, desencadeando reações emocionais inconscientes a outras raças. Sendo assim, o preconceito racial foi associado ao medo.
Segundo Terry Burnham e Jay Phelan em seu livro A Culpa é da Genética de, que para que a formação de grupos se faça de forma a propiciar benefícios mútuos, é necessário que os indivíduos sejam capazes de identificar nas pessoas ao seu redor características que definam sua capacidade de relacionamentos. Por exemplo, classificar as pessoas em grupos de acordo com seus comportamentos, delegar responsabilidades ou até então rotular algo de acordo com as necessidades. Esta capacidade está intrinsecamente ligada à presença de um cérebro capaz de identificar e reconhecer estranhos e situações perigosas.
O preconceito em um primeiro momento não pode ser considerado genético, pois não aparece em função de alguma disfunção genética, mas sim a partir do medo, principalmente do desconhecido. Apesar de parecer somente humano, o preconceito existe também no reino animal, por exemplo, com a rejeição dos filhotes de tigres pela mãe, e a posterior adoção por uma cadela demonstram que o preconceito, principalmente racial evidenciado nos humanos é mesquinho e ou infundado, uma vez que sendo de “cores” diferentes a base genética humana é concisa e muito semelhante. Outro exemplo a ser citado é o preconceito humano com animais por crenças ou culturas populares, cujo animais como: gatos, morcegos, corujas, lêmures, e corvos são frequentemente maltratados e/ou mortos, por supostamente trazerem azar, mau agouro, morte e conflito.  Em algumas sociedades, a agressão aberta ocorre quando machos jovens são forçados a abandonar o grupo na fase adulta. Estes jovens então tem que procurar parceiros em outro local ou enfrentar seu pai, como por exemplo, em leões marinhos. Em colônias de ratos e formigas, a identidade do grupo, e não individual é feita através do cheiro, e quando ocorre por acidente ou por pesquisadores a perda desta característica, o indivíduo pode ser atacado e morto por parceiros. Os chimpanzés assim como os seres humanos são territorialistas, vasculham o território alheio e se houver uma vantagem numérica podem atacar os vizinhos utilizando pedras e galhos como armas e sabem também fazer política. A cooperação entre grupos de macacos é vista desde cedo. Aumento de grupos pode gerar também uma elevada competição por recursos e mais disputas são traçadas. Mas tanto em animais quanto humanos esses conflitos não levam muito tempo nem são exagerados, havendo momentos de tréguas e cooperação, como por exemplo, em morcegos-vampiros que regurgitam seu alimento para oferecer ao próximo, caso a caçada tenha sido falha. Sabe-se que na questão do reconhecimento em animais, os da mesma família, espécie, gênero unem-se, e animais de diferentes famílias, espécies e gêneros afastam-se. Um exemplo que pode ser citado é o de acordo com a Revista Veja, cujos cientistas encontraram evidências de que os golfinhos são capazes de se lembrar, por mais de 20 anos, de sons emitidos por golfinhos conhecidos. A descoberta dá à eles o status de portadores de memória social mais longa já identificada. Cada golfinho desenvolve seu som específico que funciona como um nome.
O bullying pode então ser considerado um comportamento natural? Levando em consideração que o homem tem uma tendência a ser egoísta, a fim de manter próximas somente as pessoas (indivíduos) que num futuro possam lhes trazer benefícios, mas aqueles que não trazem benefício são excluídos ou tratados de forma indiferente a fim de mostrar que são melhores que os outros de alguma maneira para que não aja a competição por algum recurso.
Nós formandos do curso de Biologia acreditamos que grupos são formados para superar algum obstáculo, pois estando acompanhados é mais fácil superar problemas e pressões psicológicas, principalmente o preconceito. Estes grupos podem ser formados também a partir de segregações de grupos distintos, unindo os “excluídos” pelo fato de terem passado por uma situação comum. È provável que, se o menino que cometeu suicídio tivesse amparo entre seus amigos, ou seja, um grupo que o aceitasse e o apoiasse intervindo durante a humilhação, o trauma sofrido seria menor e o final da história provavelmente não seria igual. A pressão psicológica de uma “brincadeira de mau gosto” torna-se muito mais suportável quando se tem apoio. Até mesmo entre os animais, existe a formação de um grupo responsável em apoiar o mais fraco, proteger o mais novo, entre outros. Entretanto, a formação de grupos não elimina a presença dos pré-conceitos, formando opiniões nem sempre corretas sobre grupos dos quais não fazem parte.


O Presente estudo foi elaborado para disciplina de Etologia tendo como base as presentes obras:

·         Alves, Rafael (2010). Sofrer Bullying é genético. Disponível em: Acesso em: 31 de agosto de 2013.
·         Burnham, Terry & Phelan, Jay. A Culpa é da Genética: do sexo ao dinheiro passando pela comida: dominando nossos instintos primitivos. Rio de Janeiro: Sextante, 2002.
·         Carvalho, Ana Maria Almeida. Etologia e Comportamento Social (1988). Disponível em: Acesso em: 31 de agosto de 2013.
·         Crítica Comportamental. Comportamento Crítico! Filosofia, Sociedade e Análise do Comportamento, por um novo planejamento da sociedade! Disponível em: Acesso em: 31 de agosto de 2013.
·         Dicas Free. Tipos de Comportamentos Sociais. Disponível em: Acesso em: 31 de agosto de 2013.
·         Fischer, Marta (2009). É possível um mundo sem preconceitos? Disponível em: Acesso em: 31 de agosto de 2012.
·         Fischer, Marta (2010). Sim, você é preconceituoso. Disponível em: Acesso em: 31 de agosto de 2013
·         Fischer, Marta (2011). Vantagens na vida social? Disponível em: Acesso em: 31 de agosto de 2013.
·         Fischer, Marta (2012). Discriminação em grupos sociais é natural? Disponível em: Acesso em: 31 de agosto de 2013.
·         Minami, Thiago (2013). Bullying em japonês. Disponível em: Acesso em: 31 de agosto de 2013.
·         Meyer-Lindenberg, Andreas; Gabrieli John & Karmillof-Smith, Annette. Descobertas crianças sem estereótipos raciais. Revista Simbiótica, 2010. Disponível em: Acesso em: 31 de agosto de 2013.
·         Mundo Educação. Preconceito. Disponível em: Acesso em: 31 de agosto de 2013.
·         Projeto Proteção aos Grandes Primatas. Grandes Primatas-Chimpanzés. Disponível em: Acesso em: 31 de agosto de 2013.
·         Revista Sorria. Sim, você é preconceituoso. Disponível em: Acesso em: 31 de agosto de 2013.
·         Só Duvidas. Comportamentos Sociais. Disponível em: Acesso em: 31 de agosto de 2013.
·         Sampaio, Angelo Augusto Silva & Andery, Maria Amalia Pie Abib. Comportamento social, Produção Agregada e Prática Cultural: Uma Análise Comportamental de Fenômenos Sociais. Revista Psicologia: Teoria e Pesquisa, v.26 n.1, pp. 183-192, jan-mar 2010.
·         Simbiótica (2010). Descobertas crianças sem estereótipos raciais. Disponível em: Acesso em: 31 de agosto de 2013.
·         Uol Educação. Bullying na Escola. Disponível em: < http://educacao.uol.com.br/noticias/2012/03/02/estudante-de-12-anos-comete-suicidio-em-vitoria-apos-sofrer-bullying-na-escola.htm> Acesso em: 31 de agosto de 2013.

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