Série Ensaios: Sociobiologia
Por Luiza Paula Hobi Strle, Rafael
Cidral e Thayana Ferreira do Amaral
Acadêmicos do curso de Bacharelado em
Biologia
“Ano passado um menino de 12
anos suicidou-se em Vitória (Espírito Santo), após ser
alvo de bullying na escola. Segundo relatos dos colegas, o
aluno era humilhado, empurrado e xingado de “gay”, “bicha” e “gordinho”. De
acordo com um aluno da escola, crianças fizeram uma roda ao redor do menino e
hostilizaram o garoto. Voltando para sua casa, o menino enforcou-se com o cinto
da mãe”.
O Comportamento social
pode ser definido como, o modo ou forma como os indivíduos se relacionam e/ou
qualquer interação entre um organismo
e o ambiente. (Sampaio, 2010), sendo dividido em dois tipos: operante e respondente;
e subdividido nas categorias:
familiares, escolares, amigos e profissional. De acordo com Carvalho (1988), o
comportamento social, na natureza existe sob distintas formas: agregação cujo os indivíduos são
influenciados através de um estímulo externo; sociedades quando a organização é mais complexa, por exemplo,
hierarquia e divisão de tarefas, e em agrupamentos
quando o comportamento social é controlado pelo reconhecimento da identidade do
grupo, como por exemplo, o cheiro.
Grupos podem ser
definidos como um conjunto de indivíduos da mesma espécie. Os seres humanos são
animais
altamente sociáveis, e para ocorrer a formação de grupos faz-se necessário abrir
mão da liberdade individual, a fim de se obter vantagens da vida em grupo, tais
como: aquisição de alimentos,
proteção e reprodução. Porém, para a existência de qualquer grupo social,
deve-se ter dois elementos: fatores
agregadores e segregadores,
cujos primeiros se tem um objeto ou algo em comum para a formação de
“ligações”, já os fatores segregadores relaciona-se com as diferenças, fazendo
com que um grupo não se uma à outro.
Caso o indivíduo não
seja reconhecido como pertencente a um grupo, ele poderá ser hostilizado e
expulso do mesmo. Nas sociedades humanas, denomina-se bullying todas as formas de atitudes
agressivas, verbais ou físicas, intencionais e repetitivas que causam danos físicos e psicológicos.
De acordo com o Hype
Science, uma pesquisa da Universidade Duke (Carolina do Norte, EUA) é
possível que exista um gene relacionado a problemas emocionais que têm uma
“tendência” do portador sofrer bullying.
O nível de “vulnerabilidade”, segundo os cientistas, está associado à estrutura
dos cromossomos 5-HHT (ligado ao estresse). A conclusão foi a de que a cadeia
curta do gene é a responsável pelo transporte de serotonina, que controla
alterações de humor, emocionais, e o estresse.
Em uma matéria veiculada
na Revista
Educação, países do leste asiático incluindo Coréia e China, a sociedade
costuma colocar o grupo à frente do indivíduo – de acordo com o pensamento
confucionista trata-se de harmonia social. A desvantagem é que não há muito
espaço para o “diferente”. Em escolas japonesas há casos em que os próprios
educadores causam a humilhação à alunos. Em 2012, um garoto enforcou-se
após levar tapas no rosto do treinador de basquete, sendo as agressões por parte
de professores ainda não considerados como atos de violência e sim de caráter
educativo, fazendo um bem ao aluno.
Deve-se considerar que o
preconceito
é um fator importante para a formação de grupos e pode ser definida como: uma
postura ou ideia pré-concebida, ou seja, uma atitude negativa a tudo que
ultrapassa os padrões estabelecidos pela população. Pode ter também um significado
positivo, de acordo com o dicionário Houaiss
preconceito é uma opinião favorável ou desfavorável, concebida sem exame
crítico. Biologicamente é possível relacionar o preconceito com fatores
fisiológicos. De acordo com a revista Simbiótica (2010), foi descoberto um grupo
de crianças sem estereótipos raciais. Elas possuem uma alteração de
desenvolvimento neurológico conhecida por Síndrome
de Williams (SW), e são demasiadamente simpáticas não tendo receio de
estranhos. As crianças não desenvolvem atitudes negativas sobre os outros
grupos étnicos, mesmo apresentando os mesmos padrões de estereótipos de gênero
das crianças restantes. Pelo fato de ausência de atitudes negativas, não se tem
pré-conceitos relacionados aos seus colegas, permitindo uma avaliação mais
profunda de sua personalidade a partir de suas atitudes não apenas relacionando
às aparências. Neste estudo, mostrou-se que é a amígdala a região responsável
pela resposta às ameaças sociais, desencadeando reações emocionais
inconscientes a outras raças. Sendo assim, o preconceito racial foi associado
ao medo.
Segundo Terry Burnham e
Jay Phelan em seu livro A Culpa é da
Genética de, que para que a formação
de grupos se faça de forma a propiciar benefícios mútuos, é necessário que
os indivíduos sejam capazes de identificar nas pessoas ao seu redor
características que definam sua capacidade de relacionamentos. Por exemplo,
classificar as pessoas em grupos de acordo com seus comportamentos, delegar
responsabilidades ou até então rotular algo de acordo com as necessidades. Esta
capacidade está intrinsecamente ligada à presença de um cérebro capaz de
identificar e reconhecer estranhos e situações perigosas.
O preconceito em um
primeiro momento não pode ser considerado genético, pois não aparece em função
de alguma disfunção genética, mas sim a partir do medo, principalmente do
desconhecido. Apesar de parecer somente humano, o preconceito existe também no
reino animal, por exemplo, com a rejeição
dos filhotes de tigres pela mãe, e a posterior adoção por uma cadela
demonstram que o preconceito, principalmente racial evidenciado nos humanos é
mesquinho e ou infundado,
uma vez que sendo de “cores” diferentes a base genética humana é concisa e
muito semelhante. Outro exemplo a ser citado é o preconceito
humano com animais por crenças ou culturas populares, cujo animais como:
gatos, morcegos, corujas, lêmures, e corvos são frequentemente maltratados e/ou
mortos, por supostamente trazerem azar, mau agouro, morte e conflito. Em algumas sociedades, a agressão
aberta ocorre quando machos jovens são forçados a abandonar o grupo na fase
adulta. Estes jovens então tem que procurar parceiros em outro local ou
enfrentar seu pai, como por exemplo, em leões marinhos. Em colônias de ratos e formigas, a identidade do
grupo, e não individual é feita através do cheiro, e quando ocorre por acidente
ou por pesquisadores a perda desta característica, o indivíduo pode ser atacado
e morto por parceiros. Os chimpanzés
assim como os seres humanos são territorialistas,
vasculham o território alheio e se houver uma vantagem numérica podem atacar os
vizinhos utilizando pedras e galhos como armas e sabem também fazer política. A
cooperação entre grupos de macacos é vista desde cedo. Aumento de grupos pode
gerar também uma elevada competição por recursos e mais disputas são traçadas.
Mas tanto em animais quanto humanos esses conflitos não levam muito tempo nem
são exagerados, havendo momentos de tréguas e cooperação, como por exemplo, em morcegos-vampiros
que regurgitam seu alimento para oferecer ao próximo, caso a caçada tenha sido
falha. Sabe-se que na questão do reconhecimento em animais, os da mesma
família, espécie, gênero unem-se, e animais de diferentes famílias, espécies e
gêneros afastam-se. Um exemplo que pode ser citado é o de acordo com a Revista
Veja, cujos cientistas encontraram evidências de que os golfinhos são capazes
de se lembrar, por mais de 20 anos, de sons emitidos por golfinhos conhecidos.
A descoberta dá à eles o status de
portadores de memória social mais longa já identificada. Cada golfinho
desenvolve seu som específico que funciona como um nome.
O bullying
pode então ser considerado um comportamento
natural? Levando em consideração que o homem tem uma tendência a ser
egoísta, a fim de manter próximas somente as pessoas (indivíduos) que num
futuro possam lhes trazer benefícios, mas aqueles que não trazem benefício são
excluídos ou tratados de forma indiferente a fim de mostrar que são melhores
que os outros de alguma maneira para que não aja a competição por algum
recurso.
Nós
formandos do curso de Biologia
acreditamos que grupos são formados para superar algum obstáculo, pois estando
acompanhados é mais fácil superar problemas e pressões psicológicas,
principalmente o preconceito. Estes grupos podem ser formados também a partir
de segregações de grupos distintos, unindo os “excluídos” pelo fato de terem
passado por uma situação comum. È provável que, se o menino que cometeu
suicídio tivesse amparo entre seus amigos, ou seja, um grupo que o aceitasse e o
apoiasse intervindo durante a humilhação, o trauma sofrido seria menor e o
final da história provavelmente não seria igual. A pressão psicológica de uma
“brincadeira de mau gosto” torna-se muito mais suportável quando se tem apoio.
Até mesmo entre os animais, existe a formação de um grupo responsável em apoiar
o mais fraco, proteger o
mais novo, entre outros. Entretanto, a formação de grupos não elimina a
presença dos pré-conceitos, formando opiniões nem sempre corretas sobre grupos
dos quais não fazem parte.
O
Presente estudo foi elaborado para disciplina de Etologia tendo como base as
presentes obras:
·
Alves,
Rafael (2010). Sofrer Bullying é
genético. Disponível em:
Acesso em: 31 de agosto de 2013.
·
Burnham,
Terry & Phelan, Jay. A Culpa é da Genética: do sexo ao dinheiro passando
pela comida: dominando nossos instintos primitivos. Rio de Janeiro: Sextante,
2002.
·
Carvalho,
Ana Maria Almeida. Etologia e Comportamento Social (1988). Disponível em:
Acesso em: 31 de
agosto de 2013.
·
Crítica
Comportamental. Comportamento Crítico!
Filosofia, Sociedade e Análise do Comportamento, por um novo planejamento da
sociedade! Disponível em:
Acesso em: 31 de agosto de 2013.
·
Dicas
Free. Tipos de Comportamentos Sociais.
Disponível em:
Acesso em: 31 de agosto de 2013.
·
Fischer,
Marta (2009). É possível um mundo sem
preconceitos? Disponível em:
Acesso em: 31 de agosto de 2012.
·
Fischer,
Marta (2010). Sim, você é
preconceituoso. Disponível em:
Acesso em: 31 de agosto de 2013
·
Fischer,
Marta (2011). Vantagens na vida social? Disponível
em:
Acesso em: 31 de agosto de 2013.
·
Fischer,
Marta (2012). Discriminação em grupos
sociais é natural? Disponível em:
Acesso em: 31 de agosto de 2013.
·
Minami,
Thiago (2013). Bullying em japonês.
Disponível em:
Acesso em: 31 de agosto de 2013.
·
Meyer-Lindenberg,
Andreas; Gabrieli John & Karmillof-Smith, Annette. Descobertas crianças sem estereótipos raciais. Revista Simbiótica,
2010. Disponível em:
Acesso em: 31 de agosto de 2013.
·
Mundo
Educação. Preconceito. Disponível
em: Acesso em:
31 de agosto de 2013.
·
Projeto
Proteção aos Grandes Primatas. Grandes
Primatas-Chimpanzés. Disponível em:
Acesso em: 31 de
agosto de 2013.
·
Revista
Sorria. Sim, você é preconceituoso. Disponível
em:
Acesso em: 31 de agosto de 2013.
·
Só
Duvidas. Comportamentos Sociais. Disponível
em: Acesso em: 31 de
agosto de 2013.
·
Sampaio,
Angelo Augusto Silva & Andery, Maria Amalia Pie Abib. Comportamento social,
Produção Agregada e Prática Cultural: Uma Análise Comportamental de Fenômenos
Sociais. Revista Psicologia: Teoria e Pesquisa, v.26 n.1, pp. 183-192, jan-mar
2010.
·
Simbiótica
(2010). Descobertas crianças sem
estereótipos raciais. Disponível em:
Acesso em: 31 de agosto de 2013.
·
Uol
Educação. Bullying na Escola.
Disponível em: < http://educacao.uol.com.br/noticias/2012/03/02/estudante-de-12-anos-comete-suicidio-em-vitoria-apos-sofrer-bullying-na-escola.htm>
Acesso em: 31 de agosto de 2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário