sábado, 7 de setembro de 2013

A Bioética Ambiental em Guarapuava: Resgatando os valores que unificam o homem e a natureza




Nas últimas semanas proferi duas palestras para públicos distintos e foi extremamente gratificante sentir-me contribuindo para disseminação de uma área tão importante quanto a Bioética Ambiental e, principalmente, perceber que não é preciso fazer força para ganhar adeptos, pois a ética com a vida - que tanto Potter falava - está dentro de cada um de nós. É preciso apenas dialogar! Essa semana comemorou-se o dia do biólogo (3 de setembro) e não tenho mais palavras para enaltecer essa profissão que só me trouxe alegrias. É bom demais fazer pesquisa; É bom demais ensinar a fazer pesquisa; É bom demais conviver com os animais (amo as aranhas, caramujos, escorpiões...); É bom demais conviver com biólogos, eles são passionais! É bom demais conviver com os alunos, conhecer um monte de gente nova a cada semestre; É bom demais fazer parte da vida de um monte de vida e direta e indiretamente contribuir para história do nosso planeta. O que mais me encanta na Biologia é a diversidade, de vida e de possibilidades. Ao longo desses 20 anos de formada – mas obviamente me se sentindo bióloga desde que nasci – tive a oportunidade de passar por diferentes áreas: botânica, zoologia, ecologia, etologia, educação ambiental, etnologia e agora topei o desafio de recomeçar ajustando tudo que já fiz à Bioética Ambiental.

  A Bioética Ambiental, embora uma jovem na casa dos seus 50 anos, propõe a reflexão e o diálogo entre os atores envolvidos nos dilemas éticos que pautam uma tomada de decisão cuja ação poderá ser boa para um, porém não para o outro. E quando isso acontece o que deve pesar mais na balança? Os meus interesses ou os seus interesses? O que eu acho certo? Ou o que de fato é certo? E o que de fato é certo? A natureza existe para me servir? Então devo cuidar da preservação ambiental para que não me falte recursos nem para meus descendentes? Ou a natureza tem um valor intrínseco independente das minhas necessidades e deve ser protegida simplesmente porque todos os seres vivos que vivem nesse planeta têm direito de transmitir seus genes para as futuras gerações e têm direito de desfrutar de um ambiente saudável? É... a Bioética é evitada por muita gente pois ela mexe com a gente, tira-nos da nossa área de conforto e conformismo, de negação para coisas que até enxergamos, mas não queremos ver. Nos coloca de frente com questões que precisam ser pensadas. Tudo que nos desequilibra, nos inquieta e para que possamos retomar a homeostase é necessário um esforço, uma perda de energia, uma mobilização, de fato um preço que muitas pessoas não estão dispostas a pagar. Então é mais fácil continuar com crenças antigas que endossam suas atitudes. Por exemplo, se uma pessoa é convencida que animais possuem sentimentos, emoções e consciência semelhantes com as suas, será que ela vai conseguir comer partes do corpo de um animal, cujo objetivo de sua existência foi unicamente nascer, crescer, engordar e morrer para lhe alimentar? Será toda vez que essa pessoa for comer uma carne, se lembrar que essa parte do corpo fez parte de um ser que almejou ter uma existência boa e que o seu bem-estar foi bruscamente comprometido por conta de uma economia que dita as regras sociais? Será que irá conseguir passar um batom para se sentir mais bonita, sabendo que para isso centenas de ratinhos, coelhos e até cães nasceram e morreram em um laboratório, sem nunca ter visto a luz do sol, apenas para evitar possíveis reações em seus lábios?  A inquietação que surge irá fazê-la refletir se vai querer ou não ser conivente com esse sistema e caso ela decida não endossar os maus tratos que esses animais têm sofrido em nome do desenvolvimento econômico, tecnológico, científico, ela deverá ir contra. Será que ela tem forças, argumentos e ideologias para lutar contra o lado mais forte da balança? Então é mais fácil negar. E não estou falando de pessoas simples, que não tiveram oportunidade de serem instruídas. Estou falando de seres humanos que possuem códigos morais oriundos da sua comunidade de origem que conduze as suas posturas éticas diante desses dilemas. 

                A maior sensibilidade para com o sofrimento e necessidade do outro – também conhecida como empatia – pode fazer parte da personalidade da pessoa. Não há dúvida que algumas pessoas nascem com essa característica (veja esses vídeos: formiguinha e argumentando), as quais podem ser maximizadas ou reprimidas, dependendo do ambiente em que essa criança irá se desenvolver. Outras pessoas precisam ser informadas e sensibilizadas para as questões, aí entra a Educação, ou mais especificamente a Educação Ambiental. Alguns grupos acreditam que é preciso chocar para alterar as atitudes das pessoas. O exemplo mais clássico é do ativista que era soldado e em meio a toda insensibilidade demandada pelo ambiente de guerra, eis que um dia passa diante dele um cavalo pegando fogo que acabara de ser atingido por uma bomba. Ao passar por ele, o olhar de ambos se cruzam e em um milésimo de segundos o soldado olha no fundo dos olhos do cavalo e ouve “O que eu fiz para merecer isso?” “Você não vai fazer nada para me ajudar?” e a partir desse momento torna-se um ativista que dedicou toda a sua vida para ser a voz dos animais na busca de justiça. Outras pessoas acreditam que não é preciso chocar para mudar atitudes, mas sim refletir, dialogar, ouvir todos os lados envolvidos e juntos construírem uma intervenção que ajuste os interesses pessoais às necessidades globais. De fato a Bioética Ambiental é fantástica, temos uma área nova se iniciando em nosso Planeta e cheio de possibilidades para atuação do Bioético. No final do mês teremos o Congresso Brasileiro de Bioética e também em breve estarão abertas as inscrições para o Mestrado em Bioética da PUCPR. Pensem nisso!

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