Nas últimas semanas proferi duas
palestras para públicos distintos e foi extremamente gratificante sentir-me
contribuindo para disseminação de uma área tão importante quanto a Bioética Ambiental e, principalmente,
perceber que não é preciso fazer força para ganhar adeptos, pois a ética com a vida - que tanto Potter falava - está
dentro de cada um de nós. É preciso apenas dialogar! Essa semana comemorou-se o dia do biólogo (3 de setembro) e não
tenho mais palavras para enaltecer essa profissão que só me trouxe alegrias. É
bom demais fazer pesquisa; É bom demais ensinar a fazer pesquisa; É bom demais
conviver com os animais (amo as aranhas, caramujos, escorpiões...); É bom
demais conviver com biólogos, eles são passionais! É bom demais conviver com os
alunos, conhecer um monte de gente nova a cada semestre; É bom demais fazer
parte da vida de um monte de vida e direta e indiretamente contribuir para
história do nosso planeta. O que mais me encanta na Biologia é a diversidade, de vida e de
possibilidades. Ao longo desses 20 anos de formada – mas obviamente me se
sentindo bióloga desde que nasci – tive a oportunidade de passar por diferentes
áreas: botânica, zoologia, ecologia, etologia, educação ambiental, etnologia e
agora topei o desafio de recomeçar ajustando tudo que já fiz à Bioética Ambiental.
A Bioética Ambiental, embora uma jovem na casa dos seus 50 anos, propõe
a reflexão e o diálogo entre os atores envolvidos nos dilemas éticos que pautam
uma tomada de decisão cuja ação poderá ser boa para um, porém não para o outro.
E quando isso acontece o que deve pesar mais na balança? Os meus interesses ou
os seus interesses? O que eu acho certo? Ou o que de fato é certo? E o que de
fato é certo? A natureza existe para me servir? Então devo cuidar da
preservação ambiental para que não me falte recursos nem para meus descendentes?
Ou a natureza tem um valor intrínseco independente das minhas necessidades e
deve ser protegida simplesmente porque todos os seres vivos que vivem nesse
planeta têm direito de transmitir seus genes para as futuras gerações e têm
direito de desfrutar de um ambiente saudável? É... a Bioética é evitada por
muita gente pois ela mexe com a gente, tira-nos da nossa área de conforto e
conformismo, de negação para coisas que até enxergamos, mas não queremos ver. Nos
coloca de frente com questões que precisam ser pensadas. Tudo que nos
desequilibra, nos inquieta e para que possamos retomar a homeostase é
necessário um esforço, uma perda de energia, uma mobilização, de fato um preço
que muitas pessoas não estão dispostas a pagar. Então é mais fácil continuar
com crenças antigas que endossam suas atitudes. Por exemplo, se uma pessoa é convencida
que animais possuem sentimentos, emoções e consciência semelhantes com as suas,
será que ela vai conseguir comer partes do corpo de um animal, cujo objetivo de
sua existência foi unicamente nascer, crescer, engordar e morrer para lhe
alimentar? Será toda vez que essa pessoa for comer uma carne, se lembrar que
essa parte do corpo fez parte de um ser que almejou ter uma existência boa e
que o seu bem-estar foi bruscamente comprometido por conta de uma economia que
dita as regras sociais? Será que irá conseguir passar um batom para se sentir
mais bonita, sabendo que para isso centenas de ratinhos, coelhos e até cães
nasceram e morreram em um laboratório, sem nunca ter visto a luz do sol, apenas
para evitar possíveis reações em seus lábios? A inquietação que surge irá fazê-la refletir
se vai querer ou não ser conivente com esse sistema e caso ela decida não
endossar os maus tratos que esses animais têm sofrido em nome do
desenvolvimento econômico, tecnológico, científico, ela deverá ir contra. Será
que ela tem forças, argumentos e ideologias para lutar contra o lado mais forte
da balança? Então é mais fácil negar. E não estou falando de pessoas simples,
que não tiveram oportunidade de serem instruídas. Estou falando de seres
humanos que possuem códigos morais oriundos da sua comunidade de origem que
conduze as suas posturas éticas diante desses dilemas.
A
maior sensibilidade para com o sofrimento e necessidade do outro – também
conhecida como empatia – pode fazer
parte da personalidade da pessoa. Não há dúvida que algumas pessoas nascem com
essa característica (veja esses vídeos: formiguinha e argumentando), as quais podem ser maximizadas
ou reprimidas, dependendo do ambiente em que essa criança irá se desenvolver.
Outras pessoas precisam ser informadas e sensibilizadas para as questões, aí
entra a Educação, ou mais especificamente
a Educação Ambiental. Alguns grupos
acreditam que é preciso chocar para alterar as atitudes das pessoas. O exemplo
mais clássico é do ativista que era soldado e em meio a toda insensibilidade
demandada pelo ambiente de guerra, eis que um dia passa diante dele um cavalo
pegando fogo que acabara de ser atingido por uma bomba. Ao passar por ele, o
olhar de ambos se cruzam e em um milésimo de segundos o soldado olha no fundo
dos olhos do cavalo e ouve “O que eu fiz
para merecer isso?” “Você não vai
fazer nada para me ajudar?” e a partir desse momento torna-se um ativista
que dedicou toda a sua vida para ser a voz dos animais na busca de justiça. Outras
pessoas acreditam que não é preciso chocar para mudar atitudes, mas sim
refletir, dialogar, ouvir todos os lados envolvidos e juntos construírem uma intervenção
que ajuste os interesses pessoais às necessidades globais. De fato a Bioética
Ambiental é fantástica, temos uma área nova se iniciando em nosso Planeta e
cheio de possibilidades para atuação do Bioético. No final do mês teremos o Congresso Brasileiro de Bioética
e também em breve estarão abertas as inscrições para o Mestrado em Bioética
da PUCPR. Pensem nisso!
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