O Sono também anda te perseguindo?



Ultimamente por onde passo o tema “sono” se faz presente. Não apenas no meu corpo, mas sendo refletido academicamente e socialmente. Parece de fato um paradoxo, pois se há uma coisa que nascemos sabendo fazer é dormir. Porém, as sociedades modernas estão desaprendendo a dormir e procuram na ciência e na medicina uma forma de retomar uma atividade tão necessária para nossa sobrevivência.  Nos dias atuais dormir bem parece mais do que perda de tempo, é um luxo para poucos! Diante de tantas atribuições, preocupações, estímulos e oportunidades, dormir se tornou um problema. Porém, para que todas as nossas atividades tenha qualidade precisamos do reparador sono. Contudo não são apenas as horas de sono que contam, mas sim a qualidade do mesmo. Pesquisas modernas tem apontado o excesso de luminosidade como um fator de atrapalho do sono e resultante de problemas metabólicos, podendo também elevar o risco de algumas doenças, tais como: diabetes, obesidade, hipertensão e outras doenças cardiovasculares. Para evitar uma noite de sono improdutiva, os especialistas recomendam se preparar para dormir com a diminuição do ritmo, dos estímulos sonoros e luminosos e o cuidado com a ingestão de determinados alimentos. Um sono ruim é agoniante e repulsivo que um dos piores realities que vi foi o “guerra do sono” em que os participantes tinham como desafio ficarem acordados.
A prática do momento é o sono polifásico, inspirado no navegador Amyr Klink, e na busca do aumento da produtividade. Os adeptos dormem cerca de três horas por noite e durante o dia realizam de 3 a 6 cochilos de 30 a 20 minutos, dependo da modalidade seguida. Os médicos não aprovam essa prática, uma vez que o ciclo cicardiano natural é determinante para produção hormonal e regulação metabólica. Os praticantes contra argumentam sugerindo que nossos ancestrais deveriam dormir bem menos e ter um sono mais leve do que preconiza a medicina atual, bem como em decorrência da prática ter sido relatada por grandes nomes da humanidade tais como: Michelangelo, Da Vinci, Thomas Edison. Deve-se ressaltar, que atualmente, com o aumento da jornada de trabalho, o terceiro turno passou a ser uma preocupação e causa de inúmeras doenças, o qual foi maximizado nos funcionários do chamado quarto turno, cuja função é substituir a folga dos funcionários dos demais turnos, sem tempo para recuperação do ciclo biológico, resultando em seríssimos efeitos colaterais.
A Revista mente e cérebro tem veiculado inúmeras reportagens sobre o sono, além de promover o “I Seminário Anatomia do Sono” no final do mês de maio de 2013. Na reportagem do número de abril a obra trouxe a nova teoria de Giulio Tononi, o qual pontua a finalidade do sono no enfraquecimento das conexões neurais melhorando a capacidade de codificação e armazenamento de informações, analogicamente a um botão de reset do computador, permitindo, assim o retorno ao estado de flexibilidade neural, fundamental para o aprendizado. Segundo o pesquisador, existem menos sinapses no cérebro adormecido alternando estados de ligações fracas e fortes entre as células neurais durante o clico dia-noite. Até, então, é bem conhecido o papel do sono na consolidação das memórias que passa de elétrica para neuroquímica, através da produção de determinadas substâncias que as fixam. Já na edição de maio traz a relação do sono com a consolidação de memórias traumáticas, recomendando manter-se acordado por mais tempo após um evento traumático faz com memórias ruins tenham menos chances de serem fixadas. Na XIV BIOCEC da PUCPR Felipe Beijamini proferiu uma palestra “O que o Biólogo precisa saber sobre o sono” e dentre dos aspectos abordados, a filogenia do sono foi o ponto mais interessante, mostrando que todos os animais precisam de repouso e que o sono REM está presente em mamíferos.
Novos aplicativos para celulares têm feito o mapeamento do sono, através do acelerômetro registra os momentos de maior e menor movimentação, traçando ao final um mapa temporal com a distribuição dos períodos, acordados, com sono leve e sono profundo (REM). Embora não tenha uma acurácia nessa medição, nos permite conhecer m
elhor o nosso ritmo. A intenção do aplicativo é acordar a pessoa quando ela está no sono leve, para assim, apresentar um melhor desempenho ao longo do dia. Então, o usuário marca o intervalo que pode ser acordado e o celular decide o melhor momento. E, ainda, acorda com sons ou luzes mais sutis, para não começar o dia pilhado.  
A neurociência e a etologia têm desenvolvido juntas mostrando como os aspectos biológicos são primordiais para nossa sobrevivência, embora o extremamente rápido desenvolvimento tecnológico e cultural insista em dizer o contrário. Não adianta querer ganhar o mundo, indo na contra-mão do seu corpo biológico, a curto prazo, dormir pouco, trabalhar muito, pode ser gratificante e produtivo, mas em pouco tempo o sistema sucumbe, podendo comprometer todo o restante da vida do indivíduo. O mundo contemporâneo está colhendo o fruto dos primeiros 100 anos da desvairada busca pela eficiência. Milhares de novas doenças físicas e mentais e um ambiente urbano caotizado. O que nos espera para os próximos 100 anos? Talvez a seleção natural atue sobre os indivíduos que com sabedoria respeite o seu corpo biológico e concilie suas necessidades físicas com o ritmo sociedade. E você? Vai ou fica?