Essa semana a
PUCPR foi palco da Jornada interdisciplinar
de Pesquisa em Teologia e Humanidades cujo tema foi Bioética, Família e Cuidado. Durante três dias foi possível refletir
às “provocações” éticas vindas de
palestrantes, os quais com a sua experiência e olhares nos conduziram a uma
viagem pelo nosso mais remoto interior. Iniciamos com a reflexão sobre gênero
com a Dra. Lenise Garcia e a
brilhante colocação da equiparidade entre homem e mulher, e não igualdade, como
muitos pontuam. Enquanto a igualdade conduz a mulher viver uma vida de homem,
se comportando como homem, sentindo-se como se estivesse vestindo o sapato
errado, a equiparidade possibilita a mulher a assumir diferentes papéis
sociais, sem precisar negar a sua feminina natureza biológica. A Estamira, também esteve presente no
encontro deslizando nossos olhares e nos levando nos identificarmos com a sua
vulnerabilidade entre a loucura a lucidez. A morte
- apresentada pelo Dr. Javier de La
Torre Diaz da Pontifícia Universidade
Comillas da Espanha - e os cuidados
paliativos – apresentado pelas Ms Ângela
Borghi e Angelita Visentin - nos conduziram à reflexões a respeito da única
certeza que temos do nosso futuro, nossa finitude, que ao mesmo tempo encanta -
uma vez que nos faz únicos - e assusta - uma vez que nos faz findos. A
realidade se endurece e é escancarada na nossa consciência quando nos coloca
diante da necessidade de lidar com a finute do ente querido. Devemos superar
nossas próprias angústias e medos para proporcionar não apenas dias a mais de
vida, mas vida nesses dias que lhe resta. Cada vez mais admiro o trabalho
desses profissionais que lidam com a morte diariamente e que a respeita como
parte da dignidade da vida, e em especial, os profissionais mais altruístas que
nossa sociedade produz: os enfermeiros. Foi discutido também os sucessos e
demandas da plataforma brasil, portal
eletrônico de submissão para apreciação pelos comitês de éticas em pesquisa com
humanos. Sem dúvida nenhuma avançamos muito e os ajustes necessários visam a
melhoria e eficiência da ferramenta.
E por fim, fechamos com o início de tudo,
o início do nosso ser biológico e social, o berço de todos os sucessos e
problemas: a família. Não tem como a
bioética não se voltar para a família como exposto em dois momentos: primeiro
abordando a cidadania e educação com os Drs. Sidney da Silva e Maria Angélica
Pizani; e com o fechamento do evento com o Dr. Mario Sanches, Dr. Javier de La Torre Diaz e pela Dra Carmen Massé, discutindo o planejamento
familiar. É na família que surgem os dilemas que impedem que a criança - como
ser vulnerável - possa ter a garantia do seu direto de ter uma família que lhe
provenha recursos materiais - para crescer saudável e com acesso a educação -
bem como recursos morais - que lhe permita se tornar um adulto equilibrado
emocionalmente e capaz de resolver com sabedoria e resiliência os problemas
normas da vida. E o que fazer frente à impossibilidade iminente desse direito?
A bioética não deve impor seu ponto de vista de maneira inflexível, pois a
ideia é dialogar com a sociedade e os diferentes olhares. Ao impor a sua verdade
contribui para formação de mais um subgrupo - de um gueto - que na escuridão do
futuro grita desesperadamente para se fazer ouvido. Por outro lado, a bioética
pautada nos valores e virtudes espirituais, visa promover o debate entre os subgrupos
e conduzir a sociedade para uma consciência coletiva; novos paradigmas morais e
éticos para compreensão de condutas até então impossíveis de ocorrerem na vida
de uma espécie que biologicamente continua a mesma de 100.000 anos, mas
culturalmente tem experimentado um avassalador desenvolvimento tecnológico que
exige novos comportamentos. Filhos que são gerados sem pai, ou sem mãe; avós
que são mães; crianças que geram crianças; pais que não querem seus bebes; pais
que querem escolher todos os detalhes físicos e psicológicos dos seus bebes;
pais que não olham para suas crianças; pais que não têm tempo para suas
crianças. São tantas as variáveis que a vida moderna nos impõe que se traduz em
uma reflexão complexa. A família e a educação se mostram como os pilares para
resolução desses conflitos, mas como levar a sociedade conceber, retomar ou
remodelar esses valores faz parte da nossa jornada, como pesquisadores, como
profissionais e como cidadãos. A sociedade precisa do bioético para realizar
essas costuras, por isso essa área se abre como uma esperança para que o ser
humano consiga retomar a condução de uma sociedade sadia, a qual automaticamente
acarretará em um individuo sadio e em um planeta sadio. A discussão continua no
X
Congresso Brasileiro de Bioética, de 24 a 27 de setembro de 2012 em
Florianópolis... nos vemos lá!
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