segunda-feira, 27 de maio de 2013

O Sono também anda te perseguindo?



Ultimamente por onde passo o tema “sono” se faz presente. Não apenas no meu corpo, mas sendo refletido academicamente e socialmente. Parece de fato um paradoxo, pois se há uma coisa que nascemos sabendo fazer é dormir. Porém, as sociedades modernas estão desaprendendo a dormir e procuram na ciência e na medicina uma forma de retomar uma atividade tão necessária para nossa sobrevivência.  Nos dias atuais dormir bem parece mais do que perda de tempo, é um luxo para poucos! Diante de tantas atribuições, preocupações, estímulos e oportunidades, dormir se tornou um problema. Porém, para que todas as nossas atividades tenha qualidade precisamos do reparador sono. Contudo não são apenas as horas de sono que contam, mas sim a qualidade do mesmo. Pesquisas modernas tem apontado o excesso de luminosidade como um fator de atrapalho do sono e resultante de problemas metabólicos, podendo também elevar o risco de algumas doenças, tais como: diabetes, obesidade, hipertensão e outras doenças cardiovasculares. Para evitar uma noite de sono improdutiva, os especialistas recomendam se preparar para dormir com a diminuição do ritmo, dos estímulos sonoros e luminosos e o cuidado com a ingestão de determinados alimentos. Um sono ruim é agoniante e repulsivo que um dos piores realities que vi foi o “guerra do sono” em que os participantes tinham como desafio ficarem acordados.
A prática do momento é o sono polifásico, inspirado no navegador Amyr Klink, e na busca do aumento da produtividade. Os adeptos dormem cerca de três horas por noite e durante o dia realizam de 3 a 6 cochilos de 30 a 20 minutos, dependo da modalidade seguida. Os médicos não aprovam essa prática, uma vez que o ciclo cicardiano natural é determinante para produção hormonal e regulação metabólica. Os praticantes contra argumentam sugerindo que nossos ancestrais deveriam dormir bem menos e ter um sono mais leve do que preconiza a medicina atual, bem como em decorrência da prática ter sido relatada por grandes nomes da humanidade tais como: Michelangelo, Da Vinci, Thomas Edison. Deve-se ressaltar, que atualmente, com o aumento da jornada de trabalho, o terceiro turno passou a ser uma preocupação e causa de inúmeras doenças, o qual foi maximizado nos funcionários do chamado quarto turno, cuja função é substituir a folga dos funcionários dos demais turnos, sem tempo para recuperação do ciclo biológico, resultando em seríssimos efeitos colaterais.
A Revista mente e cérebro tem veiculado inúmeras reportagens sobre o sono, além de promover o “I Seminário Anatomia do Sono” no final do mês de maio de 2013. Na reportagem do número de abril a obra trouxe a nova teoria de Giulio Tononi, o qual pontua a finalidade do sono no enfraquecimento das conexões neurais melhorando a capacidade de codificação e armazenamento de informações, analogicamente a um botão de reset do computador, permitindo, assim o retorno ao estado de flexibilidade neural, fundamental para o aprendizado. Segundo o pesquisador, existem menos sinapses no cérebro adormecido alternando estados de ligações fracas e fortes entre as células neurais durante o clico dia-noite. Até, então, é bem conhecido o papel do sono na consolidação das memórias que passa de elétrica para neuroquímica, através da produção de determinadas substâncias que as fixam. Já na edição de maio traz a relação do sono com a consolidação de memórias traumáticas, recomendando manter-se acordado por mais tempo após um evento traumático faz com memórias ruins tenham menos chances de serem fixadas. Na XIV BIOCEC da PUCPR Felipe Beijamini proferiu uma palestra “O que o Biólogo precisa saber sobre o sono” e dentre dos aspectos abordados, a filogenia do sono foi o ponto mais interessante, mostrando que todos os animais precisam de repouso e que o sono REM está presente em mamíferos.
Novos aplicativos para celulares têm feito o mapeamento do sono, através do acelerômetro registra os momentos de maior e menor movimentação, traçando ao final um mapa temporal com a distribuição dos períodos, acordados, com sono leve e sono profundo (REM). Embora não tenha uma acurácia nessa medição, nos permite conhecer m
elhor o nosso ritmo. A intenção do aplicativo é acordar a pessoa quando ela está no sono leve, para assim, apresentar um melhor desempenho ao longo do dia. Então, o usuário marca o intervalo que pode ser acordado e o celular decide o melhor momento. E, ainda, acorda com sons ou luzes mais sutis, para não começar o dia pilhado.  
A neurociência e a etologia têm desenvolvido juntas mostrando como os aspectos biológicos são primordiais para nossa sobrevivência, embora o extremamente rápido desenvolvimento tecnológico e cultural insista em dizer o contrário. Não adianta querer ganhar o mundo, indo na contra-mão do seu corpo biológico, a curto prazo, dormir pouco, trabalhar muito, pode ser gratificante e produtivo, mas em pouco tempo o sistema sucumbe, podendo comprometer todo o restante da vida do indivíduo. O mundo contemporâneo está colhendo o fruto dos primeiros 100 anos da desvairada busca pela eficiência. Milhares de novas doenças físicas e mentais e um ambiente urbano caotizado. O que nos espera para os próximos 100 anos? Talvez a seleção natural atue sobre os indivíduos que com sabedoria respeite o seu corpo biológico e concilie suas necessidades físicas com o ritmo sociedade. E você? Vai ou fica?

domingo, 12 de maio de 2013

III JOINTH – Bioética: Família e Cuidado



Essa semana a PUCPR foi palco da Jornada interdisciplinar de Pesquisa em Teologia e Humanidades cujo tema foi Bioética, Família e Cuidado. Durante três dias foi possível refletir às “provocações” éticas vindas de palestrantes, os quais com a sua experiência e olhares nos conduziram a uma viagem pelo nosso mais remoto interior. Iniciamos com a reflexão sobre gênero com a Dra. Lenise Garcia e a brilhante colocação da equiparidade entre homem e mulher, e não igualdade, como muitos pontuam. Enquanto a igualdade conduz a mulher viver uma vida de homem, se comportando como homem, sentindo-se como se estivesse vestindo o sapato errado, a equiparidade possibilita a mulher a assumir diferentes papéis sociais, sem precisar negar a sua feminina natureza biológica. A Estamira, também esteve presente no encontro deslizando nossos olhares e nos levando nos identificarmos com a sua vulnerabilidade entre a loucura a lucidez.  A morte - apresentada pelo Dr. Javier de La Torre Diaz da Pontifícia Universidade Comillas da Espanha - e os cuidados paliativos – apresentado pelas Ms Ângela Borghi e Angelita Visentin -  nos conduziram à reflexões a respeito da única certeza que temos do nosso futuro, nossa finitude, que ao mesmo tempo encanta - uma vez que nos faz únicos - e assusta - uma vez que nos faz findos. A realidade se endurece e é escancarada na nossa consciência quando nos coloca diante da necessidade de lidar com a finute do ente querido. Devemos superar nossas próprias angústias e medos para proporcionar não apenas dias a mais de vida, mas vida nesses dias que lhe resta. Cada vez mais admiro o trabalho desses profissionais que lidam com a morte diariamente e que a respeita como parte da dignidade da vida, e em especial, os profissionais mais altruístas que nossa sociedade produz: os enfermeiros. Foi discutido também os sucessos e demandas da plataforma brasil, portal eletrônico de submissão para apreciação pelos comitês de éticas em pesquisa com humanos. Sem dúvida nenhuma avançamos muito e os ajustes necessários visam a melhoria e eficiência da ferramenta. 
E por fim, fechamos com o início de tudo, o início do nosso ser biológico e social, o berço de todos os sucessos e problemas: a família. Não tem como a bioética não se voltar para a família como exposto em dois momentos: primeiro abordando a cidadania e educação com os Drs. Sidney da Silva e Maria Angélica Pizani; e com o fechamento do evento com o Dr. Mario Sanches, Dr. Javier de La Torre Diaz e pela Dra Carmen Massé, discutindo o planejamento familiar. É na família que surgem os dilemas que impedem que a criança - como ser vulnerável - possa ter a garantia do seu direto de ter uma família que lhe provenha recursos materiais - para crescer saudável e com acesso a educação - bem como recursos morais - que lhe permita se tornar um adulto equilibrado emocionalmente e capaz de resolver com sabedoria e resiliência os problemas normas da vida. E o que fazer frente à impossibilidade iminente desse direito? A bioética não deve impor seu ponto de vista de maneira inflexível, pois a ideia é dialogar com a sociedade e os diferentes olhares. Ao impor a sua verdade contribui para formação de mais um subgrupo - de um gueto - que na escuridão do futuro grita desesperadamente para se fazer ouvido. Por outro lado, a bioética pautada nos valores e virtudes espirituais, visa promover o debate entre os subgrupos e conduzir a sociedade para uma consciência coletiva; novos paradigmas morais e éticos para compreensão de condutas até então impossíveis de ocorrerem na vida de uma espécie que biologicamente continua a mesma de 100.000 anos, mas culturalmente tem experimentado um avassalador desenvolvimento tecnológico que exige novos comportamentos. Filhos que são gerados sem pai, ou sem mãe; avós que são mães; crianças que geram crianças; pais que não querem seus bebes; pais que querem escolher todos os detalhes físicos e psicológicos dos seus bebes; pais que não olham para suas crianças; pais que não têm tempo para suas crianças. São tantas as variáveis que a vida moderna nos impõe que se traduz em uma reflexão complexa. A família e a educação se mostram como os pilares para resolução desses conflitos, mas como levar a sociedade conceber, retomar ou remodelar esses valores faz parte da nossa jornada, como pesquisadores, como profissionais e como cidadãos. A sociedade precisa do bioético para realizar essas costuras, por isso essa área se abre como uma esperança para que o ser humano consiga retomar a condução de uma sociedade sadia, a qual automaticamente acarretará em um individuo sadio e em um planeta sadio. A discussão continua no  X Congresso Brasileiro de Bioética, de 24 a 27 de setembro de 2012 em Florianópolis... nos vemos lá!


domingo, 5 de maio de 2013

Refletindo etologicamente sobre a redução da maioridade penal



A violência sempre foi um tema que permeou as angústias das sociedades humanas. Houve tempos tumultuosos ao longo da nossa vida do planeta, em que o poder era exercido sob o domínio do pavor e do medo. Dos tempos relatados na bíblia - em que  povos inteiros eram dizimados em disputas territoriais - às dominações religiosas da idade medieval, aos nazistas e à escravidão! Estamos vivendo o período mais pacífico da nossa história, porém, mesmo assim a violência ainda nos atormenta. Lorenz no seu livro “A agressão: a história natural do mal” define a agressão como um impulso biogênico parecido com a necessidade de alimento e de hidratação; é o impulso energético que nos dá motivação e coragem para viver, competir, ir a busca da nossa sobrevivência. Porém, ao contrário da fome e da sede - que podem ser aplacadas com apenas um pouco dos recursos - ela se acumula no corpo devido à estímulos externos estressores, que desencadeiam a produção de inúmeras substâncias, tais como a adrenalina, que causam alterações corporais, crescentes. Se uma pessoa, não sabe como direcionar sadiamente e sabiamente essa energia - escrevendo, fazendo exercícios, falando, meditando, jogando... – ela se transborda na forma de violência. E, ainda, uma vez iniciada, não tem como parar! Vai até o fim, a pessoa entra em um estado instintivo, e no caso de um adulto estressado com problemas profissionais que decide descarregar em uma criança vulnerável, pode chegar a matá-la.
            Em todos os animais, os filhotes são mais agressivos e intolerantes, o que é compreensível, tendo em vista o seu menor tamanho e maior necessidade de autodefesa. Porém, ao longo do desenvolvimento, os pais repreendem esse comportamento agressivo, o filhote
aprender a lidar com as frustações e passa a ser dominado mais por comportamentos submissos, mais importantes para manutenção da vida em grupo do que os agressivos, que passam a ser direcionados para os inimigos, de outros grupos. Não é diferente com a nossa espécie, na nossa sociedade a família, a igreja e as leis passaram a exercer, em ordem de importância esse papel desenvolvendo no indivíduo consequentemente a ética, moral e cidadania. Obviamente que preciso saber conter meus impulsos, não só agressivos, mas também outros comportamentos envolvidos com as emoções.  A família dá a seus filhos o direcionamento ético, o certo e o errado, atrelado à valores. Na nossa sociedade, casa algo passasse nesse primeiro filtro, era controlado, pela própria sociedade, durante muito tempo sob o domínio religioso. O individuo deve se conter, para não sofrer um julgamento moral, e poder ser, inclusive, rejeitado pela sociedade. E caso, o sujeito não tivesse tido chances de aprender, aí sim, a lei, ou seja, regra da sociedade poderia tirá-lo da sociedade.
            O que está acontecendo na nossa sociedade atual é resultado de um processo consolidado interrompido? Será que não temos mais os coibidores basais e deixamos tudo para lei? A redução da menor idade penal é um tema recorrente em nosso país. E por mais que especialistas fundamentem que o problema não está na idade, mas sim no sistema, basta ser noticiado mais um crime envolvendo um menor, que volta a tona a discussão. A sociedade se indigna pela falta de justiça! Durante tempo se acreditou que apenas o ser humano era capaz de matar por matar – ou seja, não atrelado a fome ou defesa – e que apenas o ser humano era capaz de escravizar e de estuprar. Richard Wrangham e Dale Peterson em seu livro “O macho demoníaco: a origem da agressividade humana” mostram um grupo de chimpanzés que perseguiram por anos macacos rivais e mataram um a um por vingança, aqueles que no passado despertou a sua ira. Também existem inúmeros relatos de formigas que escravizam outras formigas - até mesmo cupins - das quais roubam o formigueiro. E o estupro? É uma estratégia reprodutiva consolidada no mundo animal.
 A agressividade e a violência estão incorporadas na história natural das espécies, pois fazem parte da sobrevivência. Porém nossa sociedade mudou - e extremamente mais rápido que nosso corpo biológico - estamos vivendo um momento extremamente delicado. A menos de 100 anos vivamos em grupos pequenos e há cerca de 10.000 anos nossas aldeias não tinham mais do que 150 pessoas. Hoje nosso grupo tem 7 bilhões de pessoas de todos os tipos, cores, formatos e pensamentos. Temos que aprender a lidar com isso! Biologicamente, parece impossível! Por isso esses “problemas” sociais nos atormentam tanto! Então estamos perdidos? Condenados para um fim eminente? Eu sou otimista e acredito que tem jeito sim, só que com muita educação! Alterando comportamento e paradigmas éticos! Eu não mato porque é ilegal, ou porque meu vizinho irá falar mal de mim. Eu não mato, porque eu não acho certo! Temos que inverter a ordem das coisas, as pessoas precisam aprender a ter uma consciência coletiva a serem cidadãs, no sentido mais amplo dessa palavra. Nosso sistema de prisão, não reeduca, não dá uma alternativa para o indivíduo voltar à sociedade e seguir as regras, das quais não acredita. O concerto disso tudo está na base! A educação transforma, sim! Basta ver tudo que alcançamos quando deixamos de ser bárbaros... a sociedade está melhor, mas pode ficar mais. Temos que compreender que mundo mudou, não dá para satisfazer nossos desejos individuais, sem os mesmos estarem atrelados ao coletivo. A sociedade passa por um novo momento, um momento de reflexão do nosso papel como sujeito, ator e escritor da história do nosso planeta. A herança mais importante que podemos deixar para nossos filhos é o equilíbrio emocional, a sabedoria de como conduzir com dignidade a sua própria vida. As pessoas no corre corre do mundo moderno, tem negligenciado isso e estamos vendo o reflexo. Ir para cadeia com 16 anos, com 10 ou com 2 anos, pena de morte ou prisão perpétua, são apenas termômetros de algo que está errado, não é o problema em si!. Enquanto estiverem preocupados em apagar esses focos, a base do fogo vai se consolidando. A  neurociência mostra, que nosso cérebro amadurece apenas após os 30 anos, então como atribuir a um ser de 16 a total culpabilidade de seus atos?