sexta-feira, 12 de abril de 2013

SEXOS, GÊNEROS, HOMENS E MULHERES: AFINAL, QUAL A DIFERENÇA?



Série Ensaios: Sociobiologia

Por Bruno de Oliveira Maciel e Ivan Bruno Lange

Acadêmicos do curso de Ciências Biológicas


A sexualidade é fruto da evolução, ao passo que algumas espécies insistam no desenvolvimento por ovos não fecundados (partenogênese), aliado ao dimorfismo sexual, mais nítido em certos animais de menor complexidade, incluindo os vermes e insetos. Não fica somente nos detalhes conotados até aqui o pensamento sobre a origem do sexo. Podemos inserir nessa ideia a singamia e a epigamia que são duas teorias cientificas sobre a origem do sexo. Nos mamíferos, a decisão de formar um testículo ou um ovário a partir do primórdio gonadal é o primeiro passo da determinação do sexo. Todas as características sexuais secundárias erguem-se como resultado da presença ou ausência de hormônios produzidos pelo testículo ou ovário, formando assim, uma imensidão de aparentes diferenças entre o macho e a fêmea. Se observarmos na natureza, veremos que a maioria dos machos é mais chamativo do que as fêmeas e, além disso, os mesmos se desdobram para poder conquistar a atenção da mesma. Na vida animal a fêmea dita as regras, e cabe ao macho se esforçar para ser notado. Às vezes ocorrem batalhas que acabam em morte. Intelectualidade e sentimentalidade, eis os dois pontos que geralmente são citados quando o assunto é diferença entre machos e fêmeas, surgiram de um processo evolutivo. Após o surgimento dos sexos, que aos poucos foram se diferenciando de geração em geração, de organismo em organismo, de espécie para espécie até finalmente a espécie humana herdar e até criar novas diferenças entre estes pontos. Em muitos casos, a fêmea precisa ter um corpo adaptado para parir e cuidar da prole, o macho desenvolveu características para proteger a família e obter alimento. Na espécie humana isso não é diferente, em tempos primitivos quando os humanos começavam a habitar o planeta, o homem precisava elaborar estratégias e planos para obter alimento e proteger a família, e por isso o seu raciocínio, concentração e foco sendo muito importantes foram selecionados pela seleção natural, favorecendo estas características no macho, além do físico mais desenvolvido para luta. Já a fêmea - que tem o corpo desenvolvido para o parto e alimentação do bebê - tem um vínculo muito forte com o filho, e precisa ensinar a criança uma série de conhecimentos, portanto o que foi selecionado foi a sentimentalidade, a capacidade de lidar com muitas coisas ao mesmo tempo por ter crianças chorando a todo o momento, a de falar com mais frequência. Um vídeo muito interessante mostrando de maneira humorada estas diferenças entre o homem e a mulher encontra-se aqui.
 Já foram realizadas várias pesquisas abordando as diferenças entre homens e mulheres no requisito inteligência. Embora investigar possíveis diferenças de desempenho intelectual com relação ao sexo do indivíduo tenha sido uma prática acadêmica habitual desde os primórdios da psicometria, os resultados, quase nunca bem entendidos, provocam sérias discussões em diversas esferas sociais. Para alguns estudiosos essa diferença é explicada geneticamente, para outros há diversos fatores envolvidos, principalmente o comportamental. Uma diferença crucial entre os sexos foi estabelecida pela psicologia popular, a qual indica que homens são mais rápidos no raciocínio matemático e espacial, e as mulheres são melhores com as palavras. Essa ideia se baseia em estatísticas, cuja média das mulheres é ligeiramente melhor que a dos homens em raciocínio verbal, inclusive há estudos que mostram que aprender a falar tende a acontecer mais rapidamente com meninas. Já a média masculina é ligeiramente melhor do que a feminina nos testes de habilidade espacial. Lembrando que esta é a média, há exceções! Mas e se, hipoteticamente, os homens tenham de fato uma facilidade para habilidades matemáticas associada a regiões corticais específicas ligeiramente maiores do que das mulheres. E daí? Para começar, isso não informa se essas diferenças são pura decorrência da biologia dos sexos. Mesmo que talentos inatos existam na forma de facilidades de origem genética, sexuais ou não, até onde se sabe, são apenas isto: facilidades. 
A genética certamente pode ajudar ou atrapalhar desde o ponto de partida até o meio de campo, mas habilidades excepcionais são desenvolvidas à medida que o cérebro muda com a experiência. Aprenda a tocar um instrumento de corda e a representação cerebral do seu dedo mindinho esquerdo, do qual você agora exige destreza, aumentará. Outras diferenças menos comentadas são mais robustas, como na estratégia de navegação espacial que eles e elas adotam, de fato relacionadas a diferenças no uso do cérebro. Enquanto os homens tendem a usar coordenadas mais absolutas para se localizarem, como distâncias e pontos cardeais, que envolvem uma parte da formação hipocampal, mulheres tendem a pôr em ação outra parte, responsável pelas relações entre marcos visuais do relevo, como: árvores, acidentes naturais e lojas. Não se trata de um sexo ser melhor ou pior do que o outro em matéria de navegação espacial: são apenas diferentes, com cérebros - e estratégias - diferentes. O mais curioso, no entanto, é que a mais importante, mais significativa e mais extrema diferença cerebral e comportamental entre homens e mulheres se perde na discussão: aquela que faz com que cerca de 90% dos homens prefiram as mulheres e 90% das mulheres prefiram os homens como parceiros. Esta, sim, é de origem genética, totalmente biológica (não, a educação não faz a menor diferença, por mais que políticos, religiosos e grupos antiadoção esperneiem), e influenciável pelo ambiente hormonal somente durante o início da gestação. Esta, sim, tem consequências fundamentais para o destino de cada um, a começar porque determina para qual metade da população ele ou ela voltará os seus interesses. E ainda bem que ela é recíproca, pois assim os 90% de cada lado encontram 90% do sexo oposto que retribuem seu interesse. Com relação ao mecanismo utilizado nesta conformação de atitudes, nos homens se destaca o uso do lado esquerdo é predominante, responsável entre outras funções pelo raciocínio lógico. As mulheres usam tanto a porção esquerda como a direita do cérebro, que corresponde aos mecanismos da emoção. Por isso elas têm uma relação mais emotiva com todas as formas da linguagem. Já as diferenças emocionais entre homens e mulheres, podemos dizer que são bem mais claras, como a polêmica frase popular: “O homem pensa com o corpo e, a mulher com o coração”.
Na atualidade, é fato de que ainda há muitas barreiras impostas pelos povos sobre homens e mulheres, as quais acentuam ainda mais suas diferenças. Porém, a cada dia vemos mais manifestações de grupos que tentam enfrentar e quebrar estas barreiras. Um exemplo que está sendo muito discutido é o movimento “marcha das vadias”, que se trata de uma manifestação feita por mulheres vestindo roupas consideradas provocantes em protesto a crença de que as mulheres que sofrem assédio ou até mesmo estupro são culpadas, devido à suas vestimentas consideradas indecentes. Este movimento teve inicio em 2011 (sob o nome SlutWalk), quando houve vários casos de abuso sexual em mulheres na Universidade de Toronto e um policial chamado Michael Sanguinetti aconselhou de que as mulheres evitassem se vestir como vadias. A partir desta visão que o policial expressou, milhares de mulheres se sentiram ofendidas moralmente, como se elas realmente quisessem ser abusadas, baseando-se pelo modo que se vestem. Desde então o movimento vem ganhando adeptas e conseguindo varias conquistas em diversos países.  Deste modo, devemos considerar que o homem tem seus instintos sexuais provocados quando vê uma mulher vestida de maneira ousada, ou o respeito às mulheres tem que prevalecer acima de tudo? Para responder esta pergunta, ainda faltam estudos com o comportamento do ser humano, para desvendar a mente e os instintos que levam indivíduos a praticar atos de selvageria como o abuso sexual contra mulheres. A humanidade depende do bom relacionamento entre homens e mulheres, pois um não evolui sem o outro, então devemos deixar de lado quaisquer diferença, colocando a frente o afeto e compreensão para o bem estar de todos.


Este ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia II, sendo baseado nas seguintes obras:

ANDRIOLA, W. (2000). Funcionamento diferencial dos itens (DIF): Estudo com analogias para medir o raciocínio verbal. Psicologia: Reflexão e Crítica, 13(3), 475–483.
BLACKWELL, A. (1976). The sexes throughout nature.
CAPEL, B. (2000). The battle of the sexes. Mechanisms of development, 92(1), 89–103.
CHARTIER, R. (1995). Diferenças entre os sexos e dominação simbólica. Cadernos Pagu, (4), 37–47.
EL-HANI, C. (1996). Diferenças entre homens e mulheres: biologia ou cultura. Revista USP, 149–160.
FLORES-MENDOZA, C. (2000). Diferenças intelectuais entre homens e mulheres: uma breve revisão da literatura. Psicólogo Informação, 25–34.
HERCULANO-HOUZEL, S. (2009). Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor. GMT, (1), 197.

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