Série Ensaios: Sociobiologia
Por Bruno de Oliveira Maciel e Ivan Bruno Lange
Acadêmicos do curso de Ciências Biológicas
A sexualidade é fruto da evolução, ao passo
que algumas espécies insistam no desenvolvimento por ovos não fecundados (partenogênese),
aliado ao dimorfismo sexual, mais nítido em certos animais de menor
complexidade, incluindo os vermes e insetos. Não fica somente nos detalhes
conotados até aqui o pensamento sobre a origem do sexo. Podemos inserir nessa
ideia a singamia
e a epigamia
que são duas teorias cientificas sobre a origem do sexo. Nos mamíferos, a decisão
de formar um testículo ou um ovário a partir do primórdio
gonadal é o primeiro passo da determinação do sexo. Todas as
características sexuais secundárias erguem-se como resultado da presença ou
ausência de hormônios produzidos pelo testículo ou ovário, formando assim, uma
imensidão de aparentes diferenças entre o macho e a fêmea. Se observarmos na
natureza, veremos que a maioria dos machos é mais chamativo do que as fêmeas e,
além disso, os mesmos se desdobram para poder conquistar a atenção da
mesma. Na vida animal a fêmea dita as regras, e cabe ao macho se esforçar para
ser notado. Às vezes ocorrem batalhas que acabam em morte. Intelectualidade e
sentimentalidade, eis os dois pontos que geralmente são citados quando o
assunto é diferença entre machos e fêmeas, surgiram de um processo evolutivo. Após
o surgimento dos sexos, que aos poucos foram se diferenciando de geração em
geração, de organismo em organismo, de espécie para espécie até finalmente a
espécie humana herdar e até criar novas diferenças entre estes pontos. Em
muitos casos, a fêmea precisa ter um corpo adaptado para parir e cuidar da
prole, o macho desenvolveu características para proteger a
família e obter alimento. Na espécie humana isso não é diferente, em tempos primitivos
quando os humanos começavam a habitar o planeta, o homem precisava elaborar
estratégias e planos para obter alimento e proteger a família, e por isso o seu
raciocínio, concentração e foco sendo muito importantes foram selecionados pela
seleção natural,
favorecendo estas características no macho, além do físico mais desenvolvido
para luta. Já a fêmea - que tem o corpo desenvolvido para o parto e alimentação
do bebê - tem um vínculo muito forte com o filho, e precisa ensinar a criança
uma série de conhecimentos, portanto o que foi selecionado foi a
sentimentalidade, a capacidade de lidar com muitas coisas ao mesmo tempo por
ter crianças chorando a todo o momento, a de falar com mais frequência. Um
vídeo muito interessante mostrando de maneira humorada estas diferenças entre o
homem e a mulher encontra-se aqui.
Já
foram realizadas várias
pesquisas abordando as diferenças entre homens e mulheres no requisito
inteligência. Embora investigar possíveis diferenças de desempenho intelectual
com relação ao sexo do indivíduo tenha sido uma prática acadêmica habitual desde
os primórdios
da psicometria, os resultados, quase nunca bem entendidos, provocam sérias
discussões em diversas esferas sociais. Para alguns estudiosos essa diferença é
explicada geneticamente,
para outros há diversos fatores envolvidos, principalmente o comportamental. Uma diferença
crucial entre os sexos foi estabelecida pela psicologia
popular, a qual indica que homens são mais rápidos no raciocínio matemático e
espacial, e as mulheres são melhores com as palavras. Essa ideia se baseia
em estatísticas, cuja
média das mulheres é ligeiramente melhor que a dos homens em raciocínio verbal, inclusive
há estudos que mostram que aprender a falar tende a acontecer mais rapidamente
com meninas. Já a média masculina é ligeiramente melhor do que a feminina nos
testes de habilidade espacial. Lembrando que esta é a média, há exceções! Mas e
se, hipoteticamente, os homens tenham de fato uma facilidade para habilidades
matemáticas associada a regiões corticais específicas ligeiramente maiores do
que das mulheres. E daí? Para começar, isso não informa se essas diferenças são
pura decorrência da biologia dos sexos. Mesmo que talentos inatos existam na
forma de facilidades de origem genética, sexuais ou não, até onde se sabe, são
apenas isto: facilidades.
A genética
certamente pode ajudar ou atrapalhar desde o ponto de partida até o meio de
campo, mas habilidades excepcionais são desenvolvidas à medida que o cérebro
muda com a experiência. Aprenda a tocar um instrumento de corda e a
representação cerebral do seu dedo mindinho esquerdo, do qual você agora exige
destreza, aumentará. Outras diferenças menos comentadas são mais robustas, como
na estratégia de navegação espacial que eles e elas adotam, de fato
relacionadas a diferenças no uso do cérebro. Enquanto os homens tendem a usar coordenadas
mais absolutas para se localizarem, como distâncias e pontos cardeais, que
envolvem uma parte da formação hipocampal, mulheres tendem a pôr em ação outra
parte, responsável pelas relações entre marcos visuais do relevo, como: árvores, acidentes
naturais e lojas. Não se trata de um sexo ser melhor ou pior do que o outro em
matéria de navegação espacial: são apenas diferentes, com cérebros - e
estratégias - diferentes. O mais curioso, no entanto, é que a mais importante,
mais significativa e mais extrema diferença cerebral e comportamental entre
homens e mulheres se perde na discussão: aquela que faz com que cerca de 90%
dos homens prefiram as mulheres e 90% das mulheres prefiram os homens como
parceiros. Esta, sim, é de origem genética, totalmente biológica (não, a educação
não faz a menor diferença, por mais que políticos, religiosos e grupos
antiadoção esperneiem), e influenciável pelo ambiente hormonal somente durante
o início da gestação. Esta, sim, tem consequências fundamentais para o destino
de cada um, a começar porque determina para qual metade da população ele ou ela
voltará os seus interesses. E ainda bem que ela é recíproca, pois assim os 90%
de cada lado encontram 90% do sexo oposto que retribuem seu interesse. Com
relação ao mecanismo utilizado nesta conformação de atitudes, nos homens se
destaca o uso do lado esquerdo é predominante, responsável entre outras funções
pelo raciocínio lógico. As mulheres usam tanto a porção esquerda como a direita
do cérebro, que corresponde aos mecanismos da emoção. Por isso elas têm uma
relação mais emotiva com todas as formas da linguagem. Já as diferenças
emocionais entre homens e mulheres, podemos dizer que são bem mais claras, como
a polêmica frase popular: “O
homem pensa com o corpo e, a mulher com o coração”.
Na atualidade, é fato de que ainda há muitas
barreiras impostas pelos povos sobre homens e mulheres, as quais acentuam ainda
mais suas diferenças. Porém, a cada dia vemos mais manifestações de grupos que
tentam enfrentar e quebrar estas barreiras. Um exemplo que está sendo muito
discutido é o movimento “marcha
das vadias”, que se trata de uma manifestação feita por mulheres vestindo
roupas consideradas provocantes em protesto a crença de que as mulheres que
sofrem assédio ou até mesmo estupro são culpadas, devido à suas vestimentas
consideradas indecentes. Este movimento teve inicio em 2011 (sob o nome SlutWalk), quando houve
vários casos de abuso sexual em mulheres na Universidade de Toronto e um
policial chamado Michael Sanguinetti aconselhou de que as mulheres evitassem se
vestir como vadias. A partir desta visão que o policial expressou, milhares de
mulheres se sentiram ofendidas moralmente, como se elas realmente quisessem ser
abusadas, baseando-se pelo modo que se vestem. Desde então o movimento vem
ganhando adeptas e conseguindo varias conquistas em diversos países. Deste modo, devemos considerar que o homem tem
seus instintos sexuais provocados quando vê uma mulher vestida de maneira
ousada, ou o respeito às mulheres tem que prevalecer acima de tudo? Para
responder esta pergunta, ainda faltam estudos com o comportamento do ser
humano, para desvendar a mente e os instintos que levam indivíduos a praticar
atos de selvageria como o abuso sexual contra mulheres. A humanidade depende do
bom relacionamento entre homens e mulheres, pois um não evolui sem o outro,
então devemos deixar de lado quaisquer diferença, colocando a frente o afeto e
compreensão para o bem estar de todos.
Este
ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia II, sendo baseado nas
seguintes obras:
ANDRIOLA,
W. (2000). Funcionamento diferencial dos itens (DIF): Estudo com analogias para
medir o raciocínio verbal. Psicologia: Reflexão e Crítica, 13(3),
475–483.
BLACKWELL, A. (1976).
The sexes throughout nature.
CAPEL, B. (2000). The
battle of the sexes. Mechanisms of development, 92(1), 89–103.
CHARTIER,
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EL-HANI,
C. (1996). Diferenças entre homens e mulheres: biologia ou cultura. Revista
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FLORES-MENDOZA,
C. (2000). Diferenças intelectuais entre homens e mulheres: uma breve revisão
da literatura. Psicólogo Informação, 25–34.
HERCULANO-HOUZEL,
S. (2009). Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor. GMT, (1), 197.
Texto digno!
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