Papo de Aranha: O que elas estão tentando nos falar?



Essa semana elas entraram em cena novamente, despertando atenção e o interesse da mídia em levar sua mensagem para o maior número possível de pessoas. Depois da “Chuva de Aranhas” a “Árvore de Aranhas”. Uma colônia de Anelosimus eximus se instalou em uma árvore no centro da cidade, provavelmente chegando por balonismo e sem a possibilidade de fixar seus fios de teia no solo – devido ao intenso fluxo de pessoas no local – elas permaneceram na parte superior da árvore.    
Há quanto tempo elas estão aí e a sua rotina já fazem parte da criativa imaginação das pessoas que com elas convivem e que em breve trarão mais uma atração natural para Curitiba. Aliás, Curitiba já se destaca mundialmente pela elevada quantidade de aranha-marrom, o que resulta em milhares de acidentes todos os anos. Minha carreira profissional foi toda baseada nessas espécies e entender os motivos que levavam Curitiba assumir esse diferencial. Depois de mais de 20 anos estudando exaustivamente a conclusão é que ocorreu uma sinergia de fatores ambientais, culturais e da espécie que contribuíram para esse cenário. O interessante é que se no início a aranha-marrom chegou a causar pânico, atualmente me parece que a população convive bem com esses animais, sendo as mesmas incorporadas no perfil do curitibano, gerando até piadinhas – críveis para muitos internautas – como da aranha-marrom gigante encontrada no Parque Baragui!
Voltando para as aranhas sociais, elas são encantadoras... Aliás eu sou totalmente apaixonada pela vida em todas as suas nuances, mas os invertebrados sempre me surpreendem, e muito mais as aranhas. A estratégia de vida em grupo é rara para aranhas, as quais são na sua essência predadores. Mas no caso de algumas espécies, a construção de teias comunitárias aumentam as chances de capturar insetos maiores e em maiores quantidades. Existem inúmeros grupos de pesquisadores trabalhando com essas aranhas no Brasil e os resultados são deveras interessantes. Além intrigadas das estratégias de sobrevivência e reprodutivas moldadas a milhões de anos pela Evolução, temos as estratégias de sobrevivência locais, nas quais os animais buscam resolver questões emergentes. 
Ano retrasado foi amplamente veiculado na mídia as árvores do Paquistão totalmente recobertas por teias depois de uma intensa enchente que inviabilizou a fixação das teias no solo. A construção de grandes teias em árvores é um fenômeno comum para espécies do gênero Anelosimus nas florestas, mas raro nas áreas mais antrópicas, porém com vários registros como na Amazônia e Roraima. Para nossa região, principalmente o município de Curitiba – que não tem área rural – esse é um fenômeno mais raro ainda. Até entendemos que as aranhas podem facilmente se dispersar pelo ar ao liberarem um fino fio de seda que é carregado pelo vento. Mas o porquê aquela árvore no centro da Cidade, não sabemos. Porque essas aranhas de mata fechada estão se aproximando dos centros urbanos, também é uma questão a se refletir, e já faço o link com a Bioética Ambiental, que tem levado o ser humano a repensar as suas relações com a natureza, as consequências que geram vulnerabilidade em ambas as partes e o que a natureza está querendo nos dizer. Estreitar a comunicação entre os seres vivos passou a ser uma missão mais preciosa e necessária a cada dia. Enquanto não se tem essas respostas cabe-nos sim a admirar a natureza, a apreciar a árvore da aranha, não com medo, mas com humildade de nos inserirmos no contexto natural e encontrarmos na paradoxal complexa simplicidade da efêmera eternidade de cada ser vivo, bem como o nosso lugar nesse contexto - não como centro controlador, mas como coparticipante da magnífica história natural no nosso planeta escrita dia a dia com a contribuição de cada ser que teve o privilégio de SER VIVO