Série
Ensaios: Sociobiologia
Por
Mayara Regina Seer & Tatiane da Paixão Bornatto
Acadêmicas
do curso de Bacharelado em Biologia
O
ser humano é simultaneamente um ser sociável e um ser socializado, sendo assim,
entendemos que ele é, ao mesmo tempo, um sujeito que aspira se comunicar com os
seus pares e, também, membro de uma sociedade
que o forma e o controla, quer ele queira ou não (ALEXANDRE,
2000). O homem, enquanto ser social encontra-se circundado e inserido nos mais
diversos tipos de grupos (familiar, trabalho, lazer, educacional ou religioso)
nos quais participa, contribui e procura reconhecimento enquanto pessoa (MAMEDE,
2006). Em formações de grupos os membros podem compartilhar dos mais diversos comportamentos,
e podem expressar os seus sentimentos, viver a sua afetividade, aprender,
influenciar e ser influenciado.
A homossexualidade
parece um comportamento da atualidade e é considerado um tema moderno, porém, o
termo homossexual surgiu no ano de 1869, pelo escritor e jornalista austro húngaro
Karl Maria Kertbeny,
com o intuito de substituir o termo sodomita (SILVA,
2005). Durante a Idade Média, a relação entre pessoas do mesmo
sexo, era caracterizada como sodomia
em referência a cidade bíblica
de Sodoma, que foi destruída por Deus, devido à
prática de pederastia de seus habitantes. A medicina e a
psicanálise durante muito tempo consideraram a homossexualidade como doença, tanto que era tratada por
“homossexualismo” em que o sufixo “ismo” conferia a ideia de doença, sendo,
dessa forma, tratado como tal. Em 1975, foi inserido na Classificação
Internacional das Doenças – CID, como sendo um transtorno sexual. Em 1985, a
Organização Mundial de Saúde – OMS publicou uma circular, informando que o
“homossexualismo” deixava de ser uma doença, passando a ser considerado um
desajustamento comportamental. Mas, foi em 1995, que o “homossexualismo” deixou
de ser considerado um distúrbio psicossocial e consequentemente deixou de
constar no CID, sendo substituído o sufixo “ismo” pelo sufixo “dade”, que
passou a significar “modo de ser” (MADRID, 2009).
A ciência procura há décadas
as origens e possíveis fatores que determinem o comportamento homossexual,
alguns cientistas apontam a epigenética como uma das respostas para tal
processo. Porém, do ponto de vista evolutivo, a homossexualidade é uma
característica que não seria esperada para se desenvolver e persistir diante da
teoria de seleção
natural de Darwin. A
tendência atual prevalecente é pensar a homossexualidade como uma das
manifestações possíveis da sexualidade, sem valorá-la para mais ou para menos. Até
pouco tempo atrás se acreditava que a criança nascia como um livro em branco e
as páginas eram preenchidos conforme crescia, modelando assim sua
personalidade. Porém sabemos que os bebês recém-nascidos têm temperamentos
diferentes e isso se deve a condições ambientais intra-uterinas diferenciais
que cada criança passa. Mas, a maior preocupação de uns anos pra cá é com
relação à transexualidade infantil, e alguns anos trás veiculou
na internet um documentário chamado “Meu eu secreto”, que mostra crianças que com cerca
de dois anos decidem se são meninos e meninas e pais orientados por
profissionais permitem que seus meninos se vistam e se comportem como meninas e
administram hormônios sexuais para que não exibam os caracteres sexuais
secundários na puberdade ara que possa na adolescência fazer uma cirurgia para
mudança de sexo. O diagnóstico é de “transtorno de identidade de gênero” e
segundo os especialistas uma criança começa a ter consciência de ser menino ou
menina logo após o primeiro ano de vida e por volta dos 4 anos já tem a
identidade sexual estável, apenas são sabem expressar isso verbalmente (FISCHER, 2009).
Um caso real, brasileiro e muito polêmico
abordando a questão da homossexualidade ser derivada da genética ou não, é o manifesto
da Sociedade Brasileira de Genética (SBG) apoiando o Pr. Silas Malafaia,
que por sua vez defende a premissa de que a ciência ainda não possui dados
suficientes para comprovar que a homossexualidade é definida pela genética do
indivíduo, o Pastor diz: “Fortes evidências na ciência não indicam a verdade
científica. O instrumento da verdade científica é o experimento, a observação.
Forte indício pode ser derrubado pela verdade comprovada. A verdade não
comprovada pela ciência chama-se teoria”. Enquanto, que a SBG diz que: “o comportamento
humano é resultado de uma interação complexa entre genes e ambiente, em que
nenhum dos dois tem efeito determinante por si só”. Outra polêmica envolvida com o Pr. Silas aconteceu
em um programa de televisão em que o pastor diz que ninguém nasce homossexual, e
que 46% dos homossexuais foram violentados quando crianças ou adolescentes e
54% escolheram ser homossexuais, ou seja, homossexualidade é comportamento,
antes de poder terminar seu pensamento a apresentadora do programa faz um
pergunta para o pastor: “Já que a homossexualidade não vem da genética, porque
então os animais têm relações com outros do mesmo sexo, afinal de contas eles
não foram violentados fisicamente?”, mas a apresentadora não obteve resposta.
Porém, ela também relata que “ama os homossexuais”, mas discorda 100% das práticas
do homossexuais. As causas para tais comportamentos homossexuais tanto em humanos
como em animais são variadas e não são totalmente compreendidas.
Uma pesquisa
de 1999, feita pelo pesquisador Bruce Bagemihl, mostra como e
sse comportamento
sexual é comum, até mesmo no reino animal, o estudo mostra que o comportamento
homossexual já foi observado em cerca de 1.500
espécies animais, variando de primatas a vermes intestinais, e é bem
documentado em 500 delas. Uma revisão feita em 2009 das pesquisas já existentes
mostrou que o comportamento homossexual é um fenômeno quase universal, comum em
várias espécies, além da espécie humana, e foi relatado que esse tipo de
comportamento sexual é mais registrado em espécies que possuem convívio social.
A observação do comportamento homossexual em animais pode ser vista como um
argumento a favor e contra a aceitação da homossexualidade em humanos. Uma
matéria da revista Super Interessante intitulada “Atração
entre iguais” relata muitos
pontos de vista explicando as prováveis causas do comportamento homossexual
entre animais, dentre elas aperfeiçoar a criação de filhotes, suprir a falta de
fêmeas ou machos dentro da população, e até mesmo um afeto maior entre
indivíduos do mesmo sexo quer na maioria das vezes não é erótico, mas para
manter a coesão social dentro do grupo. É relatado também que as uniões homossexuais
dentre os animais pode ser até mais duradoura do que a dos pares
heterossexuais.
Nós, como formandas do curso de biologia,
temos que levar em consideração que pesquisas genéticas são mais difíceis de
serem realizadas com seres humanos porque não há como analisar comportamentos
de pessoas sem levar em conta o ambiente em que vivem ou foram criados. Além
disso, o fato de que pessoas com comportamento homossexual não procriarem
dificulta a definição de um padrão de transmissão genética entre gerações.
Poderia ser considerado o fato de a homossexualidade obedecer a um padrão de
herança multifatorial, onde vários genes interagem com o ambiente para
determinar uma característica, o que nos remeteria a epigenética. Sendo assim,
concluímos que pode haver sim uma influência genética para a homossexualidade,
ainda que não exista uma comprovação científica publicada.
O presente ensaio foi elaborado para a disciplina de
Etologia e baseado nas seguintes obras:
ALEXANDRE, Marcos. Breve descrição sobre processos grupais. Revista Comum, Rio de
Janeiro - v.7 - nº 19 - p. 209 a 219 - ago./dez. 2000.
FISCHER, Marta. Crianças Transexuais... 2009.
Disponível em: http://etologia-no-dia-a-dia.blogspot.com.br/2009/05/criancas-transessuais.html
MADRID, Daniela Martins e MOREIRA FILHO,
Francisco Carlos. A Homossexualidade e a
sua História. 2009. Disponível em:
http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/1645/1568
MAMEDE, Willer. Conhecendo e desvendando grupos. 2006. Disponível em:
http://www.rh.com.br/Portal/Grupo_Equipe/Artigo/4129/conhecendo-e-desvendando-grupos.html
SILVA, Marcos Aurélio. Este corpo não te pertence! Algumas reflexões sobre saúde e doença na
modernidade – O caso do “Homossexualismo”, 2005, pág. 1-28.
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