sábado, 20 de abril de 2013

Papo de Aranha: O que elas estão tentando nos falar?



Essa semana elas entraram em cena novamente, despertando atenção e o interesse da mídia em levar sua mensagem para o maior número possível de pessoas. Depois da “Chuva de Aranhas” a “Árvore de Aranhas”. Uma colônia de Anelosimus eximus se instalou em uma árvore no centro da cidade, provavelmente chegando por balonismo e sem a possibilidade de fixar seus fios de teia no solo – devido ao intenso fluxo de pessoas no local – elas permaneceram na parte superior da árvore.    
Há quanto tempo elas estão aí e a sua rotina já fazem parte da criativa imaginação das pessoas que com elas convivem e que em breve trarão mais uma atração natural para Curitiba. Aliás, Curitiba já se destaca mundialmente pela elevada quantidade de aranha-marrom, o que resulta em milhares de acidentes todos os anos. Minha carreira profissional foi toda baseada nessas espécies e entender os motivos que levavam Curitiba assumir esse diferencial. Depois de mais de 20 anos estudando exaustivamente a conclusão é que ocorreu uma sinergia de fatores ambientais, culturais e da espécie que contribuíram para esse cenário. O interessante é que se no início a aranha-marrom chegou a causar pânico, atualmente me parece que a população convive bem com esses animais, sendo as mesmas incorporadas no perfil do curitibano, gerando até piadinhas – críveis para muitos internautas – como da aranha-marrom gigante encontrada no Parque Baragui!
Voltando para as aranhas sociais, elas são encantadoras... Aliás eu sou totalmente apaixonada pela vida em todas as suas nuances, mas os invertebrados sempre me surpreendem, e muito mais as aranhas. A estratégia de vida em grupo é rara para aranhas, as quais são na sua essência predadores. Mas no caso de algumas espécies, a construção de teias comunitárias aumentam as chances de capturar insetos maiores e em maiores quantidades. Existem inúmeros grupos de pesquisadores trabalhando com essas aranhas no Brasil e os resultados são deveras interessantes. Além intrigadas das estratégias de sobrevivência e reprodutivas moldadas a milhões de anos pela Evolução, temos as estratégias de sobrevivência locais, nas quais os animais buscam resolver questões emergentes. 
Ano retrasado foi amplamente veiculado na mídia as árvores do Paquistão totalmente recobertas por teias depois de uma intensa enchente que inviabilizou a fixação das teias no solo. A construção de grandes teias em árvores é um fenômeno comum para espécies do gênero Anelosimus nas florestas, mas raro nas áreas mais antrópicas, porém com vários registros como na Amazônia e Roraima. Para nossa região, principalmente o município de Curitiba – que não tem área rural – esse é um fenômeno mais raro ainda. Até entendemos que as aranhas podem facilmente se dispersar pelo ar ao liberarem um fino fio de seda que é carregado pelo vento. Mas o porquê aquela árvore no centro da Cidade, não sabemos. Porque essas aranhas de mata fechada estão se aproximando dos centros urbanos, também é uma questão a se refletir, e já faço o link com a Bioética Ambiental, que tem levado o ser humano a repensar as suas relações com a natureza, as consequências que geram vulnerabilidade em ambas as partes e o que a natureza está querendo nos dizer. Estreitar a comunicação entre os seres vivos passou a ser uma missão mais preciosa e necessária a cada dia. Enquanto não se tem essas respostas cabe-nos sim a admirar a natureza, a apreciar a árvore da aranha, não com medo, mas com humildade de nos inserirmos no contexto natural e encontrarmos na paradoxal complexa simplicidade da efêmera eternidade de cada ser vivo, bem como o nosso lugar nesse contexto - não como centro controlador, mas como coparticipante da magnífica história natural no nosso planeta escrita dia a dia com a contribuição de cada ser que teve o privilégio de SER VIVO

A evolução da moralidade humana



Série Ensaios: Sociobiologia

Eli Carlons de Nardin e Jerônimo S. Eltz
Acadêmicos em Biologia

Nossas ações individuais estão sendo avaliadas o tempo todo pela sociedade, e para comprovar isto basta gastar meia hora em frente a um telejornal e perceber que já estamos julgando imediatamente as noticias que vemos.  Todos nos posicionamos ao
nos deparar com notícias atuais como a nomeação do novo presidente da comissão de direitos humanos da câmara ou sobre a médica suspeita de praticar eutanásia em pacientes do hospital evangélico. Ter o seu nome atrelado a casos polêmicos faz com que a pessoa seja descriminada pela sociedade, muito antes mesmo de ser julgada pela justiça. Para algumas pessoas pode parecer assustador e incompreensível a tentativa de analisar casos bizarros como estes, mas se refletirmos como emergiu a sociedade humana podemos perceber que embora estejamos inseridos em um macro grupo de escala global, a verdade é que prezamos e defendemos os pequenos grupos aos quais pertencemos no dia a dia.
Muitas vezes a história evolutiva de alguns animais acabou por tomar o caminho da vida social, isto pode ter ocorrido sob diferentes perspectivas e situações, mas que acabaram por culminar em um mesmo destino: a vida em grupo.  Sob o olhar individual, a vida em grupo apresenta diferentes desafios, pois ao passo que o animal deve otimizar o próprio sucesso em espalhar a sua genética, ele deve também trabalhar para manter o grupo unido e coeso. O conflito para os animais sociais se da através de uma dinâmica simples de se compreender, porém difícil de executar; como manter a posição hierárquica no grupo e ainda assim manter o grupo coeso? Nesta pergunta se resume o conflito de todas as sociedades animais.
            Para algumas pessoas ainda pode parecer engraçado e duvidoso quando escutam afirmações dizendo que
a origem de muitos comportamentos pode ser genética. A essas pessoas é preciso salientar que há algum tempo já se sabe que a evolução age sobre o comportamento, e que a evolução só pode agir sobre caracteres que são herdáveis e, portanto, transmitidos através de gerações pelos genes. Este raciocínio foi exposto de maneira muito simples, mas pode ser mais bem compreendido em diferentes literaturas sobre comportamento animal  e evolução. O fenótipo de qualquer organismo é moldado pela sua genética e pelo ambiente externo. Se organismos diferentes apresentam genótipos diferentes, essas diferenças se refletem no fenótipo e consequentemente no comportamento do animal. Diversos estudos relatam esta interação entre genes e comportamento como, por exemplo, o estudo de Bentley e Hoy (1972) sobre o comportamento reprodutivo de grilos (Teleogryllus).
Como podemos relacionar o comportamento animal com a moral? Para os filósofos as ações morais só se manifestam através da razão! Que me desculpem os filósofos, mas o mundo já viveu milhares de verões sob as ideias de grandes pensadores e mesmo assim apresentamos regras morais duvidosas. Para alguns teólogos o fundamento das regras morais esta e Deus! Que me perdoem estes teólogos, mas a sociedade já viveu tempo suficiente sob a doutrina de deus e ainda assim temos regras morais duvidosas. Então como explicar a moral? Para alguns biólogos a moral teve a sua evolução junto á sociedade humana e, portanto, atravessou os mesmos caminhos pelos quais o comportamento social muitas vezes se deparou: o conflito. Se o comportamento animal tem base genética e a moral evoluiu junto com a sociedade humana, os conflitos morais têm sido moldados pelos mesmos mecanismos que moldaram a sociedade humana, a evolução. Neste ponto vale frisar que a evolução não há de favorecer o ser altruísta que faz tudo pelos outros, mas sim o ser que otimiza a própria sobrevivência e é capaz de gerar mais descendentes. Independente da estratégia que o organismo adotar, ele sempre deve trabalhar para espalhar a sua genética o máximo possível para as gerações futuras.
A reprodução individual por si só não garante que uma genética se propague pela população como um todo. Para que a genética tenha representatividade nas gerações futuras, é interessante para os pais otimizar a reprodução dos seus filhotes, tanto quanto a sua. Este fator, associado ao cuidado parental extensivo característico na espécie humana, ajudou na evolução das regras morais da sociedade. O fato de algum ato ser considerado imoral não é fruto do acaso, mas sim da evolução de um sistema moral que condena atos que possam prejudicar a reprodução de cada indivíduo. Atos como pedofilia, estupro e necrofilia são repudiados pela sociedade, uma vez que são vistos como agentes prejudiciais o ato reprodutivo do indivíduo assim como o comportamento reprodutivo do grupo como um todo.
            Agora podemos entender que as regras e as falhas morais são parte de um processo natural de evolução. Mas até que ponto a sociedade é capaz de absorver estas falhas morais? Até onde o nosso gene egoísta’ pode ser aceito pela sociedade? O poder modelador que a sociedade exerce sobre comportamentos egoístas é fundamental para a manutenção do convívio social do bicho homem. Sem o poder da exclusão social, comportamentos imorais se espalhariam pela sociedade através da seleção natural, pois não há outro meio de se controlar o comportamento egoísta. Nós como formandos em Ciências Biológicas, acreditamos que a descriminação social de atos egoístas e a valorização de ações altruístas, devem exercer um papel fundamental na modelação da sociedade, e que sem estas ferramentas a sociedade estará fadada de vez ao fracasso.

O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia tendo como base as obras:
·         Bentley, D. e Hoy, R. (1972) Genetic control of the neuronal network generating cricket (Teleogryllus) song patterns. Animal Behaviour 20ª ed, 478 -492.
·         Dawkins, M. – Compreender o Comportamento Animal (1994, 1ªed) Lisboa: Fim de século Edições
·         Alcock, J. – Comportamento Animal: um abordagem evolutiva. (2011, 9ªed). Porto alegre: Artmed.
·         Krebs,J.R., & Davies,N.B. (1993). Introdução à ecologia comportamental. (3a ed.). São Paulo: Atheneu.

           

quinta-feira, 18 de abril de 2013

O COMPORTAMENTO SOCIAL E A INFIDELIDADE: A RAZÃO BIOLÓGICA



Série Ensaios: Sociobiologia

Por Eliseu Gabriel Pacheco e Guilherme Sakuno Fujii

Acadêmicos do curso de Biologia

A formação de um grupo social afeta peculiarmente o modo de ser e de agir de cada um dos membros que o compõe. Grande parte dos animais, ao longo de sua evolução, foi se moldando à natureza da socialização. Esta necessidade comportamental facilitou a sobrevivência das populações, estreitou a ligação entre indivíduos de mesma espécie, e ainda, promoveu que os indivíduos se conhecessem e se interdependessem. A formação de um casal ou a busca por um parceiro sexual na natureza também é algo essencial, para socializar-se e para a reprodução, tanto que na natureza ocorrem estratégias reprodutivas que denominamos de monogamia. A opção por se ter apenas um único parceiro sexual é uma socialização para fins biológicos e uma estratégia para que as espécies tenham sucesso. Apesar disso, na natureza o acasalamento monogâmico entre mamíferos é raro. Motivados pela sobrevivência, a construção de “famílias” a monogamia permite a estes animais educarem seus filhotes para que saibam sobreviver sozinhos. Apesar disto, já se sabe que alguns animais, como os papagaios, são capazes de viver em monogamia, seguindo até mesmo o preceito do “até que a morte os separe”. Observou-se também que outros, como alguns mamíferos, os chimpanzés, desenvolvem amizades duradouras que, algumas vezes, ultrapassam até mesmo as fronteiras do além, se transformando em luto. Não podemos dizer concretamente que não exista na natureza a possibilidade de ocorrer o oposto, pois, onde eles existirem existirá, também, a possibilidade de traição.
            Este tema motivou o trabalho de um ecólogo evolucionista chamado Carlos Botero, da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos. Ele e sua equipe revisaram mais de 200 anos de estudos sobre o comportamento sexual dos pássaros. “Observações mostraram que a monogamia é prática comum de 80% a 90% dessas espécies. Por essa razão, no início, os biólogos apostavam na fidelidade das aves. Tudo isso mudou quando as pesquisas genéticas se tornaram possíveis. Depois disso, revelou-se que, em alguns casos, até 100% dos filhos criados pelo pai social não eram seus”, conta Botero. O ecologista se perguntou, então, se o aquecimento global não estaria influenciando a lealdade conjugal das aves. É verdade. Em tempos de incerteza, os pássaros são menos fiéis. “Quanto mais imprevisível o clima, maiores serão as taxas de divórcio e traição. Isso acontece porque, em tempos de mudanças, quanto maior for a variedade genética da prole, mais chances haverá de ao menos um entre eles sobreviver”. Parece então que esta é a lógica: quando o sol está raiando e as frutas são macias, pode parecer uma grande vantagem escolher como pai de seus filhos um pássaro de bico macio e plumagem verde gritante. Contudo, quando o clima começa a esfriar, as folhas despencam das árvores e as sementes se tornam duras, o parceiro ideal pode ser uma ave marrom de bico longo e duro. Quando então o pássaro não sabe que condições climáticas estão por vir na próxima temporada, a vantagem é cruzar com os dois, para se garantir o sucesso reprodutivo.
            E na espécie humana? O comportamento da infidelidade seria biológico? Nossa experiência
até poderia nos dizer. Conhecemos traição entre sócios de negócios, traição por palavra quebrada, mas a que pode ser a mais relevante, a traição nas relações afetivas. Estudos revelam que a afetividade é importante no funcionamento psicológico humano. No que se refere a reprodução humana, na antiguidade a busca pelo maior número de parceiras sexuais seria inerente à biologia masculina; afinal quanto mais parceiras maiores as chances de transmitir os próprios genes. Isso parece aceitável quando pensamos num homem dominado pelos instintos básicos de sobrevivência, um homem atrelado aos impulsos biológicos cujo único propósito é perpetuar a própria carga genética. Poderíamos nós biólogos evolucionistas dizer que num este comportamento faria todo o sentido. O homem estando situado em um ambiente hostil e de luta contra a nossa fragilidade humana, deixar o maior número de descendentes num curto espaço de tempo era vantajoso. Apesar disto, o tempo passou e o homem entrou num processo de desenvolvimento de relações afetivas.    As relações afetivas se desenvolveram tanto que existem diversas formas pela qual ela se expressa, uma delas, o ciúme. Sabemos nós que o ciúme excessivo as vezes se torna o responsável pelo final de um relacionamento. O mais curioso é saber que este sentimento é uma ferramenta evolutiva. Ele serve justamente como um sensor de perigo, sua função é preservar o relacionamento. Conclusão: se o ciúme, em doses homeopáticas, serve pra mostrar o seu amor e defendê-lo, em exagero ele pode ter – e quase sempre tem – a função inversa: afasta a pessoa amada. Todos devem conhecer o caso conhecido como "Yoki" onde o empresário Marcos Matsunaga, executivo da Yoki, uma gigante no setor de alimentos foi assassinado por Elise Matsunaga, sua esposa, com quem era casado há algum tempo. Elize, que conheceu o marido quando trabalhava como garota de programa, alegou ciúme como motivo do crime, pois tinha descoberto que o marido a estava traindo com outra prostituta.  O ato de Elise Matsunaga só pode nos dizer que a relação era baseada na posse. Estudos sobre o psicológicos propõem que existem dois tipos de ciúme: o normal e o patológico. O ciúme patológico é definido em uma perturbação emocional e instabilidade afetiva, amando e odiando ao mesmo tempo.  Nesse caso, Elise pode ter se frustrado o bastante, a termos de estar o amando e o odiando ao mesmo tempo, tanto que não aceitou isso e acabou assassinando o marido. Junto a isso é importante destacarmos as diferenças entre o ciúme masculino e o ciúme feminino. Segundo BUSS (2000), estudos mostram que homens e mulheres são igualmente ciumentos, ou seja, ambos são atormentados pelas situações cotidianas, quanto em expressões clínicas mais ostensivas. Há diferenças entre homens e mulheres nas suas atitudes quanto ao envolvimento emocional no sexo. A maioria das mulheres deseja algum tipo de envolvimento emocional, compromisso, amor, homens maduros, com status financeiro. Os homens têm desejos de variedade sexual, priorizando beleza física (corpo atraente) e juventude. Então, para as mulheres, seria mais perturbadora a infidelidade emocional, enquanto os homens ficam mais aflitos pela infidelidade sexual de suas parceiras.
            Nós, formandos de biologia cremos que, infidelidade seja algo muito desconcertante para nossa natureza humana. Somos fiéis a algo quando cremos que nossos desejos particulares não têm a mesma grandiosidade dos valores morais, por exemplo, o casamento. Quando depositamos nossa confiança a alguém ou a algo valioso e grandioso, estamos colocando tudo o que aprendemos na vida ou tudo o que conhecemos sobre aquela pessoa à prova. Mas isso é humano. Na natureza, os animais também traem ou são infiéis, mas é algo biológico. Como já citamos o caso das aves. A traição tem a finalidade de promover a continuidade da espécie, para ter a certeza de que a parte da ninhada de filhotes irá sobreviver às condições ambientais climáticas e para obter alimento. O homem primitivo fertilizava várias mulheres, pois sabia que, quanto mais descendentes deixasse, maiores as chances de dar continuidade aos seus genes e a espécie, já que naquele tempo, a espécie humana era “frágil” quando comparada as condições climáticas extremas a presença de predadores.

O presente ensaio foi elaborado para a disciplina de Etologia e baseado nas seguintes fontes: