Quanto vale um segundo de vida pra você? Quem vive e quem
morre? Quem pode decidir? Nas últimas semanas por todos os locais e canais de
comunicação nos deparamos com a discussão sobre as investigações a respeito da
denúncia de uma médica
que abreviava a vida de seus pacientes de UTI. Inicialmente não consegui
alcançar o que de fato estava acontecendo, pois há muito se sabe que essa
atitude é defendida e
praticada por muitos médicos, algumas vezes legalmente (como
em alguns países europeus) e outras nem tanto. Uma das definições para esse
ato é a Eutanásia,
que significa "morte boa"
ou "morte feliz" – ou
seja, a morte para benefício do paciente. Mas, existem outros termos médicos
como a ortotanásia
- decisão sobre limitar o suporte de vida em uma UTI regulamentada no Código de
Ética Médica e está prevista na resolução
1805/2006 do CFM (Conselho Federal de Medicina) - e a distanásia - quando não
se colocam limites no suporte á vida, ou seja, devem ser utilizadas todas as
possibilidades para prolongar a vida de um ser humano, ainda que a cura não
seja uma possibilidade e o sofrimento seja demasiadamente penoso. Existe, ainda,
o "suicídio assistido",
em que o próprio doente provoca a sua morte, ainda que disponha da ajuda de
terceiros.
A antecipação da morte, como forma de abreviar sofrimento
humano, não vem de hoje, sendo discutida por civilizações antigas, como os
romanos, os gregos e indianos. Atualmente,
o tema tem sido objeto de controvérsias e os paradigmas éticos, moral e legal
ainda estão em construção. Antes de qualquer posicionamento, deve-se levar em consideração
o paradoxo em que o homem se
colocou, pois à medida que desenvolve uma tecnologia que prolonga a vida - através
de aparelhos que assumem o papel integral de diferentes órgãos – trazendo um
fio de esperança para o universo que representa uma vida, ou alguns dias, meses
e anos a mais que esse indivíduo pode desfrutar desse bem mais precioso que
ganhamos da natureza - ao mesmo tempo
esses mesmos aparelhos são capazes de manter vivos por anos, corpos, já não
hábeis de manifestarem as condutas necessárias para uma vida com bem-estar –
gerando, assim, transtornos de intermináveis de anos de sobrevida em hospitais,
à custa do bem-estar tanto do paciente quanto de seus familiares e
médicos. Em países como a Holanda e
Bélgica, a eutanásia foi legalizada em doentes maiores de 18 anos que exprimam
o seu desejo de morrer ao médico e, este, ateste que o seu grau de sofrimento é
insuportável. Porém, na Bélgica,
tramitam novos projetos que debatem a extensão da prática à crianças, pessoas
com deficiência mental e portadores de Alzheimer. Neste mesmo país, surgiu um
caso, alvo de debates na área da Bioética sobre irmãos
gêmeos que eram surdos e se tornaram cegos, ganhando o direito de abreviar
suas vidas.
O debate está lançado e estamos mesmo no centro dessa
decisão! Seja com humanos ou com os outros
animais, o homem se sente capaz de avaliar o sofrimento e o quanto aquela
vida vale a apena. Novamente me pergunto: Quanto será que vale um minuto a mais
de vida? Seria tempo suficiente para conexão com divido; para agradecer a sua
existência à natureza; ou deixar uma mensagem de reflexão e coragem para
aqueles que os rodeiam? Outra questão polêmica discutida ano passado foi a
legalização do aborto de fetos
anencéfalos e o posicionamento de mães que decidiram manter a gestação até
o final, pela grandiosidade de ver a vida nos olhos de seu filho, mesmo que por
algumas horas e, então, propiciar a vida de outras crianças através da doação
de seus órgãos.
A mudança nas relações afetivas estabelecidas com os animais
de estimação no mundo contemporâneo também tem gerado angústias e polêmicas com
a inevitável decisão pela eutanásia de animais idosos e doentes terminais. Muitas vezes toma-se essa decisão com base em
critérios subjetivos ou colocando em primeiro plano o bem-estar do tutor. Atualmente
a grande polêmica é a autorização para veterinário eutanasiar animais
produtivos doentes, cujo tratamento represente custos incompatíveis com a
atividade ou com os recursos do proprietário. Muitas vezes o animal é
sacrificado devido à interpretação que teria uma vida ruim sem um membro, por
exemplo, mas e aqueles casos
de animais que são mantidos vivos em que alternativas como carrinho de
rodas ou próteses promovem uma sobrevida significativa? O quanto terá valido
pra eles?
Ainda no universo animal, podemos nos questionar se eles possuem
consciência da sua morte e da morte do outro? E se toma decisões de quando o
outro deve morrer? Casos de infanticídios
são muito comuns quando a mãe percebe de alguma forma – cheiro, movimentos ou
sons - que aquele filhote não tem chances de sobreviver e o investimento não
vale a pena. Em algumas situações presenciamos também o abandono de ninhadas
inteiras, esses casos, pode estar relacionado à questões hormonais que não
geram o vínculo, pois esses filhotes muitas vezes são adotados
por outras mães – da mesma espécie ou não – e sobrevivem naturalmente. Existe uma lenda que os elefantes se afastam
da manada para morrer sozinho, a verdade é que ao atingem a idade de morrer, em
torno dos 60 anos, não conseguem mais acompanhar o ritmo da manada. Ao
contrário de um animal novo ferido – que estimula a solidariedade dos companheiros
que interrompem a caminhada para cuidar e amparar – os animais velhos são
deixados para trás, muitas vezes formando bandos de idosos que praticamente não
se movem, esperando pela morte. O fato é que algumas vezes presenciamos na
natureza animais como a gata e o cão dos vídeos abaixo tentando de todas as
formas ajudar seus companheiros feridos, ou às vezes, até mortos – e muitas
vezes se colocando em risco. O que essas imagens querem dizer? Que a vida
desses animais tem um valor intrínseco? Que vale a pena insistir até a última
alternativa na busca de retomada da vida? Que a morte desperta pesar (como no
vídeo do velório) expresso por um comportamento reflexivo? Enfim... O que você
faria se tivesse um minuto a mais de vida? Mesmo que essa vida fosse com dores no
corpo ou na alma? O que significa para você, para um animal, para uma planta ou
para uma célula essa energia - ainda incompreensível - que nos faz únicos,
reais e importantes? Como decidir o valor da vida para cada ser? Que direito temos
de decidir quem merece e quem não merece viver? É.... tenho mais dúvidas que
certezas, mas uma coisa posso afirmar, como Bióloga, e tendo a VIDA como objeto
de estudo, não consigo deixar me encantar por todas as suas manifestações. Compreendendo,
a magia e o divino de cada existência, e, assim, expresso meu imenso respeito
por cada segundo de vida de todos os seres que foram tão abençoados, quanto eu,
à experimentarem a existência!
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