segunda-feira, 4 de março de 2013

Quanto vale um minuto a mais de vida para você?



Quanto vale um segundo de vida pra você? Quem vive e quem morre? Quem pode decidir? Nas últimas semanas por todos os locais e canais de comunicação nos deparamos com a discussão sobre as investigações a respeito da denúncia de uma médica que abreviava a vida de seus pacientes de UTI. Inicialmente não consegui alcançar o que de fato estava acontecendo, pois há muito se sabe que essa atitude é defendida e praticada por muitos médicos, algumas vezes legalmente (como em alguns países europeus) e outras nem tanto. Uma das definições para esse ato é a Eutanásia, que significa "morte boa" ou "morte feliz" – ou seja, a morte para benefício do paciente. Mas, existem outros termos médicos como a ortotanásia - decisão sobre limitar o suporte de vida em uma UTI regulamentada no Código de Ética Médica e está prevista na resolução 1805/2006 do CFM (Conselho Federal de Medicina) -  e a distanásia - quando não se colocam limites no suporte á vida, ou seja, devem ser utilizadas todas as possibilidades para prolongar a vida de um ser humano, ainda que a cura não seja uma possibilidade e o sofrimento seja demasiadamente penoso. Existe, ainda, o "suicídio assistido", em que o próprio doente provoca a sua morte, ainda que disponha da ajuda de terceiros.
A antecipação da morte, como forma de abreviar sofrimento humano, não vem de hoje, sendo discutida por civilizações antigas, como os romanos, os gregos e indianos.  Atualmente, o tema tem sido objeto de controvérsias e os paradigmas éticos, moral e legal ainda estão em construção. Antes de qualquer posicionamento, deve-se levar em consideração o paradoxo em que o homem se colocou, pois à medida que desenvolve uma tecnologia que prolonga a vida - através de aparelhos que assumem o papel integral de diferentes órgãos – trazendo um fio de esperança para o universo que representa uma vida, ou alguns dias, meses e anos a mais que esse indivíduo pode desfrutar desse bem mais precioso que ganhamos da natureza -  ao mesmo tempo esses mesmos aparelhos são capazes de manter vivos por anos, corpos, já não hábeis de manifestarem as condutas necessárias para uma vida com bem-estar – gerando, assim, transtornos de intermináveis de anos de sobrevida em hospitais, à custa do bem-estar tanto do paciente quanto de seus familiares e médicos.  Em países como a Holanda e Bélgica, a eutanásia foi legalizada em doentes maiores de 18 anos que exprimam o seu desejo de morrer ao médico e, este, ateste que o seu grau de sofrimento é insuportável. Porém, na Bélgica, tramitam novos projetos que debatem a extensão da prática à crianças, pessoas com deficiência mental e portadores de Alzheimer. Neste mesmo país, surgiu um caso, alvo de debates na área da Bioética sobre irmãos gêmeos que eram surdos e se tornaram cegos, ganhando o direito de abreviar suas vidas. 
O debate está lançado e estamos mesmo no centro dessa decisão! Seja com humanos ou com os outros animais, o homem se sente capaz de avaliar o sofrimento e o quanto aquela vida vale a apena. Novamente me pergunto: Quanto será que vale um minuto a mais de vida? Seria tempo suficiente para conexão com divido; para agradecer a sua existência à natureza; ou deixar uma mensagem de reflexão e coragem para aqueles que os rodeiam? Outra questão polêmica discutida ano passado foi a legalização do aborto de fetos anencéfalos e o posicionamento de mães que decidiram manter a gestação até o final, pela grandiosidade de ver a vida nos olhos de seu filho, mesmo que por algumas horas e, então, propiciar a vida de outras crianças através da doação de seus órgãos.
A mudança nas relações afetivas estabelecidas com os animais de estimação no mundo contemporâneo também tem gerado angústias e polêmicas com a inevitável decisão pela eutanásia de animais idosos e doentes terminais.  Muitas vezes toma-se essa decisão com base em critérios subjetivos ou colocando em primeiro plano o bem-estar do tutor. Atualmente a grande polêmica é a autorização para veterinário eutanasiar animais produtivos doentes, cujo tratamento represente custos incompatíveis com a atividade ou com os recursos do proprietário. Muitas vezes o animal é sacrificado devido à interpretação que teria uma vida ruim sem um membro, por exemplo, mas e aqueles casos de animais que são mantidos vivos em que alternativas como carrinho de rodas ou próteses promovem uma sobrevida significativa? O quanto terá valido pra eles?  
Ainda no universo animal, podemos nos questionar se eles possuem consciência da sua morte e da morte do outro? E se toma decisões de quando o outro deve morrer? Casos de infanticídios são muito comuns quando a mãe percebe de alguma forma – cheiro, movimentos ou sons - que aquele filhote não tem chances de sobreviver e o investimento não vale a pena. Em algumas situações presenciamos também o abandono de ninhadas inteiras, esses casos, pode estar relacionado à questões hormonais que não geram o vínculo, pois esses filhotes muitas vezes são adotados por outras mães – da mesma espécie ou não – e sobrevivem naturalmente.  Existe uma lenda que os elefantes se afastam da manada para morrer sozinho, a verdade é que ao atingem a idade de morrer, em torno dos 60 anos, não conseguem mais acompanhar o ritmo da manada. Ao contrário de um animal novo ferido – que estimula a solidariedade dos companheiros que interrompem a caminhada para cuidar e amparar – os animais velhos são deixados para trás, muitas vezes formando bandos de idosos que praticamente não se movem, esperando pela morte. O fato é que algumas vezes presenciamos na natureza animais como a gata e o cão dos vídeos abaixo tentando de todas as formas ajudar seus companheiros feridos, ou às vezes, até mortos – e muitas vezes se colocando em risco. O que essas imagens querem dizer? Que a vida desses animais tem um valor intrínseco? Que vale a pena insistir até a última alternativa na busca de retomada da vida? Que a morte desperta pesar (como no vídeo do velório) expresso por um comportamento reflexivo? Enfim... O que você faria se tivesse um minuto a mais de vida? Mesmo que essa vida fosse com dores no corpo ou na alma? O que significa para você, para um animal, para uma planta ou para uma célula essa energia - ainda incompreensível - que nos faz únicos, reais e importantes? Como decidir o valor da vida para cada ser? Que direito temos de decidir quem merece e quem não merece viver? É.... tenho mais dúvidas que certezas, mas uma coisa posso afirmar, como Bióloga, e tendo a VIDA como objeto de estudo, não consigo deixar me encantar por todas as suas manifestações. Compreendendo, a magia e o divino de cada existência, e, assim, expresso meu imenso respeito por cada segundo de vida de todos os seres que foram tão abençoados, quanto eu, à experimentarem a existência!   



Nenhum comentário:

Postar um comentário