sexta-feira, 8 de março de 2013

Convívio social e o vírus das idéias



Série Ensaios: Sociobiologia

Por Gabriela Leviski e Priscila Zambiasi 
Acadêmicas do Curso de Bacharelado em Biologia

            Vivemos em sociedade, logo ao longo de nossas vidas, formamos grupos de convívio, que nos permitem nos sentir-nos - ao mesmo tempo - inseridos na sociedade bem como excluídos dela. O que se sabe é que os animais formam grupos para poder alcançar interesses e objetivos coletivos, para realizar tarefas e vencer desafios que seriam impossíveis sozinhos. E mesmo que o objetivo do grupo seja o pensamento coletivo, sua sobrevivência só será possível se ele atender às necessidades individuais de cada membro, garantindo a permanência de cada um no grupo e, consequentemente, a estabilidade do conjunto.
            Os grupos afetam o modo de ser e de agir de cada membro que o compõe, devido a influência dos valores e da cultura coletiva que passam a fazer parte da identidade individual. Essa idéia foi chamada de “Mente Coletiva” por Freud. O interessante é observar que o convívio em grupo não é uma exclusividade do ser humano. Várias espécies, ao longo da evolução, passaram a conviver em grupo para melhor se adaptarem ao meio em que vivem. Um Estudo mostra, por exemplo, que as formigas, resolvem melhor seus problemas do dia-a-dia coletivamente. Chimpanzés também vivem em grupos e apresentam característica muito semelhante a dos humanos: disputam por território e sabem fazer "política" (buscam frutas e "doam" para outros membros do grupo com o intuito de ganharem votos numa próxima eleição para líder), fazem amigos, ajudam os doentes e idosos a se alimentar, castigam um membro que se recusa a dividir seu alimento, usam mãos e braços em seus cumprimentos e se beijam.
            Para a espécie humana, a formação de um grupo se torna muito mais complexa, pois não se trata apenas de um único grupo- como no caso dos chimpanzés - ou de uma colônia - como no caso das formigas - mas sim, de vários grupos e de um grande grupo que engloba todos os seres humanos, que é a sociedade mundial. Fazemos, inevitavelmente, parte deste grupo, pois a globalização nos permite, felizmente ou infelizmente, conhecer tudo que acontece com todos. Porém, nossos genes ainda estão munidos para o convívio em pequenos bandos, como ocorria com o homem das cavernas, o que gera aflições, brigas e a sensação de que não nos encaixamos em nenhum lugar. Na realidade, é fácil entender que, quanto mais gente num único grupo, maior será a competição por recursos, o que gerará mais conflitos. E mesmo assim, há uma tendência no ser humano em formar agrupamentos sociais.Viver em um mundo globalizado permite que as novas tendências, seja no mundo da moda como na tecnologia, passam de uma pessoa para outra de modo quase que incontrolável. E essa capacidade de uma idéia ser aceita por tantas pessoas fazendo com que se torne moda, é o que a Memética estuda.
            A Memética é uma teoria que busca explicar, a partir da genética de populações, como determinadas ideias conseguem contagiar grandes grupos. O termo “meme” foi proposto pelo zoólogo Richard Dawkins, da Universidade de Oxford, em seu livro de 1976, O Gene Egoísta. Este termo é muito amplo, incluindo hábitos, superstições, crenças, doutrinas, teorias. Tudo o que é ensinado ou transmitido socialmente pode ser um meme, e os memes- assim como os vírus- se propagam, atingindo o maior número de cérebros possível. Os memes são armazenados nos cérebros humanos e passados adiante via imitação.   Desde 1998 o termo entrou na língua inglesa e aparece no Oxford English Dictionary em que é assim definido: Meme (mi:m), n. Biol. (abreviação de mimeme... aquilo que é imitado, a imitação de GENE n.). “Um elemento de uma cultura que pode considerar-se transmitido por meios não genéticos, em particular através da imitação” Segundo a psicóloga Susan Blackmore, autora de The Meme Machine, os memes só são possíveis entre os humanos, pois somente nós temos a habilidade de imitação, porém essa opinião não é consensual entre os estudiosos da Memética. Muitos outros autores defendem que outros animais também podem ter memes. Levando em consideração de que memes são vírus capazes de transmitir a informação para o maior número de pessoas, surge um novo conceito, o marketing viral, cuja campanha possui alta capacidade de replicação e contaminação por parte do público-alvo, seja pela internet, cartas, televisão ou qualquer outro meio que possibilite a re-emissão da mensagem. Para isso, precisa conseguir gerar um meme que seja compatível com o seu público, que gere também a necessidade de ser difundida e que seja feita em alta velocidade.
            Talvez os maiores exemplos de memes virais que podem ser citados são os vídeos postados no YouTube que, apenas em alguns dias, apresentam milhões de visualizações. O mais atual é a febre o vídeo “Harlem Shake, seguido pelo “Gangnam Style.  O segundo é considerado o vídeo mais visto de todos os tempos, com 1.385.342.956 visualizações. O primeiro demorou um pouco para ganhar fama, quase 9 meses, mas agora é considerada o “novo Gangnam Style” e é a musica mais vendida no iTunes em vários países, com 14 milhões de visualizações em pouco mais de duas semanas. Uma busca por “Harlem Shake” no YouTube traz 316.000  resultados, ficando difícil de encontrar o vídeo original, de tantas paródias realizadas com a musica. Uma das paródias mais originais talvez seja a realizada com cachorros! Além disso, já existem aplicativos para celular que permitem o usuário criar e compartilhar o seu próprio “Harlem Shake” para “ficar popular de forma instantânea”.
            Mas tudo tem um limite: um Harlem Shake foi realizado durante um vôo e outro foi realizado dentro de uma mina na Austrália. Embora ambos os vídeos sejam de natureza inofensiva, a brincadeira poderia ter colocado a vida das pessoas em risco, já que violaram normas de segurança, e ainda, no segundo caso, causou a demissão de 15 trabalhadores. Além do mais, quem viu, não achou a brincadeira muito legal: “Acidentes de trabalho podem ocorrer em situações como essa! Uma ‘inofencivel’ brincadeira pode acarretar em ‘percas’ de vida desses trabalhadores, enquanto eles brincam no serviço os familiares estão esperando em casa”, enquanto outro diz “HAHAHA Bem feito!”. Mas há quem defenda: “Bobeirada, os cara ficam num inferno cavando quase chegando no inferno e não podem tirar 30 seg pra "zuar"?”. Apesar dos comentários, positivos ou negativos, as pessoas de algum modo se identificaram e ainda deram sua opinião sobre a vida pessoal das pessoas. Isso só pode ser classificado como reconhecimento social.
            Outros memes, que não causaram tantas polêmicas, podem ser citados, como a pagina da internet Gina Indelicada, o vídeo “Para Nossa Alegria”, e tantos outros que todo mundo conhece... menos a Luiza, que está no Canadá!
            Brincadeiras a parte, o que podemos observar disso tudo é que os memes permitem a formação de grupos e a permanência dos indivíduos neste mesmo grupo. A participação de uma pessoa em um grupo não é suficiente, é preciso que haja interação e reconhecimento entre as pessoas, com o compartilhamento de idéias e fatos.
            Nós, formandas de Biologia, concordamos quanto a importância da criação de novas expressões que atingem milhares de pessoas todos os dias no que diz respeito a interação social. Porém é preciso tomar cuidado. Muitos jovens não constroem mais a sua própria identidade e dependem totalmente das modas lançadas na internet. Além do mais, hoje se percebe a necessidade de se assumir nas redes sociais para que outras pessoas vejam que está antenado nas novas tendências e, como conseqüência, ser aceito no grupo. A verdade é que a internet permite que as pessoas encontrem grupos com os mesmo interesses do individuo, mas é preciso verificar se aquilo que é tomado como tendência agrega algum valor pessoal, para que, ao mesmo tempo em que se faz parte do grupo, apresente uma postura critica para desenvolver sua própria identidade. 


O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia II e baseado nas obras:
           
BURNHAM, T & PHELAN, J. A culpa é da genética. Rio de Janeiro: Sextante, 2002,237p.
http://www.tecmundo.com.br/memes/36790-harlem-shake-um-meme-com-historia.htm
http://www.grupotv1.com.br/pt-br/o-grupo/ideias/2012/09/27/memes-como-usar-esses-novos-virais-espontaneos-para-engajar-os-jovens/


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