quinta-feira, 14 de março de 2013

A origem neurológica do comportamento



Série Ensaios: Aplicações da Etologia
Por Andressa Luiza Cordeiro, Anne Dalcol, Catherine Amaral Zarpelão e Rafael Falvo Librelato
Acadêmicos do curso de Biologia

O comportamento animal se caracteriza pela reação aos estímulos ambientais que são percebidos pelo organismo. Em animais multicelulares esses estímulos são captados e percebidos através do sistema nervoso. No entanto, essa não é a única função desse sistema, seu papel principal esta na organização e no controle de organismos animais que necessitam manter o bem-estar das várias células que compôem seu corpo. Sua movimentação, e consequente mudança de estados corporais, são assim comandadas pelas células nervosas, ou neurônios. Assim, o objeto de estudo da neurociência é justamente o sistema nervoso dos animais. Engloba as áreas de biologia, medicina, psicologia, física, engenharia e filosofia, mas é uma ciência ainda pouco conhecida pelas pessoas. As bases biológicas do comportamento são fundamentais para o desenvolvimento das ciências cognitivas e doenças mentais sendo que o campo da neurociência é de interesse crescente e as descobertas ganham cada vez mais impactos.O cérebro já era considerado o causador de males espirituais há vários milênios, onde um procedimento cirúrgico chamado trepanação era comum em várias culturas. Na Grécia antiga, Aristóteles levantou a idéia de que se sentia e pensava com o coração, a qual se mantém relativamente de forma cultural até hoje. Em Roma Galeno refutou a idéia de Aristóteles com base em dissecações feitas em bois. Durante a Idade Média a idéia que a mente está no cérebro e não no coração se manteve forte, e foi reforçada durante a Renascença quando André Versálius realizou dissecações em humanos e em outros animais e percebeu que o coração dos humanos possui mais semelhanças ao de outros animais em relação ao cérebro, o que explicaria as diferenças etológicas e físicas entre tais. Luigi Galvani, médico, foi quem no período do Iluminismo descreveu o neurônio como unidade fundamental a mente.  O estudo da neurociência começou a produzir resultados mais consistentes com a descoberta do raio-x, em 1895, por Wilhelm Röntgen e da tomografia computadorizada em 1972. A década de 1990 foi eleita pelo governo americano com a "década do cérebro" pela sua grande expansão. Nesta mesma década foram descobertos, por exemplo, os neurônios-espelho e também que a formação de novos neurônios acontece até o fim da vida. O séc. XXI compreende as conquistas na compreensão das funções neurais, onde o brasileiro Miguel Nicolelis fez com que um macaco movimenta-se um braço mecânico através do seu pensamento. As principais tendências da neurociência são em relação a sua utilização na criação do homem biônico, no entendimento do comportamento humano e dos outros animais e na medicina, buscando a verdadeira causa de muitos males do corpo e da alma e principalmente a cura para o mal do século XX, o estresse. Além de promessas de dispositivos capazes de “ler a mente” com softwares que buscam decodificar sinais cerebrais pelos sinais elétricos no cérebro de pacientes ou padrões de fluxo sanguíneo relacionados a palavras ou imagens. Os avanços da neurociência permitiram um maior conhecimento etológico dos organismos, podendo então avaliá-los não somente nos padrões fisiológicos, mas também neurais, como na compreensão da comunicação entre animais, da memória e das emoções. Os estudos neurocientíficos podem ser aplicados, por exemplo, no desenvolvimento do canto dos pássaros, além de todo processamento neuronal envolvido na aprendizagem e condicionamento dos animais. Da mesma forma, torna-se uma revolução para o meio educacional, possibilitando o estudo das redes neurais nos processos de aprendizagem de crianças e adolescentes. Recentemente, estudos mostraram que uma área do cérebro responsável pelo planejamento, raciocínio lógico e representações do mundo exterior, amadurecem somente por volta dos 30 anos de idade.
Avanços nos ramos da neurociência permitiram aos cientistas a capacidade de uma melhor compreensão do cérebro e da mente, assim como uma maior divulgação ao público leigo e é um importante processo na batalha contra diversas doenças neurológicas. Pode ser aplicado também no estudo da linguagem, um dos comportamentos mais complexos dos seres humanos. Até mesmo nossa habilidade para dançar e os gostos musicais vêm sendo abordados pela neurociência.
Para nós acadêmicos de biologia, a importância da neurociência se dá pelo fato de possibilitar uma maior compreensão dos organismos, visto que os animais, como estudo da etologia, têm seus movimentos e comportamentos promovidos pelo sistema nervoso. Dessa forma, o estudo desse sistema pela neurociência torna-se importante para o entendimento mais aprofundado dos mecanismos que causam esses comportamentos.



O presente ensaio foi elaborado para a disciplina de etologia se baseando nas obras:
ANUNCIAÇÃO L. Préfacio da História da Neurociência. Disponível em: <https://sites.google.com/site/nucleodeneurociencia/blog/prefaciodahistoriadaneurociencia> Acessado em 07/03/2013
BRANDÃO, M. L. As bases biológicas do comportamento. Disponível em: Acessado em 06/03/2013
Breve história da neurociência cognitiva. Disponível em: <http://www.filoczar.com.br/Cem_bilhoes/comportamental/Cap_01.pdf> Acessado em 06/03/2013
BROWN, S.; PARSONS, L. M. Coreografias cerebrais. Revista Mente e Cérebro. Editora Duetto, nº 34, São Paulo, 2012.
BURITI M. C. Como a neurociência se desenvolve no Brasil. Disponível em: <http://saudeweb.com.br/30248/como-a-neurociencia-se-desenvolve-no-brasil/> Acessado em 07/03/2013
HERCULANO-HOUZEL, S. Novas equações cerebrais. Revista Mente e Cérebro. Editora Duetto, nº 34, São Paulo, 2012.
KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSEL, T. M. Fundamentos da Neurociência e do Comportamento. Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 1997.
LESTIENNE, R. O cérebro não é uma máquina. Revista Mente e Cérebro. Editora Duetto, nº 34, São Paulo, 2012.
MACHADO R. Ensaio: A importância da neurociência para a psicologia. Disponível em: Acessado em 05/03/2013
MIETTO V. L. S. A importância da neurociência na educação. Disponível em: Acessado em 07/03/2013
PINEL, J. P. J. Biopsicologia. 5ª edição. Editora Artmed, São Paulo, 2005.
Por que as crianças não obedecem ao não? Disponível em: Acessado em 05/03/2013
VENTURA, D. F.  Um retrato da área de neurociência e comportamento no Brasil. Psicologia: Teoria e Pesquisa. v. 26 n. especial, pp. 123-129, 2010.

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