Moral: um ato racional, genético ou biológico?



Série Ensaios: Sociobiologia

Por  Giovana Casagrande, Jonathan S Pinto , Juliana N.  Kohler e Michel S C Monteiro

Acadêmicos do curso de Ciências Biológicas

A palavra “moral” segundo o dicionário Priperam da Língua portuguesa significa: Conjunto de regras e princípios que regem determinado grupo. Nossos ancestrais, ao longo dos anos, já apresentavam certa noção de hábitos morais a ser seguido em sociedade, isso porque eles eram nômades, sobreviviam da caça e do forrageio e viviam em pequenos grupos de aproximadamente 200 pessoas - carregando consigo aspectos morais, mesmo que de maneira inconsciente. Essas sociedades já se definiam em grande parte por esses aspectos, que podiam ser provenientes tanto de condutas religiosas, quanto de leis, códigos e tradições, que de certa forma acabam definindo os grupos e definindo a espécie Homo sapiens  como um “animal social.” E acredita-se ainda que a conduta moral possa ser proveniente de aspectos genéticos, que é o tema abordado.
Para uma melhor compreensão desse aspecto, é necessário retornar na nossa história evolutiva. O parente mais próximo a nós no contexto atual são os chimpanzés, que se distanciaram há cerca nove milhões de anos atrás. Nessa espécie surgiu o córtex cerebral, cuja parte mais “nova” foi capaz de dar ao homem (e também a eles) a capacidade de resolver seus problemas, de diversas formas possíveis. Durante a maior parte dos seus primeiros duzentos mil anos de vida, o ser humano era nômade, se tornando sedentário somente após o período em que a agricultura foi estabelecida. E tudo isso, ocorreu apenas em 8 mil anos, tempo pouco suficiente para que nossos corpos acompanhassem a evolução de nossas mentes. A ideia de que o comportamento social é impulsionado por fatores genéticos vem interessando os pesquisadores dessa área nas últimas décadas. Alguns autores defendem que pelo fato de sermos organismos biológicos, nossos comportamentos tem relação com os ditos fatores biológicos, que já possuem predisposições genéticas. 
O fato é que as sociedades mais remotas já “fixaram” os comportamentos considerados moralmente corretos desde os tempos das cavernas, quando deixavam-os registrados em pedras para que as futuras gerações soubessem o que fosse necessário para manter a vida em sociedade em harmonia e esses comportamentos “corretos”, com o passar do tempo acabaram se tornando regras a serem seguidas. Portanto, a moral acaba remetendo às normas, que na humanidade atual foram transformadas em leis, condutas religiosas e também tradições e acabaram se tornando cruciais para que se tenha um bom relacionamento em todos os grupos em que o indivíduo está inserido.
Trazendo essas informações para um caso real, podemos apresentar um comportamento que todos consideram errado, mas que todo mundo faz – fofocar -. E existe uma boa explicação biológica por traz disso! A primeira coisa que todo ser humano faz (e que é crucial para iniciar nossa vida em uma sociedade) é aprender a falar e desde pequenos, estamos falando o tempo todo. Mas quando o foco de uma discussão passa a ser uma outra pessoa, o verbo “falar” torna-se “fofocar” e acaba despertando o interesse de todo mundo. Para compreender da onde veio a fofoca, precisamos voltar novamente as primeiras tribos humanas que existiam há 8 milhões de anos atrás; as tribos precisavam comunicar-se entre si por diversos motivos, saber onde estavam os melhores alimentos, descobrir quais predadores eram mais perigosos, aprender a fazer armadilhas de caça e outros tantos motivos de sobrevivência e proteção. Só que a partir do momento em que as sociedades foram aumentando e juntando centenas de pessoas, elas não se reconheciam mais e precisavam manter conversas paralelas e essas conversas é que disseminavam as informações vitais para o grupo todo. E foi assim que aconteceu com a conduta moral, quando um integrante do grupo pratica algum ato considerado imoral, a informação é repassada e a pessoa acaba sendo excluída, servindo como mau exemplo aos novos e antigos membros apresentando as regras implícitas que ditam o grupo. Um exemplo atual de uma fofoca de repercussão global sobre um ato considerado “imoral” pela sociedade atual foi o caso do casal “Crepúsculo” Kristen Stewart e Robert Pattinson, quando a revista americana Us Weekly publicou uma matéria de capa dizendo que  Kristen Stewart teria traído o namorado Robert Pattinson com Rupert Sanders, diretor de um filme cuja atriz viveu o papel de protagonista , a notícia rapidamente se espalhou pelas redes sociais (twitter e facebook) e foi motivo de muita discussão sobre a “imoralidade” do ato da traição, que, para as sociedades ocidentais é considerada inaceitável e passível de castigo para os que praticam. Mas por que o ato de trair é tão discriminado por nossa sociedade? Existe uma explicação com base biológica pra isso. Tudo que afeta o sucesso da reprodução no mundo animal é considerado uma ameaça à sobrevivência da espécie, trair significa ter que dividir o tempo entre cuidar dos filhotes com outras atividades, comprometendo a preparação deles para a vida adulta. O mesmo acontece com estupro e incesto, ter relações sexuais com indivíduos não preparados para procriar não tem nenhum sentido biológico. A maneira que nossa natureza encontrou para evitar essas atitudes comprometedoras para a perpetuação da nossa espécie foi fazer com que tudo isso seja considerado imoral, de maneira que esses atos sejam discriminados. Sendo assim, surge a necessidade de pensarmos sobre a moralidade como um ato não só racional, mas também biológico.
A moralidade é realmente um assunto muito discutido, principalmente se for imoralidade. Uma excelente explicação sobre a origem dessas coisas julgadas imorais, realmente é que provém de uma origem biológica e até possivelmente genética. Só é um pouco difícil aceitar uma explicação biológica, sendo que sempre foi dito e ouvido que as origens desses problemas são psicológicas.

O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia II sendo baseado nas seguintes obras:

WALLACE, R.A. BIOTEMAS. 1 (2): 133-116, 1988. Sociobiologia: O Fator Genético.
JORDANA, J.L.V. LIBERTAD Y DETERMINISMO GENÉTICO. Universidad Autónoma de Madrid.
A GENÉTICA DA MORAL, cap. 3.