Série Ensaios: Sociobiologia
Por Lício George II Domit, Marco Baccaro Rodrigues e Priscila Fátima
Bohrer
Acadêmicos do curso de ciências biológicas
O hábito de vida solitário
é adotado por muitos animais
, principalmente em ambientes onde o custo da formação de grupos seria
muito alto. Mesmo optando por essa
estratégia pode ocorrer um eventual agrupamento, normalmente, na época reprodutiva. A vida
em sociedade possui muitas desvantagens, como a maior veiculação de doenças,
menor descrição perante predadores e divisão de recursos. Mas as
vantagens são expressivas, surgem novas estratégias de defesa, divisão de
tarefas, otimização do tempo e a mais surpreendente, que é a evolução cultural.
Concomitante à vida em sociedade surge uma gama de comportamentos específicos, os
quais visam manter a coesão e estabilidade do grupo, reafirmando alianças e
elos sociais. Comportamentos estes, como o altruísmo, submissão,
cooperação, expressão de sentimentos, carinhos, coação e até mesmo o sexo.
O comportamento sexual evoluiu
nas espécies, das mais variadas formas, no geral visando o sucesso reprodutivo,
propagação dos genes e sobrevivência da espécie. Entretanto não se pode negar
que muitas espécies – como a nossa, por exemplo – praticam relações sexuais com
mais frequência do que a necessária
para a reprodução, além de poderem praticar, também, com indivíduos do
mesmo sexo, com os quais a reprodução sexuada não é possível.
Pesquisas
vêm buscando verificar se a homossexualidade é herdada ou adquirida, se é
determinada por genes, proteínas maternas ou pela cultura [07]. A
tendência atual é uma unificação de fatores biológicos, psicológicos e sociais.
Algumas pesquisas na área biológica são as diferenças cerebrais entre
heterossexuais e homossexuais,
em um experimento conduzido por uma equipe da Universidade da Califórnia, os
pesquisadores observaram que o hipotálamo de homossexuais é menor – semelhante
ao do cérebro feminino- e que a reação ao medicamento Prozac – inibidor de serotonina – foi mais intenso em
heterossexuais [08]; a origem genética da homossexualidade
, Dean
Hamer, em 1993 descobriu que uma região do cromossomo X, a Xq28, era
idêntica em irmãos homossexuais, demonstrando a hereditariedade, sendo esta
passada aos homens pela mãe [09].
A ciência só vem a somar para a
conscientização da população, quebrando tabus e mostrando como esse
comportamento sexual é comum, até mesmo no reino animal. O nome que mais se
destaca nesse assunto é o biólogo americano Bruce Bagemihl, que após
10 anos de pesquisa lançou o livro “Biological Exuberance – Animal
Homosexuality and Natural Diversity”, publicado em 1999. O livro analisou
450 espécies, todas que praticam hábitos homossexuais, questionando um antigo
paradigma e mostrando que apesar de não gerar descendentes, a homossexualidade
está presente no comportamento de várias espécies [15]. Os motivos para tais comportamentos em animais
são variados, podem ser para aperfeiçoar a criação de filhotes, como já
observado em muitas espécies de aves monogâmicas, em que casais do mesmo sexo
são comumente formados. Outro possível motivo pode ser reforçar elos sociais,
para pedir desculpas, agradecer, parabenizar e até para a resolução de
problemas, podendo ser observado nos Bonobos (Pan paniscus), em que contatos
sexuais são comuns entre todos os integrantes do grupo. Nos Golfinho-rotador (Stenella longirostris) há prática de sexo oral e
penetração entre machos, estando relacionado com o prazer e forma de saciamento
sexual, visto que em algumas populações há poucas fêmeas. Esse comportamento
pode também estar associado com a consolidação da hierarquia, em que os
dominantes cobrem os inferiores; a aprendizagem do cortejo, que pode ser
praticada entre indivíduos do mesmo sexo; prevenção de conflitos pela formação
de alianças, e diminuição da tensão sexual; manutenção da coesão social e no
fortalecimento das relações entre os indivíduos da mesma população [15;
16; 17; 18].
Nós, como acadêmicos de biologia
e cidadãos, pensamos que a ciência só acrescenta um item na compreensão dos
diversos tipos de relacionamentos entre indivíduos, sendo do mesmo sexo ou não,
e ajuda a desvendar as adaptações ecológicas e evolutivas das populações onde
esses comportamentos são observados, podendo traçar um rumo para entender como
foi moldada nossa estrutura social. Porém o mais importante é a contribuição
para a quebra do paradigma criado pela sociedade, que subjuga e coage
comportamentos homoafetivos, aumentando a conscientização e auxiliando a
própria auto-aceitação de homossexuais.
O
presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia II e baseado nas
seguintes obras:
01. ALCOCK, J., 2011. Comportamento animal: Uma abordagem
evolutiva. 9ª edição. Editora: Artmed.
02. WAAL, F., 2007. Eu, Primata: Por que somos como somos.
1ª edição. Editora: Companhia das Letras.
03. RODRIGUES, H. & LIMA,
C.C., 2008. Vale tudo: Homossexualidade
na antiguidade. Disponível em: http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/historia/vale-tudo-homossexualidade-antiguidade-435906.shtml.
Acesso em: 10.Set.2012.
04. MENEZES, A.B., 2005. Análise da investigação dos determinantes
do comportmanento homossexual humano. Tese de Pós-Graduação em Teoria e
Pesquisa do comportamento. Disponível em: www.ufpa.br/ppgtpc/dmdocuments/MESTRADO/ALINE.pdf.
Acesso em: 10.Set.2012.
05. MOREIRA FILHO, F. C. &
MADRID, D. M. A homossexualidade e a sua
história. Disponível em: http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/1646/1569.
Acesso em: 10.Set.2012.
06. NUNES, E. & RAMOS, K.
P., 2008. Homossexualidade humana: Estudos
na área da Biologia e da Psicologia. Disponível em: http://www.seufuturonapratica.com.br/intellectus/PDF/06_ART_Psicologia.pdf.
Acesso em: 10.Set.2012.
07. MARTINS, I. et al, 1993. Agressividade e homossexualismo: O que os genes podem explicar.
Disponível em: http://super.abril.com.br/ciencia/agressividade-homossexualismo-genes-podem-explicar-440936.shtml.
Acesso em : 10.Set.2012.
08. ALVAREZ, G. Homossexualidade e o metabolismo cerebral.
Disponível em: http://www.sindioses.org/noticias/homosexualidad_pt.html.
Acesso em: 10.Set.2012.
09. SZKLARZ, E., 2006. Por que os gays são gays?. Disponível
em: http://super.abril.com.br/ciencia/gays-sao-gays-446194.shtml.
Acesso em: 10.Set.2012.
10. IG SÃO PAULO, 2011. Brasil tem mais de 60mil casais
homossexuais, indica IBGE. Disponível em: http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/brasil+tem+mais+de+60+mil+casais+homossexuais+indica+ibge/n1300118272944.html.
Acesso em: 10.Set.2012.
11. LAURIANO, C. & DUARTE,
N., 2011. Censo 2010 contabiliza mais de
60 mil casais homossexuais. Disponível em: http://g1.globo.com/brasil/noticia/2011/04/censo-2010-contabiliza-mais-de-60-mil-casais-homossexuais.html.
Acesso em: 10.Set.2012.
12. NOSSOS TONS, 2011. Dados do IBGE sobre casais homossexuais em
união estável. Disponível em: http://www.nossostons.com/2011/05/ibge-dados-casais-homossexuais.html.
Acesso em: 10.Set.2012.
13. VIHNOTÍCIAS, 2011. Brasil: Pela primeira vez censo do IBGE
contabiliza população homossexual. Disponível em: http://vihsidanoticias.wordpress.com/2011/06/29/brasil-pela-primeira-vez-censo-do-ibge-contabiliza-populacao-homossexual-destaca-o-globo/.
Acesso em: 10.Set.2012.
14. ABGLT. Censo 2010: ABGLT lança campanha – “IBGE...
se você for LGBT, diga que é!. Disponível em: http://www.abglt.org.br/port/ibge.php.
Acesso em: 10.Set.2012.
15.BURGIERMAN, D. R., 2006. Atração entre iguais. Disponível em: http://super.abril.com.br/ciencia/atracao-iguais-446781.shtml.
Acesso em: 10.Set.2012.
16. ESTADÃO, 2011. Casais de aves do mesmo sexo podem ter
relação estável, aponta estudo. Disponível em: http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,casais-de-aves-do-mesmo-sexo-podem-ter-relacao-estavel-aponta-estudo,758698,0.htm.
Acesso em: 10.Set.2012.
17. MIOTO, R., 2010. Golfinho faz sexo gay para manter amigo;
Veja ranking animal. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/785884-golfinho-faz-sexo-gay-para-manter-amigo-veja-ranking-animal.shtml.
Acesso em: 10.Set.2012.
18. LIMA. D., 2010. A homossexualidade no reino animal é normal.
Disponível em: http://www.conscienciacomciencia.com.br/2010/07/22/a-homossexualidade-no-reino-animal-e-natural/.
Acesso em: 10.Set.2012.
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