quinta-feira, 11 de outubro de 2012

A Ciência Desvendando As Cores Do Arco-Íris




Série Ensaios: Sociobiologia

Por Lício George II Domit, Marco Baccaro Rodrigues e Priscila Fátima Bohrer

Acadêmicos do curso de ciências biológicas


O hábito de vida solitário é adotado por muitos animais , principalmente em ambientes onde o custo da formação de grupos seria muito alto.  Mesmo optando por essa estratégia pode ocorrer um eventual agrupamento, normalmente, na época reprodutiva. A vida em sociedade possui muitas desvantagens, como a maior veiculação de doenças, menor descrição perante predadores e divisão de recursos. Mas as vantagens são expressivas, surgem novas estratégias de defesa, divisão de tarefas, otimização do tempo e a mais surpreendente, que é a evolução cultural. Concomitante à vida em sociedade surge uma gama de comportamentos específicos, os quais visam manter a coesão e estabilidade do grupo, reafirmando alianças e elos sociais. Comportamentos estes, como o altruísmo, submissão, cooperação, expressão de sentimentos, carinhos, coação e até mesmo o sexo.
                O comportamento sexual evoluiu nas espécies, das mais variadas formas, no geral visando o sucesso reprodutivo, propagação dos genes e sobrevivência da espécie. Entretanto não se pode negar que muitas espécies – como a nossa, por exemplo – praticam relações sexuais com mais frequência do que a necessária para a reprodução, além de poderem praticar, também, com indivíduos do mesmo sexo, com os quais a reprodução sexuada não é possível.
                A homossexualidade pode parecer um comportamento atual e um tema moderno, “mas por milhares de anos o amor entre iguais era tão comum que o conceito de homossexual não existia”. O comportamento homossexual remete aos primórdios da humanidade, na Grécia Antiga, o termo utilizado era a “pederastia”, o que predominava era uma questão hierárquica, sendo que um homem mais velho adquiria a função de tutor, propiciando a incursão do mais jovem à elite social. Durante a Idade Média, pela grande pressão da Igreja Católica, o termo usado era “sodomia”, remetendo a histórias bíblicas, em que homens se ofereciam sexualmente a outros homens, causando a destruição divina das cidades de Sodoma e Gomorra. Na cultura judaico-cristã  a homossexualidade é considerada um vício, tendo uma visão de pecado ocidental, sujeito a punições. Na tribo Aranda, da Austrália atos homossexuais são ritos de puberdade, em que homens mais velhos vivem com um mais jovem até estar preparado para casar-se com uma mulher [02].
                Pesquisas vêm buscando verificar se a homossexualidade é herdada ou adquirida, se é determinada por genes, proteínas maternas ou pela cultura [07]. A tendência atual é uma unificação de fatores biológicos, psicológicos e sociais. Algumas pesquisas na área biológica são as diferenças cerebrais entre heterossexuais e homossexuais, em um experimento conduzido por uma equipe da Universidade da Califórnia, os pesquisadores observaram que o hipotálamo de homossexuais é menor – semelhante ao do cérebro feminino- e que a reação ao medicamento Prozac  – inibidor de serotonina – foi mais intenso em heterossexuais [08]; a origem genética da homossexualidade , Dean Hamer, em 1993 descobriu que uma região do cromossomo X, a Xq28, era idêntica em irmãos homossexuais, demonstrando a hereditariedade, sendo esta passada aos homens pela mãe [09].
Um caso no Brasil, a favor da auto-aceitação e contra a homofobia - O último censo realizado em 2010, pelo IBGE foi o primeiro a contabilizar a população residente com cônjuges do mesmo sexo, e constatou que o Brasil tem mais de 60 mil casais homossexuais. A região Sudeste foi a que mais apresentou casais homossexuais (32.202), seguida da região Nordeste (12.196). As regiões com menor número de casais do mesmo sexo foi o Norte com 3.429 e o Centro-Oeste com 4.141. A região Sul possui cerca de 8 mil casais. O estado que tem a maior quantidade de homossexuais é São Paulo (16.872), e o que tem menos é Roraima, com apenas 96 casais que se declararam homossexuais [10; 11; 12; 13]. De acordo com o presidente do IBGE esses números podem ser muito maiores, por ser a primeira vez que a questão foi abordada, muitos casais não se autodeclararam por algum receio. A expectativa é de que nos próximos censos esse número aumente, pois além de novas uniões do mesmo sexo, muitos se sentiram mais a vontade para se declarar. Na medida em que a consciência da população geral aumentar, a tendência é de que o autorreconhecimento cresça, contando também com mais segurança, visto que a Legislação Brasileira está se adequando a esse aspecto [10; 11; 12; 13]. Somado a esses fatos a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais  realizaram uma campanha para que os homossexuais declarassem sua condição sexual ,  o tema da campanha era: “IBGE: se você for LGBT, diga que é!” [14].
                A ciência só vem a somar para a conscientização da população, quebrando tabus e mostrando como esse comportamento sexual é comum, até mesmo no reino animal. O nome que mais se destaca nesse assunto é o biólogo americano Bruce Bagemihl, que após 10 anos de pesquisa lançou o livro “Biological Exuberance – Animal Homosexuality and Natural Diversity”, publicado em 1999. O livro analisou 450 espécies, todas que praticam hábitos homossexuais, questionando um antigo paradigma e mostrando que apesar de não gerar descendentes, a homossexualidade está presente no comportamento de várias espécies [15].    Os motivos para tais comportamentos em animais são variados, podem ser para aperfeiçoar a criação de filhotes, como já observado em muitas espécies de aves monogâmicas, em que casais do mesmo sexo são comumente formados. Outro possível motivo pode ser reforçar elos sociais, para pedir desculpas, agradecer, parabenizar e até para a resolução de problemas, podendo ser observado nos Bonobos (Pan paniscus), em que contatos sexuais são comuns entre todos os integrantes do grupo. Nos Golfinho-rotador (Stenella longirostris) há prática de sexo oral e penetração entre machos, estando relacionado com o prazer e forma de saciamento sexual, visto que em algumas populações há poucas fêmeas. Esse comportamento pode também estar associado com a consolidação da hierarquia, em que os dominantes cobrem os inferiores; a aprendizagem do cortejo, que pode ser praticada entre indivíduos do mesmo sexo; prevenção de conflitos pela formação de alianças, e diminuição da tensão sexual; manutenção da coesão social e no fortalecimento das relações entre os indivíduos da mesma população [15; 16; 17; 18].
                Nós, como acadêmicos de biologia e cidadãos, pensamos que a ciência só acrescenta um item na compreensão dos diversos tipos de relacionamentos entre indivíduos, sendo do mesmo sexo ou não, e ajuda a desvendar as adaptações ecológicas e evolutivas das populações onde esses comportamentos são observados, podendo traçar um rumo para entender como foi moldada nossa estrutura social. Porém o mais importante é a contribuição para a quebra do paradigma criado pela sociedade, que subjuga e coage comportamentos homoafetivos, aumentando a conscientização e auxiliando a própria auto-aceitação de homossexuais.

O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia II e baseado nas seguintes obras:
01. ALCOCK, J., 2011. Comportamento animal: Uma abordagem evolutiva. 9ª edição. Editora: Artmed.
02. WAAL, F., 2007. Eu, Primata: Por que somos como somos. 1ª edição. Editora: Companhia das Letras.
03. RODRIGUES, H. & LIMA, C.C., 2008. Vale tudo: Homossexualidade na antiguidade. Disponível em: http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/historia/vale-tudo-homossexualidade-antiguidade-435906.shtml. Acesso em: 10.Set.2012.
04. MENEZES, A.B., 2005. Análise da investigação dos determinantes do comportmanento homossexual humano. Tese de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do comportamento. Disponível em: www.ufpa.br/ppgtpc/dmdocuments/MESTRADO/ALINE.pdf. Acesso em: 10.Set.2012.
05. MOREIRA FILHO, F. C. & MADRID, D. M. A homossexualidade e a sua história. Disponível em: http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/1646/1569. Acesso em: 10.Set.2012.
06. NUNES, E. & RAMOS, K. P., 2008. Homossexualidade humana: Estudos na área da Biologia e da Psicologia. Disponível em: http://www.seufuturonapratica.com.br/intellectus/PDF/06_ART_Psicologia.pdf. Acesso em: 10.Set.2012.
07. MARTINS, I. et al, 1993. Agressividade e homossexualismo: O que os genes podem explicar. Disponível em: http://super.abril.com.br/ciencia/agressividade-homossexualismo-genes-podem-explicar-440936.shtml. Acesso em : 10.Set.2012.
08. ALVAREZ, G. Homossexualidade e o metabolismo cerebral. Disponível em: http://www.sindioses.org/noticias/homosexualidad_pt.html. Acesso em: 10.Set.2012.
09. SZKLARZ, E., 2006. Por que os gays são gays?. Disponível em: http://super.abril.com.br/ciencia/gays-sao-gays-446194.shtml. Acesso em: 10.Set.2012.
10. IG SÃO PAULO, 2011. Brasil tem mais de 60mil casais homossexuais, indica IBGE. Disponível em: http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/brasil+tem+mais+de+60+mil+casais+homossexuais+indica+ibge/n1300118272944.html. Acesso em: 10.Set.2012.
11. LAURIANO, C. & DUARTE, N., 2011. Censo 2010 contabiliza mais de 60 mil casais homossexuais. Disponível em: http://g1.globo.com/brasil/noticia/2011/04/censo-2010-contabiliza-mais-de-60-mil-casais-homossexuais.html. Acesso em: 10.Set.2012.
12. NOSSOS TONS, 2011. Dados do IBGE sobre casais homossexuais em união estável. Disponível em: http://www.nossostons.com/2011/05/ibge-dados-casais-homossexuais.html. Acesso em: 10.Set.2012.
13. VIHNOTÍCIAS, 2011. Brasil: Pela primeira vez censo do IBGE contabiliza população homossexual. Disponível em: http://vihsidanoticias.wordpress.com/2011/06/29/brasil-pela-primeira-vez-censo-do-ibge-contabiliza-populacao-homossexual-destaca-o-globo/. Acesso em: 10.Set.2012.
14. ABGLT. Censo 2010: ABGLT lança campanha – “IBGE... se você for LGBT, diga que é!. Disponível em: http://www.abglt.org.br/port/ibge.php. Acesso em: 10.Set.2012.
15.BURGIERMAN, D. R., 2006. Atração entre iguais. Disponível em: http://super.abril.com.br/ciencia/atracao-iguais-446781.shtml. Acesso em: 10.Set.2012.
16. ESTADÃO, 2011. Casais de aves do mesmo sexo podem ter relação estável, aponta estudo. Disponível em: http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,casais-de-aves-do-mesmo-sexo-podem-ter-relacao-estavel-aponta-estudo,758698,0.htm. Acesso em: 10.Set.2012.
17. MIOTO, R., 2010. Golfinho faz sexo gay para manter amigo; Veja ranking animal. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/785884-golfinho-faz-sexo-gay-para-manter-amigo-veja-ranking-animal.shtml. Acesso em: 10.Set.2012.
18. LIMA. D., 2010. A homossexualidade no reino animal é normal. Disponível em: http://www.conscienciacomciencia.com.br/2010/07/22/a-homossexualidade-no-reino-animal-e-natural/. Acesso em: 10.Set.2012.

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