Um Tapinha Não Dói.... Dói?



Série Ensaios: Sociobiologia

Por Flávia Santi, Guilherme Borges, Jéssica Cumin,  Kassiana Ribeiro e Letícia Dalanhol

Acadêmicos do Curso de Biologia
           

Diversos casos de agressividade ocorrem em crianças, na sua maioria estes abusos estão mais próximos de nós do que imaginamos. Muitos são os casos de pais que agridem filhos, mas ultimamente, são as babás as principais vilãs destas atrocidades. Em maio deste ano uma babá foi denunciada pela família após ser flagrada, pela câmera do notebook, agredindo uma criança de apenas três anos na Bahia (veja a matéria). O vídeo chocou o país, pois no mesmo são visíveis as agressões físicas e psicológicas sofridas pela menina.
O que provoca tal ira nas pessoas a ponto de não conseguirem respeitar o próximo, mesmo quando este é uma criança indefesa?
A agressividade segundo Sigmund Freud, é um processo biológico inato com uma disposição instintiva e parte integrante da natureza humana, eles não podem ser totalmente suprimidos como se não existissem.
Konrad Lorenz  ressalta que nos animais, em geral, a agressividade tem um papel positivo para sobrevivência da espécie, como o afastamento de competidores e a territorialidade. O ponto crucial da visão de Lorenz a respeito da natureza humana é que, assim como muitos outros animais, o homem tem impulsos agressivos inatos em relação a sua própria espécie e este estaria limitado a poucos danos, se não fossem dois problemas: o homem dispor de armas que multiplicam seu poder ofensivo e a falta, na espécie humana, como em outros animais, o respeito ao gesto de submissão feito pelo perdedor (Cobra, 2003).
Nas sociedades ocidentais, bastante competitivas, a agressividade é estimulada como sinônimo de iniciativa, ambição, decisão ou coragem. A agressividade é um comportamento emocional que faz parte da afetividade de todas as pessoas e que se manifesta nos primeiros anos de vida, como forma de chamar a atenção para si, é uma espécie de reação que se adquire quando está à frente de situações de fragilidade e insegurança. Na fase adulta, se manifesta ainda como reação a fatos que aparentemente induzem o indivíduo à disputa e ainda a sentimentos. Agressividade e medo são emoções fundamentais na sustentação de processos decisórios, sendo assim a ação está na agressividade, e a reação na violência (Paulon, 2009). Segundo Paulon (2009), a agressividade humana é classificada em: Agressão hostil; agressão instrumental; agressão direta; agressão deslocada; auto – agressão; agressão aberta; agressão dissimulada e agressão inibida.
A Lei que proíbe as palmadas e o projeto de lei que modifica o Estatuto da Criança e do Adolescente em seu artigo 18 surgiu a partir de uma pesquisa realizada ao longo de trinta anos pela USP. O estudo apontou que crianças que sofriam abuso ou agressões chegavam à vida adulta traumatizadas e se mostravam mais agressivas rotineiramente. Mas a nova lei contra palmada, em que fica vedado aos pais usar castigos na educação dos filhos, levanta uma série de questionamentos de ordem legal e cultural. Até que ponto o estado tem o direito de intervir na educação que os pais dão? (Romanini et al. 2010).
Marilda Lipp descreve que o castigo aceitável é aquele que não machuca, apenas estabelece uma comunicação imediata e põe a criança em estado de alerta para entender o que é certo (Romanini et al. 2010). A palmada passa a ser um problema quando se torna a principal forma de comunicação dos pais com os filhos.      Estudos demonstram que a agressividade, assim como a vida criminosa, pode estar vinculada com a genética. Mas tal atitude deve ser estudada por um modelo que contempla três linhas: a biológica, a psicológica e a social (bio-pscico-social), neste modelo a linha biológica é a que define a personalidade e são separadas em categorias:
1.    Fatores genéticos – estudos mostraram que irmãos gêmeos univitelinos possuem o dobro de correlações criminosas que os não univitelinos e mais ainda quando comparado aos irmãos não gêmeos.  Outro estudo demonstra que a similaridade criminosa é maior entre a mãe e a prole do que comparado com o pai.
2.    Fatores bioquímicos – estudos mostram que a agressividade está ligada com diversas substâncias como o consumo de álcool, e o consumo deste por pessoas com baixos níveis de colesterol, pessoas com altos níveis de testosterona, ácido fenilacético e norepinefrina.
3.    Fatores neurológicos – associam o desequilíbrio comportamental com algum tipo de alteração neurológica - alguns pesquisadores descrevem que a agressividade está associada com alterações no lobo frontal, pois é neste que são regulados os comportamentos, desenvolvimento de planos, inibições, autocontrole e outras atividades de nível social. As alterações nesta região do cérebro resultam em dificuldades em experimentar outras sensações.
4.    Fatores piscicofisiológicos – esta linha de raciocínio estuda a relação das atividades neurais com a agressividade, é como se a função neural fosse maior em pessoas agressivas, gerando assim uma maior ativação do sistema nervoso. Este tipo de característica já foi observada em crianças e adolescentes com problemas comportamentais.
Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, sugere que a serotonina, um dos principais neurotransmissores do sistema nervoso central, é determinante na regulação das emoções, no comportamento impulsivo e nas interações sociais. A serotonina, já era há muito associada ao comportamento social, muito embora o seu envolvimento preciso na agressividade tenha sido sempre um assunto controverso. Segundo o estudo, o triptofano, um aminoácido essencial para produção de serotonina pelo organismo só se obtém através da alimentação, o que explicaria o fato de que algumas pessoas se tornem agressivas quando estão com o estômago vazio.
Para o sociólogo  Sérgio Adorno, as pessoas sempre agirão agressivamente. A questão é fazer com que essa agressividade permaneça num nível tolerável. O preço de viver em sociedade é controlar os impulsos. As pessoas devem direcionar a agressividade e a violência utilizando meios alternativos e inofensivos, pois o homem é o único animal capaz de dar um sentido positivo a seus impulsos agressivos. A participação em competições esportivas ou mesmo quando se trabalha com afinco, faz com que a agressividade seja colocada para fora.
Psicólogos afirmam que só o é homem é capaz de deixar para amanhã o que não deve fazer hoje — agredir o próximo. Mas a capacidade de dissimular acaba às vezes revestindo a agressividade humana de sua pior forma — a vingança. Um animal irracional pronto para agredir não disfarça — rosna, mostra garras e dentes afiados. O homem, ao contrário, pode pronunciar palavras ásperas com voz doce e mansa. Tudo isso, para os cientistas, torna muito complicado definir o comportamento agressivo humano exclusivamente a partir de uma de suas duas heranças — a genética ou a cultural. Uma coisa é certa, pelo menos para nós, humanos, a lei do mais forte, Ievada até o fim, pode cobrar um preço que a espécie não terá jamais como pagar.
Nós formandos de Biologia corroboramos que a agressividade é um ato instintivo, mas este comportamento é potencializado ou minimizado através da educação e do meio onde o individuo está inserido. Casos como o citado no inicio deste trabalho podem ser explicados como um distúrbio sentimental, mas, assim como nos animais, o homem possui poder sofre seus instintos e deve procurar formas alternativas de expressar seus sentimentos.


O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia II e baseado nas obras:

BALLONE, G.J.; MOURA E.C. - Biologia da Agressão. Disponível em : <http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=86&fb_source=message> 2008. Acesso em: 03 de setembro de 2012.
CAROPRESO, F. Freud e o mal-estar inerente à condição humana. Disponível em: <http://leiturasdahistoria.uol.com.br/ESFI/Edicoes/34/artigo133511-3.asp> Acesso em: 03 de setembro de 2012.
COBRA, R. Q. Konrad Lorenz - O teórico da agressividade e fundador da Etologia. Disponível em:< http://www.cobra.pages.nom.br/ecp-lorenz.html> 2003. Acesso em: 24 de setembro de 2012.
PARANHOS, C. Palmada fora-da-lei. Disponível em: <http://super.abril.com.br/cotidiano/palmada-fora-da-lei-441964.shtml>  2001. Acesso em: 03 de setembro de 2012.
PAULON, W. Agressividade e Psicanálise. 2009.
ROMANINI, C.; SALVADOR, A.; MAGALHÃES, N. Palmadinha fora da lei. Disponível em: <http://educarparacrescer.abril.com.br/comportamento/palmadinha-fora-lei-584360.shtml> 2010. Acesso em: 03 de setembro de 2012.
Confirmado papel da serotonina no controle da agressividade. Revista Ciência Hoje. 2008. Disponível em: <http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=26467&op=all> Acesso em: 03 de setembro de 2012.