segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O que acontece quando nos apaixonamos? Entenda como funciona bioquimicamente.



Série Ensaios Aplicação da Etologia

Por Cintia de Oliveira Soares e Deise Maira de Almeida Mendes

Acadêmicas do Curso de Ciências Biológicas

Em pesquisas recentes, estruturas do cérebro chamadas núcleo caudado, área tegmentar ventral e córtex prefrontal se mostraram mais ativadas em pessoas apaixonadas. Zonas ricas justamente em dopamina e endorfina, um neurotransmissor com efeito semelhante ao da morfina. Juntos, esses agentes estimulam os circuitos de recompensa, os mesmos que nos proporcionam prazer em comer quando sentimos fome e em beber quando temos sede. Estar em contato com a alma gêmea, mesmo que por telefone ou e-mail, resultará na liberação de mais endorfina e dopamina, ou seja, de mais e mais prazer. Apesar de a ciência já ter mapeado os principais elementos envolvidos no mecanismo da paixão, novos agentes continuam surpreendendo. Em novembro de 2005, a publicação científica americana Psychoneuroendocrinology divulgou um trabalho, mostrando que euforia, dependência e outros sintomas estão ligados a proteínas do cérebro. No inicio da relação, o componente identificado como NGF- o mesmo que provoca suor nas mãos, entre outras alterações aparece em níveis elevados no sangue.
Os hormônios que tem sua maior influência no comportamento do processo da paixão são as catecolaminas as principais são norepinefrina, a epinefrina e a dopamina. Eles são responsáveis pelo estimulo primário da paixão, desencadeando assim toda cadeia de hormônios. Oxitocina é o hormônio que nos permite ter a sensação de prazer. Já o Cortisol é responsável pelo estresse e por ai vai à cachoeira de hormônios. Enquanto a maioria das substâncias químicas apresenta níveis mais elevados no auge da paixão, a serotonina, que tem efeito calmante e nos ajuda a lutar contra o estresse, diminui em cerca de 40%. O índice foi obtido a partir do estudo da italiana Donatella Marazziti, da Universidade de Pisa. O que chamou atenção da pesquisadora foi fato de o percentual ser próximo ao da falta desse mesmo neurotransmissor naqueles que sofrem de transtorno obsessivo compulsivo. Para Donatella, isso explicaria o pensamento incontrolável, algumas atitudes insanas, quase psicóticas, e a fixação numa única pessoa na fase aguda. A diferença é que, quando se trata de paixão, essa loucura se resolve em poucas semanas, no máximo alguns meses, com as taxas voltando ao normal, o estágio seguinte é o amor, onde o organismo “se acalma” e não há efeitos colaterais severos, pois atua numa zona diferente do – tomando conta da pessoa. Outra razão para a queda da serotonina é a produção de mais hormônios sexuais, que facilitam a aproximação e a formação de pares estáveis, uma missão gravada em nossos genes. O prazo da validade da paixão pode variar, mas é fundamental que a paixão passe naturalmente, o que ocorre dentro de alguns meses, com o cérebro descarregando menos endorfinas e reduzindo as endorfinas.
Os comportamentos de um indivíduo são mediados por fatores bioquímicos e fisiológicos que desencadeiam liberação de substâncias em seu corpo. Um bom exemplo deste processo em nosso corpo é quando nos apaixonamos. Assim como nos demais animais um estimulo envia sinais para os neurotransmissores e desencadeia todo o processo para que ocorra o acasalamento. Investigadores comprovaram que a ligação entre uma ovelha e o seu cordeiro ou entre um macaco e a sua cria é a mesma que existe nos seres humanos e resulta basicamente de uma descarga de oxitocina, refere Larry Young, principal autor do estudo e neurocientista do Centro de Investigações sobre Primatas de Yerkes, em Atlanta (Geórgia). Comprovando que ocorrem os mesmos comportamentos nos animais.
Os responsáveis por desencadear esse processo bioquímico e fisiológico em nosso corpo são o sistema nervoso e o sistema endócrino que também exerce grande influência sobre o comportamento dos animais.  O sistema endócrino tem como mecanismo a produção de mediadores químicos denominados hormônios endócrinos que atua através da corrente sanguínea até determinados tecidos alvos regulando a sua função.  Ao contrário da ação dos neurônios sobre os órgãos efetuadores que são rápidos e localizados, hormônios endócrinos exercem efeitos lentos, porém são mais sustentados e igualmente importantes para o funcionamento do organismo como um todo. Esses dois sistemas atuam de modo integrado e complementar. Esse exemplo de reação do organismo a diferentes tipos de motivações (fome x medo) resulta no recrutamento de órgãos efetuadores apropriados e combina ações de curtíssimo prazo (controlados pelo SNA) e médio prazo (controlados pelo sistema endócrino). Com os estudos bioquímicos e fisiológicos observamos que a paixão traz tantos benefícios como malefícios, pois quando estamos apaixonados não controlamos nossas atitudes. Foi possível notar também que os processos que ocorrem no nosso organismo também ocorrem nos animais.


O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia I tendo se baseado nas seguintes obras:
Química da Paixão de Aline Rochedo para a revista Super Interessante

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