Infidelidade: génetica, historia evolutiva ou cultura social?


Por Bruna Bortolini e Nataly Ostrowski
Acadêmicas do curso de Biologia
Muitos estudos atualmente tem apresentado diferentes hipóteses para a explicação da infidelidade, seja através da genética, através do passado da espécie ou na cultura em que vivemos apoiadas também em estudos comparativos entre o homem com outros animais como pássaros e primatas (o ser vivo mais parecido com o homem ainda vivente). Segundo Barash (2007) existe a monogamia social em que os parceiros fazem ninhos juntos, recolhem alimentos e copulam; e a monogamia sexual que é semelhante a outra, porém com a cópula exclusiva. Para Santos (2002), monogamia não é natural em machos nem em fêmeas de aves. Para os machos significa que com quanto mais fêmeas copular maior será a chance de passar seus genes adiante, e para as fêmeas, a evidência evolutiva mais aceita é a de que promove a competição entre os espermatozóides de vários machos, e assim os espermatozóides de machos ditos mais “fracos” são descartados, além de garantir o apoio na criação da prole do seu parceiro social, mostrando a infidelidade nestas copulas extras conjugais, também chamadas de CEP (copula extra par) como chama o autor.
Segundo Zatz (2011), um estudo mostrou a relação entre a infidelidade e um gene específico – o receptor de dopamina D4. Esse gene apresenta uma região com um número variável (2 a 11) de repetições. Pessoas com um número maior de repetições (7 ou mais) teriam uma maior predisposição para buscar novas sensações e emoções. A hipótese dos autores é que essas pessoas também teriam uma tendência maior a ser sexualmente promíscuas e infiéis. Outro trabalho publicado no site ciência e saúde, mostra a infidelidade em rãs. Para os cientistas esse padrão é óbvio para os machos uma vez que obtem maior número de descendentes possíveis, mas para as fêmeas não é tão fácil identificar. Segundo os cientistas, as fêmeas que possuem esse mecanismo herdaram esse comportamento do pai, indicando que esta pode ser uma característica genética. O site ciclovivo (2012), mostra um estudo de que mudanças ambientais podem estar alterando os hábitos de alguns pássaros em torná-los mais infiéis. O texto diz que isso se deve pelo fato de que como os animais não sabem o que esta por vir, por causa de todas estas mudanças abruptas no tempo, procuram copular com um maior numero de animais, procurando genes resistentes para a perpetuação da espécie.
No texto de Mendonça (2012) a discussão sobre infidelidade e o conceito social, depende do lugar onde se vive. O matrimônio em nossa cultura ocidental, prevê o casamento como instituição monogâmica e as relações extraconjugais configuram infidelidade, nas culturas que prevêem o casamento poligâmico, a infidelidade também é caracterizada por relações extraconjugais e embora várias esposas possam ser tomadas por um único homem, elas precisam ser desposadas,  e isto se realiza a partir de um novo pacto. A infidelidade está relacionada com a moral, idéias de culpa, pecado, castigo e os custos impostos aos indivíduos que possam desrespeitar a lei e ir atrás de um “instinto natural”, procurando o desejo em outras pessoas. Casos chocantes são noticiados sempre através dos meios de comunicação, como no caso destareportagem, em que o marido confessa que após saber da traição, mata a esposa e come seu coração com cachaça, ou ainda o caso da mulher que descobre a traição do parceiro e divulga o vídeo desmascarando a melhor amiga, e o que é interessante, é que a esposa difama a amiga, porem conserva a imagem do marido. Ao observarmos casos como estes, percebemos que por mais que nós, seres humanos, sejamos seres com raciocínio e consciência mais desenvolvidos, muitas vezes os instintos animais falam mais alto e agimos como qualquer outro animal quando descobrimos ou desconfiamos que somos traídos.
Estes casos, ainda, demonstram comportamentos animais, estudados por muitos grupos de pesquisadores, em que o macho, não aceita a traição tendo uma atitude para manter seu status, porém em casos animas os machos acabam por abandonar a fêmea e coloca em situação de fracasso, e não comete atos tão violentos, a mulher que expõem a amiga, toma uma atitude de desvalorizar a outra fêmea que é concorrente, e mostrar ao grupo, o que a outra fez, casos que podem ocorrer em alguns grupos animais.
Para confirmar ainda mais o que já foi relatado neste texto, em uma reportagem da revista Veja os pesquisadores dizem que a cada quatro mil espécies de mamíferos, apenas três são monogâmicos, comprovando assim que a promiscuidade e a infidelidade são mais naturais do que supunha-se nos animais e que esta pode não ser a exceção mas a regra no mundo animal.
Como biólogas, vemos que a que a CEP em humanos é biologicamente natural. Mas como a maior parte das culturas impõe a monogamia e são lideradas por homens (que assim como os demais animais geralmente são os machos que tem estratégias para evitar a infidelidade da fêmea) a CEP é tida como infidelidade, algo imoral, antiético, pecaminoso, principalmente quando se trata do sexo feminino. Sendo todo ser vivo resultado da soma da genética e do ambiente, o ser humano encontra-se em constante duelo com o seu instinto e a sua cultura.

O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia e se baseou nas seguintes obras:

D. P. BARASH; E. J. LIPTON. O mito da monogamia: fidelidade e infidelidade entre pessoas e animais, Ed. Record. Rio de Janeiro. 2007.