Por Francielle Clais e
Gabriella Torrens
Acadêmicas do Curso
de Biologia
O convívio social na natureza é muito comum e trouxe como vantagens para os animais proteção, obtenção de alimentos, reprodução e defesa de predadores, mas nesse processo de formação de grupo existe o lado cruel onde o diferente não entra e pode ser agredido se avançar limites estabelecidos. A vida em grupo beneficiou muitas espécies, e em decorrência a evolução de mecanismos de comunicação e interação levaram às sociedades complexas. Para se ter o convívio em grupos é necessário ter objetivos em comum, seja positivo ou negativo, como, por exemplo, disputa de território, captura de alimento, cultura ou religião no caso de humanos. Em muitos casos os grupos costumam se tornar territorialistas e a disputa por espaços com outros gera conflitos entre eles.
Nossos
parentes genéticos mais próximos os chimpanzés possuem características sociaismuito semelhantes a nós humanos e são um grande exemplo de grupos territorialistas. Em 1974, pesquisadores do
sítio Jane Goodall, na Tanzânia, presenciaram uma nova forma de agressão de um
chimpanzé: oito membros de uma comunidade surpreenderam e mataram um macho
adulto jovem do grupo vizinho. E nos três anos seguintes, os agressores acabaram
completamente com todos os vizinhos, matando até mesmo fêmeas e bebês, e assim
apossaram-se do território. Porém os conflitos não duram para sempre e entre
eles existem momentos de tréguas e ajuda ao próximo, um grande exemplo é o caso
dos morcegos-vampiros, os quais se alimentam
e oferecem ao seu semelhante que por alguma razão teve uma caçada
frustrada.
Os animais
(exclusivamente o Homem), em geral são egoístas, caso façam algum favor ao
próximo esperam algo em troca, algum benefício por estarem se doando ao seu
semelhante, esperando que esse favor seja retribuído algum dia. Um tema bem
atual a respeito da formação de grupo é o chamado bullying, que vem da tradução
literal do termo bully que significa ameaçar, intimidar, dar trote, fanfarronar
e bravatear. O bullying compreende todas as formas de atitudes agressivas,
intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um
ou mais estudantes contra outros que não façam parte de seu grupo, causando dor
e angústia, e executadas dentro de uma relação desigual de poder. Uma pesquisado IBGE realizada em 2009 revelou que quase um terço (30,8%) dos estudantes
brasileiros informou já ter sofrido bullying, sendo a maioria das vítimas do sexo
masculino. A maior proporção de ocorrências foi registrada em escolas privadas (35,9%),
ao passo que nas públicas os casos atingiram 29,5% dos estudantes.
Embora certos
atos de crueldade pareçam gratuitos, eles não o são, havendo um componente
prévio de ordem política ou social. Uma pesquisa desenvolvida no Instituto de
Psicologia (IP) da USP, analisou algumas modalidades de violência, com base nos
grandes genocídios. Principalmente no Holocausto da Segunda Guerra Mundial,
quando a barbárie humana atingiu uma magnitude até então inédita. A fim de
compreender como o homem pôde alcançar tais níveis de destrutividade, a
psicóloga Marie Danielle Brulhart Donoso resolveu articular aspectos históricos
e cotidianos, e individuais e coletivos, fazendo uma análise da relação
indivíduo-mundo. Sigmund Freud, o pai da psicanálise, relaciona a perversão à
sexualidade, mas a autora ampliou o estudo para as perversões morais (não
ligadas à sexualidade): “a perversidade está também na relação do dia-a-dia, e
não só nos grandes massacres. A dominação atrelada à crueldade pode
encontrar-se num chefe autoritário, por exemplo”. A pesquisa direcionou sua
análise aos opressores que praticam atos cruéis com indiferença (o perverso),
havendo uma distinção daquele que o faz por prazer (o sádico). Marie relembra
que Freud afirmava que para viver em sociedade o homem teria que renunciar aos
seus impulsos naturais (isto é, não poder fazer tudo aquilo que deseja, quando
e como quiser), criando, desta maneira, uma tensão constante entre os
interesses pessoais e as exigências da cultura. Dessa forma, a pesquisadora não
acredita que o ser humano esteja mais cruel hoje, mas ele “atualmente está mais
instrumentalizado tecnologicamente para dar vazão a esse tipo de impulso.” A
pesquisadora observa que a perversidade acompanha o homem ao longo da história,
já que sempre existiram os dominados e os dominadores. Segundo ela, isso
explica porque grandes massas podem cometer atos de destruição: “Quando se está
em grupo, há certa desinibição para descargas de ordem não racional. Em uma
massa, as pessoas tornam-se anônimas e se sentem libertadas para fazer o que
sentem vontade, ou para seguir o que fazem os outros. Segundo a psicanálise, na
massa fala mais alto o desejo do todo, não mais a vontade individual”. Segundo
Marie quando o grupo é coordenado por um líder este passa a representar um
ideal para os membros, que passam também a identificar-se entre si. As
diferenças existentes entre grupos (quaisquer que sejam elas) são vistas como
uma ameaça, como algo intolerável, e por causa desta ameaça torna-se
justificável a sua destruição. A pesquisadora também atenta para o fato de que
em muitos casos de destruição em massa, o grupo opressor trata o oprimido como
não-pertencente à humanidade, comparando-os com certos animais ou até objetos.
E essa desumanização pode facilitar ainda mais os atos de crueldade. Deste
modo, os gestos parecem, à primeira vista, gratuitos para quem está de fora,
mas derivam de uma intolerância que pode ter diversas causas. Não há
questionamento a respeito dos atos do líder.
Os recentes
casos de agressão à homossexuais, índios e episódios divulgados pela mídia como
o de Suzanne Von Richthofen (que assassinou os pais com ajuda do namorado) são
exemplos vivos de agressão “gratuita”. “A crueldade, esteja ela articulada ao
sádico ou ao perverso, caminha junto com o ser humano”, acrescenta Marie.
Animais quevivem em grupo, sociedades complexas adotaram os grupos como forma de se
beneficiarem. Todo grupo possui um chefe que mostra aos seus discípulos
vantagens por estarem naquele determinado grupo e demonstram que outros, diferente
deles não podem fazer parte do grupo por serem maus, mostrando que eles merecem
punições assim como os desertores, por isso muitas vezes agem com violência.
Com o ser humano é igual e a discriminação serve para deixar longe pessoas que
não façam parte do relacionamento pessoal do chefe do grupo.
Exatamente como penso. Depois de muita observação, criei uma teoria de que se as vítimas de bullying andassem em grupo sofreriam menos opressão de outras panelinhas, patricinhas por exemplo. Gostaria de encarar isso como algo natural, mas no qual você pode usar a força das relações sociais em benefício próprio.
ResponderExcluir