Por Jéssica Cumin, Jonathan da Silva Pinto, Leonardo Polak,
Michel Souquet e Siliane Gantzel
Graduandos do curso de Bacharelado em Biologia
Michel Souquet e Siliane Gantzel
Graduandos do curso de Bacharelado em Biologia
A Neurociência, a ciência do cérebro, estuda as ações neurais sobre as funções vegetativas (digestão, circulação, respiração), sensoriais e motoras (comportamento da locomoção, da reprodução e alimentação), dos mecanismos da atenção (memória, linguagem, aprendizagem e emoção) e suas ligações com toda a fisiologia do organismo incluindo a relação cérebro-comportamento (VENTURA,2010 ). Além de estudar o funcionamento do maquinário cerebral, esse ramo da ciência foca nas doenças neurais, estudando suas causas, busca possíveis tratamentos e prevenção contra o surgimento de novas patologias (VENTURA, 2010).
René Descartes foi o primeiro a propor a ideia de reflexo, a sensação de dor e a sua condução através dos nervos até o sistema nervoso central, em 1664. Luigi Galvani comprovou a correlação do cérebro com os movimentos (resposta comportamental) através de experimentos com a anatomia de rãs, em 1786. O primeiro a defender a ideia de que o córtex cerebral era dividido em zonas foi Franz Joseph Gall, em 1790. Em 1874, Carl Wernicke estudou a área do cérebro que fazia relação com a afasia e com a compreensão da linguagem. Entre 1863 e 1875 J. David Ferrier fez estimulação no córtex de macacos e Gustav Fritsch fez estimulação elétrica no córtex de cachorros acordados. Hughlings estudou a epilepsia motora. Em 1890, Friedisch Gortz fez experimentos com cachorros para comprovar a separação das funções motoras. Em 1902, Fedor Krauze publicou uma citoarquitetura do córtex em 47 áreas. Desde então os estudos nessa área não pararam de avançar.
Dessa forma, atualmente são muito estudadas doenças degenerativas como Esclerose múltipla, Parkinson, Huntington e Alzheimer, assim como epilepsia e tremor essencial. A epilepsia tem sido no Brasil objeto de estudo de vários e importantes grupos de pesquisa do ponto de vista farmacológico. Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) desenvolveu um método experimental para o estudo das lesões associadas ao mal epiléptico e que consiste na administração de uma dose elevada de pilocarpina para induzir em ratos o estado de excitação neuronal que é conhecido como mal epiléptico (VOGT, 2002).
A neurociência está vinculada à psicologia, pois uma ciência completa a outra, enquanto a primeira desvenda as conexões e funções cerebrais a outra busca compreender como o cérebro reage e dita os comportamentos como eles são (VENTURA,2010).
Todas as reações desempenhadas por um animal, em resposta ao meio, são controladas pelo sistema nervoso, sendo em nível mais elementar, geridas pelos neurotransmissores liberados pelos neurônios. Snowdon (1999) descreveu o comportamento animal como sendo a ligação entre organismos e o ambiente, e entre o sistema nervoso e o ecossistema, constituindo assim, uma das mais importantes propriedades da vida animal. Logo, possui um papel fundamental nas adaptações das funções biológicas e é, de forma particularmente enigmática, a habilidade de algumas criaturas simples desenvolverem tarefas complexas, e tudo isso no momento certo e com escassa ou nenhuma aprendizagem prévia.
O homem há muito tempo tenta desvendar toda essa rede celular, capaz de executar as mais complexas atividades, sendo que para isso, muitas vezes se utiliza de técnicas cirúrgicas. Evidências de que áreas específicas cerebrais eram responsáveis por controlar temperamento, emoções e intelecto apareceram apenas no século 19. Dois casos clínicos se tornaram clássicos nos livros de neurologia, por mostrarem lesões extensas no cérebro. O primeiro deles foi o de Phineas Gage, que sofreu profundas mudanças de humor e comportamento, em razão de um acidente com uma barra de metal que atravessou seu crânio. O segundo caso foi o de um jovem parisiense, que por uma lesão sifilítica na parte frontal esquerda de seu cérebro, apenas conseguia pronunciar a palavra “Tan”. Outras técnicas, como a lobotomia, foram desenvolvidas mais tarde na tentativa de melhorar as condições de vida de pacientes com distúrbios mentais, assim como para auxiliar no estudo sobre as funções exercidas por cada área cerebral (MASHOUR et al., 2005).
Atualmente, são utilizadas técnicas como ressonância magnética, capazes de visualizar o interior da caixa craniana de forma não invasiva, assim como são utilizadas ferramentas que permitem a estimulação de partes específicas no cérebro. Uma dessas técnicas é chamada de estimulação cerebral profunda (DBS), onde um cirurgião coloca um pequeno marca-passo em uma região específica do cérebro, podendo assim estimular ou inibir determinados processos neurais. Hoje, mais de 60 mil pacientes que sofrem da doença de Parkinson já foram operados, sendo que o mesmo aparelho está sendo estudado para distúrbios como epilepsia, transtorno compulsivo obsessivo e depressão (SJOBERG; BLOMSTEDT, 2011).
Nós, formandos em Biologia, acreditamos que os avanços feitos na área de neurociência estão melhorando a qualidade de vida de milhares de pessoas pelo mundo, assim como proporcionando maior conhecimento sobre as funções executadas pelo sistema nervoso. Ainda estamos longe de compreender totalmente os papéis de área cerebral, entretanto as descobertas feitas nos últimos anos já foram capazes de alterar o modo como percebemos nossos atos, assim como compreendemos o comportamento dos outros animais.
Primeiro vídeo do Documentário “Por dentro do Cérebro”
O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia e baseado nas seguintes obras:
MASHOUR, G. A.; WALKER, E. E.; MARTUZA, R.L. Psychosurgery: past, present, and future. Brain Research Reviews, v. 48, p. 409–419, 2005.
PRIMO, P. História da neurociência parte I. Localizacionismo cerebral e seus fundamentos históricos. Disponível em:
SBN – Sociedade Brasileira de Neurociência. Disponível em:
Acesso em: 17.03.2012
SJOBERG, R. L.; BLOMSTEDT, P. The psychological neuroscience of depression: Implications for understanding effects of deep brain stimulation. Scandinavian Journal of Psychology, v. 52, p. 411-419, 2011.
SNOWDON, C.T. O significado da pesquisa em Comportamento Animal. Estudos de Psicologia, v. 4(2), p. 365-373, 1999. Disponível em:
VENTURA, D. F. Um Retrato da Área de Neurociência e Comportamento no Brasil. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 26, p. 123-129, 2010.
VOGT, C. À Luz da Ciência. SBPC/Labjor. Disponível em:
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