sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Publicar: pra quê? pra quem? por quem? com quem? onde? quando? como? quanto?

Basta entrar no mundo acadêmico que lá vem o alerta: “você tem que publicar os resultados de suas pesquisas em revistas científicas”, “isso é fundamental para sua carreira e para seu currículo” e a partir de então começa uma corrida para tal, mesmo sendo este um universo incompreendido. A moeda do mundo científico é a publicação, porém não basta ter uma excelente idéia, planejar e operacionalizar uma pesquisa, analisar estatisticamente os resultados, interpretá-los com base em diferentes pontos de vista e escrever formalmente e objetivamente. Você precisar agora imortalizar o seu trabalho em uma publicação. A revista científica precisa ter credibilidade, ser bem conceituada e ter boa repercussão no meio. Começa a competição para publicar o trabalho em uma revista “boa”. Para auxiliar (tanto a escolha da revista quanto a avaliação do pesquisador) o meio acadêmico resolveu pontuar as revistas com base na qualidade e relevância dos estudos publicados, tendo como parâmetros o fator de impacto da revista na comunidade científica. Conseguir ter um trabalho aceito em uma revista de ponta é uma meta para a maioria dos pesquisadores, porém pode gerar também muita frustração. Vamos voltar ao início para entender o processo. A grande maioria dos pesquisadores tem muito prazer em mostrar para o mundo as suas descobertas. Na verdade essa é uma condição sine qua non, pois quando decidimos que nosso papel na sociedade será “descobrir” o mecanismo de funcionamento do mundo, obviamente que a meta só será cumprida quando todos souberem o que nós descobrimos. Essas descobertas são divulgadas de inúmeras formas: palestras, cursos, livros e artigos científicos. Durante muito tempo os pesquisadores realizavam todo o processo da pesquisa com uma certa calma, refletia-se mais, desde a concepção da pesquisa, até a interpretação da mesma. Mas o mundo girou e o pensamento produtivista aplicado na economia mundial chegou também até a academia e gerar publicações virou moeda, tendo, inclusive, as publicações além de valores diferenciais, prazos de validade. Obviamente que o processo como um todo alcançou uma verdadeira escala industrial e o tempo do processo de pesquisa teve que ser reduzido, aumentando a competitividade e, enquanto em alguns casos obtivemos uma óbvia melhoria da qualidade, em outros presenciamos inúmeros escândalos de pesquisadores que publicaram pesquisas fictícias ou plageadas e fraudam o sistema incluindo ou excluindo co-autores em detrimento de acordos políticos. Muitas vezes o que era feito por prazer, se tornou uma pressão estressante e que muitas vezes leva o pesquisador a desistir da carreira por total falta de fôlego. Aqueles que sobrevivem à seleção natural do mundo acadêmico passam a produzir ciência de uma forma automática, captando a exigência do mercado e descobrindo os meios mais viáveis de atingir as metas estipuladas pelo sistema. Obviamente que esses são minoria no nosso meio e por isso alcançam tanta notoriedade. Obviamente que esse sistema também norteia minha vida profissional me direcionando na busca de divulgar minhas pesquisas em importantes meios de comunicação. Mas eu não publico por pressão (ou não apenas por), acredito que é meu dever disponibilizar para sociedade o conhecimento e transformar essas descobertas em formas de melhorar a vida de todos os seres desse planeta. Na verdade depois de 20 anos estudando o comportamento dos animais, principalmente aqueles de interesse médico me sinto um tanto frustrada de não ver a aplicação das minhas descobertas na solução desses problemas. Mas esse é um novo capítulo da minha busca que em breve irei procurar sanar. Vocês que acompanham minhas reflexões no Blog devem estar se perguntando o motivo de eu falar sobre esse assunto aqui, um espaço que uso para refletir o comportamento dos animais, inclusive do homem. Então, como o blog reflete também as coisas que ocorrem na minha vida, esse post marca minha nova atribuição: Editora da Revista Científica “Estudos de Biologia”, um meio de comunicação de resultados de pesquisas explorado por pesquisadores há, pasmem, 33 anos! A revista foi fundada por Rudolf Bruno Lange em 1978 e desde então deixou imortalizado inúmeros pesquisadores e suas descobertas visando contemplar tanto o campo da difusão como o da divulgação científica, bem como a opinião nos cenários das grandes questões culturais do país e do mundo, identificando tendências e abordando temas próprios do conhecimento e da dinâmica de suas transformações culturais, científicas e tecnológicas. Contribuindo, assim, para o debate dos grandes temas científicos da atualidade, procurando atrair a atenção das novas gerações de pesquisadores e professores para uma reflexão sistemática e continuada. Embora não pareça, esse é um grande desafio, pois a PUCPR busca a excelência nas suas ações incluindo a manutenção de uma ferramenta de comunicação que contribua para o desenvolvimento da ciência e, obviamente, a melhoria das condições sociais, econômicas, políticas, ambientais e culturais do nosso e de outros países. Assim, nessa nova etapa a Revista Estudos de Biologia visa que antigos e novos pesquisadores usem esse meio para contribuir na construção de um mundo melhor, colocando-se, assim, a disposição para receber, divulgar e disseminar suas ideias.

2 comentários:

  1. Parabéns Marta por mais essa atribuição!
    Tenho certeza de que a Estudos de Biologia tem muito a ganhar com sua contribuição.

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  2. Na primeira metade do século XX um famoso helmintologista brasileiro, chegou a conclusão que "O PORTUGUÊS (idioma) É O TÚMULO DOS CONHECIMENTOS HUMANOS" - mas haviam tradutores das suas obras no conceituado Instituto de Helmintologia da Academia de Ciências da ex-URSS ! Em anos mais recentes, finalmente os estudos sobre o surgimento do homem no continente americano, passaram a ser em parte aceitáveis nos USA e ter o devido destaque, com base nos resultados obtidos pela pesquisadora Niede Guidon que obteve o doutorado na Sorbonne. A resistência que durou décadas foi o resultado sos seus textos terem sido publicados em francês que os norte-americanos não sabiam nem se interessavam em saber ! Com esta RESISTÊNCIA BURRA, AINDA SÃO FANÁTICOS PELO CRIACIONISMOS E AINDA NÃO ABSORVERAM A DERIVA CONTINENTAL !
    O QUE SE PODE FAZER ? SE CONSIDERAM AUTÊNTICOS GUARDIÕES DO MUNDO...

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