sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A ADOÇÃO EM ANIMAIS E SEUS PONTOS DE VISTA

Série Ensaios: Sociobiologia

Por MARCELLE PONS e THAMIRES WEIGERT

A palavra altruísmo foi designada em 1830 por Augusto Comte, ao conjunto de disposições humanas que inclinam os animais a ajudarem o próximo. Atualmente, este conceito é mais estudado pela sociobiologia, a qual estuda o comportamento social encontrado em algumas espécies. Uma vertente da sociobiologia cria fórmulas que englobam o altruísmo como motivador do comportamento em sociedade, entretanto, acreditam também que o egoísmo (predisposto pela seleção natural) influencia no comportamento de ajuda, porém na visão de autobenefício (SILVA, 2007). Outro autor que enfatiza este aspecto de “egoísmo disfarçado de altruísmo” é Richard Dawkins em seu livro “O gene egoísta”. Segundo o autor, mesmo no grupo dos altruístas quase com certeza haverá uma minoria dissidente a qual se recusa a fazer qualquer sacrifício, ou seja, um egoísta, então ele, por definição, tem maior probabilidade do que os últimos de sobreviver e ter filhos. Cada um desses filhos tenderá a herdar suas características egoístas. Após várias gerações desta seleção natural, o "grupo altruísta" será sobrepujado pelos indivíduos egoístas e será indistinguível do grupo egoísta. Entretanto, Avital (1998) (Artigo disponível em pdf) argumenta que os comportamentos cooperativos e altruístas evoluíram com mais probabilidade entre animais aparentados do que entre animais sem parentesco, pois partilham mais genes semelhantes. O que significa que uma ação beneficiando um parente reverte a favor do altruísta, na medida em que as chances de reprodução dos genes comuns foram aumentadas.

As observações etológicas mostraram que nos animais que apresentam cuidado parental (as aves e os mamíferos, principalmente), o altruísmo está ligado as emoções de vinculação e abandono – o afeto e a angústia. Nestes animais, as emoções de ligação e de abandono adquiriram uma autonomia e níveis motivacionais próprios (LENCASTRE,2010). Dessa maneira, a adoção entre espécies pode ser estimulada pelos fatores apresentados acima e, corroborada pela teoria de Avital (1998). Existem inúmeros casos de adoção entre espécies distintas que podem ser consideradas contra evolutivas, como o caso de uma galinha que adotou cachorros, comportamento não esperado já que todos os estímulos parentais entre aves e mamíferos são diferentes. Outro caso é o de uma tigresa que adotou porcos, os quais na natureza seriam considerados presas e em cativeiro, adaptaram-se. Em contrapartida, desconhece-se o motivo que acarreta a adoção, já que em grande parte dos casos o cuidado parental gera um gasto energético muito grande por parte da fêmea . Dessa forma, por que um animal se colocaria mais vulnerável por um filhote não biológico? Ainda não se sabe resposta para essa pergunta, porém, existem hipóteses como imprinting, gravidez psicológica ou hormônios e novamente, altruísmo(Avital,1998). A mais aceita é a influência dos hormônios neste caso, já que a ocitocina é responsável por estreitar os laços maternos, podendo apenas o contato com um filhote estimular a produção deste hormônio, e a prolactina é uma das responsáveis pela produção do leite (SALDANHA et al,2005). Existem casos em que o estímulo feito por um filhote não biológico na mama de uma fêmea sem leite, ocasionou produção deste, como o caso de uma cadela em São Paulo, a qual nunca teve cria e amamentou filhotes de gato . Entretanto existem relatos de fêmeas que perderam seus filhotes e logo depois adotaram filhotes de outra fêmea. Ambos os casos são adoções interespecíficas, mas podem ocorrer dentro da mesma espécie também. Está sendo realizado um levantamento de casos de adoção inter e intra específica no mundo inteiro, como projeto de monografia. A partir dele será possível analisar em quais grupos de animais é mais freqüente e em quais situações. Tal trabalho será publicado em breve.

O altruísmo em humanos é considerado por Lencastre (2010), originado do comportamento pró-social dos primatas, que expressam emoções genuínas de bondada e compaixão (LENCASTRE, 2010). Em humanos a adoção é vista também como um ato de altruísmo, porém, segundo Reppold (2003), a probabilidade deste ato ser de auto-satisfação para os pais é grande, ligando-se a teoria do gene egoísta. A autora afirma que muitos casais procuram filhos adotivos logo após a morte de um biológico para ocupar o espaço deixado por este; outras vezes, casais adotam, pois crêem que aumentará a probabilidade destes possuírem um filho biológico, ou seja, adotam para diminuir a ansiedade (REPPOLD, 2003).

Segundo Reppold (2003), o maior número de casos é de casais que adotam por “desejo de ter um filho”. Em contrapartida, existem situações em que as mães entregam seus filhos para adoção, caso conhecido como abandono, nos animais. Ainda segundo o autor, entregar e abandonar são experiências diferentes em humanos, embora a prática no mostre que ambas dimensões coexistem. Mesmo que a genitora entregue a criança por sua própria conta (sem a mediação da autoridade judiciária), muitas vezes, existiu o reconhecimento de sua não disponibilidade para a maternidade/paternidade e uma preocupação sobre esta criança no sentido de protegê-la e confiá-la a outrem. Entretanto as condições de abandono vivida pelos genitores (em especial pela genitora) são singulares, como no caso de uma mãe que abandonou seu bebê recém-nascido em uma caixa de papelão em SP e depois se arrependeu , enquanto em outro caso a mãe não voltou atrás de sua decisão. Ambos os casos parece ter uma dimensão importante e específica de cada mulher, sendo destas a maioria jovem, de baixa renda, baixa escolaridade e qualificação profissional (COSTA, 2003)

Estando a adoção na categoria de apego de Comte, nós como graduandas de biologia podemos resumir que esta é necessária para a sobrevivência das espécies assim como também é considerada vantajosa em alguns casos, principalmente à cria, tanto humana quanto de animais silvestres e domésticos, que tem suas chances de sobrevivência aumentadas.


Esse ensaio foi baseado nas seguintes obras

AVITAL,E; 1998. Adopting Adoption. Anim. Behav, vol, 55, pg.1451–1459 .

CHAVATE,P. Lactation in the mare. 1997. Equine Veterinary Education, v. 9(2): p.62-67

COSTA, L.F; CAMPOS, N.M. Liana. 2003 A Avaliação Psicossocial no Contexto da Adoção: Vivências das Famílias Adotantes. Psicologia: Teoria e Pesquisa. vol. 19 n. 3, pg. 221-230.

LENCASTRE, M.P. A; 2010. Bondade,Altruísmo e Cooperaçao.Considerações evoulitvas para a educação e a ética ambiental. Revista Lusófona de Educação, vol.15, pg.113-114.

MASSON,J.F. 1998. Quando os elefantes choram. Editora Geração

REPPOLD,C.T; HUTZ,C.S. 2003. Reflexão social, controle percebido e motivações à adoção: características psicossociais das mães adotiva. Estudos de Psicologia; vol. 8(1), pg. 25-36

ROSENBLATT, J.S.1979. Progress in the study of maternal behavior in the rat: Hormonal nonhormonal,sensory and developmental aspects . Advances study in Behavior,v.10 p. 225-311, 1979

SILVA. Disponível em Psiquiatria Geral. [http://www.psiquiatriageral.com.br/saudecultura/sociobiologia.htm]

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