Vantagens na vida social?

Série Ensaios: Sociobiologia

Vantagens na vida social?

Por Laura Mohtadi e Lina Clasen

A formação de grupos na natureza é muito comum e traz diversos benefícios e facilidades para os indivíduos pertencentes a esses, pois em grupos as chances de proteção aumentam, há mais facilidade na obtenção de alimentos e maior chance de reprodução, tudo isso favorece as taxas de sobrevivência (BURNHAM & PHELAN, 2002). Em animais, como os gorilas é possível encontrar uma boa variedade genética entre as mesmas espécies. Já em humanos, isso não é quase visto, devido ao fato dos grupos não terem ficado isolados por muito tempo, o que gerou uma baixa variedade entre nós. Sendo assim o preconceito sobre as raças de humanos é infundada, pois somos praticamente clones um dos outros, geneticamente falando (BURNHAM & PHELAN, 2002). Em todo caso, os grupos costumam se tornar muito territorialistas, disputando espaço com outros, o que costuma gerar conflitos entre eles. Como no caso dos chimpanzés, os quais vasculham o território alheio e se houver uma vantagem numérica podem atacar os vizinhos. Essa cooperação entre grupos específicos de chimpanzés é vista desde cedo (Vídeo: Chimp Patrol). Conseguimos ver essa cooperação presente nos humanos também, desde a descoberta da agricultura, onde grupos que usufruíam dela tinham mais facilidade em se alimentar e assim maior chance de sobrevivência do que os que viviam da caça e produtos naturais. Porém, vale ressaltar que com o aumento exagerado de grupos a competição por recursos também se eleva e assim mais disputas são traçadas (PRIMACK & RODRIGUES, 2001). No entanto, observa-se que na maioria dos animais, inclusive o humano, esses conflitos não costumam ser exagerados, nem durar eternamente, havendo momentos de tréguas e cooperação, como no caso dos morcegos-vampiros, vídeos que ilustrem, os quais regurgitam seu alimento para oferecer ao semelhante caso este não tenha conseguido o seu próprio. Os animais em geral são um pouco egoístas, caso façam algum favor entre si, espera-se algo em troca, algum benefício por estarem se esforçando pelo semelhante em um momento, esperando que esse favor seja retribuído algum dia (especialmente o humano), nos outros animais essa troca de favores costuma ocorrer com mais freqüência entre parentes. Ao imaginarmos que numa caça um grupo em conjunto conseguiria uma presa maior vemos a importância de atitudes em conjunto, no caso do morcego-vampiro, ao regurgitar sua comida para outro esse ajuda a fazer com que seu grupo continue grande, aumentando as chances de reprodução (BURNHAM & PHELAN, 2002) O que comprova a necessidade de ganharmos algo em troca fazendo um favor a outro, nunca estamos pensando somente no outro, algum tipo de satisfação em nossas ações precisamos ter, buscando sempre um equilíbrio entre os favores. O ser humano também tem um senso de justiça muito ativo, buscando direitos iguais, no sentido de que conseguimos ignorar alguns impulsos que muitas vezes nos levariam a atitudes egoístas. A formação de grupos se dá então principalmente pela necessidade de compartilhar benefícios para alimentação e reprodução. Porém fica clara a obrigatoriedade de se ver vantagem no outro e que regras são necessárias para o bom funcionamento dessa sociedade que é formada. Dentro da sociedade humana, sua formação sempre apresentou inúmeros fenômenos que surgiram no decorrer de seu desenvolvimento à partir de diferenças e semelhanças entre indivíduos do mesmo grupo, criando diferentes relações de poder (BURNHAM & PHELAN, 2002). A partir do momento em que um homem precisou do auxílio de outro, a partir do momento em que se aperceberam ser útil a um só possuir provisões para dois, a igualdade desapareceu, a propriedade introduziu-se, o trabalho tornou-se necessário, e as vastas florestas transformaram-se em campos vicejantes que foi preciso regar com o suor dos homens, e nos quais logo se viu a escravidão e a miséria germinarem e crescerem com as colheitas. (J. J. Rousseau, 1755/1989, pp.92-93). Na argumentação de Rousseau pode-se concluir que à escravidão e à miséria auxiliaram de forma conjunta o surgimento do preconceito e do racismo. Com efeito, o preconceito e o racismo parecem ser tão antigos quanto são as relações assimétricas de poder entre os homens e a concomitante necessidade de justificação dessas relações fonte. Estudos históricos afirmam que já existia preconceito na antiguidade greco-romana, embora este não fosse um preconceito de base racial, uma vez que não existiam divisões e hierarquias raciais naquela época; mas sim um preconceito de base cultural fonte (Snowden, 1983, 1995). Um fenômeno social muito comum na atualidade é o chamado bullying, que vem da tradução literal do termo bully que significa ameaçar, intimidar, dar trote, fanfarronar e bravatear (Vídeo: Formação de grupos nas escolas pode ser motivo de bullying). As pesquisas sobre bullying são recentes e ganharam destaque a partir dos anos 1990, principalmente com Olweus, 1993; Smith & Sharp, 1994; Ross, 1996; Rigby, 19963, os quais observaram que este ocorre com mais frequência em escolas e locais de trabalho. A prática do bullying consiste em colocar apelidos pejorativos, ofender, intimidar, assediar, amedrontar, discriminar e agredir, podendo ser considerado como uma prática de preconceito, sendo executada dentro de uma relação desigual de poder. O sentimento de superioridade ao ver o outro sofrer não é algo muito compreensível, pois a disputa é por uma questão criada pela sociedade humana do que é considerado um padrão comum, o que não estiver dentro deste padrão imposto é visto como errado e pessoas que necessitam se afirmar menosprezando os outros. Os animais formam grupos para que objetivos sejam alcançados mais facilmente, buscando maior adaptação ao ambiente em que vivem. Esses auxílios não costumam ocorrer apenas pela boa vontade do companheiro e/ou vizinho, e sim pelas vantagens que virão, como, maior proteção, facilidade na obtenção de alimento, maior chance de reprodução, entre outras. Apesar de não ser o moralmente correto, isto tem base genética, é feito com intuito de aumentar as chances de sobrevivência.

Esse ensaio foi baseado nas obras:

BURNHAM, T. & PHELAN, J., A Culpa é da Genética. Tradução C. I. Costa. Rio de Janeiro: Sextante, 2002, 240 p.

PRIMACK, R. B.; RODRIGUES, E. Biologia da conservação. Londrina: E. Rodrigues, 2001. 328 p.

http://www.scielo.br/pdf/epsic/v9n3/a02v09n3.pdf

http://www.scielo.br/pdf/jped/v81n5s0/v81n5Sa06.pdf