Amor ao Filhote – O que pode levar os pais a arriscarem a vida pelos filhos

Série Ensaios: Sociobiologia


Por André M. Pelanda, Paulo Henrique Utumi e Patrick Afornali



Todo comportamento, materno ou paterno, de cuidado com a prole, até que ela alcance a independência física, é chamado de cuidado parental. O cuidado parental é constituído por um repertório de comportamentos exibidos pelos pais para com sua prole com o objetivo de assegurar a sobrevivência de seus descendentes. Todavia, o custo com o cuidado parental pode reduzir a capacidade dos pais em investir em outras proles. Investimento parental é qualquer comportamento dos pais que aumenta a probabilidade de um filhote sobreviver até a reprodução, às custas da capacidade dos pais de gerarem outros filhotes (TRIVERS 1972). Contudo, se a sobrevivência da prole estiver ameaçada, então o macho deverá se beneficiar ignorando outras possibilidades de acasalamento e investindo em cuidados coma prole. Nas espécies com cuidado parental, o número de descendentes produzidos com sucesso numa estação reprodutiva não é, normalmente, limitado pelo número de indivíduos que uma fêmea pode colocar, mas pelo número de descendentes que os pais podem alimentar (LACK 1968).

Em humanos, os bebês em geral, despertam ternura e comportamentos de cuidado nas pessoas. Para guiar a discussão sobre os diversos fatores que estão relacionados aos sentimentos afetivos direcionados aos infantes, tomaremos como base as quatro questões propostas pelo etólogo Nikolaas Tinbergen link para o estudo do comportamento. Segundo Tinbergen (1963/2005), existiriam quatro perspectivas diferentes para compreender e estudar o comportamento, as quais se remetem a explicações independentes, mas complementares (Alcock, 2001; Izar, 2009).

Assim, as quatro questões se referem a: 1) Mecanismos causais do comportamento, ou seja, mecanismos fisiológicos (neurais, sensoriais, hormonais e motores) envolvidos no comportamento, bem como estímulos que o desencadeia; 2) Desenvolvimento, isto é, a origem ontogenética do comportamento e fatores ambientais envolvidos; 3) Função adaptativa, que diz respeito ao valor do comportamento para a sobrevivência e reprodução; e 4) História evolutiva, que faz referência a como o comportamento se desenvolveu na espécie estudada e por que ele seguiu certo processo evolutivo.

No mundo animal, é possível encontrar alguns exemplos de neotenia. Por exemplo, o axolotle, conserva durante toda a vida brânquias externas e mantêm em geral a morfologia larvar. Quando em cativeiro, ovos originários destas "larvas adultas" conseguem desenvolver-se normalmente e sofrer metamorfose, originando animais adultos "normais", mas não é possível induzir as larvas gigantes a desenvolver a morfologia típica de um adulto.Entre muitos animais de estimação é perceptível a retenção de traços infantis nos indivíduo

s adultos, o que ajuda a promover o sentimento de amabilidade que temos em relação aos mesmos (Archer, 1997 ). Algumas raças de cachorro, como porexemplo, o Maltês e o Yorkshire Terrier , parecem ter sofrido um processo de seleção artificial para o favorecimento da neotenia.

Comparando aos demais primatas, o recém-nascido humano é mais imaturo fisicamente, tanto no aspecto motor como perceptivo (Bjorklund, 1997; Hrdy, 2001). Em muitas espécies de primatas, os filhotes apresentam a pele ou os pêlos coloridos, os quais mudam de cor ao longo da vida e possuem a função de atrair o cuidado de adultos (Gerald, Waitt, & Maestripieri, 2006).

Em uma extensa revisão de literatura, Alley (1980) assinala várias evidências que apontam para a significativa função da coloração infantil entre várias espécies de macacos do velho mundo (Cercopithecidae) e entre grandes macacos (Pongidae). Segundo este autor, dados sobre a ecologia de primatas, além de observações de indivíduos em campo ou cativeiro, indicam que a coloração da pelagem de filhotes pequenos pode estar relacionada à atenção, proteção, tolerância e cuidado por parte de conspecíficos, sendo utilizada para distinguir filhotes dependentes daqueles que já são mais velhos e mais independentes (Treves, 1997 ). Em macacos rhesus (Macaca mulatta), por exemplo, um estudo aponta que fêmeas passam mais tempo com filhotes com faces cor-de-rosa, que é o padrão do recém-nascido nos primeiros dias de vida (Higley, Hopkins, Hirsch, Marra, & Suomi, 1987 ).

O que leva uma mãe rejeitar seu filhote, abandoná-lo ou até mesmo matá-lo? Algumas tendências conhecidas atualmente como o abandono de crianças, o aborto e o infanticídio mostram claramente esse repudio da mãe pelo seu filhote. Quando se fala no tema aborto logo nos vemos de cara com uma serie de conceitos éticos, legais, morais, religiosos que repudiam a sua prática. Esse tema envolve o paradoxo vida versus morte provocada, em uma abrangência que chama a atenção de diversas áreas do conhecimento humano, envolvendo aspectos científicos, religiosos, jurídicos, filosóficos, políticos e, sem dúvida, de saúde pública.

O infanticídio é a pratica de se causar a morte a um recém-nascido. Causar a morte de uma criança que ainda não se formou é algo que geram grandes polêmicas pelo ato de crueldade e causar a morte a uma criança que acaba de nascer consegue ser ainda mais cruel. Podemos ver tamanha atrocidade em alguns casos ocorridos no Brasil e ate mesmo fora dele, como no caso no Estado de Minas Gerais onde uma mãe de 21 anos atirou sua criança após o nascimento em um rio que passava ao lado de sua casa.

Atos como esses ou até mesmo matar seus filhotes deixam pessoas perplexas com tamanho ato de crueldade. Mas talvez possamos explicar isso devido à mãe ter sofrido algum motivo de que levasse ela a cometer essa atrocidade, como por exemplo pisicoses pós-parto, algum tipo de violência, ou até mesmo para sua própria sobrevivência (pensando no sentido de escassez de alimento e um filhote aumentaria mais a competição). No mundo animal não é raro isso acontecer, alguns animais matam suas crias devido a pressão ambiental sofrida por esses animais. Em 2006, o jornal folha online publicou uma matéria sobre uma onça que sofreu pressão ambiental no parque das emas, em Goiás, devido ao isolamento, pois o parque é cercado por plantações de soja, e a superpopulação gerada no local.

Quando o amor se torna uma psicose: Quando este amor é tratado em excesso e quando isso se torna uma doença, mãe e filho sofrem por uma invasão, intransigência, rigidez, descontrole, agressividade, entre outros comportamentos. Quando o amor vira interesse e uma propriedade com excesso de severidade, rigidez, excesso de exigências e imposições, invasão de privacidade entre outros aspectos. Em qual ponto ceder ao apego após crescimento do filho(te). Aspectos que fazem o filho(te) permanecer com a mãe depois de crescer. Amor ao filho(te) adotado. A opinião do grupo que o amor ao filhote se baseia, em sua grande parte, em questões fisiológicas já no início da gravidez com o contato mãe-bebê, esta ligação vai cada vez aumento. Com o passar do tempo, durante o contato físico na hora da amamentação, contato pele com pele, esta atração se intensifica e o cuidado com o filhote também. Mas muitas vezes este cuidado se torna algo forte demais e doentio, atrapalhando assim o desenvolvimento do filho(te).

O presente ensaio foi baseado nas obras:

ALCOCK, J. (2001). Animal behavior: an evolutionary approach (5a ed.). Sunderland: Sinauer Associates.

ALLEY, T. R. (1980). Infantile colouration as an elicitor of caretaking behaviour in old world primates. Primates, 21(3), 416-429.

ARCHER, J. (1997).Why do people love their pets? Evolution and Human Behavior, 18(4), 237-259.

BJORKLUND, D. F. (1997). The role of immaturity in human development. Psychological Bulletin, 122(2), 153-169.

CAMPBELL (Ed.). Sexual Selection and the Descent of Man. Chicago, Aldine, 378p.

CLUTTON-BROCK, T.H. 1991. The Evolution of Parental Care. Princeton, Princeton University Press, 368p.

de CARVALHO, L., OTTA, E.. Interação mãe-filhote em macacos-aranha (Ateles paniscus). Interação em Psicologia, América do Norte, 2, mar. 2007. Disponível em: http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/psicologia/article/view/7648/5454. Acesso em: 14 Set. 2011.

GERALD, M., WAITT, C., & MASTRIPIERI, D. (2006). An experimental examination of female responses to infant face coloration in rhesus macaques. Behavioural Processes, 73(3), 253-256.

GUELLER, A., S.. Falhas na operação transitivista materna na síndrome de Münchhausen por procuração. Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., São Paulo, v. 12, n. 2, p. 276-284, junho 2009. Disponível em:

http://www.scielo.br/pdf/rlpf/v12n2/v12n2a03.pdf. Acesso em: 14 Set. 2011.

HRDY, S. B. (2001). Mãe Natureza: uma visão feminina da evolução. Maternidade, filhos e seleção natural (A. Cabral, Trad.) Rio de Janeiro: Campus.

HIGLEY, J. D., HOPKINS, W. D., HIRSCH, R. M., MARRA, L. M., & SUOMI, S. J. (1987). Preferences of female rhesus monkeys (Macaca mulatta) for infantile coloration. Developmental psychobiology, 20(1), 7-18.

IZAR, P. (2009). Ambiente de adaptação evolutiva. In E. Otta & M. E. Yamamoto (Orgs.), Psicologia Evolucionista(pp. 22-32). São Paulo: Guanabara Koogan.

LACK, D. 1968. Ecological Adaptations for Breeding in Birds. London, Methuen, 409p.

MAYNARD SMITH, J. 1977. Parental investment: a prospective analysis. Animal Behaviour, London, 25: 1-9.

PROTA, F,. Estudo dos laços afetivos entre pais psicóticos e seus filhos: Como os filhos lidam com esse “louco amor”?, Dissertação de mestrado em Enfermagem Psiquiátrica, São Paulo, 2009. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/22/22131/tde-09032010-162738/publico/FernandoDelGuerraProta.pdf. Acesso em: 14 Set. 2011.